sábado, fevereiro 16

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" V

Universalismo é um vocábulo que admite diversas acepções, dependendo da corrente de pensamento a que uma pessoa está afinada. Importa, neste ponto, preponderantemente, a acepção relacionada ao fenômeno religioso no homem em todos os tempos e lugares. Neste sentido, o universalismo é um sistema de crenças, o qual afirma que todos os homens estão destinados à salvação eterna, em virtude da bondade de Deus.
Considerando o relato bíblico e todos os pressupostos a que estes arrastam para si, a primeira manifestação universalista ocorreu em Adão, após a queda. Este lançou mão do artifício da transferência da culpa, envolvendo todos os outros elementos da trama pecaminosa, no mesmo ato. Assim, o nosso ancestral comum transferiu a culpa do seu erro à sua companheira e esta, por seu turno, a transferiu ao tentador. Produziu-se, assim, uma culpabilidade universal, isto é, todos foram arrolados na mesma condição de culpados. Verifica-se esta tendência "natural" em todos os homens, desde a mais tenra idade. Por exemplo, quando um filho quer ir a um certo lugar não muito recomendado pelos pais, ou mesmo, quando quer assumir uma determinada postura incomum, sempre lança mão do argumento universalizante: "mas, todo mundo vai", ou ainda, "mas todo mundo faz isso..."
De igual modo, e na mesma linha, Caim, ao ter a sua oferta desprezada, decaiu-se-lhe o semblante, entrando em profunda amargura e rebelião contra Deus. Como não poderia atingir diretamente ao Senhor, conduziu a sua diligente atitude de ira ao seu irmão Abel, eliminando, assim, aquele que o colocava em relativa posição de rejeição, excluindo-o do rol dos aceitos. Desta forma, a mente de Caim buscava nivelar-se pela aceitação universal, reduzindo o oponente a nada por meio da sua total aniquilação. Assim, apresentar-se-ia como figura singular e capaz de realizar a oferta do seu esforço próprio diante do Criador, forçando-o a recebê-lo como ofertante universal. De Caim até os nossos dias, esta concepção de aceitação universal se ampliou e se aperfeiçoou cada vez mais.
A religião herdada de Caim especializou-se por apresentar o fruto do trabalho e do esforço humano a fim de atrair o agrado e a aceitação, quer seja de Deus, quer seja dos outros homens, ou ainda, de quaisquer supostas forças cósmicas. Analisando passionalmente as religiões instituídas pelo homem, não se percebe isto com facilidade, mas confrontando-as às Escrituras vê-se isto claramente.
Como já foi dito, o espiritualismo universalista é uma corrente de pensamento não-religiosa e anti-materialista, que combina espiritualidade e universalismo. Está historicamente inserida no contexto do espiritualismo leigo ou laico e ecumênico do final do século XX e início do século XXI. Uma das suas principais vertentes é o gnosticismo, o qual preconiza uma auto-redenção por meio do conhecimento de si mesmo, do cosmo e dos outros seres e suas inter-relações.
Na esfera estritamente religiosa, não necessariamente espiritualista, o universalismo se situa no campo da apreensão da verdade bíblica pelo homem em seu estado decaído. Em um primeiro momento, ocorre a busca pela sintonia religiosa que lhe agrada e, posteriormente, pela sistematização das doutrinas a fim de acomodá-las aos interesses gerais e abrangentes. Assim, o religioso se apropria dos fundamentos escriturísticos a fim de aplicá-los a si por meio de um sistema teológico por ele mesmo elaborado ou aceito e, com isto, busca atingir um número maior de adeptos. Toma por aprovado, legitimado e positivado aquele sistema que consegue persistir e se afirmar historicamente. Nem sempre há uma preocupação em verificar e fundamentar este sistema ao crivo da verdade das Escrituras. Quando muito desenvolvem um conjunto de princípios, credo, ou declaração doutrinária, apenas com o fim de dar uma legitimação aceitável perante os céticos e os valores da sociedade. Neste sentido, a religião humanizada não passa de um arranjo ao sabor dos interesses humanistas. Deus não está nisto! É como aquele caso em que o indivíduo após cair e sair de uma latrina tomou um pão e ofereceu aos amigos famintos. O pão era desejável, mas as mãos que o ofertara estavam fétidas.
Basicamente todos os grupos religiosos afirmam que a salvação é para todos, enquadrando, assim, uma ação que é da exclusiva soberania de Deus, à esfera do universalismo. No universalismo o foco está centrado no homem e seus feitos no tempo e no espaço. É algo cuja base se assenta na lei da causa e do efeito. Busca uma solução ao mal moral em si mesmo e procura estender a suposta solução aos sistemas vigentes, tais como educação, produção, comércio, ciência, tecnologia, moral, ética. Esta é uma inglória tentativa de, por meio do universalismo, promover e recriar o Paraíso na Terra à revelia de Deus. Todos que frequentam uma determinada religião já ouviu como justificativa da manutenção e sustento do referido sistema, a melhoria do homem e da sociedade na Terra. É uma fé do homem, no homem e para o homem. Deus não está nisto! Exatamente porque a fé é um dom e não uma virtude humana que se possa exercitá-la por esforço.
O religioso universalista procura reencontrar a porta do Éden por conta própria e com base em um comportamento meritório e sacrificialista. Tenta desesperadamente melhorar o homem a partir da reparação de suas ações morais e éticas. Procura reformar o mundo por meio de ações coletivas ou individuais. Busca abalizar as diretrizes de conduta geral por uma legislação aceitável e praticável por meio de um legado cultural e das experiências das civilizações ao longo da história.
Entretanto, e em sentido oposto, as Escrituras ensinam exatamente o contrário: a ação do homem, quer seja boa, quer seja má, é o subproduto da sua natureza decaída e fundamentada em uma autodeterminação e autonomia apostatada da natureza divina. Sendo suas escolhas morais confundidas com o suposto "livre arbítrio", porque realizadas dentro dos limites da pecaminosidade, resultando, assim, invariavelmente em escolhas contaminadas e escravizadas pelo veneno do pecado. Logo, nem são livre, nem podem arbitrar nada, e, muito menos, são universais.
Soli Deo Gloria!

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