domingo, dezembro 6

A GRANDEZA DA GRAÇA DO SACRIFÍCIO PELOS INIMIGOS

Rm. 8: 7 e 8 - "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus."
Deus, em Cristo, é o único caso em que alguém se sacrificou por seus inimigos. Um inimigo é, por natureza, um adversário e opositor ostensivo ou velado. Não se faz inimigo apenas por atos e atitudes, mas por natureza, posição e relação. Por exemplo, muitos entendem intelectualmente que anticristo é um ser maligno que se opõe a Cristo. Entretanto, há outra significação menos usual a qual indica que é anticristo, toda e qualquer pessoa, que pretende ocupar o lugar de Cristo, e não necessariamente, aquele que se lhe opõe. A oposição é consequência do desejo de querer usurpar o lugar de Filho Unigênito e Primogênito dentre os mortos. Neste sentido, todo homem já nasce anticristo! Isto porque todos já nascem portadores da natureza pecaminosa e antagônica ao Filho de Deus por posição e relação.
O texto de abertura mostra com clareza meridiana que a inclinação da carne é inimizade contra Deus. A carne a que alude o texto não é apenas a dimensão físico-biológica do homem. É, sobretudo, o conjunto dos comportamentos morais que se caracteriza pelos desejos, habilidade e competências puramente terrenas, humanas e diabólicas. O apóstolo Tiago traz luz sobre esta questão conforme Tg. 3: 13 a 15 - "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Há larga distância entre conhecimento, sabedoria e entendimento. A evidência que alguém possui a sabedoria espiritual, aquela que provém de Deus, é o bem proceder e as consequentes obras de mansidão. Na maioria das vezes os religiosos invertem tal ordem, colocando os comportamentos como causa da sabedoria espiritual. Na verdade, o bom comportamento moral é consequência e não causa de espiritualidade. Então, a sabedoria humana possui três dimensões: é terrena, almática e diabólica. Terrena, porque toma por referência apenas o ponto de vista das realidades deste mundo; almática, porque é consequência dos desejos, habilidades e competências oriundos da alma humana; diabólica, porque todo homem possui a natureza contaminada pelo pecado inoculado pelo Diabo no primeiro Adão.
Por todas estas razões e outras tantas é que o homem se inclina invariavelmente para a inimizade contra Deus. Não se iluda, tal inimizade se dá, tanto por boas obras, como por obras más. Não é uma questão de escolha, mas de natureza inclinada. Do estudo da fitobiologia apreende-se que o vegetal possui duas inclinações: o geotropismo, quando busca o solo para dele se alimentar, e o fototropismo, quando busca a luz solar para com ela realizar a fotossíntese e sintetizar o alimento. Assim são os homens, se inclinam sempre para serem inimigos de Deus, consciente ou inconscientemente. Este é um fato duro de se reconhecer, porque cada um avalia sua relação com o sagrado por meio de comportamentos ritualísticos e religiosos. Estes, todavia, nem sempre são exigidos ou inspirados por Deus. São frutos da concepção humana na busca frenética pela pacificação dos seus medos, dores e angústias almáticos.
Não se pode agradar a Deus estando na carne. Esta sentença é fulminante, porque não dá margem à qualquer recurso. Percebe-se que, "estar na carne", não se limita apenas à esfera do biofísico. É, de fato, ser guiado pelos desejos, vontades e decisões baseadas apenas no que é terreno, almático e diabólico. Por esta razão todos os homens são inimigos naturais de Deus, ainda que sejam bons cidadãos, bons religiosos, ou bons ateus. O texto bíblico afirma que não há ninguém justo, que entenda, e que busca a Deus conforme Rm. 3:10 e 11 - "... como está escrito: não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus." Todavia, a própria natureza inimiga de Deus faz que os melhores entre os homens desviem o entendimento de textos desta categoria. O orgulho e a presunção de bondade e retidão ofuscam a verdade bíblica.
O oposto de estar na carne é andar no Espírito, ou seja, é ter sido reconciliado com Deus por meio da inclusão na morte de Cristo e na sua consequente ressurreição. Tudo isto é por fé e não por atos e atitudes como exercício de religião. Andar no Espírito é receber a sabedoria do alto conforme Tg. 3: 17 e 18 - "Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz." Isto não implica em perfeição, mas em reconciliação com Deus que passa a determinar o querer e o efetuar da vontade humana. Cristo, na cruz, mudou o cativeiro dos eleitos e regenerados. Isto foi previsto em Ez. 11: 19 e 20 - " E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne, para que andem nos meus estatutos, e guardem as minhas ordenanças e as cumpram; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus." Este ensino é paralelo ao ensino do nascimento do alto que Jesus ministra a Nicodemos em João capítulo 3.
I Pd. 3:18 - "Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito." A morte de Cristo foi inclusiva e substitutiva, visto que na cruz o pecador eleito foi incluído para perder sua natureza inimiga de Deus, e substituído espiritualmente no tempo e no espaço para a vida eterna. Isto é confirmado em Jo. 12:32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." É evidente que, apenas por meio da substituição dos injustos pelo Justo de Deus que as naturezas pecaminosas e inimigas de Deus seriam aniquiladas conforme o registro de Hb. 9:26. Também em Rm. 5: 8 a 12 se vê claramente a relação de inimizade natural do homem contra Deus - "Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram."
A grandiosa graça de Deus consiste em que o Justo sacrificou-se pelos injustos, fazendo de Deus em Cristo o único caso em que alguém se oferece em sacrifício pelos inimigos conforme Cl. 1: 21 e 22 - "A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis..." Foi esta Graça que levou Jesus, o Cristo a perguntar a Judas Iscariotes na noite da traição: "... a que vieste, amigo?"
Sola Gratia!
Solo Christus!
Soli Deo Gloria!

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