domingo, dezembro 28

FÉ AUTÊNTICA x CRENDICE RELIGIOSA

Rm. 12: 1 a 3 - "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um."
Fé é uma minúscula palavra em língua portuguesa que provém do grego koinê neotestamentário. No grego bíblico fé é 'pistis' e no latim eclesial é 'fides'. Na língua original do novo testamento fé é algo intangível e invisível. Portanto, não é algo sensoreável ou seja, que se pode sentir. Havendo sentimentos ou sensações naturais já não é fé, mas apenas ciência. O sentido bíblico de fé é a absoluta confiança na justificação do pecador na morte com Cristo. É também a dependência plena do poder, da bondade e da sabedoria de Jesus, o Cristo como salvador do pecador. A fé só vem após a metanoia, a saber, o arrependimento concedido por Deus por graça e misericórdia e não por mérito humano. Após o arrependimento que é o reconhecimento da própria natureza pecaminosa e morta para Deus, o homem recebe o dom da fé para descansar n'Ele. A fé como citada acima é ensinada em Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem." Portanto, fé é uma base firme, porém invisível e a absoluta certeza daquilo que não está materialmente diante do homem.
No sentido de mero assentimento intelectual ou crenças religiosas a fé não pode salvar ou regenerar o pecador. Esta categoria de fé é comum aos homens decaídos e aos demônios conforme Tg. 2:19 - "Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem, e estremecem." Vê-se que, no quesito de fé puramente racional e emocional, os demônios são mais eficientes que muitos homens, pois não apenas creem, mas também estremecem diante de Deus. Esta natureza de fé nada mais é que a soma das doutrinas, dogmas, preceitos de sistemas religiosos, crenças e conteúdos objetivos do cristianismo teórico ou nominal. É uma espécie de fé na fé, recaindo em um tipo de saber humano e não no dom de Deus. 
No texto bíblico de abertura o apóstolo Paulo apela aos cristãos em Roma que apresentassem seus membros como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Isto implica, não em justiça própria ou mérito para agradar a Deus, mas em viver com a mente renovada e inclinada para ele. Não se trata de votos de abstinências ou de auto-flagelo, mas de uma devoção por fé. Tal oferta não é o fator determinante para agradar a Deus, mas a consequência da própria ação monergística d'Ele após a regeneração do pecador. A oferta dos membros em sacrifício vivo é um contraste aos sacrifícios de animais que, agora, não têm mais sentido, visto que o sacrifício de Jesus, o Cristo foi feito na cruz. A oferta morta de bodes, touros, cordeiros e aves eram apenas indicação do sacrifício final de Jesus, o Cristo na cruz. Após o arrependimento dado por Deus e o recebimento da fé como dom d'Ele, o regenerado tem prazer em oferecer suas habilidades, separando-se da mentalidade mundana e volta-se com alegria para oferecer-se como instrumento para a honra e a glória de Cristo. O regenerado não se transforma em um super homem perfeito, mas em alguém no qual a fé de Cristo age para glorificar a Deus.
O ensino do texto é que o verdadeiro culto é racional no sentido espiritual e não da simples racionalidade intelectiva. A palavra utilizada no texto para 'racional' é 'lógico' [λογικoς]. O sentido do termo 'racional' no contexto é metafórico e não literal conforme I Pd. 2:2 - "...desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação..." O termo 'puro' neste texto é grafado com a mesma palavra 'racional' do texto de Rm. 12:1. Assim, o sentido de "culto racional" é buscar agradar a Deus de modo puro, ou seja, não misturado às crenças, dogmas, preceitos e doutrinas religiosas ou resultantes apenas dos sentimentos da alma humana não regenerada. O texto não ensina que a fé é o resultado de um exercício intelectual ou da racionalização lógica  do homem. Alguém afirmou em uma entrevista no programa do Jô Soares que a fé é racional, porque do contrário ela seria apenas fideísmo. Ora, ele foi bem em 99% da entrevista sobre assuntos de cunho histórico. Porém, quando adentrou no campo da verdade espiritual escorregou feio. A questão é que, ao afirmar por confrontação entre fé e fideísmo ele lançou mão de um axioma de caráter lógico no sentido puramente intelectual. Apelou apenas para a semântica do assunto, mas não atentou para o sentido espiritual do mesmo. Fideísmo é por definição uma doutrina teológica que, desprezando a razão, afirma a existência de verdades absolutas fundamentadas na revelação e na fé. Ora, é exatamente isto que é fé no ensino de Jesus, o Cristo, como também dos apóstolos e discípulos. Portanto, fé não pode ser racionalizada e produzida pela mente ou a inteligência do homem. Talvez ele devesse afirmar que não é correto ter fé na fé, mas não  dizer que a fé é o subproduto da razão humana decaída e absolutamente corrompida diante de Deus.
Quando uma pessoa, por mais bem intencionada que seja, coloca a fé nos termos racionalistas está caindo exatamente naquilo que o apóstolo Paulo previne para que os cristãos não façam: "porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um." Quando o homem possui de si mesmo tão alto conceito acima do que é ensinado nas Escrituras, elimina o sentido verdadeiro e genuíno da fé. O foco estará centrado no homem e não em Cristo. Isto se explica pelo fato que a fé é um dom de Deus e não uma virtude humana. Portanto, a fé que há no cristão não é da sua própria autoria, mas é a fé de Cristo nele para que possa se aproximar de Deus por meio dela. Por esta razão o correto não é dizer que se tem fé em Deus, mas dizer que tem a fé de Deus.
A expressão "... vosso culto racional" é uma forma de confrontar a fé formal praticada pela religião humana e a fé salvífica dada por graça e misericórdia ao pecador para que ele viva e ofereça seus membros a Deus.
Sola Scriptura!

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