Jó 35: 1 a 8 - "Disse mais Eliú: tens por direito dizeres: maior é a minha justiça do que a de Deus? Porque dizes: que me aproveita? Que proveito tenho mais do que se eu tivera pecado? Eu te darei respostas, a ti e aos teus amigos contigo. Atenta para os céus, e vê; e contempla o firmamento que é mais alto do que tu. Se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás com isso? Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá ele da tua mão? A tua impiedade poderia fazer mal a outro tal como tu; e a tua justiça poderia aproveitar a um filho do homem." Esta é uma constatação real e válida para todos os tempos, a saber, tanto o pecado, como as justiças humanas não afetam a soberana pessoa de Deus. Elas causam, outrossim, resultados apenas aos próprios homens. Questões comportamentais estão na esfera horizontal, ou seja, no campo das relações sociológicas e não das teológicas. Entretanto, é natural que a pessoa regenerada tenha prazer em viver de modo digno, porém ela recebe isto de Deus por meio do processo da produção da semelhança de Cristo no nascido do alto. O que acontece comumente na religião é uma inversão: condicionam a moralidade à obtenção da salvação, ou de alguma vantagem material perante Deus. Observa-se, portanto, que em todas as religiões há uma enorme ênfase em reformar o homem moralmente. Tomam as transformações morais e éticas como evidências de regeneração espiritual. Porém, nestes casos, elas estão apenas no campo das mudanças psicológicas e sociológicas. Acrescenta-se que o querer ser bom sem ter sido regenerado é afronta espiritual contra a santidade e a justiça de Deus em Cristo. São aqueles que tentam se apoderar do reino à força como está escrito nos evangelhos. O homem que pretende ser bom sem Cristo desqualifica a sua obra na cruz.
É evidente pelo texto que abre este artigo, que a responsabilidade pelos atos pecaminosos é do homem. Entretanto, a concepção de Eliú é de que Deus não ouve os ímpios, porque estes não têm fé. Ora, os justos segundo as suas justiças próprias, não têm-na igualmente, porque a fé é dom de Deus. Obviamente a busca por justiça, retidão, integridade, temor e o desviar-se do que é mal é uma obrigação moral do homem. Entretanto, a sua natureza pecaminosa não o permite viver dessa forma todo o tempo. Por esta razão é que as justiças humanas foram reputadas como "panos podres de menstruação", porque isto é o que consta no texto original de Is. 64:6a - "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia..."
O que se confunde no senso religioso comum é que o homem consiga mover a vontade de Deus em seu favor, por conta das suas justiças próprias. Porém, a natureza adâmica, velha natureza ou natureza decaída não o permite fazê-Lo inclinar-se para lhe conceder favores quaisquer. Ao contrário, as Escrituras dizem em Is. 59:2 - "Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça." Qualquer prática de virtudes e justiças são muito boas, mas não podem salvar o homem do seu estado de decadência e degenerescência. A única forma de solucionar este dilema é recebendo graça e fé conforme Ef. 2: 8 e 9 - "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie."
Então, o modelo proposto pelo homem não serve, porque a ação é monérgica, isto é, se inicia sempre e invariavelmente em Deus. A religião humana, por seu turno, sempre e invariavelmente tenta estabelecer uma ação sinérgica, isto é, focada no esforço humano. Muitos reconhecem que o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo, mas dizem que o homem pecador, decaído e depravado espiritualmente coopera com o Ele neste processo. Logo, isto retira a plena veracidade das Escrituras que ensinam monergismo e não sinergismo. No mesmo texto de Efésios diz no verso 10: "porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." Assim, os regenerados são o resultado da ação monérgica de Deus, porque foram feitos por Ele em Cristo, a saber, na inclusão em Sua morte e ressurreição; foram regenerados para realizar boas obras, e estas, foram preparadas por Deus para que os seus eleitos andassem nelas. Veja é exatamente o oposto do que postulam as religiões dominantes e predominantes no mundo cuja base é meritória.
Nos versos 14 a 16 é colocado que Jó poderia escolher o caminho da confiança em Deus, para obter perdão, ou rebeldia a fim de merecer mais castigo. Entretanto, é desconhecido pelo homem natural, ou mesmo religioso, que a confiança em Deus é produto da fé, e, esta é o meio para que a graça d'Ele opere o querer e o efetuar no pecador. Conclui-se, então, que não é a justiça de Deus que deve ser questionada ou testada, mas as falsas justiças humanas. Não é a escassez de bênçãos, ou a abundância delas que evidenciam, nem a ausência, nem o excesso do zelo de Deus. Em qualquer dos casos a ação de Deus é sempre justa, porque Ele é Justiça.
Sola Scriptura!