Gl. 3: 1 a 6 - "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto quero saber de vós: Foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? Será que padecestes tantas coisas em vão? Se é que isso foi em vão. Aquele pois que vos dá o Espírito, e que opera milagres entre vós, acaso o faz pelas obras da lei, ou pelo ouvir com fé? Assim como Abraão creu a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça."
Em um fundamento têm-se duas partes: a essencial e a assessória. A essencial é a tese, a afirmação, a sentença ou a razão. A parte assessória é circunstancial ou satélite, sendo, portanto, um desdobramento das implicações decorrentes da essência. Assim, jamais o que é assessório arrasta o que é essencial e fundamental. Seria como colocar o carro arrastando o motor ou a Terra orbitando a Lua.
No que tange ao Cristianismo bíblico existe o que é fundamentalmente essencial e o que é apenas assessório e decorrente. O cristão com experiência de novo nascimento depende do que é essencial e não do que é assessório. Por exemplo, não matar, não roubar, não mentir, não adulterar, etc são aspectos assessórios da vida de alguém que experimentou o novo nascimento. Não é por apresentar tais comportamentos morais que o cristão é cristão. É porque Cristo é a razão da sua vida que ele é um cristão conforme Cl. 3: 3 e 4 - "... porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória." Igualmente se dá no sentido em que os atos pecaminosos são consequentes e assessórios, mas o pecado como natureza e princípio é essencial e fundamental. Assim, um homem é pecador, não apenas porque comete atos pecaminosos, mas porque possui a natureza pecaminosa. É a natureza pecaminosa que arrasta-o a cometer os atos pecaminosos e não o contrário como se supõe na religião. Há doutores em divindades que não recebem a graça do discernimento sobre estas verdades esplendentes.
Um sistema de crenças pode falar acerca de Deus, de Cristo, de fé, de Igreja, de Bíblia, sem, necessariamente, conhecer tais realidades como essenciais. Elas são apenas assessórias para gerar aceitação e a suposta legitimidade da religião exterior. É neste sentido que existe e triunfa no mundo moderno o "Cristianismo sem Cristo". Tais religiões e seitas enfatizam o comportamento moral, o ser bem sucedido e o prestígio social como evidências de autenticidade cristã. Ora, o próprio Cristo foi reprovado pelos religiosos do seu tempo porque seus atos violavam tais preceitos. Foi reputado como alguém que cometia atos contrários aos princípios e valores consagrados pelo judaísmo. Jesus, o Cristo foi acusado de curar no sábado, comer e beber com publicanos e pecadores, andar com prostitutas. Isto porque, para os religiosos, os atos são essenciais, enquanto a natureza regenerada é assessória.
O que determina a existência do "Cristianismo sem Cristo" é o abandono do que é essencial e a adoção e a valoração do que é assessório. Desta forma, o desejo de ouvir uma pregação agradável, ajuntar para si mestres e doutores segundo os próprios desejos, desviar os ouvidos da sã doutrina, dar ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios se constituem na produção de um cristianismo anômalo, sem Cristo e diabólico. Esta categoria de cristianismo se caracteriza por seus líderes e, consequentemente, seus seguidores voltarem-se às fábulas. Uma fábula é uma narrativa de caráter moral e alegórico. O objetivo final da fábula é transmitir ensinamento e sabedoria moral ao homem. Desta maneira é algo cuja centralidade está no homem e não em Cristo. A fábula é, por excelência, uma narrativa inverossímil com fundo didático. Também a fábula simples se constitui de conceder aos animais e seres inanimados a capacidade da fala e da expressão de costumes e fatos para explicar a lição moral que se pretende. Ora, há uma cantora de uma famosa e popular banda gospel que se apresenta andando e grunhindo de quatro no palco, afirmando que se trata da "unção do leão". Há por aí diversas "unções" que nada mais são que fábulas.
O texto que abre este estudo mostra que os cristãos da Galácia estavam abandonando a graça e voltando à lei. Estavam abandonando a fé e retornando às obras. Estavam abandonando o Espírito de Cristo e voltando à carnalidade. Uma das formas mais comuns de criar e alimentar o "cristianismo sem Cristo" nos tempos atuais é o abandono da sã doutrina para voltar aos rudimentos fabulosos de práticas da religião exterior. Há grande busca por auto-sacrifícios por meio de jejuns prolongados, orações sistematizadas, curas interiores, louvores extravagantes, vigílias no monte, campanhas programáticas. Uso de textos bíblicos que oferecem promessas de vitória e poder é um engodo para atrair pessoas com problemas pessoais. Apegam-se ao que é assessório nas Escrituras e abandonam Cristo "a essência de tudo o que é espiritual" nos dizeres de Watchman Nee. Tais "cristãos" trocam o doador pela doação, o dom pelas doações e a fé pela sensorialidade. É este cristianismo que domina e predomina nos dias que transcorrem. É um Cristianismo humanista e triunfalista, no qual, não se vê a centralidade de Cristo e da cruz.
Solo Christus!
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