janeiro 30, 2010

A SÍNDROME DE JÓ XXI


Jó 35: 1 a 8 - "Disse mais Eliú: tens por direito dizeres: maior é a minha justiça do que a de Deus? Porque dizes: que me aproveita? Que proveito tenho mais do que se eu tivera pecado? Eu te darei respostas, a ti e aos teus amigos contigo. Atenta para os céus, e vê; e contempla o firmamento que é mais alto do que tu. Se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás com isso? Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá ele da tua mão? A tua impiedade poderia fazer mal a outro tal como tu; e a tua justiça poderia aproveitar a um filho do homem." Esta é uma constatação real e válida para todos os tempos, a saber, tanto o pecado, como as justiças humanas não afetam a soberana pessoa de Deus. Elas causam, outrossim, resultados apenas aos próprios homens. Questões comportamentais estão na esfera horizontal, ou seja, no campo das relações sociológicas e não das teológicas. Entretanto, é natural que a pessoa regenerada tenha prazer em viver de modo digno, porém ela recebe isto de Deus por meio do processo da produção da semelhança de Cristo no nascido do alto. O que acontece comumente na religião é uma inversão: condicionam a moralidade à obtenção da salvação, ou de alguma vantagem material perante Deus. Observa-se, portanto, que em todas as religiões há uma enorme ênfase em reformar o homem moralmente. Tomam as transformações morais e éticas como evidências de regeneração espiritual. Porém, nestes casos, elas estão apenas no campo das mudanças psicológicas e sociológicas. Acrescenta-se que o querer ser bom sem ter sido regenerado é afronta espiritual contra a santidade e a justiça de Deus em Cristo. São aqueles que tentam se apoderar do reino à força como está escrito nos evangelhos. O homem que pretende ser bom sem Cristo desqualifica a sua obra na cruz.
É evidente pelo texto que abre este artigo, que a responsabilidade pelos atos pecaminosos é do homem. Entretanto, a concepção de Eliú é de que Deus não ouve os ímpios, porque estes não têm fé. Ora, os justos segundo as suas justiças próprias, não têm-na igualmente, porque a fé é dom de Deus. Obviamente a busca por justiça, retidão, integridade, temor e o desviar-se do que é mal é uma obrigação moral do homem. Entretanto, a sua natureza pecaminosa não o permite viver dessa forma todo o tempo. Por esta razão é que as justiças humanas foram reputadas como "panos podres de menstruação", porque isto é o que consta no texto original de Is. 64:6a - "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia..."
O que se confunde no senso religioso comum é que o homem consiga mover a vontade de Deus em seu favor, por conta das suas justiças próprias. Porém, a natureza adâmica, velha natureza ou natureza decaída não o permite fazê-Lo inclinar-se para lhe conceder favores quaisquer. Ao contrário, as Escrituras dizem em Is. 59:2 - "Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça." Qualquer prática de virtudes e justiças são muito boas, mas não podem salvar o homem do seu estado de decadência e degenerescência. A única forma de solucionar este dilema é recebendo graça e fé conforme Ef. 2: 8 e 9 - "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie."
Então, o modelo proposto pelo homem não serve, porque a ação é monérgica, isto é, se inicia sempre e invariavelmente em Deus. A religião humana, por seu turno, sempre e invariavelmente tenta estabelecer uma ação sinérgica, isto é, focada no esforço humano. Muitos reconhecem que o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo, mas dizem que o homem pecador, decaído e depravado espiritualmente coopera com o Ele neste processo. Logo, isto retira a plena veracidade das Escrituras que ensinam monergismo e não sinergismo. No mesmo texto de Efésios diz no verso 10: "porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." Assim, os regenerados são o resultado da ação monérgica de Deus, porque foram feitos por Ele em Cristo, a saber, na inclusão em Sua morte e ressurreição; foram regenerados para realizar boas obras, e estas, foram preparadas por Deus para que os seus eleitos andassem nelas. Veja é exatamente o oposto do que postulam as religiões dominantes e predominantes no mundo cuja base é meritória.

Nos versos 14 a 16 é colocado que Jó poderia escolher o caminho da confiança em Deus, para obter perdão, ou rebeldia a fim de merecer mais castigo. Entretanto, é desconhecido pelo homem natural, ou mesmo religioso, que a confiança em Deus é produto da fé, e, esta é o meio para que a graça d'Ele opere o querer e o efetuar no pecador. Conclui-se, então, que não é a justiça de Deus que deve ser questionada ou testada, mas as falsas justiças humanas. Não é a escassez de bênçãos, ou a abundância delas que evidenciam, nem a ausência, nem o excesso do zelo de Deus. Em qualquer dos casos a ação de Deus é sempre justa, porque Ele é Justiça.

Sola Scriptura!

janeiro 10, 2010

A SÍNDROME DE JÓ XX


Jó 33: 1 a 3 - "Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras. Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar. As minhas razões provam a sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o puro saber." Eliú, aquele outro amigo de Jó possuía uma retórica pomposa, rebuscada, porém redundante. Ele fala, basicamente, a mesma coisa todo o tempo. Insiste em afirmar e reafirmar os atributos de Deus, porém insiste também em imputar à causa do sofrimento de Jó, a um, ou diversos pecados por este cometidos e ocultados. Eliú era alguém mais chegado a Jó, porque é o único que o chama pelo nome, por isso, alguns intérpretes acreditam que ele seria um parente.
Por seu lado Jó reclamava o direito de se defender perante Deus, visto que o Todo-Poderoso o houvera alvejado em Sua ira. Jó desejava justificar-se com base em sua noção preceituada de justiça. Esta posição só dificultava as coisas para Jó, visto que a ação de Deus, neste caso, objetiva, por meio da dor, regenerá-lo e não julgá-lo por faltas ou atos pecaminosos. Isto é o óbvio, visto que o próprio Deus o declarara integro, reto, temente e abstêmio do que era mal. Muitos religiosos sofrem por anos a fio em suas crenças, porque não conseguem diferençar entre natureza pecaminosa e atos pecaminosos. Deus está, em princípio, preocupado em resolver o que o homem é, e não apenas, o que ele faz, porque como já foi dito, inumeráveis vezes, o que o homem faz é consequência do que ele é. No verso 9, Eliú traz à memória do seu amigo, as suas próprias afirmações que estava limpo, sem transgressão, e que era puro e sem iniquidade. Ora, o homem natural não existe com estes atributos reclamados por Jó, porque, o fato de não cometer determinados delitos, não implica em uma natureza sem pecado. O pecado original mantém dentro de qualquer homem, e, potencialmente, este possui a condição para cometer qualquer delito. Entretanto, em função dos freios culturais, uma pessoa pode atravessar toda a sua existência sem cometer certos deslizes. Isto não torna ninguém perfeito e merecedor do céu, como se supõe comumente nos círculos religiosos. Isto é claro em toda extensão das Escrituras, entretanto, evidencia-se em Rm. 3:23 -"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus."
No verso 10, Jó chega ao cúmulo de acusar Deus de ter algum pretexto para prejudicá-lo. Acusa-o de tomá-lo por inimigo seu. Muitos religiosos excessivamente ciosos e zelosos dos seus deveres, quando caem em alguma desgraça afirmam a mesma coisa por outras letras: "o que fiz para merecer isto?", ou ainda, "em que errei para ser castigado?".
No capítulo 34, Eliú continua em sua defesa de Deus. De fato tudo quanto ele declara acerca d'Ele é verdadeiro, mas não respondia, e não aliviava o sofrimento de Jó, porque a operação do querer e do efetuar de Deus, no caso em tela, eram outras. A ação monérgica de Deus não se circunscreve a uma mera punição de um homem em função dos seus atos. Deus realizou em Jó a destruição do corpo do seu pecado original para gerar uma nova criatura. Jó tipifica o homem pecador, decaído e corrompido que busca desenvolver a sua salvação com base no que pratica e não com base no que Deus preordenara desde os tempos eternos conforme Rm. 8: 29 a 31 - "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" Ora, o que poderiam dizer os amigos de Jó para alterar estas realidades esplêndidas da eleição do Todo-Poderoso?
Eliú rememora as palavras de Jó contra Deus mais uma vez nos versos 5 e 6 do capítulo 34. Ele alega ser justo e que Deus o castigava duramente por mero capricho. É como se Deus fosse um sádico a se divertir com o sofrimento das suas criaturas. Esta é a visão de muitos homens ao longo da história. Jó se apega a um ordenamento jurídico constituído, validado e positivado por ele mesmo, porque, ao que se sabe, pelas Escrituras, homem algum pode postular direitos perante Deus, salvo tendo Cristo como mediador.
Sola Scriptura!

janeiro 08, 2010

A SÍNDROME DE JÓ IXX


Jó 32: 1 a 5 - "Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos. E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus. Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos, porque, não achando que responder, todavia condenavam a Jó. Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele. Vendo, pois, Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu." Na sequência de capítulos, ao chegar no 32, vê-se uma situação interessante: três acusadores legalistas e um acusado igualmente legalista em uma espécie de impasse. Três contra um e um contra três em arranjos diferenciados: ora os três amigos de Jó contra ele, ora um dos amigos de Jó contra os outros dois e contra o próprio Jó. Assim sucede, sempre que se coloca a centralidade no homem e na lei. Geram-se apenas imposições de vontades, preceitos, regras e normas puramente humanas.
Dois dos três amigos de Jó cessaram de replicá-lo, porque este se declarava justo aos seus próprios olhos. Jó ascendeu a sua ira contra os três amigos, porque o condenavam sem apresentar uma causa determinante ou eficiente do seu sofrimento. Um dos amigos de Jó, e que não pertencia à tríade de contestadores, se levantou contra ele, insistindo em aspectos lógicos da religião: o homem não pode ser castigado sem ter pecado contra Deus. Não conheciam de fato o que é soberania de Deus e a diferença entre pecado e pecados.
Eliú, preso às formalidades culturais do seu tempo falou por último. Prolixo, pois gasta a maior parte da sua fala em apresentar aquilo que pretendia dizer. Todavia, no conteúdo em si, nada de novo acrescentara ao que todos já houvera dito. De certa forma, Eliú estava mesmo interessado em apresentar a validade do seu direito à fala. Ele atribuiu à avançada idade dos amigos, a razão da incompetência deles em levar Jó ao reconhecimento do seu erro, ou pecado. Assim, pretendia Eliú sobressair-se como o grande convencedor do amigo Jó, como se fora a virtude de Deus na Terra.
Ainda que com base na tradição oral, Eliú reconhece que o espírito que vive no homem foi o resultado do sopro do Todo-Poderoso. Isto é verdade conforme Gn. 2:7 - "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida; e o homem foi feito alma vivente." As palavras hebraicas para "...fôlego de vida" significam de fato: "fôlego das vidas", referindo-se à alma e ao espírito. Porém, faltou conhecimento ou luz para mostrar-lhe que este espírito está morto para Deus, por conta do pecado. É verdade também que Eliú reconhece que a sabedoria é um dom de Deus e não das elaborações humanas.
Eliú agiu como todos os religiosos ao longo dos tempos: julga que o falar é mais imperioso do que buscar o significado da real soberana vontade de Deus para com Jó. O foco do seu discurso irado continua sendo jogado sobre o homem e suas práticas. Ainda que teça uma elegante e profunda peça de retórica em nome de Deus, isto não é necessariamente o conhecimento de Deus. Ele, em sua ira, demonstra tremendo orgulho espiritual e promove auto-exaltação. Para ele era imperioso que Jó reconhecesse que merecia o castigo. Eliú prometeu argumentos repletos de novidades, superioridade e loquacidade. Todavia, nada disso se vê em sua fala. Ele reproduz o mesmo modelo produzido pela crença comum, pela religião dominante e pela natureza presunçosa de conhecer os desígnios de Deus para a vida dos outros.
Eliú desejava tão-somente desabafar a sua opinião conforme suas próprias palavras no verso 20. Se encheu de dureza e se afastou das lisonjas comuns em negociações inter-humanas. Todavia, age como muitos líderes religiosos em nome de Deus, e de Jesus, mas que, no fundo, agem em seus próprios nomes decaídos e corrompidos pela natureza pecaminosa que não morreu na cruz com Cristo, e, muito menos, com Ele ressuscitou ao terceiro dia pela fé.
Sola Fide!

janeiro 03, 2010

A SÍNDROME DE JÓ XVIII


Jó 31: 1 a 4 - "Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem? Que porção teria eu do Deus lá de cima, ou que herança do Todo-Poderoso desde as alturas? Porventura não é a perdição para o perverso, o desastre para os que praticam iniquidade? Ou não vê ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos?" No capítulo 30 Jó se põe a lamentar as suas misérias, demonstrando uma enorme preocupação com a opinião dos outros homens. Esta é uma constante na vida do religioso não regenerado. Há uma grande preocupação com a aparência exterior, com a ética comportamental ou situacional. É como se a espiritualidade fosse algo produzido pelo comportamento moral do homem. Não é assim que ensinam as Escrituras. Elas doutrinam que a moralidade e a ética surgem como consequência da ação de Deus no homem. Quando se inverte esta realidade, se é que se inverte, coloca-se o foco no homem e não em Deus por meio de Cristo. Isto é heresia e falta de temor diante da justiça eterna executada na cruz.
No capítulo 31, Jó condiciona a ação de Deus à sua integridade e retidão, apresentando suas excelsas qualidades como credenciais a uma boa resposta d'Ele. Não são nossas alianças que nos garantem uma boa relação e uma boa posição perante Deus, mas as Suas misericórdias e a Sua graça. Jó vê Deus como "o Deus lá de cima", e não como um Deus pessoal e presente; define Deus, como o "Todo-Poderoso desde as alturas" e não o Deus cuja glória enche os céus e a Terra; vê a salvação em termos das ações humanas com base na prática do bem e do mal, sendo estes subprodutos da natureza humana, porém se esquece que esta é decaída e corrompida.
O culto racional a que alude Paulo em Rm. 12:1 é o culto resultante da geração de uma nova criatura, produzindo como consequência uma vida voltada à plena vontade de Deus. É a razão humana regenerada, a qual se volta para agradar ao Criador como consequência do fato de que é nova criatura conforme II Co. 5:17 - "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." A novidade de vida vem, porque alguém está em Cristo e não que ele esteja em alguém, por este apresentar novidade de vida. Isto não é possível, porque o homem decaído não pode produzir sua própria regeneração. Ele não é salvador de si mesmo, pois isto anularia a graça de Deus manifestada em Cristo e na Sua morte de cruz. As coisas velhas já se foram e tudo se faz novo diante dos olhos de Deus, porque Ele vê a nova criatura em Cristo Seu Filho Unigênito e Primogênito dentre os mortos. O grande erro do religioso é achar que seu bom comportamento moral, sua ética, suas justiças próprias e seus supostos méritos convencem a Deus a lhes ser inclinado ou favorável. Ao contrário é a condição de novidade de vida no nascimento ou geração do alto que torna o pecador decaído aceitável perante Deus.
Pela última vez Jó declara a sua integridade no capítulo 31, fazendo um discurso dialético, no qual confronta as suas justiças e boas práticas com o estado de calamidade a que estava submetido. Jó alega a sua absoluta inocência, porém creditou-a às coisas, fatos, comportamentos, moralidade e ética. Deus realizava uma ação espiritual, porém Jó via apenas ações exteriores, ética situacional e comportamento relacional. Deus está extirpando a natureza pecaminosa residente e persistente em Jó, mas ele insiste em que é reto, íntegro, temente e afasta-se do que é mal. Jó não era pecador, porque cometia atos pecaminosos, mas porque todo homem já nasce pecador por natureza e herança adâmica conforme Rm. 5:12 - "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso, que todos pecaram." Veja, o texto fala que entrou o pecado, e não os pecados. Isto significa algo para você? Se não pode começar a pedir a sabedoria do alto! O pecado como um princípio ou natureza dominante no homem é uma questão de DNA e não apenas de atos e atitudes ruins.
Não haveria necessidade de Jó declarar e alegar a sua integridade perante Deus, pois Ele próprio já declarara isto nos capítulos 1 e 2 perante os anjos e perante Satanás que ele era reto, íntegro, temente e desviava-se do mal. Então fica evidente que não são estes comportamentos e culto exterior que regeneram o pecador.
Tal como Jó, o homem religioso, e que não passou pelo nascimento do alto reivindica tudo diante de Deus com base no que faz e não com base no que é por natureza. Neste sentido a religião humana nada mais é que uma moeda de troca e uma mercadoria de escambo. Deus não está nisso!
Sola Gratia!
Sola Fide!