julho 05, 2010

A INSUFICIÊNCIA DA RELIGIÃO x A SUFICIÊNCIA DE CRISTO III


Mc. 8: 34 e 35 - "E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á." A proposta de Jesus, o Cristo é uma contraposição ao estado normal do homem decaído. O verbo querer neste contexto é, no grego neotestamentário, 'thélo' significando apenas um desejo motivado por razões pessoais, por simples ambição, por mera simpatia, ou por simplesmente gostar de uma ideia. O querer determinativo e inequívoco é, no texto grego, 'boulomai', isto é, o querer resultante de uma vontade executável e preestabelecida pela fé. Neste último caso, o querer resulta de ação independente do homem, motivada por vontade divina dentro de um projeto anterior à própria existência da vontade humana. É uma determinação monérgica e não um mero desejo sinérgico.
Ao dizer à multidão "se alguém quer vir..." Jesus estava condicionando e não determinando. Isto porque, querer no sentido de desejar, basicamente todos quereriam, pois viam os cegos enxergar, coxos andar, mortos ressuscitar, pães multiplicados, água transmutada em vinho, leprosos purificados, adúlteros perdoados, peixes multiplicados... Viam em Jesus, um possível Messias político que os livraria do domínio romano. Perceberam a possibilidade de restabelecer o reino de Israel e o retorno da casa de Davi ao poder e do cumprimento de promessas antigas. Há profunda diferença entre o querer por interesses religiosos e o querer movido pela fé genuína. Por isso, se afirma em Jo. 12:37 - "E
embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam n'Ele." Sinais são para incrédulos, fé é dom de Deus!
A expressão "... se alguém quer vir após mim..." é uma clara proposta à supressão da mera religião para encarar a morte na cruz. A palavra "após" no texto original, é 'opíso', ou seja, 'depois de'. Então, Jesus, o Cristo está dizendo que, se algum pecador tem o desejo de segui-lo deve saber que Ele está indo para a morte e que os que assim o desejarem, irão depois d'Ele para o mesmo lugar, a saber, a cruz. O sentido de "tomar cada um a sua cruz e segui-Lo" é o resultado da negação de si mesmo, a saber, de perder a sua própria vida almática. Verifica-se no texto que abre este estudo que a cruz é de fato do pecador e não de Cristo. Ele a assumiu por acordo eterno com o Pai, tão somente para habilitar o homem inábil a ter o seu querer alterado para ganhar a vida eterna. Sem a alteração do desejo humano decaído ninguém vai a Jesus conforme Jo. 6: 44 e 45 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: e serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim." A questão é que a ação que determina a vontade de ir após Cristo, e segui-Lo é dada por Deus e não pelo desejo ambicioso, interesseiro e materialista do homem decaído. É como querer que um tetraplégico se levante da cadeira e ganhe as olimpíadas ou um triátlon  Se o querer e o fazer do homem no estado pecaminoso pudesse gerara salvação, Jesus, o Cristo seria absolutamente dispensável. A cruz seria um embuste e a morte e a ressurreição uma fantasia de mau gosto.
O querer do homem em estado pecaminoso é sempre o de querer salvar a sua vida sem ir após Cristo para a cruz. Não há redenção sem a perda da vida contaminada pela natureza pecaminosa. Por isso, só se pode falar em novo nascimento, após crer que foi atraído à cruz e nela morreu com Cristo conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Jesus, o Cristo foi levantado da Terra três vezes: quando foi crucificado, quando ressuscitou e quando subiu ao céu. Em todas estas vezes se relacionou com o processo da redenção dos eleitos.
Na religião há sempre um apelo à vida do homem, ao sucesso, à fama, às vitórias materiais, etc. Na suficiência de Cristo há sempre e primeiramente uma condução à morte da vida contaminada pelo pecado para, após perdê-la, achar a verdadeira vida d'Ele.
Sola Gratia!

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