segunda-feira, agosto 12

QUANDO GANHAR É PERDER E PERDER É GANHAR

Mc. 8: 34 a 38 - "E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que daria o homem em troca da sua vida? Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos."
Vive-se em um quadrante de tempo no qual as pessoas e as coisas são mensuradas pelo que delas se pode ganhar. O prestígio de uma pessoa passa, obrigatoriamente, pelo seu sucesso financeiro, pelo que ganhou e quanto vale a sua fortuna. Por esta razão se veem constantemente nos jornais, revistas e redes sociais os rankings de riqueza e poder. As coisas e bens são invariavelmente avaliados conforme o seu valor venal. Por isso o mundo busca desesperadamente por coisas, fama e sucesso. Desenvolve-se uma falsa consciência que o homem será aceito, considerado e consultado apenas pelo que tem. De certa forma é assim mesmo que funciona, porque este comportamento é almejado tanto pelos que têm coisas e riquezas, como pelos que as desejam ter. Um ambiciona o que o outro tem e nunca o que não tem. Neste sentido, a desonestidade, a ganância e a egolatria não são privilégios de algumas poucas pessoas, mas de todas, ainda que em graus diferenciados. Até mesmo aqueles que se dedicam ao altruísmo ou fazem votos de pobreza e desprendimento, não o fazem porque são bons e humildes. Nenhum homem é naturalmente humilde, no máximo, alguns homens são humilhados pelos desígnios de Deus para a sua própria salvação e aperfeiçoamento. Jó foi um dos poucos homens elogiados diretamente por Deus conforme Jó 1:8 - "Disse o Senhor a Satanás: notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na Terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal?" Entretanto, quando Deus permitiu que o Acusador retirasse todas as riquezas, os filhos e colocasse feridas e chagas no corpo, Jó mostrou que não era humilde e perfeito. Reivindicou a justiça como um pressuposto seu conforme Jó. 27:6 - "À minha justiça me apegarei e não a largarei; o meu coração não reprova dia algum da minha vida." Em outro contexto Jó acusa Deus de ter uma questão pessoal contra ele conforme  33:10 - "Eis que Deus procura motivos de inimizade contra mim, e me considera como o seu inimigo." Após Jó ter sido tratado pela Graça do Altíssimo e humilhado em sua soberba é que reconheceu o seu estado e se arrependeu conforme Jó. 42: 5 e 6 - "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te veem os meus olhos. Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza." Jó possuía, como muitos hoje, uma religião apenas de segunda mão.
Muitas pessoas imaginam, erroneamente, que ter uma religião, frequentar alguma igreja e praticar caridade ou ser ético e moralmente correto é o sinônimo de  uma relação aprovada por Deus. Entretanto, pode ser apenas o resultado do processo sinérgico no próprio homem e não da ação monérgica d'Ele. Tais coisas fora da reconciliação com Deus por meio da inclusão na morte de Cristo e da sua consequente ressurreição, nada adiantam para a salvação. A salvação não é um livramento de coisas ruins e condições imorais, mas o livramento de si mesmo. Para livrar o homem do que ele é, e não apenas do que ele faz, é que Cristo veio para morrer e ressuscitar. Sem esta verdade, nada vale ser reto, íntegro, temente e desviar-se do que é mal. São atitudes que podem ter diversas motivações, mas todas originadas no esforço próprio do homem decaído. É necessário que a redenção seja executada por um Redentor predestinado, puro e santo, pois só assim tem autoridade para aniquilação do pecado, ou seja, da culpa que separa o pecador de Deus. O homem comete pecados porque é pecador e não apenas é pecador porque comete pecados.
A forma para alguém ser vivificado para a vida eterna é dada por Cristo no texto de abertura. Ele afirma que, se alguém foi despertado em seu querer para segui-lo até a cruz deve negar-se a si mesmo. O negar-se a si mesmo é exatamente o reconhecimento de que todas as virtudes e qualidades humanas não qualificam o pecador para a vida eterna. O negar-se a si mesmo é a transferência da sua vida almática para o substituto perfeito que é Cristo, e, este, crucificado. Tomar a cruz é assumir que a morte de Cristo na cruz não foi um ato solitário, mas compartilhado, pois ele mesmo não tinha pecado. A morte de Cristo foi para habilitar e incluir a morte do homem em sua morte para matar a natureza pecaminosa e trazê-lo de volta à vida na ressurreição ao terceiro dia. Entretanto, tudo isto se apropria pela fé e, esta, é dom de Deus.
De acordo com o original no texto de abertura, o vocábulo 'vida', se refere à vida da alma, pois foi utilizada a palavra grega 'psiken', então, o que necessita de salvação é a alma do homem e não o seu espírito. O espírito do homem foi nele colocado por Deus e a Ele retorna com a morte, porque apenas foi destituído da glória d'Ele. O corpo é deteriorado no pó da terra e só será restaurado incorruptível na restauração final. Assim, quem procura gratificar a vida da alma que é a sede das decisões, desejos e emoções estará perdendo a própria vida para sempre. Mas, quem abre mão de buscar a perfeição e a salvação por meio dos esforços baseados na justiça própria e nos méritos, encontrará a vida eterna oferecida por Cristo na sua morte de cruza. Ganha a vida de Cristo, pela justiça de Cristo, na morte com Cristo.
Sola Gratia!

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