Dn. 3: 15 a 20 - "Agora, pois, se estais prontos, quando ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, para vos prostrardes e adorardes a estátua que fiz, bom é; mas, se não a adorardes, sereis lançados, na mesma hora, dentro duma fornalha de fogo ardente; e quem é esse deus que vos poderá livrar das minhas mãos? Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei: ó Nabucodonosor, não necessitamos de te responder sobre este negócio. Eis que o nosso Deus a quem nós servimos pode nos livrar da fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará da tua mão, ó rei. Mas se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste. Então Nabucodonosor se encheu de raiva, e se lhe mudou o aspecto do semblante contra Sadraque, Mesaque e Abednego; e deu ordem para que a fornalha se aquecesse sete vezes mais do que se costumava aquecer; e ordenou a uns homens valentes do seu exército, que atassem a Sadraque, Mesaque e Abednego, e os lançassem na fornalha de fogo ardente."
É próprio do homem natural, a saber, que não foi regenerado espiritualmente, crer apenas convencionalmente. Dependendo da cultura a que está inserido, tal engajamento é fundamental à sua aceitação social, ou à sua ascensão socioeconômica. Por esta razão muitas pessoas se aferram a uma religião por mero tradicionalismo, ou apenas por convenção social. A crença em um "deus", ou em seres sobrenaturais acompanha a humanidade desde os mais primevos dos tempos. Na falta de uma explicação racional, ou de uma constatação sensorial, atribui-se ao sobrenatural os fenômenos e fatos inusitados. Joga-se com estas forças a sorte e o seu destino na crença que obterá sucesso na vida.
Há em toda sociedade os ritos de passagem, nos quais ocorre forte teor de religiosidade e crenças místicas. Muitas pessoas se afiliam a determinadas instituições para ter a garantia de sucesso e boa aceitação nos círculos sociais. Tais instituições são plenas de regras, preceitos e normas, sendo muitas delas de caráter espiritualista.
O texto que abre este artigo se insere no contexto em que os judeus haviam sido levados cativos para a Babilônia. Nesta época Deus havia conferido ao rei Nabucodonosor amplos poderes sobre os povos e nações. Em sua vacuidade e soberba, o rei babilônico construiu uma estátua de ouro e ordenou a todos, nativos e estrangeiros dentro dos seus domínios reverenciar e adorar a imagem quando se fizessem tocar trombetas e instrumentos musicais. Três homens judeus cuja adoração e fé estavam restrita ao Deus Altíssimo, não fizeram caso da tal ordem. Logo surgiram os delatores, pois os homens não regenerados detestam que os exclua de algum negócio que lhes parece diferente. Como não podiam crer em nada mais e não podiam deixar de cumprir as ordens do rei, denunciaram os jovens Sadraque, Mesaque e Abednego pelo descumprimento da ordem real. Assim, o rei mandou chamar os contraventores e lhes deixou inteirados da necessidade de cumprir aquela ordem sob pena de serem queimados vivos caso não a obedecesse. Foram tratados como subvertores da ordem real, e, como tal, deveriam sofrer as consequências prescritas.
Os jovens judeus demonstraram ao rei que estavam firmes no propósito de servir apenas ao Deus que conheciam, apesar da ordem e da gravidade dela. Eles se dispensaram de dar explicações, porque a sua fé não era apenas convencional, mas incondicional. Não haviam quaisquer precondições para a sua fé. Visto que fé é dom, ninguém possui fé de si mesmo. Eles estavam seguros que o Deus Altíssimo os poderia livrar, como também poderia não os livrar da fornalha, sem que isto modificasse a fé que receberam. Então, não havia nenhum condicionante, mas apenas a fé incondicional. Eles não estavam subordinados às convenções humanas, ainda que estas partissem do rei mais poderoso daquele quadrante da história.
Como esta categoria de fé faz falta nos dias de hoje! Justamente quando homens incautos buscam na religião apenas a satisfação das suas necessidades mediatas e imediatas; tentam barganhar com Deus o seu sucesso financeiro, a sua saúde física, o seu poder político.
O resultado da fé que receberam Sadraque, Mesaque e Abednego foi o lançamento deles na fornalha sete vezes mais aquecida que o habitual. Entretanto, o fogo não lhes fizera mal algum, como também, fora visto andando entre eles e no meio das chamas, um quarto elemento que é o Senhor de toda a glória e o todo-suficiente para livrar ou condenar qualquer homem no universo.
Sola Fidei!
Sola Gratia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário