dezembro 27, 2009

A SÍNDROME DE JÓ XVII


Jó 29: 1 a 16 - "E prosseguiu Jó no seu discurso, dizendo: ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça e quando eu pela sua luz caminhava pelas trevas. Como fui nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim. Quando lavava os meus passos na manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite; quando eu saía para a porta da cidade, e na rua fazia preparar a minha cadeira, os moços me viam, e se escondiam, e até os idosos se levantavam e se punham em pé; Os príncipes continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca; A voz dos nobres se calava, e a sua língua apegava-se ao seu paladar. Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo. Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência."
O homem sempre preza por um discurso em seu favor, porque sua fé é apenas circunstancial. A fé verdadeira independe das circunstâncias, porque é dom de Deus. Ele a dá apesar do homem e das suas circunstâncias. Entretanto, a fé humana é um tipo de esperança, ou expectativa e só se manifesta quando as circunstâncias são desfavoráveis. Neste sentido é algo passageiro e não o fundamento do que ainda não é e a certeza do que não se vê como postulado nas Escrituras. A fé circunstancial ou circunstanciada produz resultados pelos poderes latentes da alma. Não é uma ação monérgica de Deus, mas algo produzido pelas forças almáticas do próprio homem. Muitos dos "milagres" atribuídos a Deus, aos santos ou às forças sobrenaturais, nada mais são do que o resultado do poder gerado pela alma decaída do homem. É a tristemente famigerada "luz interior" do homem, amplamente cultuada pelo gnosticismo. Porque as Escrituras classificam esta luz com trevas conforme Lc. 11: 35 - "Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas."
O homem julga tudo com base na sua noção de justiça própria e de méritos. Jó estabeleceu uma teologia da prosperidade, quando em seu drama se viu aparentemente desamparado imaginou que Deus o havia abandonado. Então, para ele, Deus só se faz presente quando as coisas estão indo bem. Este é um julgamento prevalecente nas religiões: se tudo vai bem, Deus está abençoando; se, no entanto, vai mal, Deus está castigando e o Diabo está agindo. Ora, no caso de Jó, Deus não o abandonou em momento algum! A sua natureza não regenerada é que confundiu religião cerimonial com ação soberana, misericordiosa e graciosa de Deus. Contrariamente à teologia de Jó, Deus estava mais atuante no infortúnio dele, do que antes, no tempo das benesses, porque no último caso, o Altíssimo estava realizando a sua purificação e a sua vivificação para salvá-lo.
Outro aspecto típico do homem justo aos seus próprios olhos é a necessidade de ser consultado, admirado e bajulado. Vê-se que Jó se gabava de ser notado, prestigiado, admirado e consultado, como evidência da presença de Deus em sua vida. Ora, há muitos ateus confessos que possuem imenso prestígio. Deus não está nestas coisas originárias das cogitações humanas. Foi exatamente por conta do pecado da soberba e do orgulho que Lúcifer perdeu a posição de anjo cobridor e sinete da perfeição. Foi ele expulso do monte santo de Deus, porque desejou ser semelhante ao Altíssimo por conta própria. Desde a inoculação do pecado no homem a partir do Éden, que este passou a desenvolver e cultuar a "síndrome de Lúcifer" em seu coração. Deseja ser Deus, agir como Ele, e viver em uma espécie de autonomia apóstata.
O mais impressionante é que líderes religiosos tomam a figura de Jó como alguém que sofreu com muita paciência e submissão a Deus. Não é esta a realidade das declarações e confissões do próprio Jó. Basta verificar o final da sua experiência, para ver que Deus realizou nele uma obra de regeneração e envergonhou Satanás para sempre.
Sola Gratia!

dezembro 13, 2009

A SÍNDROME DE JÓ XVI


Jó 28: 12 a 21 - "Porém onde se achará a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? O homem não conhece o seu valor, e nem ela se acha na terra dos viventes. O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: ela não está comigo. Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em troca dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela não se pode comparar o ouro nem o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino. Não se fará menção de coral nem de pérolas; porque o valor da sabedoria é melhor que o dos rubis. Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode avaliar por ouro puro. Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? Pois está encoberta aos olhos de todo o vivente, e oculta às aves do céu." Jó discorre sobre conhecimentos gerais da Terra e suas riquezas naturais, mostrando como o homem domina os recursos e atribui a estes grande valor. Demonstra ter profundo conhecimento da estrutura geológica e dos processos evolutivos do planeta que hoje são confirmados pelas geociências; levanta diversos questionamentos sobre os eventos naturais e a incompetência do homem em explicar-lhes a origem e o poder que os regula e os mantêm.
Após tais asseverações, Jó demonstra que o homem é incompetente para desenvolver a sabedoria utilizando a metáfora do mineiro e seus processos tecnológicos. A maestria do minerador não lhe confere a verdadeira sabedoria, porque esta é procedente do alto conforme Tg. 3:17 - "Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia." Esta sabedoria é dom de Deus, portanto, não se coaduna com a sabedoria humana que é de baixo e contaminada pela natureza pecaminosa conforme Tg. 3:15 - "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Os religiosos e legalistas se desapontam com tais afirmações, porque elas lhes são por demais desconcertantes. Eles querem um Deus alcançável e manipulável. Eles querem um Deus que se preocupe com suas cogitações e não com o seu "Supremo Propósito". O homem decaído, especialmente, o religioso é um Narciso por natureza. Ele quer que Deus se curve aos seus desejos, mas não possui inclinação para alcançar a grandiosidade do plano divino, além do que lhe convém. É uma religião de conveniências, reducionista, maniqueísta e excludente da verdade. O Deus das religiões não pode ser encontrado nas Escrituras. Nestas circunstâncias, Ele é uma ficção resultante da arrogância do pecado inoculado no homem desde o Éden. Ele cultua um "deus" que lhe é submisso e omisso ante à natureza pecaminosa.
A sabedoria a que alude o texto de Tiago é do alto, a saber, é dom de Deus, é pura, ou seja, não se contamina com a natureza pecaminosa, é pacífica, moderada, tratável, misericordiosa, produz bons frutos, é imparcial e sem hipocrisia. Geralmente, este tipo de sabedoria não agrada ao homem decaído, porque ele quer ser o centro das atenções e, ela, retira-lhe o brilho. Porém, a sabedoria produzida pela vontade humana é terrena, ou seja, se produz com base no que é natural, é almática, pois, no original, a palavra 'animal' é 'psikikos', ou seja, almática, e finalmente é diabólica, porque o homem que não nasceu do alto possui a natureza diabólica por herança adâmica. Não importa o comportamento moral, ético e estético de uma pessoa, se não for regenerada, a natureza diabólica continua nela. Embora esta natureza não seja exatamente determinante de práticas maldosas, potencialmente a referida pessoa possui todas as condições para o mal.
Este ensino é duro, mas é o que as Escrituras ensinam e não o que as religiões e o humanismo retorcido pelo gnosticismo pretende.
Sola Scriptura!

dezembro 12, 2009

A SÍNDROME DE JÓ XV


Jó 27: 1 a 6 - "E prosseguindo Jó em seu discurso, disse: vive Deus, que tirou o meu direito, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma. Que, enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus nas minhas narinas, não falarão os meus lábios iniquidade, nem a minha língua pronunciará engano. Longe de mim que eu vos justifique; até que eu expire, nunca apartarei de mim a minha integridade. À minha justiça me apegarei e não a largarei; não me reprovará o meu coração em toda a minha vida." Agora se percebe um homem armado e submetido à sua real natureza decaída, ainda que reto, íntegro, temente e desviando-se do mal. Avaliando-se a si mesmo além do que deveria e culpando a Deus pelo seu infortúnio sem entendimento do fato. Obviamente que tudo quanto sucede no universo está sob o controle de Deus, pois do contrário, Ele não seria Soberano. Entretanto, uma coisa é o homem se curvar ante a soberana vontade de Deus, outra coisa é o homem, em sua arrogância pecaminosa, atribuir culpa a Deus como se Ele deleitasse no castigo do pecado. Feitas estas primeiras distinções, pode-se verificar claramente como a alma de Jó raciocinava e agia em meio ao seu drama pessoal. No final do livro encontra-se Jó negando tudo quanto havia afirmado no início e se reconhecendo incompetente para conhecer Deus por conta própria.
Observa-se que Jó estava requerendo o munus de um direito que não existe, pois o pecador não possui direito algum. O pecado é injustiça conforme Rm. 1:18 - "Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça." Percebe-se nas palavras de Jó, um misto de crença e de soberba: não perde a visão do Deus concebido em sua base de crença, mas não consegue ver claramente a causa e a finalidade da ação divina na remoção do pecado pessoal.
Jó em seu drama, afirma uma fé humana e desprovida do dom de Deus, pois nenhum homem pode fazer promessas quanto a manutenção da sua integridade. O pecado, o trairá, levando-o a cometer atos pecaminosos, os quais desfazem a base destas promessas. Por esta razão Jesus afirma que ninguém pode jurar por nada, e nem por si mesmo. No desespero sem conhecimento de causa, Jó apegara-se ao conceito de justiça própria, sendo que Deus não o havia classificado como justo. Sondou o seu coração e verificou por conta própria que este, isto é, a sua alma e espírito, não encontrava nenhuma reprovação em toda a sua existência. Entretanto, sabe-se que o coração é a coisa mais enganosa e corrupta no homem conforme Jr. 17:9 e 10 - "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações."
Caso houvesse algum tribunal ou recurso apelativo naquele tempo, Jó teria entrado com uma queixa crime contra Deus, por julgar que estaria sendo subtraído injustamente em seu direito. Esta é a mente humana corrompida pelo pecado: considera a ação de Deus a partir de seus pressupostos de justiça e integridade próprias. Os parâmetros forenses e sociológicos não servem para estabelecer entendimento sobre Deus, porque Ele é anterior e acima de todas estas normas, preceitos, e regras produzidas pela alma corrompida em sua natureza pecaminosa. É o reflexo do que foi inoculado no homem desde o Éden: o desejo de ser como Deus, conhecedor do bem e do mal. Isto cria na mente decaída do homem uma noção errônea de justiça própria e méritos.
Soli Deo Gloria!

dezembro 06, 2009

A SÍNDROME DE JÓ XIV


Jó 25: 1 a 6 - "Então respondeu Bildade, o suíta, e disse: com ele estão domínio e temor; ele faz paz nas suas alturas. Porventura têm número as suas tropas? E sobre quem não se levanta a sua luz? Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher? Eis que até a lua não resplandece, e as estrelas não são puras aos seus olhos. E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um vermezinho!" Bildade é um dos amigos de Jó que apresentou um conhecimento razoável acerca da soberania de Deus. Ele consegue mostrar a Jó o seu verdadeiro lugar e situação, porém este era cego pela natureza não regenerada, tanto quanto os demais. É isto que acontece aos que substituem a misericórdia e a graça de Deus por obras de justiça própria: não conseguem ver! E, quem não vê, também não entra conforme Jo. 3: 3 e 5.
O suíta recebe clara revelação da posição do homem perante Deus: é um verme e o filho do homem, igualmente, verme é por vias de consequências. Ora, um verme é um hospedeiro oportunista que habita o corpo dos outros seres vivos a fim de lhes sugar alimento. No sentido figurado, que é o caso do texto de Bildade, verme é aquilo que consome, mina ou corrói intimamente, como se fosse um parasito, ou ainda, pessoa abjeta, vil, desprezível.
O texto utiliza para verme, a palavra de origem espanhola, gusano, que é um verme o qual possui em uma das extremidades duas pequenas valvas com sulcos providos de dentes. Com eles, em movimento rotatório, cava galerias em madeira submersa, com a qual se alimenta, causando grandes prejuízos às embarcações de madeira, e aos embarcadouros e cais.
O texto mostra que nenhum homem é puro aos olhos de Deus, e, que, apenas a Ele pertence a soberania. Mostra ainda que não há um justo, nenhum dentre os nascidos de mulher. Este amigo de Jó resumiu a doutrina predominante entre os três amigos, os quais pretendiam levar Jó a prostrar-se perante Deus conforme o que entendiam acerca de piedade e reverência elaboradas com base em religião. Tal tentativa se circunscrevia à esfera dos códigos de moralidade e de ética religiosa e não na experiência de regeneração. Entretanto, não adianta o homem não regenerado prostrar-se diante de Deus, pois não pode haver comunhão entre trevas e luz. Com o pecado, o homem jamais será aceito perante a face do Altíssimo. Não é o pecador que aceita a Deus, mas Ele quem o aceita, após torná-lo aceitável em Cristo. É imperativo saber que a salvação sempre foi por meio de Cristo, mesmo para os que viveram antes da Sua vinda na pessoa de Jesus. O acerto para regenerar o homem for determinado antes dos tempos eternos conforme II Tm. 1:9 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos..."
No capítulo 26, Jó reafirma a soberania de Deus, entretanto persiste a tese de um mero conhecimento religioso acerca d'Ele. Não demonstra ter reconhecido que é miserável e necessitado de salvação do que é e não do que faz ou deixa de fazer. Enquanto Deus quer salvar o homem do que ele é, este busca a salvação do que faz, confundindo assim, o pecado que o mata, com os atos pecaminosos que tão somente confirmam este estado de morte espiritual. Não é a consequência maior que a causa, mas a causa é o fator determinante das consequências. Enquanto a religião combate as consequências do pecado, a ação monérgica de Deus retira a causa fundamental na cruz. Enquanto a religião, mal e mal, realiza apenas alguma reforma moral no homem, Deus faz uma nova criatura nos seus eleitos. Não são os atos pecaminosos que tornam o homem pecador, mas a sua natureza pecaminosa que os gera e os multiplica continuamente.
Sola Fide!

dezembro 05, 2009

A SÍNDROME DE JÓ XIII


Jó 23: 1 a 4 - "Respondeu, porém, Jó, dizendo: ainda hoje a minha queixa está em amargura; a minha mão pesa sobre meu gemido. Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos. Saberia as palavras com que ele me responderia, e entenderia o que me dissesse. Porventura segundo a grandeza de seu poder contenderia comigo? Não: ele antes me atenderia." Jó agiu como agem todos os homens portadores da natureza decaída: quando provados querem encontrar Deus. O desejo de falar com Deus não é para colocar-se na perspectiva d'Ele, mas para propor solução ao seu drama. Os religiosos, especialmente, os arminianos buscam Deus para ditar-lhe como Ele deve operar o querer e o efetuar, segundo as suas necessidades e não segundo a boa vontade d'Ele. Observe que Jó vê Deus apenas como um juiz em seu tribunal. É a visão do Deus sem a graça! É a visão maniqueísta de Deus! É o Deus iracundo e prestes a castigar qualquer um sem motivos...
O homem decaído desenvolve enorme capacidade de argumentar suas reivindicações. Se coloca na perspectiva de interlocutor perante Deus. Não conhece o caminho da humilhação conforme Mt. 11:29 - "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas." Não se vê como mendigo, mas como rei e postulante de direitos. Jó faz uma pressuposição do que imagina ser a retidão e a grandeza de Deus, porém não consegue compreender as razões do seu sofrimento. Logo, a sua visão de Deus é apenas assentimento intelectual e religioso. Ao contrário do que pleiteiam os homens e do que ensinam as doutrinas humanistas nas igrejas, o regenerado necessita de dependência plena conforme II Co. 12:9a - "E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza."
Jó não se vê como portador da culpa do pecado original, mas como alguém que não dá motivos para sofrer os danos por que passava. Este é um comportamento comum entre os homens decaídos: alegam sua retidão, sua justiça própria, seus méritos na tentativa de fazer Deus se curvar a eles em seus dramas. Observa-se que Jó, de fato, possui profundo conhecimento informativo sobre Deus. Declara coisas grandiosas acerca d'Ele: mostra que Deus é onisciente, onipresente e onipotente; mostra que Deus é incompreensível pelo homem, salvo se Ele mesmo se revelar; mostra que Deus é imutável; mostra que é Deus quem resolve as coisas; mostra que é Deus quem cumpre os Seus decretos; mostra que há um plano para o mundo; mostra que é Deus quem soluciona o problema do pecado no homem. Assim, fica evidente que não é suficiente ter um assentimento puramente intelectual sobre Deus.
Por fim, Jó declara que não é por conta da sua tragédia que se sente angustiado, mas, sim, o fato de que era Deus quem a executava. Ou seja, o homem sem a regeneração possui uma visão parcial da soberania de Deus. Além do que o homem em tal situação espiritual se magoa muito rapidamente contra Deus.
No capítulo 24, Jó chega a uma tese que Deus, muitas vezes deixa de castigar os perversos. Desta forma, subjaz no inconsciente do homem decaído, a ideia de que Deus é injusto e que se vale de dois pesos e duas medidas. Mostra a brutalidade dos ímpios, como quem age sem nenhum limite. Mostra que há uma ordem dominante no sistema humano que é tolerante com o mal e que Deus não age sobre esta questão. Isto equivale a acusar Deus de ser conivente com o que é mau.
Jó encerra o seu discurso amargo contra a ordem prevalecente, para que seus amigos provem o contrário do que ele expõe. Está interessado em encontrar uma resposta para o seu dilema pessoal. A prosperidade dos ímpios é um mistério para os que não conhecem a soberana vontade de Deus. Exige dos regenerados um profundo exercício de fé, pois o reino deles não se firma na prosperidade, mas no mundo vindouro, onde haverá justiça e paz. Entretanto, o homem em seu estado pecaminoso, quer produzir o reino de Deus à força neste mundo que jaz no maligno. Não veem a restauração final como fato, mas apenas como retórica.
Mais adiante veremos onde Jó pretende chegar com todos os seus questionamentos.
Sola Gratia!