Jó 33: 1 a 3 - "Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras. Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar. As minhas razões provam a sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o puro saber." Eliú, aquele outro amigo de Jó possuía uma retórica pomposa, rebuscada, porém redundante. Ele fala, basicamente, a mesma coisa todo o tempo. Insiste em afirmar e reafirmar os atributos de Deus, porém insiste também em imputar à causa do sofrimento de Jó, a um, ou diversos pecados por este cometidos e ocultados. Eliú era alguém mais chegado a Jó, porque é o único que o chama pelo nome, por isso, alguns intérpretes acreditam que ele seria um parente.
Por seu lado Jó reclamava o direito de se defender perante Deus, visto que o Todo-Poderoso o houvera alvejado em Sua ira. Jó desejava justificar-se com base em sua noção preceituada de justiça. Esta posição só dificultava as coisas para Jó, visto que a ação de Deus, neste caso, objetiva, por meio da dor, regenerá-lo e não julgá-lo por faltas ou atos pecaminosos. Isto é o óbvio, visto que o próprio Deus o declarara integro, reto, temente e abstêmio do que era mal. Muitos religiosos sofrem por anos a fio em suas crenças, porque não conseguem diferençar entre natureza pecaminosa e atos pecaminosos. Deus está, em princípio, preocupado em resolver o que o homem é, e não apenas, o que ele faz, porque como já foi dito, inumeráveis vezes, o que o homem faz é consequência do que ele é. No verso 9, Eliú traz à memória do seu amigo, as suas próprias afirmações que estava limpo, sem transgressão, e que era puro e sem iniquidade. Ora, o homem natural não existe com estes atributos reclamados por Jó, porque, o fato de não cometer determinados delitos, não implica em uma natureza sem pecado. O pecado original mantém dentro de qualquer homem, e, potencialmente, este possui a condição para cometer qualquer delito. Entretanto, em função dos freios culturais, uma pessoa pode atravessar toda a sua existência sem cometer certos deslizes. Isto não torna ninguém perfeito e merecedor do céu, como se supõe comumente nos círculos religiosos. Isto é claro em toda extensão das Escrituras, entretanto, evidencia-se em Rm. 3:23 -"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus."
No verso 10, Jó chega ao cúmulo de acusar Deus de ter algum pretexto para prejudicá-lo. Acusa-o de tomá-lo por inimigo seu. Muitos religiosos excessivamente ciosos e zelosos dos seus deveres, quando caem em alguma desgraça afirmam a mesma coisa por outras letras: "o que fiz para merecer isto?", ou ainda, "em que errei para ser castigado?".
No capítulo 34, Eliú continua em sua defesa de Deus. De fato tudo quanto ele declara acerca d'Ele é verdadeiro, mas não respondia, e não aliviava o sofrimento de Jó, porque a operação do querer e do efetuar de Deus, no caso em tela, eram outras. A ação monérgica de Deus não se circunscreve a uma mera punição de um homem em função dos seus atos. Deus realizou em Jó a destruição do corpo do seu pecado original para gerar uma nova criatura. Jó tipifica o homem pecador, decaído e corrompido que busca desenvolver a sua salvação com base no que pratica e não com base no que Deus preordenara desde os tempos eternos conforme Rm. 8: 29 a 31 - "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" Ora, o que poderiam dizer os amigos de Jó para alterar estas realidades esplêndidas da eleição do Todo-Poderoso?
Eliú rememora as palavras de Jó contra Deus mais uma vez nos versos 5 e 6 do capítulo 34. Ele alega ser justo e que Deus o castigava duramente por mero capricho. É como se Deus fosse um sádico a se divertir com o sofrimento das suas criaturas. Esta é a visão de muitos homens ao longo da história. Jó se apega a um ordenamento jurídico constituído, validado e positivado por ele mesmo, porque, ao que se sabe, pelas Escrituras, homem algum pode postular direitos perante Deus, salvo tendo Cristo como mediador.
Sola Scriptura!
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