domingo, agosto 19

A LEI MORAL, A LEI CERIMONIAL E OS DETURPADORES

II Pd. 3: 14 a 18 - "Por essa razão, pois amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por Ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaias de vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno."
A primeira regra a ser compreendida é que há diversidade de leis nas Escrituras, entretanto, tais leis podem ser classificadas em duas categorias: a lei moral e a lei cerimonial. A lei moral é também conhecida como a lei de Deus que se expressa nos "Dez Mandamentos". A outra é a lei cerimonial, também chamada de "Lei de Moisés" que se expressa por rituais, cerimônias e preceitos que os judeus deveriam cumprir.
O apóstolo Paulo se refere, por diversas vezes à lei, porém, em alguns casos, não é fácil distinguir a qual das leis ele está se referindo. Lei, no sentido forense, é um conjunto de regras, estatutos, preceitos, normas ou ordenamentos instituídos em uma sociedade para apassivá-la. No contexto deste estudo, não se trata da lei forense, ou seja, da Constituição Federal, dos códigos regulatórios, dos decretos e leis ordinárias. O foco, neste estudo, é a lei no sentido em que é colocada nas Escrituras. No tocante à lei dos homens, a saber, a lei forense sabe-se que é validada e positivada para apaziguamento da sociedade. Embora a maioria das pessoas imagina que a lei forense é apenas para punir os erros dos cidadãos, na verdade, ela visa, primeiramente, evitar que estes cometam crimes, delitos e erros atentatórios. Ela visa inibir, coibir ou desencorajar as práticas criminosas. A punição é a última instância da lei forense, ou seja, quando o cidadão quebrou um ou todos os códigos de conduta e não está apto a viver em sociedade, então sofre as consequências da lei forense. Neste caso a sociedade se protege do indivíduo por considerá-lo inapto à vida em sociedade.
Considere os seguintes textos a seguir:
Gl 3:10 - "Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição..." 
Gl. 3:13 - "Cristo nos resgatou da maldição da lei..." 
Ef. 2:15 - "Aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças..." 
Cl. 2:16 e 17 - "Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo."
Vê-se que o apóstolo Paulo está se referindo à Lei Cerimonial, pois é uma menção às práticas ritualísticas e cerimônias. Estas eram ordenanças e estatutos para educar à natureza desenfreada dos homens decaídos acerca do Salvador e sua obra futura. Tais rituais cerimoniais representavam a pregação do evangelho aos judeus. Compunha-se de diversas ordenanças, tais como: diferentes tipos ofertas no templo, holocaustos, abluções, sacrifícios, dias festivos e deveres dos sacerdotes. Todo este aparato cerimonialista apontava para Cristo e seu supremo sacrifício na cruz para redenção dos eleitos e regenerados. Representavam o sacrifício, o perdão e a salvação realizados por Ele em sua morte de cruz. Assim, é esta classe de lei que Paulo diz que caducou. É óbvio, pois tais ordenanças eram o tipo e Cristo o seu antítipo, logo, vindo Ele, cumprindo tudo quanto foi predito sobre a Sua obra, tais ordenanças já não possuem mais validade alguma. Por isso, ao entregar o seu Espírito na cruz diz: "tudo está consumado." Assim não tem sentido algum alguém continuar olhando para símbolos, quando aquele a quem eles se referiam e indicavam já veio e cumpriu a sua obra redentora.
Considere agora estes outros textos a seguir:
Rm. 3:31 - "Anulamos, pois, a Lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a Lei." 
Rm. 7:7 - "Que diremos, pois? É a Lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da Lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a Lei não dissera: 'não cobiçarás.'"
Rm. 7:12 - "Por conseguinte, a Lei é santa, e o mandamento, santo, e justo e bom." 
Ef. 6:2 - "Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa..." 
I Tm. 1:8 - "Sabemos, porém, que a Lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo..." 
Vê-se por estes textos que o apóstolo Paulo está se referindo à Lei de Deus ou à Lei Moral, e, não mais, à Lei Cerimonial ou à Lei de Moisés. Do contrário ter-se-ia de admitir que as Escrituras possuem grandes divergências ou contradições. Ora, a Lei de Deus é universal e eterna é um código específico escrito pelo próprio Deus e entregue ao homem. Esta lei não foi abolida com a morte de Cristo na cruz. Ela permanece valendo a todos os homens, especialmente aos nascidos do alto, pois se origina nos decretos eternos de Deus, sendo portanto permanente. Sabe-se, porém, que nenhum homem é capaz de cumpri-la totalmente. Entretanto, é a vida de Cristo que produz nos nascidos do alto a capacitação para vivê-la. Por isto, Paulo afirma em Gl. 2:16 a 20 - "... sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada. Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De modo nenhum. Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."
O próprio apóstolo Paulo afirma no verso 21 o seguinte: "Não faço nula a graça de Deus; porque, se a justiça vem mediante a lei, logo Cristo morreu em vão." Logo, não é pelo cumprimento de rituais, cerimônias, ordenanças e preceitos legais que o pecador eleito é salvo e vive uma vida santificada diante de Deus, mas porque Cristo é a sua vida. Isto é confirmado em Cl. 3: 3 e 4 - "... porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória."
Assim, o texto de abertura mostra que alguns deturpadores, ignorantes e instáveis torcem e trocam o sentido da lei cerimonial, abolida em Cristo, pela lei de Deus que é universal e eterna. Eles agem como agiram os legalistas judeus que, ao rejeitar Cristo por causa da lei, rejeitaram a própria lei. Nisto eles mesmos se condenaram naquilo que aprovavam.
Sola Scriptura!

Um comentário:

Anônimo disse...
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