Lm. 5: 21 e 22 - "Converte-nos a ti, Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes; se é que não nos tens de todo rejeitado, se é que não estás sobremaneira irado contra nós."
Jo. 3: 3 a 7 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: necessário vos é nascer de novo."
O étimo das palavras se consegue avaliando as suas origens e a sua evolução em diferentes línguas ou em uma única língua. Assim, conversão origina-se no latim 'convertio' ou 'convertionis', que em última análise significa "movimento circular, giro". Neste caso, é um processo de mudança de direção comportamental e não necessariamente espiritual. Em um sentido abrangente, converter-se é andar em círculos, experimentar caminhos diferentes, movimentar-se. Portanto, é um ato puramente humano realizado diante dos fatos da vida, em busca de soluções para os dramas humanos. O ato ou efeito de converter-se ocorre segundo duas dimensões: a) dimensão humana, ou seja, mudança de crença, religião, posição ideológica, convicção filosófica; b) dimensão espiritual, ou seja, alteração definitiva da natureza pecaminosa resultante da ação monérgica de Deus.
Há profunda diferença entre alguém se modificar em função de um interesse pessoal ou coletivo, e alguém ter sido modificado, mesmo contra a sua natureza, pela ação soberana de Deus. As pessoas são capazes de executar profundas alterações no curso de suas vidas para atingir determinados objetivos. A necessidade é capaz de operar em um ser humano mudanças inimagináveis. Entretanto, os seus atos exteriores podem não refletir em nada a sua real natureza interior. A maior parte dos religiosos vive uma vida dupla: a que dizem ser, e a outra que de fato são. Por esta razão é que um relatório dos anos 90 afirmava que 80% das pessoas que buscam ajuda psicológica e psicanalítica são religiosos. Isto se dá, porque estas pessoas vivem em duas realidades conflitantes. Esta situação produz o que se chama de fragmentação psicológica, a saber, dupla personalidade, ou mesmo, múltiplas personalidades. Uma que é apenas representativa e a outra que é o subproduto da natureza pecaminosa.
Lembre-se que, o Pedro que confessou que Jesus era o Cristo Filho de Deus, foi o mesmo Pedro que negou Jesus na noite do Seu julgamento. No primeiro caso, o próprio Jesus afirmou que tal confissão não era resultante da vontade carnal de Pedro, mas sim, de uma revelação de Deus. No segundo caso, o mesmo Jesus afirmou a Pedro, que, apesar das suas declarações corajosas que não o abandonaria e tal, este o negaria três vezes antes de o galo cantar. Ora, Pedro sequer havia sido convertido nessa época conforme o registro de Lc. 22: 31 e 32 - "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos." Pedro havia se convertido apenas para um novo caminho, mas não havia sido convertido pelo Senhor deste novo caminho. Pedro possuía apenas a sua própria fé humana, mas não havia recebido a fé do alto.
O texto de abertura mostra a conversão verdadeira, ou seja, processada por ato divino e soberano. Mostra que o resultado da real conversão é uma renovação de propósitos e o império de uma nova disposição. Tal característica é o fruto de uma ação do alto e não de uma mudança apenas comportamental. Muitos ateus têm comportamento moral exemplar se comparados a diversos cristãos nominais ou confessos. A real conversão mostra a manifestação da graça de Deus usando de misericórdia para com os pecadores eleitos. Eles são regenerados da suas naturezas pecaminosas, mas quanto aos atos pecaminosos serão tratados ao longo da vida. Portanto, ninguém se converte a Deus por conta própria, mas são convertidos pela graça misericordiosa d'Ele. É como alguém afirmar que se operou de tal mal físico! Ora, ninguém pode tomar do bisturi e se operar. Contrariamente, é necessário que alguém realize a intervenção cirúrgica no paciente. Ninguém pode ser médico e paciente ao mesmo tempo!
No diálogo de Nicodemos com Jesus é explicado o que é, de fato, o novo nascimento. Primeiramente é necessário entender que, para nascer de novo, é necessário ter morrido. Não há como nascer outra vez sem que tenha morrido antes. No texto original a expressão traduzida por "novo nascimento" é de fato, nascer do alto. Isto indica que é o resultado da operação de Deus na vida do pecador, e não a operação da vontade humana. O novo nascimento permite ao homem ver o reino de Deus, porque é um ato de fé verdadeira. Sendo a fé o firme fundamento do que se espera e a certeza de coisas invisíveis, logo só poderá ser operada por Deus. O homem não pode ver o invisível e esperar o que não chegou por conta própria. O segundo texto mostra que ninguém pode ver e entrar no reino de Deus às suas próprias expensas. É uma questão de não poder, e não de não querer como supõem os religiosos arminianos.
Enquanto Nicodemos estava interpretando o novo nascimento de uma perspectiva material e tangível, Jesus lhe mostrava que é um ato sobrenatural e divino. Nicodemos entendeu que o novo nascimento seria de caráter biológico, mas Cristo lhe indicava que carnalidade produz mais carnalidade e não espiritualidade. É dito a Nicodemos que o novo nascimento é o resultado da pregação da Palavra de Deus que abre os ouvidos e retira as escamas dos olhos. O sentido de água no novo testamento é a Palavra de Deus. Assim, nascer da água é o cumprimento do que diz Rm. 10:7 - "Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." A palavra de Cristo é o genuíno evangelho e não peças e homilias retóricas. A palavra que vivifica o morto em seu pecado é 'rhema' e não 'logos'. A primeira é a palavra vivificante, a segunda é a palavra apenas declarante de Deus.
Nascer do Espírito é o resultado da operação soberana e voluntária do próprio Deus. Assim, quem não nascer pelo Espírito de Deus não entra no Seu reino. Por esta razão é que Paulo exorta os gálatas conforme Gl. 3:2 a 5 - "Só isto quero saber de vós: foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? Será que padecestes tantas coisas em vão? Se é que isso foi em vão. Aquele pois que vos dá o Espírito, e que opera milagres entre vós, acaso o faz pelas obras da lei, ou pelo ouvir com fé?" Por esta razão é que Paulo afirma no verso 6 deste mesmo contexto: "Assim como Abraão creu a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça." Abraão foi declarado justificado apenas porque creu incondicionalmente a Deus. Veja a diferença entre crer em Deus, e crer a Deus.
Sola Scriptura!
3 comentários:
A paz...
Apesar de sorrir muito pelo o nome de quem o postou, fiquei muito feliz e convencido deste comentário, foi muito esclarecedor para mim, pretendo usar na escola dominical que trás o tema É NECESSÁRIO NASCER DE NOVO, Deus abençoe muito sua vida e de sua família em nome de JESUS.
Grato...
Patrício.
Ou seja, as duas são uma única coisa. Muito bem explicado! Obrigado.
Que o Senhor Jesus Cristo te dê mais sabedoria
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