Tg. 2: 17 a 26 - "Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem. Mas queres saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inútil? Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E se cumpriu a escritura que diz: e creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta."
Muitos estudiosos e intérpretes das Escrituras afirmam com base em alguns textos que as obras humanas não salvam, que não têm validade para a sua redenção, e que por elas, nenhuma carne se salva. Neste sentido estão munidos de toda razão, pois as Escrituras são uma unidade de ensino que não se contradiz. Todavia, quando alguns destes mesmos estudiosos se debruçam sobre o texto do apóstolo Tiago sentem um certo desconforto pela forma direta e veemente a que ele põe as obras como algo essencial e necessário no contraponto à fé.
Tudo nas Escrituras deve ser recebido como vindo de Deus, e jamais do homem, conforme informa e ensina II Tm. 3: 16 e 17 - "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra." Sendo as Escrituras divinamente inspiradas, logo, não resta nada nelas que possa ser da autoria humana. Este último texto fornece o fundamento para que se possa situar as obras no seu devido lugar. Ele afirma que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado 'para toda boa obra.' Então, a justificação e a salvação precedem as boas obras, porque estas são praticadas pelo homem de Deus. Não são as boas obras que determinam a filiação divina, mas o regenerado realiza as boas obras, porque, afinal, elas são de Deus e não do homem. Não são as boas obras que preparam o regenerado, mas a fé o torna capacitado à elas. O homem por si mesmo realiza apenas obras de justiça própria, nunca boas obras que são de Deus, posto que, somente Ele é bom. Isto está claramente ensinado em Ef. 2:10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." Após o pecador ser feito nova criatura, ou nova geração em Cristo, ele praticará boas obras que foram pré-estabelecidas por Deus de antemão. Não é a nova disposição do eleito e regenerado que as determina, mas elas foram preparadas para ele andar nelas. As boas obras o seguirão, e não ele que as segue! Os homens, especialmente os religiosos arminianos, colocam as boas obras na esfera puramente comportamental. Assim, se a pessoa se diz nova criatura e não apresenta uma vida moral impecável, eles logo desconfiam da sua espiritualidade. Entretanto, o ensino do texto não está circunscrito a este tipo de relação, mas independentemente do comportamento moral do regenerado, as boas obras que Deus desejar serão realizadas por ele, apenas porque elas foram preparadas para serem executadas pelos nascidos de Deus. Deus não depende do homem, ou de qualquer outra coisa no Universo para realizar as suas boas obras. Porém Ele é soberano para executá-las nos seus eleitos e regenerados.
O texto que abre esta artigo contém em si mesmo a explicação do papel das boas obras nos nascidos do alto: 'a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.' Após receber a fé bíblica e incondicional, esta opera para que as boas obras sejam executadas. Por isso, Abraão creu incondicionalmente na palavra de Deus, o qual havia prometido fazer da sua descendência uma grande nação e, por meio dela, trazer o redentor. A fé verdadeira é cooperante no sentido de dar a disposição e o mover das obras que Deus quer realizar em seu projeto eterno. O regenerado é apenas o meio pelo qual Deus realiza tais obras, podendo ser substituído até por pedras, ou mulas. O fato é que Ele as realiza, independentemente do homem. Muitos religiosos dão a impressão que Deus depende do homem e do seu comportamento moral para cumprir o seu propósito no universo. Entretanto, este não é o ensino das Escrituras.
No mesmo texto de abertura deste estudo se lê: "...que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé". A expressão chave é: "e não somente pela fé." Então fica evidente que após crer incondicionalmente as boas obras aparecerão como prova da ação de Deus. A fé é que capacita o regenerado a agir e não a sua noção de justiça própria como supõe comumente os arminianos. O erro destes é que colocam as obras antes da fé, enquanto as Escrituras colocam ambas em interação, sendo a fé o elemento determinante das boas obras, e as boas obras o elemento consequente da ação monergística de Deus.
Conclusivamente, o apóstolo Tiago não está dissociando a fé das obras, mas tão-somente mostrando que estas seguem aquela, e que estas, confirmam a realidade daquela.
Sola Scriptura!
Sola Fide!
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