Jó 27: 1 a 6 - "E prosseguindo Jó em seu discurso, disse: vive Deus, que tirou o meu direito, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma. Que, enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus nas minhas narinas, não falarão os meus lábios iniquidade, nem a minha língua pronunciará engano. Longe de mim que eu vos justifique; até que eu expire, nunca apartarei de mim a minha integridade. À minha justiça me apegarei e não a largarei; não me reprovará o meu coração em toda a minha vida." Agora se percebe um homem armado e submetido à sua real natureza decaída, ainda que reto, íntegro, temente e desviando-se do mal. Avaliando-se a si mesmo além do que deveria e culpando a Deus pelo seu infortúnio sem entendimento do fato. Obviamente que tudo quanto sucede no universo está sob o controle de Deus, pois do contrário, Ele não seria Soberano. Entretanto, uma coisa é o homem se curvar ante a soberana vontade de Deus, outra coisa é o homem, em sua arrogância pecaminosa, atribuir culpa a Deus como se Ele deleitasse no castigo do pecado. Feitas estas primeiras distinções, pode-se verificar claramente como a alma de Jó raciocinava e agia em meio ao seu drama pessoal. No final do livro encontra-se Jó negando tudo quanto havia afirmado no início e se reconhecendo incompetente para conhecer Deus por conta própria.
Observa-se que Jó estava requerendo o munus de um direito que não existe, pois o pecador não possui direito algum. O pecado é injustiça conforme Rm. 1:18 - "Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça." Percebe-se nas palavras de Jó, um misto de crença e de soberba: não perde a visão do Deus concebido em sua base de crença, mas não consegue ver claramente a causa e a finalidade da ação divina na remoção do pecado pessoal.
Jó em seu drama, afirma uma fé humana e desprovida do dom de Deus, pois nenhum homem pode fazer promessas quanto a manutenção da sua integridade. O pecado, o trairá, levando-o a cometer atos pecaminosos, os quais desfazem a base destas promessas. Por esta razão Jesus afirma que ninguém pode jurar por nada, e nem por si mesmo. No desespero sem conhecimento de causa, Jó apegara-se ao conceito de justiça própria, sendo que Deus não o havia classificado como justo. Sondou o seu coração e verificou por conta própria que este, isto é, a sua alma e espírito, não encontrava nenhuma reprovação em toda a sua existência. Entretanto, sabe-se que o coração é a coisa mais enganosa e corrupta no homem conforme Jr. 17:9 e 10 - "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações."
Caso houvesse algum tribunal ou recurso apelativo naquele tempo, Jó teria entrado com uma queixa crime contra Deus, por julgar que estaria sendo subtraído injustamente em seu direito. Esta é a mente humana corrompida pelo pecado: considera a ação de Deus a partir de seus pressupostos de justiça e integridade próprias. Os parâmetros forenses e sociológicos não servem para estabelecer entendimento sobre Deus, porque Ele é anterior e acima de todas estas normas, preceitos, e regras produzidas pela alma corrompida em sua natureza pecaminosa. É o reflexo do que foi inoculado no homem desde o Éden: o desejo de ser como Deus, conhecedor do bem e do mal. Isto cria na mente decaída do homem uma noção errônea de justiça própria e méritos.
Soli Deo Gloria!
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