Lc. 18: 9 a 14 - "Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado." Jesus, o homem histórico nascido de mulher, no qual habitou o Cristo eterno e Filho Unigênito de Deus, muito ensinou por parábolas. A sua mensagem consegue, por esta razão, atingir a todos: doutos e indoutos. Os tipos e os símbolos são de longa aplicação no processo pedagógico de Deus. Estão visíveis desde o Gênesis até o Apocalipse. Entretanto, a revelação espiritual das suas significações só é possível pela operação do Espírito Santo doado aos eleitos conforme Jo. 14:26 - "Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas". Todo dom é uma concessão de Deus por meio da graça!
Em quase todos os artigos escritos neste espaço virtual, se fala de modo muito contundente e crítico sobre a religião. Todavia, é fundamental dizer que é contra a religião institucional e humanizada que se escreve. É imperioso que não se combatam pessoas, mas apenas as suas ideias, especialmente, quando estas giram em torno da relação homem-Deus. Na verdade a religião é uma criação humana na tentativa de fazer a religação entre a criatura e o Criador. Deus nunca instituiu religião alguma, e, mesmo a prescrição da lei cerimonial entregue aos israelitas foi apenas uma indicação do plano de redenção dos eleitos, na pessoa do Seu Filho Unigênito. Eram oráculos e não tinham valor em si mesmos. Não deveria ter se transformado em um fim em si, mas apenas no meio para se conhecer melhor o processo divino relativo à vinda do Salvador e à redenção dos eleitos antes dos tempos eternos.
No texto que abre este artigo lê-se uma das muitas parábolas contadas por Jesus, o Cristo. Na retromencionada parábola, Ele põe à disposição análises comportamentais de religiosos por meio de dois tipos: o auto-exaltado e o auto-humilhado. Tipifica-os em dois israelitas que comparecem ao templo para orar: um, o fariseu, pertencente a uma das seitas mais legalistas da época; e, o outro, o publicano, menos ortodoxa, por força do ofício de servir ao Estado dominador na coletoria de impostos. Por esta razão, os publicanos eram odiados dos judeus nacionalistas, especialmente os da seita político-religiosa dos fariseus. Não se admitia o pagamento de impostos ao imperador romano, visto que o tal reivindicava para si, o título de divindade. Um homem que se auto-proclamava um "deus" e cobrava impostos às nações dominadas.
Esta parábola revela duas atitudes do homem portador da natureza pecaminosa diante de Deus. Um que se faz justo, e, o outro, que se reconhece indigno e injusto. Visto que nenhum homem é justo em si, e de per si, logo a presunção de justiça própria é por si mesma o subproduto de uma natureza decaída. Se algum homem pudesse ser justo por conta própria, a justiça de Deus em Cristo seria absolutamente dispensável. Sim, porque, a morte de Jesus, o Cristo, na cruz foi para satisfazer plenamente a exigência da justiça de Deus contra o pecado do homem. O texto de Ez. 18:4 diz: "Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá." Assim, como todos os homens pecaram e estão destituídos da glória de Deus, necessário é que morram na morte de Cristo, para que, na ressurreição juntamente com Ele ganhem a vida eterna. Este é o processo denominado na Bíblia de nascimento do alto, erroneamente traduzido como "novo nascimento". Por isso, a justiça de Deus se locupletou na morte de Cristo, porque nela, todos os pecadores eleitos foram atraídos e incluídos e morreram com Ele. É o que se pode denominar de "a morte, da morte, na morte de Cristo". É intrínseco, que, se há a ressurreição com Cristo, também há a morte com Ele.
O religioso quase sempre, por palavras, ou por atos, se coloca na perspectiva de melhor e mais merecedor que os outros homens, os quais não seguem seus preceitos, regras e normas. O pecador eleito, contrariamente, recebe graça para ter plena consciência da sua indignidade, incompetência e ausência de justiça própria e de méritos. Este foi o caso do publicano em questão e de um dos malfeitores crucificados ao lado de Jesus, o Cristo. Dos que assim procedem, Deus está próximo, porque ao homem é necessário se reconhecer pecador e indigno para obter o perdão e receber a graça para justificação em Cristo. Você só pode ser perdoado da culpa que reconhece, não a reconhecendo, não há porque ser perdoado.
Jesus afirma que o publicano que se confessou "o pecador" desceu para a sua casa justificado. Assim, o que foi justificado por alguém absolutamente justo, justo está. Recebeu a graça para ser vivificado espiritualmente. Isto é o nascimento para Deus, é a passagem da morte para a vida, é a fonte que jorra para a eternidade, e o filho pródigo que retorna à casa do Pai.
Sola Gratia!