junho 28, 2010

A INSUFICIÊNCIA DA RELIGIÃO x A SUFICIÊNCIA DE CRISTO I


Tg. 1: 26 e 27 - "Se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã. A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo." A palavra religião aparece apenas três vezes nas Escrituras. Em duas delas tem sentido pejorativo, e, na passagem que abre este texto, permite apenas inferenciar a esfera humanista dela. Não denota uma relação na esfera espiritual, mas indica que a religião deve ser uma consequência natural, constatável e sensoreável de quem conhece a verdade. Não é um canal para a redenção do pecador, mas uma prática das boas obras, que, aliás são de Deus. Propõe, outrossim, um modelo ideal para alguém que cuida ter algum vínculo com Deus, e não para estabelecer um estado de comunhão com Ele.
O apóstolo Tiago introduz o assunto por meio de uma cláusula de advertência conforme a estrutura gramatical do grego koinê. Não é uma sentença afirmativa ou causativa. É, antes, uma sentença condicional e relativa. Em nenhum momento a religião aparece, no texto, como o resultado da ação monérgica de Deus, mas apenas como uma prática humana consequente. O apóstolo contrasta os atos vãos do religioso com a exigência de pureza e imaculada conduta diante de Deus. Aquele, pois, que afirma-se numa certa crença religiosa, mas usa a língua para denegrir, mentir, e maldizer, engana-se a si mesmo, sendo a sua religião apenas uma vaidade diante de Deus. Refrear a língua é uma ação de difícil aplicação conforme o próprio apóstolo afirma em 3:5 e 6 - "assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas. Vede quão grande bosque um tão pequeno fogo incendeia.A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniquidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo inferno." Um homem sábio chamado Eber Vasconcelos ensinou, certa vez, que "se deve pensar sobre tudo, mas nunca dizer tudo o que se pensa." Ele ensinava isto e isto mesmo vivia em seu modo de ser.
A palavra religião no texto grego do novo testamento é 'threskéia' e significa culto, reverência expressa em atos rituais, religião. Advém do verbo 'threskós' que é: "observador dos preceitos e ritual da religião, religioso." Pela própria etimologia se vê que religião é uma propositura humana e não divina. Em toda a Escritura não se acha nenhuma instância que demonstre a origem da religião em Deus. Não se vê qualquer ação concreta e direta de Deus instituindo uma, ou outra religião. O que se encontra são prescrições simbólicas que indicavam pedagogicamente o sacrifício de Cristo e toda a sua ação redentora e justificadora na cruz. Assim, ao fazer vestes de peles de animais no Éden para cobrir a nudez dos ancestrais comuns, Deus sacrificou animais para beneficiar o homem pecador. Isto indicava que o sangue de um inocente seria derramado para purificação do homem culpado. Também quando Abel ofereceu a Deus o cordeiro, indicava a aproximação do pecador por meio de um substituto e não pelo esforço e justiça própria como fez Caim.
A palavra religião em língua portuguesa origina-se na palavra latina 'religionem' ou 'religio' na declinação nominativa, não havendo nenhuma relação com outros vocábulos. Então é um termo anterior ao cristianismo e utilizado no mundo latino, com referência a um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão. Desta forma pode-se dizer sem prejuízo de incorrer em erro, que a própria palavra religião resulta da apropriação indevida pelo cristianismo de um termo pagão cujo referencial estava ligado ao comportamento moral da sociedade pré-cristã.
Herdado da cultura hebraica, patriarcado é uma palavra derivada do grego 'pater', e se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca; de onde provém a palavra 'pátria'. Pátria, por seu turno, relaciona-se ao conceito de país, do italiano 'paese', por sua vez originário do latim 'pagus', aldeia, de onde também vem 'pagão'. Logo, país, pátria, patriarcado e pagão tem a mesma raiz, e, tudo, é humano e não divino.
Em outras culturas não existe uma palavra equivalente à palavra religião do latim e do grego. O hinduísmo antigo utilizava a palavra 'rita' que indicava para a ordem cósmica do mundo, com a qual todos os seres deveriam estar harmonizados e que também se referia à correta execução dos ritos pelos brâmanes, uma casta hindu. Mais tarde, o termo foi substituído por 'dharma', termo que atualmente é também usado pelo budismo e que exprime a idéia de uma lei divina e eterna. 'Rita' relaciona-se também com a primeira manifestação humana de um sentimento religioso, a qual surgiu nos períodos Paleolítico e Neolítico, e que se expressava por um vínculo com a Terra e com a Natureza, os seus ciclos e a fertilidade. Nesse sentido, a adoração à "Deusa" mãe, à 'Mãe Terra' ou 'Mãe Cósmica' estableceu-se como a primeira religião humana. Em torno desse sentimento formaram-se sociedades matriarcais centradas na figura feminina e suas manifestações.
Ao longo da história surgiram diversas etimologias para explicar a origem da palavra 'religio'. Cícero, na obra 'De Natura Deorum', 45 a.C. afirma que o termo se refere a 'relegere', isto é, reler, caracterizando pessoas religiosas que prestam muita atenção a tudo o que se relacionava aos seus deuses, relendo as escrituras ou os ritos prescritos para eles ou por eles. Esta proposta etimológica sublinha o carácter repetitivo do fenômeno religioso, bem como o aspecto intelectual humano. Mais tarde, Lactâncio, nos século III e IV d.C. rejeita a interpretação de Cícero, afirmando que o termo vem de 'religare', ou seja, religar, argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus.
No livro "A Cidade de Deus" Augustinho de Hipona, século IV d.C. afirma que 'religio' deriva de 'religere', ou seja, "reeleger". Através da religião a humanidade reelegia novamente a Deus, do qual se tinha separado por causa do pecado. Mais tarde, na obra 'De Vera Religione', Augustinho retoma a interpretação de Lactâncio, que via em 'religio' uma relação com "religar", dando origem a palavra religião.
Macróbio, século V d.C. considera que 'religio' deriva de 'relinquere', algo que nos foi legado pelos antepassados como uma relíquia a ser cultivada. Tudo isto indica que a religião tem a sua origem no homem e não em Deus como se supõe comumente.
Independente da origem, o termo é admitido para designar qualquer conjunto de crenças e valores que compõem a de determinada pessoa ou conjunto de pessoas. Cada religião inspira certas normas e motiva certas práticas de acordo com a concepção humana de Deus e segundo o que Ele mesmo declara de Si próprio.
Soli Deo Gloria!

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