abril 20, 2009

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XI

Gl. 1: 8 e 9 - "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." A seriedade da Palavra de Deus ultrapassa todos os limites humanos. Ela não autoriza em tese, nem apóstolos, nem discípulos, nem anjos do céu ir além do evangelho já anunciado. Sendo esta premissa uma verdade escriturística, tem-se hodiernamente uma amalgama de anátemas disseminados como se evangelho fora. O juiz dessa afirmativa é a própria palavra de Deus. Tristemente, há inumeráveis pessoas bem intencionadas financiando o anátema nos mais diversos rincões desse mundo, acreditando estar cooperando para a pregação do evangelho. Não são estes mais enganados do que o próprio engano natural de suas almas contaminadas pela natureza pecaminosa. Ninguém é enganado, sem primeiramente enganar-se pela ausência de evangelho nas religiões humanizadas. Após serem enganadas se tornam enganadoras por reproduziram um sistema de crença fora das Escrituras. Neste ponto ocorre a teologia deformada.
Na asseveração paulina aos gálatas, está implícita a verdade que há um evangelho bendito, o qual já havia sido anunciado. Tudo o que ultrapassar os limites desse evangelho uma vez anunciado é maldição. Ora, fica assim evidenciado que qualquer acréscimo, exegese, apologética ou hermenêutica resultante da presumida sapiência humana, não altera e não muda a verdade do evangelho compendiado. Tal evangelho se resume no seguinte: "Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." - I Co. 15:3 e 4. O apóstolo Paulo recebeu e da mesma forma entregou o evangelho, isto é, segundo  as Escrituras. Não acrescentou, e não retirou absolutamente nada dele. Mostra que Cristo morreu por causa e para aniquilar os pecados de cada eleito, isto é, para destruição deles conforme Rm. 6:1 a 7; que Cristo foi sepultado comprovando a sua morte real e total para matar a morte do homem; e que ressuscitou ao terceiro dia, tudo conforme as Escrituras o havia predito. A ressurreição nos dá a garantia de que Cristo é o método de Deus para destruição e retirada do pecado, como também para a concessão da vida eterna, trazendo os eleitos que foram incluídos n'Ele em sua morte à vida eterna. Assim, quando Cristo morreu estavam os eleitos pecadores incluídos n'Ele, quando ressuscitou está Ele nos eleitos e regenerados para lhes comunicar a vida.
Os outros evangelhos resultantes das conjecturas e injunções de homens, nada têm a ver com o evangelho simples e direto apresentado pelas Escrituras. É o caso, por exemplo, do arminianismo e suas derivações históricas. Tal doutrina deformada foi criada por Tiago Armínio, ou Jacobus Arminius, ou ainda Jacob Harmensz. Armínio foi discípulo de um notável calvinista chamado Teodoro de Beza. Entretanto, adotou uma esdrúxula teologia na qual pregava uma forma de sinergismo, isto é, a crença que a salvação do homem depende da cooperação entre este e Deus. Isto se opunha ao monergismo, isto é, a afirmação que a salvação depende exclusivamente da soberana graça de Deus para com o pecador, sem a participação livre deste. O sinergismo arminiano difere substancialmente de outras formas de sinergismo, tais como o pelagianismo e o semipelagianismo, representando apenas uma espécie de mimetismo pernicioso à Igreja. Ao longo da história do cristianismo sempre foi assim, a mentira deformadora apresenta-se como melhor proposta ao puro evangelho. Isto ocorre porque ela satisfaz a incansável busca do homem pela sua autonomia apostatada de Deus.
Armínio e os adeptos de sua doutrina divergiram do monergismo calvinista por entenderem que a doutrina da eleição incondicional, e, especialmente da reprovação incondicional, da expiação limitada e da graça irresistível de Deus seriam incompatíveis com o caráter d'Ele, que é amoroso, compassivo, bom e deseja que todos se salvem. Também, as tais doutrinas reformadas violariam o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. E, finalmente, levariam à consequência lógica inevitável de que Deus seria o autor do mal e do pecado. Exposto desta forma parecem ponderações razoáveis e até mesmo aceitáveis. Todavia, quando vistas pela ausência de base bíblica e por desprezo aos textos escriturísticos que confirmam a teologia reformada, não são assim tão admissíveis e aceitáveis. Isto porque, a mentira nunca se apresenta como mentira pura, mas sempre diluída com um pouco de verdade para anestesiar as mentes cauterizadas. Este foi o método de Satanás no Éden para capturar o homem por meio de meias verdades.
Em outro estudo continuar-se-á esta exposição sobre esta teologia deformada de Armínio e seus asseclas  as quais perduram e estão vivas e ativas ainda hoje.

abril 18, 2009

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA X

Is. 48:16 a 18 - "Chegai-vos a mim, ouvi isto: não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor Deus me enviou a mim, e o seu Espírito. Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar. Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!"
Chegar-se a Deus não é prerrogativa sinergística do homem. É graça oferecida por Ele sem o concurso da justiça e dos méritos humanos. Esta não é uma mera postulação fortuita, mas uma conclusão referendada nas Escrituras conforme Rm. 3: 10 a 12 - "Como está escrito: não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." Achegam-se a Deus aqueles a quem Ele mesmo convoca. É Ele o Senhor, o Redentor e o Santo, logo quem poderá resisti-lo? A graça de Deus é de fato irresistível, porque a salvação provém dela. É Ele quem ensina o que é útil e quem guia o pecador pelo caminho a que deve andar em conformidade com Ef. 2:8 e 9. É Ele quem opera, tanto o querer, como o efetuar segundo o Seu beneplácito e não segundo os méritos do homem. Muitos estimam, por pura presunção, que podem optar livremente a ir até Jesus e o aceitar. As Escrituras não endossam isto, visto que quem conduz o pecador até Cristo é o próprio Deus conforme Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." Não é uma questão de querer ou não querer, mas sim de não poder.
O caminho de Deus é Cristo conforme Jo. 14:6 - "Disse-lhe Jesus: eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Caminho é uma palavra que, em língua portuguesa significa  pode ter como sinônimo o tremo método. Assim, Deus tem apenas um método para justificar o pecador da injustiça do pecado herdado de Adão, a saber, sua inclusão na morte de Cristo. Não há outra forma ou mesmo fórmula para o pecador se redimir, pois ninguém se redime por si só, mas é redimido por um redentor acima dele e superior a ele em qualidade espiritual, justiça e méritos. Da mesma forma, porque ninguém pode operar-se, mas sim que será operado por um médico cirurgião, o pecador não pode salvar-se sem o concurso de um salvador. Na norma inculta e coloquial se diz comumente: "eu me operei", mas é algo fora do normal alguém tomar do bisturi e realizar uma auto-cirurgia.
É deste contexto de impossibilidade do homem e graciosidade de Deus que emerge, tanto as religiões humanistas e desvinculadas da verdade, como a semente que serve ao Senhor de geração em geração. Neste afã é que surgiu o pelagianismo retratado no artigo anterior, como tantos outros artifícios da teologia deformada ao longo da história da Igreja.
O Semipelagianismo é uma teologia deformada que retrata especialmente da salvação. Ensina que o ser humano é salvo exclusivamente por Deus mediante a graça, mas que a salvação partiria primeiramente da inciativa e da boa vontade no coração do homem para com Deus. Isto é, o homem precisa dar o primeiro passo em direção a Deus e então Deus irá completar o processo da salvação do homem. Esta falsa teologia foi considerada herética no II Concílio de Orange em 529 d. C. É a necessidade de gratificação da alma que leva o homem à falsa teologia deformada. Parte do presumido "livre arbítrio" para justificar sua importantíssima participação no processo da salvação. Entretanto, as Escrituras não dão em nenhuma instância o suporte a esta suposição.
Em que aspecto o semipelagianismo está deformando a verdade? No ponto em que coloca o homem decaído e absolutamente depravado espiritualmente como cooperador com Deus na sua própria salvação. Para isto, invoca a falsa teoria do "livre arbítrio", pois sem este artifício, o semipelagianismo fica esvaziado de significação e esvaído sentido. Ora, como poderia o homem escravizado pelo pecado ser livre e ter capacidade de estabelecer arbítrio? Jesus afirma no evangelho de João que aquele que comete pecado é escravo do pecado. Isto indica que, os atos pecaminosos decorrem de uma natureza pecaminosa ou corrompida pelo pecado, mantendo o homem escravizado por natureza e por prática. Todas as heresias surgem da má compreensão do que é o pecado e do que são os atos pecaminosos. Também do que é salvação e do que é falsa autonomia humana no pecado. A liberdade de escolhas morais é confundida com "livre arbítrio".
Desenvolvendo uma atenção mais acurada nas atuais religiões, percebe-se o quanto, tanto o pelagianismo, como o semipelagianismo estão vivos e ativos no seio das igrejas institucionais. Eles mencionam em suas declarações de princípios que Deus é soberano, que Cristo é o salvador, que a salvação é dom de Deus, entretanto, não abrem mão do fato de colocar o homem decaído como cooperador no processo da salvação. Sempre acrescentam à Cristo, mais alguma coisa. Cristo mais esforço, Cristo mais obras de justiça, Cristo mais boa vontade, Cristo mais sacrifícios, Cristo mais penitências, Cristo mais religião. A verdade das Escrituras não abre espaço para este tipo de teologia, que, aliás, sequer é teologia.

abril 13, 2009

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA IX

Tt. 1:9 - "Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes." É considerável o fato de a Palavra de Deus ser fiel a si mesma. É igualmente considerável que ela se mantenha firme, porque é conforme a doutrina. Não como se supõe comumente, que a doutrina é conforme a palavra, mas a palavra é conforme a doutrina. Obviamente não são as Escrituras derivadas do ensino, mas este derivado daquelas. Neste sentido harmoniza-se o ensino de Paulo a Tito. A doutrina é sã, quando é sujeito e não quando é apenas objeto. O pregador que recebe a graça de Deus para ver por tais lentes, torna-se de fato poderoso para admoestar e para convencer os que advogam a teologia deformada. Os contradizentes, geralmente combatem a doutrina, mas não podem combater as Escrituras.
Ao longo da história cristã, surgiram muitos contradizentes, falsos mestres e lobos devoradores. Pelágio foi um monge da Bretanha que mudou para Roma por volta de 405 d. C. Andou um tempo pelo Norte da África e depois se estabeleceu na Palestina, onde escreveu dois livros: "Da Natureza" e "Do Livre Arbítrio". Nestas obras abordou as questões do pecado, do "livre arbítrio" e da graça. Sua teologia foi refutada por Agostinho de Hipona e por Gerônimo, foi inocentado de heresia no "Sínodo de Dióspolis" em 415. Porém, condenado como herege pelo bispo de Roma em 417 e 418 e pelo "Concílio de Éfeso" em 431.
Suas ideias tornaram-se conhecidas como 'pelagianismo' e foram consideradas heréticas. Pouco se sabe a respeito das suas ideias, pois o material produzido foi queimado, como acontecia sempre aos que eram acusados de heresias. Sua vida era cheia de mistérios e o que se conhece de seu pensamento é através das citações e alusões feitas em livros que se opõem a ele e o condenam. São três os pontos condenados na doutrina pelagiana: a) negação do pecado original; b) negação que a graça de Deus é essencial à salvação; e c) pregar a impecabilidade operada pelo livre arbítrio sem a graça.
Pelágio afirmava que a queda de Adão afetara apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazê-lo. Mais adiante, Pelágio reivindicou que a graça divina era desnecessária para a salvação, embora facilitasse a obediência. Por outro lado, Agostinho sustentava que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao pecado e não pode não pecar. Assim, a convicção dos pelagianos é a de que o homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto, minimizam o papel da graça divina. O maior erro de Pelágio foi não considerar que a vida perfeita exigida por Deus é vivida por meio de Cristo que habita o nascido de Deus. Não é uma questão a cargo do homem escravizado pelo pecado.
Qual a deformação do pelagianismo? Não considerar as Escrituras como Palavra de Deus. Ele não levou em conta o que é afirmado, por exemplo, em Rm. 5:12 - "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram." O texto, não apenas mostra a contaminação pelo pecado de todos os homens, mas também mostra que a morte, isto é, a separação entre o homem e Deus se dá por conta do pecado. Não importa o que concebemos em nossa mente carnal, mas o que as Escrituras afirmam.
Pelágio afirmou: "Nós, os que fomos instruídos pela graça de Cristo e nascidos de novo para uma humanidade melhor, (...) devemos ser melhores do que aqueles que existiram antes da lei, e melhores também do que aqueles que estiveram sob a lei." Lendo desprovido de um espírito de graça reveladora, parece não haver nada de errado no conteúdo do texto. Entretanto, as Escrituras não autorizam os regenerados afirmarem que são melhores do que ninguém. Elas tão somente afirmam que a eles é dada a graça da salvação para um futuro restaurado e perpétuo junto a Cristo. Também, o pelagianismo não consegue conciliar a verdade que Deus é soberano, necessariamente o homem não pode ser absolutamente livre. Não é uma questão antitética, mas monotética. É grosseiro afirmar que a soberania de Deus é limitada pela vontade do homem, pois como Ele seria soberano, se a vontade decaída e corrompida do homem o pode limitar? Mesmo que o homem não tivesses pecado e fosse um ser perfeito, ainda assim, Deus seria absoluto e soberano e o homem relativo e limitado por isto.
Assim, o que as Escrituras ensinam é que o homem é um ser moral e responsável por seus atos, assim como Deus é soberano, mas também é santo e justo. Portanto, qualquer posição que desconsidera a responsabilidade moral do homem é contrária à Palavra de Deus que é conforme a sã doutrina.

abril 11, 2009

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA VIII

I Tm. 4: 1 e 2 - "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência." Estes últimos tempos começaram a partir da ascensão de Cristo conforme no-lo informa I Jo. 2: 18 - "Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora." Há o anticristo escatológico que se levantará no fim dos dias desta era, porém têm se levantado inumeráveis protótipos dele ao longo da história da Igreja. Estes falsos cristãos se apostatam da fé e não da religião, visto serem estas coisas distintas. É possível, pela graça de Deus, obter fé sem ter religião, mas pouco provável que se obtenha fé por meio da religião.
A visão que temos de Deus, de nós mesmos e dos outros homens é que define o que é a teologia bíblica e a teologia deformada ou antibíblica. Pesquisas realizadas pelo instituto Gallup dá conta que a maioria esmagadora das pessoas declara que os seres humanos são bons. Isto indica um repúdio ostensivo ou velado as asseverações bíblicas da degenerescência humana. Cria um imenso paradoxo entre a crítica azeda de muitos religiosos aos padrões secularistas, os quais adotam como parâmetros da sua fé, a saber, o que tais padrões apontam. A perplexidade é com o fato que a cultura humanista tem horror à doutrina do pecado original, todavia, os ditos evangélicos adotam tal cultura como referência. Logo, conclui-se que são evangélicos sem o evangelho de Cristo.
Há profunda contradição entre as declarações confessionais e o viés do pensamento cristão nominal ao longo da sua trajetória. Encontra-se ponto de convergência para um reconhecimento da queda do homem naquelas, mas neste, vê-se uma maior aproximação da visão humanista secular. Esta tendência se dá porque a mente dos que elaboram suas constituições declaratórias são humanos, e quase sempre não nascidos do alto. São meramente religiosos, por vezes bem intencionados, por vezes oportunistas e imediatistas.
As pontes entre Teologia Reformada e teologia deformada são apresentadas a conta-gotas, aparecendo de ocasião em ocasião e quase imperceptíveis. Assim, vão tomando pé das situações e da profunda inclinação do homem a buscar em sua justiça própria o caminho da auto-justificação. Erasmo de Roterdã foi um desses homens que, a despeito de ter uma enorme capacidade intelectual e boas intenções, não passou de um humanista secular que perpetrou doutrinas estranhas na Igreja. Dele foi discípulo, Tiago Armínio, cujas doutrinas entraram em controvérsia com os reformadores no Concílio de Dort em 1618. Do embate, foram produzidos os "Cinco Pontos do Arminianismo" e os "Cinco Pontos do Calvinismo". As ideias de Armínio foram reputadas por heréticas e rejeitadas por este Concílio na Holanda após 154 sessões. Todavia, os seus discípulos deram sequência aos seus ensinos em via paralela, e por vezes, oposta.
Lutero, por exemplo, combateu as ideias de Erasmo por meio de uma obra denominada "The Bondage of the Will", ou "A Escravidão da Vontade", por onde demonstrou que a vontade do homem está escravizada pela natureza decaída e pecaminosa. Lutero não via separação entre o estado decaído do homem e o ensino da eleição, pois do contrário, o pecador entraria como cooperador na obra da salvação que é pela graça. Assim, a graça seria dispensável e a salvação realizada em cooperação com o pecador.
Entretanto, para os reformadores não é a fé que vem primeiro, mas a graça de Deus. A salvação é pela graça e a fé é um canal para vivificar o pecador. Por isto, se diz que a salvação é monergística e não sinergística, Como poderia o pecador cooperar com a fé, se está destituído da glória de Deus? Como poderia haver cooperação do pecador, se todo o seu querer se inclina para a natureza pecaminosa, conforme demonstrado no texto de Romanos? Antes dos reformadores e de Erasmo e Armínio, houve uma outra controvérsia, a do pelagianismo, a qual foi refutada também, mas nunca totalmente apagada. Acerca dela tratar-se-á em outro estudo.

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA VII

Rm. 3: 9 a 12 - "Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." O confronto entre Cristianismo e humanismo secularista é em tudo antitético, de modo que não há ponto de conciliação entre ambos. No entanto, tem havido um profundo sincretismo religioso que faz a ponte entre ambos, sendo que a igreja finge estar cristianizando o mundo e o mundo finge estar sendo sacralizado por ela. Tais procedimentos aparecem como uma solução às contradições, pois há quem diga que o papel da igreja é o de melhorar o homem e transformar a sociedade em algo melhor. Todavia, e em sentido oposto, as Escrituras afirmam que o mundo irá de mal a pior até a sua plena restauração pelo Grande Rei.
Logo nos primeiros anos do cristianismo apareceram inumeráveis propostas e teses tentando trazer para o seio da Igreja as ideias pré-socráticas sobre cosmogonia e as teses platônicas sobre a imortalidade da alma. Tais teses têm se perpetuado até os dias de hoje, passando pelo neoplatonismo e pós-kantismo. Na teologia deformada, contemporânea não faltam os teólogos que tentam ingloriamente conciliar o Marxismo e o Cristianismo, como também  o Existencialismo e Cristianismo.
A construção de pontes pseudo-teológicas tem uma única intencionalidade: permitir o livre trânsito entre as ideias secularistas e a teologia bíblica. Por esta razão as igrejas institucionais estão repletas de "crentes" incrédulos, ou cristãos que não conhecem Cristo. Esta teologia deformada é viciosa, porque, de um lado alimenta o pecado no homem, dando-lhe a sensação de que é possível ele mesmo produzir a sua salvação; de outro lado enaltece os líderes e pregadores como quem conseguirá solucionar a miséria humana sem passar pela morte de cruz em Cristo. Tornam, assim, o Cristianismo mais digerível e aceitável aos olhos de um mundo cada vez mais distante de Deus e mais focado no próprio homem. Neste sentido é que se reproduz o pensamento deformista do "homo mensura" de Protágoras que é uma replicação do "sereis como deuses" da serpente no Éden. O mito da influência, nas palavras de Robert Godfrey, se reproduz ao ponto de alguns teólogos de alcovas afirmarem sem temor algum que o Cristianismo tem o poder de sacralizar o que é secular.
A igreja institucional está na contramão da história, pois ao tentar ser cativante ao mundo é capturada e presa pelos padrões do próprio mundo. Entretanto, quando é chamada à encruzilhada, a igreja prefere se conciliar com os padrões do humanismo secular, a esvaziar-se dos conteúdos que causam repúdio aos incrédulos. Este é um acordo que contamina e empobrece a teologia reformada e a teologia bíblica, fazendo-as recair na vala comum do mundanismo. Não há um verdadeiro regenerado que vivesse em concílio com os padrões humanistas. Os profetas foram incansavelmente perseguidos e assassinados por não proferirem palavras de amenidades aos sistemas vigentes em seus tempos. Os apóstolos e discípulos estiveram profundamente engajados na controvérsia entre verdade e mentira, humanismo e cristianismo dos primeiros séculos da era cristã.
No mundo atual se percebe uma frágil tolerância a algumas igrejas, porque de certa forma estão comprometidas com o humanismo secular por uma questão de sobrevivência e de replicância desse sistema iníquo. Bastarão algumas discordâncias para que certas igrejas recaiam no obscurantismo e na mira do sistema. Percebem-se já alguns sinais desse conflito controverso no endurecimento de alguns governos e ideologias ressurgentes no mundo moderno e contemporâneo. Em diversos países as igrejas estão vendendo os seus templos por falta de membros.
O texto que abre este artigo dá todas as indicações das motivações e dos estímulos a esta situação aparentemente conciliada. O homem é pecador por natureza e não por atos apenas. Enquanto esta contradição não for extirpada de nada adianta cristianizar o secular, e, muito menos, secularizar o Cristianismo como se vê nestes tempos. Deus não se curva aos padrões do homem decaído como quem caiu na latrina e, ao sair, toma um pão e o oferece aos outros. Deus tem misericórdia e graça para com os que ele aprouve escrever os nomes no livro da vida do Cordeiro.

abril 10, 2009

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA VI

Jo. 8:34 - "Respondeu-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado."
Rm. 5:12 - "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram."
A definição do que é teologia reformada e do que é teologia deformada passa obrigatoriamente pela concepção do que é pecado, da sua origem e das suas consequências na relação do homem com Deus e vice-versa. Por estes princípios também fica estabelecido o que é verdade e o que é apenas religião resultante do humanismo secular.
Todo aquele que comete pecado é escravo ou servo do pecado é uma sentença que traz em si mesma diversas implicações. Primeiro não há homem que não peque conforme I Rs. 8: 36 - "Quando pecarem contra ti, pois não há homem que não peque..." Segundo, e, confirmando o texto anterior, todos pecaram, por isso, estão separados, destituídos ou mortos para Deus conforme Rm. 3:23 - "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." Conclui-se, portanto, e sem prejuízo de toda verdade escriturística, que todos são escravos do pecado. Não há um justo, sequer um conforme o apóstolo Paulo aos romanos.
Outra sentença é que o pecado entrou no mundo, portanto, é uma realidade introduzida e não preexistente. O pecado entrou por meio de um homem, a saber, o cabeça federal de raça, Adão. Como todos os homens descendem de Adão, o pecado passou a todos os seus descendentes. A consequência imediata do pecado foi a morte, ou seja, a separação entre a criatura e o Criador. Esta categoria de morte não é a morte física, nem a morte eterna ainda. Mas, é a morte espiritual, significando que houve uma ruptura ou uma separação entre o homem decaído e o Deus Eterno e Santo. A morte física que é a separação do corpo em relação a alma e ao espírito, bem como a morte eterna que é a separação eterna de Deus são outras categorias de morte. Entretanto, todas inter-relacionadas ao pecado e não apenas aos atos pecaminosos. 
Estas asseverações iniciais se fazem necessárias a fim de compreender-se o que é deformação teológica e suas deletérias consequências. Por humanismo secular entende-se como sendo uma exacerbada valorização do homem e seus pressupostos, em detrimento da verdade escriturística. na expressão "humanismo secular", a palavra 'secular' aparece como adjetivadora da palavra 'humanismo'. Isto coloca as coisas no seu devido lugar, pois o secularismo é tudo o que coloca o aqui e o agora como o supra sumo da experiência centrada no homem e sua presumida medida de todas as coisas. Neste sentido o homem é o centro de tudo e não Cristo.
O humanismo é tão velho quanto a humanidade na Terra. É atribuído ao filósofo pré-socrático Protágoras a concepção humanista. É dele a ideia do "homo mensura", isto é, o homem é a medida de todas as coisas. Isto coloca o foco e a centralidade de tudo no homem. Entretanto, a primeira manifestação do humanismo secular foi no Éden, quando o homem optou pela proposta imoral da serpente. O mais intrigante é que tenha sido uma serpente a ofertante de tal propositura em Gn. 3:5 - "... e sereis, como Deus, conhecedores do bem e do mal." No hebraico do texto original diz: "... e sereis, como deuses..." Isto implica que o inimigo induziu o homem à ideia de que ele passaria a ter uma natureza divina semelhante a dos anjos. Esta foi a primeira deformação da verdadeira teologia, porque a proposta verdadeira seria a de formar a semelhança de Cristo no homem por ação monergística e não por esforço sinergístico. Satanás incorporado na serpente, quis produzir no homem a sua própria divinização sem envolver o Filho Unigênito de Deus. Ainda hoje este desvio permanece na mente e no coração dos homens. Buscam ser deuses e auto-suficientes em sua ciência, crenças e arrogância.
A questão posta aqui é com relação ao que é definitivo e ao que não o é. Porque, se Deus é soberano e definitivo, implica em que o homem  natural não o é. Assim, o humanismo secular fica reduzido a um embuste consequente da natureza pecaminosa. Também fica estabelecida uma antítese entre a verdade e a mentira; entre a religião e a revelação; entre a a graça e a lei; entre a fé e as obras de justiça; entre a dependência plena de Deus e o esforço humano; entre o monergismo e o sinergismo.

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA V

Sl. 51: 1 a 12 - "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário." O texto mostra que, aos olhos de Deus, o que conta não é o que o homem faz ou deixa de fazer, mas o que ele é. A consequência do pecado provoca nos eleitos uma imediata repulsa e recusa, jamais uma conformação. O eleito se põe absolutamente rendido diante da soberania de Deus e escancara o seu coração sem resistência à misericordiosa graça do Pai. Não toma da graça como ocasião para perpetuar-se no pecado, mas para reconhecer-se incompetente contra ele. Neste ponto, e neste sentido é que entra a salvação monergística em oposição à tentativa de redenção sinergística. Por monergismo se entende como a ação única de um só, a saber Deus, sem o concurso do homem decaído. E, por sinergismo se pode entender a ação de duas ou mais pessoas por meio de esforços próprios. O texto que abre este artigo mostra com clareza meridiana a real posição do homem portador da natureza pecaminosa, porém eleito. Ele não nega, não cria paliativos, subterfúgios e não se auto-justifica. Simplesmente clama por misericórdia e graça, reconhecendo-se tal como é e rendendo-se ante a sua incompetência e impossibilidade. O eleito vê na sua impossibilidade a todo-suficiência de Cristo, porque Deus é o Senhor dos impossíveis. A fé entregue aos eleitos de uma vez para sempre, não é cooperativa como pressupõe a teologia deformada, ao contrário, é operante. Não existe co-autoria no processo de regeneração o que há é um único autor e consumador da fé. O pecador entra apenas com o pecado e Deus com toda a graça e com a graça toda, posto ser Ele o Deus de toda a graça. 
O nascimento do alto não é o resultado da fé, mas da graça conforme as escrituras em Ef. 2: 5 e 9 - "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo, pela graça sois salvos, e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie." Observa-se que o pecador está morto em suas ofensas, mas Cristo o vivifica pela graça quando da ressurreição com Ele. O eleito regenerado está na mesma posição em Cristo, nos lugares celestiais. Deus opera para mostrar a sua graça e não coopera para exaltar o homem em seu pecado. A fé é apenas o meio, mas a salvação monergística é pela graça, pois do contrário não seria graça se houvesse a cooperação das obras ou da justiça humana maculada pelo pecado.

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA IV

Sl. 137: 1 a 4 - "Junto dos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: cantai-nos uma das canções de Sião. Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?" O cativeiro do povo hebreu para a Babilônia por volta de 586 a. C. foi algo determinado por Deus, assim como tudo o que acontece no universo. Esta é uma premissa que o religioso, especialmente o arminiano, se recusa a receber como válida. Para esta classe de religioso, o bem vem de Deus, e o mal do Diabo. Esta concepção de cunho maniqueísta é o resultado de uma compreensão meramente intelectual, mística e mítica das Escrituras.
Deus de fato conduziu o povo de Israel ao cativeiro para, em Sua pedagogia, ensiná-lo a diferença entre a graça e a lei. Este dualismo dialético, põe e expõe o espírito que está no homem. Assim como no cativeiro babilônico houve um tempo de teste, o qual produziu homens eleitos e fiéis, também produziu os assimilados e vendidos às suas naturezas decaídas. No texto que vem de ser lido se vê com clareza o dilema de estar em terra estranha, triste e pressionado a adotar padrões da cultura dominante. Daniel, Sadraque, Mesaque e Abdnego foram purificados como que pelo fogo em função da não conformidade aos padrões dos dominadores. Não cederam à moralidade da maioria, ainda que deslocados do clima doméstico da sua nação, do culto ao seu Deus e dos seus princípios e valores. Cada um destes era uma congregação de um homem só, semelhantemente, cada cristão nascido de Deus é uma "congregação" neste mundo. A Igreja verdadeira ou o Templo onde Deus habita é o regenerado e não, necessariamente, um edifício pomposo.
Enquanto as pessoas, geralmente, buscam a aceitação e a conformidade aos padrões dominantes e vigentes, o eleito de Deus permanece à margem, mesmo em detrimento de si mesmo. Não busca e não conta com a popularidade do foro da opinião pública. Em sentido contrário, são raríssimos os que resistem ao apelo da maioria, ao canto da sereia, ao toque da sirene. Isto porque a perseverança dos santos é uma condição, primeiramente dada por misericórdia e graça aos que foram preordenados para a vida. Não é da natureza humana romper com os reclames da aceitação e da bajulação das massas. Veja o caso de José, o qual foi covardemente vendido pelos próprios irmãos, passou a maior parte da sua juventude em uma prisão, entretanto, foi guardado pela graça do Deus dos seus pais. Esteve no contexto cultural da nação egípcia, porém permaneceu na fé de um Deus, o qual ninguém ao seu redor depositava o mínimo de fé. Entretanto, pela sua permanência solitária, muitos vieram a conhecer o Deus único e verdadeiro.
Cada cristão verdadeiro possui o seu próprio cativeiro babilônico. Está invariavelmente inserido em um mundo que presta culto ao humanismo secular. O mundo atual é colocado pela erudição como pós-cristão, onde a igreja é tida como um mero clube social e a fé como um anacronismo absurdo.
É deste contexto que surge o brado, com o seus ecos: sola fide, sola gratia, sola scriptura, solo Christus e soli Deo gloria. Diante do humanismo secular, restam dois caminhos: permanecer em Deus, por meio de Cristo, ou abraçar a babilônia cultural por meio de verdades relativas e não da verdade absoluta, Cristo; abraçar as Escrituras, ou abraçar o evangelicalismo; abraçar a teologia reformada, ou abraçar a teologia deformada; ficar com a semelhança de Cristo, ou ficar com o homo mensura; ficar na cruz, ou ficar no "...como deuses sereis" de Gênesis 3:5.
O verdadeiro cristianismo é invariavelmente a antítese do humanismo secular. As igrejas institucionais perderam esta visão e estão tentando reproduzir uma teologia da conformação, ao invés de produzir a teologia da desambiguação.