domingo, fevereiro 17

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" VIII

Na realidade a confiabilidade das Escrituras fica à mercê da desconfiança de homens decaídos, por isso, cai no descrédito dos incrédulos. Este é um paradoxo que, a despeito de ser real, é suportado por Deus em sua infinita sabedoria para que, por meio dele, possa o Senhor 'confundir a sabedoria dos sábios pela loucura da pregação' do evangelho. O verdadeiro evangelho não consiste em prolixidade, ilustrações e amenidades acerca de Deus, mas é o poder d'Ele mesmo para a salvação de todo o que crê conforme Rm. 1:16, I Co. 1:18, Jo. 12:46 e correlatos.
Obviamente, Deus elegeu pecadores antes da fundação do mundo Ef. 1:4 - "... como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo..." Ou desde a fundação do mundo Mt. 25:34 - "Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Ou ainda, antes dos tempos eternos Tt. 1:2 - "... na esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos...", alegar paradoxo ou qualquer outro argumento contra as Escrituras não adianta, porque Ele faz valer a sua Palavra Jr. 1:12 - "... porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir."
Um desses exemplos de inserir palavras onde elas não cabem ou não existem no texto original se vê em Mc. 6:12 - "Então saíram e pregaram a que se arrependessem." Em algumas versões das Escrituras ainda aparece a palavra 'todos' no texto acima, mas ela não existe nele. O que está lá é que os apóstolos pregassem ao povo "para que, a fim de que, de modo que, de sorte que, etc" houvesse arrependimento. O vocábulo grego utilizado é 'ina', uma cláusula que introduz propósito, anelo, mandamento ou resultado. Não há nada de universal na declaração de Cristo! Isto porque só se arrependem os que foram preordenados ao arrependimento.
Como já foi mostrado no artigo de número IV, os diferentes usos da palavra 'todos' no texto grego neotestamentário, depende do contexto e do sentido a que se aplica tal vocábulo. Em Mt. 12:15 - "Acompanharam-no muitos; e ele curou a todos ..." O contexto mostra Jesus curando um homem de mãos atrofiadas. Porém, a Sua ação foi um tanto inusitada no sentido em que Ele estava na sinagoga dos judeus e a cura fora realizada no sábado. Todavia, Cristo curou o homem. Como os religiosos se sentissem muito raivosos pelas boas obras de Jesus, resolveu ele sair daquele lugar. Muitos indivíduos com enfermidades e doenças o acompanharam, Ele, porém, os curou a todos. Então a palavra 'todos' neste versículo é 'pantas' que, quer dizer "todos quantos o acompanharam e que possuíam males" e não todos os homens ou todos os que estavam com Cristo. É um 'todos' dentro de uma amostragem e não a totalidade das pessoas presentes.
Outro exemplo de uma categoria de 'todos' que não são todos os homens é o que está registrado em Mt. 5:15 - "... e alumia a todos os que se encontram na casa." O vocábulo utilizado no texto é 'pansin', isto é, "todos os que". Não são todos, como totalidade universal, mas apenas os 'todos' que se acham sob a influência ou abrangência da luz que se colocou no candeeiro. A palavra casa neste texto é 'oikia', indicando claramente que também o sentido de casa é restrito e não abrangente. É a família dos eleitos, isto é, que receberam a verdadeira luz que alumia a todo homem, a saber Cristo. Pode se referir ainda a casa celestial conforme Jo. 14:2 - "Na casa de meu Pai há muitas moradas..." e em II Co. 5: 1 e 2 - "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. Pois neste tabernáculo nós gememos, desejando muito ser revestidos da nossa habitação que é do céu..." Sendo o sentido de casa figurado no texto de Mt. 5:15, pode-se aplicar apenas ao rebanho do Senhor Jesus na Terra; sendo sentido literal, aos que estão sob sua luz, em qualquer casa, ou em sua própria existência terrena e individual.
Outro caso em que 'todos' não se aplica a todos os homens é em Mc. 3:10 - "... porque tinha curado a muitos, de modo que todos quantos tinham algum mal arrojavam-se a ele para lhe tocarem..." A palavra 'todos' neste texto é novamente 'osoi', ou seja, "todos quantos" e não todos os doentes, enfermos, endemoninhados. Eram todos quantos tinham algum mal e que estavam ali e que se arrojavam para Ele.
Há textos mostrando que nem todos os enfermos e endemoninhados foram curados por Jesus, mas apenas afirmando que muitos foram curados conforme Mc. 1:34 - "... e ele curou muitos doentes atacados de diversas moléstias, e expulsou muitos demônios."
Não há, de fato, nenhuma parte das Escrituras a afirmação de que a expiação de Cristo foi para todos os homens, ou para toda humanidade, ou ainda, universal. Esta postulação é de cunho humanista, porque o homem não suporta tudo o que é soberano e absoluto como determinação de Deus. Também, na presunção e na soberba de que merece alguma coisa, por conta de obras de justiça, exige que Deus se curve aos seus interesses, quer sejam materiais, quer sejam espirituais. Entretanto, e em sentido oposto aos interesses apostatados do homem, a expiação de Cristo foi limitada aos eleitos. Sua justificação foi apenas aos que Ele quis escolher e aos que desejou que estivessem com Ele na eternidade. O "Oleiro Eterno" tem o direito de escolher, porque é soberano. A eleição não é da competência do pecador, mas do doador da misericórdia e da graça, do contrário, não seria eleição, mas sim uma barganha.
O homem em seu desvario em querer ser semelhante a Deus, requer para si os direitos do "Oleiro Eterno", à revelia da soberana vontade d'Ele e dos seus "Decretos Eternos". Ora, a eleição foi decidida antes dos tempos eternos, ou antes da fundação do mundo, ou ainda, desde a fundação do mundo, então, como pode o homem absolutamente depravado, decaído e destituído da glória de Deus supor que o Senhor Soberano se curve aos seus interesses?
Além do mais qual Deus Todo-Poderoso desejaria, ou teria vontade, ou decidiria salvar a todos os homens e não cumpriria a Sua vontade? Assim, como nem todos os homens são salvos, logo, esta não foi uma decisão de Deus, a saber, salvar todos os homens. Tivera Ele decidido assim, quem o poderia impedir? Como diz a Sua própria Palavra: "Agindo eu, quem impedirá?"
A arrogância do pecado é que faz o homem supor que pode controlar a mente de Deus. Além, obviamente, de confundir seus conceitos antropológicos, sociológicos e forenses com aquilo que é, de fato, a justiça de Deus. Nestas circunstâncias, os religiosos querem fazer de Deus uma espécie de "bom velhinho" que está a disposição do homem a fim de lhe satisfazer todos os desejos, caprichos e necessidades. A realidade ético-moral do mundo mostra que não é assim e, que, ele é soberano para fazer tudo o que quer, quando quer, onde quer e a quem quer. O pecado cria no homem a necessidade de humanizar Deus e deificar o homem.
Sola Scriptura!

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" VII



Em língua portuguesa a palavra 'todos' ou o seu singular pode ser:
Adjetivo, neste caso, refere-se ao que não falta nenhuma parte, inteiro, completo, total. 
Pronome indefinido, onde significa qualquer, seja qual for, cada. 
Advérbio, significando, todas as coisas, tudo aquilo, tudo, de todo, totalmente, por inteiro 
Substantivo, referindo-se à totalidade, coisa completa, conjunto, ser. 
Pronome indefinido plural, significando todas as pessoas, toda gente, todo mundo.
A exposição das funções gramaticais e semânticas da palavra 'todo' ou 'todos' serve tão somente ao interesse de mostrar que o contexto é fundamental à interpretação ou aplicação de uma palavra em seu real sentido como já foi mostrado em estudos anteriores. A interpretação do texto sagrado pode ser literal ou simbólica. O maior perigo, nos casos em que o homem toma do texto sem a devida isenção ideológica é exatamente o risco da contaminação do mesmo. Um dos erros mais grosseiros ocorre quando o interprete ou hermeneuta torna literal aquilo que é figurado, ou figurado aquilo que é literal. Há uma forte tendência de o exegeta espiritualizar o texto que é histórico ou apenas descritivo, como também, tornar descritivo e histórico, o texto que é espiritual.
No texto de Rm. 6:3 - "Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?" A palavra 'todos' está apenas implícita em 'osoi', sendo, portanto, um pronome relativo definido precedido da conjunção 'oti' que determina força causal. Então, fica evidente que não se refere a todos os homens, mas tão somente, aos que foram batizados em Cristo Jesus. Até porque, o batismo a que alude o texto, não é o batismo em águas, como se supõe, mas a imersão do pecador na morte de Cristo. O batismo em água é apenas o símbolo exterior do batismo na morte de Cristo. Desta forma têm-se o batismo ritualístico como símbolo do batismo espiritual. Jamais o contrário!
Há textos claros que demonstram e mostram que Cristo morreu apenas por um grupo definido de pessoas e não por todos os homens. Ele morreu por seu povo conforme Mt. 1:21 - "... porque ele salvará o seu povo dos seus pecados." Morreu pelas suas ovelhas em Jo. 10: 11 e 14 - "... o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas... conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem..." Morreu por sua Igreja em At. 20:28 - "... para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue." Morreu pelos seus eleitos ou predestinados em Rm. 8: 32 a 34 - "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Morreu por seus filhos em Hb. 2:13 e 14b - "E outra vez: porei nele a minha confiança. E ainda: eis-me aqui, e os filhos que Deus me deu... para que pela morte derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo"
A conclusão a que todos estes textos permite é muito simples: Cristo não morreu por todos os homens, mas por um grupo distinto de pessoas, as quais podem ser chamadas de igreja, ovelhas, meu povo, eleitos e filhos de Deus.
O fato de a morte de Cristo ter sido por um grupo de pessoas específico, não implica em que este grupo seja melhor ou mais merecedor da graça de Deus. Significa apenas que Deus, usando da Sua soberania, decidiu redimir apenas aqueles os quais Ele quis salvar. Nenhum destes eleitos ou escolhidos possui mérito ou justiça própria a ponto de ter sido salvo por isso. Visto que misericórdia é Deus "não dando ao pecador o que ele de fato merece, a saber, o inferno", então, significa que este grupo recebeu misericórdia. Também, graça é "Deus fazendo tudo por quem nada merece", logo, este grupo, pelo qual Cristo morreu, recebeu a graça incomensurável de Deus. Entretanto, se alguém quer discutir com Deus, o porquê de Ele ter agido benevolamente para com este grupo, e não, para com todos os homens é uma decisão inglória, porque Ele poderia ter deixado todos os homens entregues à sua nefasta sorte eterna, a saber, a condenação no inferno. O excepcional não é Deus eleger e ordenar alguns para a vida eterna, mas, sim, Ele não ter deixado todos entregues à condenação e ao desprezo eterno.
Em Ap. 3:19 - "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te." Esta palavra está sendo direcionada à Igreja de Laodicéia e não a todas as pessoas, ou a todos os homens. A palavra 'todos' vem, neste texto, implícita mais uma vez no pronome relativo 'osous' que delimita, tanto o amor, como a repreensão e a disciplina de Cristo apenas a um grupo específico. A ordem do anjo do Senhor, ao pastor ou mensageiro desta Igreja é que ele seja zeloso e que se arrependa, ou seja, mude de mente. Observe que a palavra é ao dirigente, mensageiro, pastor ou líder da Igreja, visto que está na segunda pessoa do singular "sê, pois zeloso" e "arrepende-te". O Senhor está se dirigindo aos que já são d'Ele e não a todos os homens.
Sola Gratia!

sábado, fevereiro 16

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" VI

No presente estudo será apresentado um texto bíblico, no qual a palavra 'todos' assume diferentes funções gramaticais e semânticas. O objetivo desta exposição é despertar nos leitores das Escrituras a necessidade de uma leitura mais criteriosa. Há uma forte tendência à leitura forçada e direcionada afim de fazê-la coincidir com o sistema religioso ao qual o leitor pertence. Isto pode acontecer devido ao desconhecimento das regras de interpretação, ou de uma profunda autossugestão por doutrinação das denominações religiosas, indivíduos manipuladores, ou seitas heréticas. Há grupos institucionais que realizam uma verdadeira lavagem cerebral nos seus seguidores. Isto ocorre de modo sutil, lento, e gradativo. Assim, depois de certo tempo eles se tornam reprodutores de um sistema o qual nem eles compreendem ou questionam. É o que se denomina de religião de segunda mão. Tornam-se meros multiplicadores da mentira!
Sabe-se que as palavras são significantes que podem ter um, ou diversos significados, dependendo, portanto, do contexto e do sentido que se pretendeu dar a ela quando da sua utilização no texto bíblico. No tratamento ao texto sagrado pode-se falar em exegese, quando se extrai do texto o seu melhor ou o seu real significado, respeitando as regras. E, de eixegese, quando se inserem sentidos ou significados, os quais o texto não admite, desrespeitando-se as regras. Assim, e em função das contingências humanas, a maior parte das traduções ou interpretações faz, mais eixegese do que exegese. A tendência dos tradutores ou estudiosos é impregnar os textos com aquilo que creem e não exatamente com a devida isenção e honestidade. Eles leem a Bíblia, mas não se deixam serem lidos por ela.
A hermenêutica é a ciência e a técnica de fazer que o texto, em toda a sua extensão e profundidade, tenha um sentido revelador e inteligível àquele que o lê. Então, o leitor deve estar muito atento ao contexto do texto, ao que o texto fala, a quem o texto fala e o porquê de cada fala, como também, às funções de cada palavra. Em semiologia, a função da hermenêutica é dar o sentido ou a interpretação dos signos o real valor simbólico que eles representam. Em teologia bíblica, a hermenêutica se presta à interpretação dos textos e do sentido das palavras. A palavra 'hermenêutica' provém do grego 'herméneutikós', que em última análise significa interpretação e maneira de fazer alguém compreender uma comunicação ou enunciado. Isto porque era função do deus Hermes trazer e traduzir as mensagens dos deuses aos homens, conforme a mitologia grega. Esta é uma explicação apenas da etimologia da palavra hermenêutica.
A exegese é um comentário ou dissertação que tem por objetivo esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra, para, depois, se obter um maior esclarecimento ou clareza de ideias e verdades nele contidas. A eixegese, ao contrário, ocorre quando o intérprete ou hermeneuta insere sentido que o texto não pede, não admite e não contém. Desta forma, tanto o que faz exegese, quanto o que faz eixegese pode fazê-lo em função da base do sistema da sua crença, e não no real sentido e significado do texto sagrado. Neste ponto, o texto torna-se apenas humanizado e sem revelação alguma. Possui apenas letra, mas não possui espírito.
No estudo de número IV foram demonstrados os diversos significados e funções gramaticais da palavra 'todos' no texto grego neotestamentário. Deve-se verificar nos próprios textos bíblicos estas funções e significados. Lembrando-se que a primeira regra áurea da hermenêutica bíblica é que as Escrituras se interpretam por si mesmas. Elas devem ser estudadas em toda a sua extensão, pois o objetivo da revelação é glorificar ao Senhor Jesus, validar a justiça de Deus e cumprir o "supremo propósito" do Eterno. As Escrituras não se prestam à satisfação de quaisquer religiões, seitas ou doutrinas. Não se curva à vontade de qualquer homem, por mais que este seja reto, íntegro, temente e desvie-se do mal. Não está a serviço de nenhuma denominação religiosa, por mais bem intencionada que seja, por mais humanista que seja, por mais engajada que seja. A Palavra de Deus serve tão somente à vontade soberana d'Ele.
Rm. 10:12 a 18 - "Porquanto não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo Senhor o é de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? assim como está escrito: quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo. Mas pergunto: porventura não ouviram? Sim, por certo: por toda a Terra saiu a voz deles, e as suas palavras até os confins do mundo." A primeira palavra 'todos' deste texto é 'pánton', isto implica em que todos os povos, tribos, nações e etnias estão debaixo do domínio de Deus e não que todos os homens serão salvos, ou que apenas os judeus seriam salvos. Quer dizer apenas que Deus é Senhor não apenas de um povo, raça ou nação, mas de todas as etnias, isto é, que Ele é de fato Senhor sobre todos.
A segunda palavra 'todos' que aparece no texto retromencionado é 'pantas', isto é, 'todos' no sentido da totalidade de uma categoria de pessoas distintas, no caso, os que o invocam e não todos os homens. No verso 13, se vê que a palavra é 'todo', e, no grego é 'pâs', isto é, cada um, toda sorte de, cada pessoa. Isto não significa todos os homens, mas apenas aquela pessoa que invocar o nome do Senhor é que será salva. Isto é confirmado em Jo. 1, versos 11 e 12. Todo aquele que, não significa todos os homens, pois se assim fosse, todos invocariam o nome d'Ele e todos seriam salvos.
Na continuação do texto se percebe claramente que 'todo' aquele que invocar o nome do Senhor e que, por consequência disso, será salvo, são os que ouvir a pregação do evangelho, e, consequentemente crer. Obviamente, não se pode apressar em deduzir, que, o crer é uma escolha live dos que ouvem a pregação, pois Ef. 2: 8 e 9 ensina que a fé é dom de Deus e não uma virtude própria do homem. O que muitos religiosos confundem, neste caso, é a fé divina com a esperança ou expectativa humana.
No verso 16 do texto em tela, vê-se que nem todos deram crédito à pregação do evangelho, porém eles não deram crédito, porque não foram vivificados para crer. Visto que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, como podem nestas condições ter fé em si mesmos? A palavra 'todos' neste verso é 'pantes', ou seja, todo o mundo. Os versos 17 e 18 demonstram que a pregação do evangelho é abrangente a todos, mas quanto ao crer, não é de todos. Isto é confirmado em II Ts. 3: 2b - "... porque a fé não é de todos." Os homens maus a que alude este texto de Paulo aos tessalonicenses são maus, porque não têm fé e não, como se presume comumente, que eles não têm fé porque são maus. A fé não depende da condição moral do homem, pois ela é um dom de Deus conforme Jd. 3b - "exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos."
Acontece que Deus concede fé aos seus eleitos para que ouvindo, ouçam e vendo, vejam e creiam e sejam salvos. Todavia, aos que não foram preordenados para a vida, Ele simplesmente não lhes dá sequer o direito de ouvir e entender de acordo com Mt. 13: 13 a 15 - "Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis. Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardiamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure."
Este ensino não é agradável aos universalistas, aos arminianos, aos religiosos, justamente porque retira-lhes os holofotes e o desejo de o homem ser o autor e o consumador da própria salvação.
Sola Gratia!

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" V

Universalismo é um vocábulo que admite diversas acepções, dependendo da corrente de pensamento a que uma pessoa está afinada. Importa, neste ponto, preponderantemente, a acepção relacionada ao fenômeno religioso no homem em todos os tempos e lugares. Neste sentido, o universalismo é um sistema de crenças, o qual afirma que todos os homens estão destinados à salvação eterna, em virtude da bondade de Deus.
Considerando o relato bíblico e todos os pressupostos a que estes arrastam para si, a primeira manifestação universalista ocorreu em Adão, após a queda. Este lançou mão do artifício da transferência da culpa, envolvendo todos os outros elementos da trama pecaminosa, no mesmo ato. Assim, o nosso ancestral comum transferiu a culpa do seu erro à sua companheira e esta, por seu turno, a transferiu ao tentador. Produziu-se, assim, uma culpabilidade universal, isto é, todos foram arrolados na mesma condição de culpados. Verifica-se esta tendência "natural" em todos os homens, desde a mais tenra idade. Por exemplo, quando um filho quer ir a um certo lugar não muito recomendado pelos pais, ou mesmo, quando quer assumir uma determinada postura incomum, sempre lança mão do argumento universalizante: "mas, todo mundo vai", ou ainda, "mas todo mundo faz isso..."
De igual modo, e na mesma linha, Caim, ao ter a sua oferta desprezada, decaiu-se-lhe o semblante, entrando em profunda amargura e rebelião contra Deus. Como não poderia atingir diretamente ao Senhor, conduziu a sua diligente atitude de ira ao seu irmão Abel, eliminando, assim, aquele que o colocava em relativa posição de rejeição, excluindo-o do rol dos aceitos. Desta forma, a mente de Caim buscava nivelar-se pela aceitação universal, reduzindo o oponente a nada por meio da sua total aniquilação. Assim, apresentar-se-ia como figura singular e capaz de realizar a oferta do seu esforço próprio diante do Criador, forçando-o a recebê-lo como ofertante universal. De Caim até os nossos dias, esta concepção de aceitação universal se ampliou e se aperfeiçoou cada vez mais.
A religião herdada de Caim especializou-se por apresentar o fruto do trabalho e do esforço humano a fim de atrair o agrado e a aceitação, quer seja de Deus, quer seja dos outros homens, ou ainda, de quaisquer supostas forças cósmicas. Analisando passionalmente as religiões instituídas pelo homem, não se percebe isto com facilidade, mas confrontando-as às Escrituras vê-se isto claramente.
Como já foi dito, o espiritualismo universalista é uma corrente de pensamento não-religiosa e anti-materialista, que combina espiritualidade e universalismo. Está historicamente inserida no contexto do espiritualismo leigo ou laico e ecumênico do final do século XX e início do século XXI. Uma das suas principais vertentes é o gnosticismo, o qual preconiza uma auto-redenção por meio do conhecimento de si mesmo, do cosmo e dos outros seres e suas inter-relações.
Na esfera estritamente religiosa, não necessariamente espiritualista, o universalismo se situa no campo da apreensão da verdade bíblica pelo homem em seu estado decaído. Em um primeiro momento, ocorre a busca pela sintonia religiosa que lhe agrada e, posteriormente, pela sistematização das doutrinas a fim de acomodá-las aos interesses gerais e abrangentes. Assim, o religioso se apropria dos fundamentos escriturísticos a fim de aplicá-los a si por meio de um sistema teológico por ele mesmo elaborado ou aceito e, com isto, busca atingir um número maior de adeptos. Toma por aprovado, legitimado e positivado aquele sistema que consegue persistir e se afirmar historicamente. Nem sempre há uma preocupação em verificar e fundamentar este sistema ao crivo da verdade das Escrituras. Quando muito desenvolvem um conjunto de princípios, credo, ou declaração doutrinária, apenas com o fim de dar uma legitimação aceitável perante os céticos e os valores da sociedade. Neste sentido, a religião humanizada não passa de um arranjo ao sabor dos interesses humanistas. Deus não está nisto! É como aquele caso em que o indivíduo após cair e sair de uma latrina tomou um pão e ofereceu aos amigos famintos. O pão era desejável, mas as mãos que o ofertara estavam fétidas.
Basicamente todos os grupos religiosos afirmam que a salvação é para todos, enquadrando, assim, uma ação que é da exclusiva soberania de Deus, à esfera do universalismo. No universalismo o foco está centrado no homem e seus feitos no tempo e no espaço. É algo cuja base se assenta na lei da causa e do efeito. Busca uma solução ao mal moral em si mesmo e procura estender a suposta solução aos sistemas vigentes, tais como educação, produção, comércio, ciência, tecnologia, moral, ética. Esta é uma inglória tentativa de, por meio do universalismo, promover e recriar o Paraíso na Terra à revelia de Deus. Todos que frequentam uma determinada religião já ouviu como justificativa da manutenção e sustento do referido sistema, a melhoria do homem e da sociedade na Terra. É uma fé do homem, no homem e para o homem. Deus não está nisto! Exatamente porque a fé é um dom e não uma virtude humana que se possa exercitá-la por esforço.
O religioso universalista procura reencontrar a porta do Éden por conta própria e com base em um comportamento meritório e sacrificialista. Tenta desesperadamente melhorar o homem a partir da reparação de suas ações morais e éticas. Procura reformar o mundo por meio de ações coletivas ou individuais. Busca abalizar as diretrizes de conduta geral por uma legislação aceitável e praticável por meio de um legado cultural e das experiências das civilizações ao longo da história.
Entretanto, e em sentido oposto, as Escrituras ensinam exatamente o contrário: a ação do homem, quer seja boa, quer seja má, é o subproduto da sua natureza decaída e fundamentada em uma autodeterminação e autonomia apostatada da natureza divina. Sendo suas escolhas morais confundidas com o suposto "livre arbítrio", porque realizadas dentro dos limites da pecaminosidade, resultando, assim, invariavelmente em escolhas contaminadas e escravizadas pelo veneno do pecado. Logo, nem são livre, nem podem arbitrar nada, e, muito menos, são universais.
Soli Deo Gloria!

segunda-feira, fevereiro 11

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" IV

O adjetivo 'falso' significa tudo aquilo que é contrário à realidade ou à verdade, ou ainda, que seja inexato, sem fundamento. Há sempre uma grande controvérsia entre os que creem na doutrina bíblica, tal como ela é ensinada nas Escrituras, e aqueles que tomam das Escrituras os textos, ou mesmo, palavras fora dos seus contextos para justificar por pretexto, posições pseudo-teológicas, tal como a universalidade da salvação.
John Owen, em sua obra, "Por Quem Cristo Morreu?", afirma: "Não devemos descrever a salvação de nenhuma maneira diferente daquela que a Bíblia a descreve. E a Bíblia não diz, em lugar algum, que Cristo morreu 'por todos os homens', ou por 'cada homem em particular'. Ela diz que Cristo deu Sua vida 'em resgate de muitos'". Isto é verdade cf. Mc. 10:45 - "Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos." Muitos é um advérbio de quantidade e jamais poderá significar todos os homens. Pode até significar todos os escolhidos ou todos os eleitos, mas jamais todos os homens, isto é, toda a humanidade. Desta forma, descarta de longe o universalismo.
Estes 'muitos', invariavelmente, são as ovelhas de Cristo de acordo com Jo. 10: 3, 4 e 14 - "A este o porteiro abre; e as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora. Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem..." Verifica-se aqui uma relação de conhecimento recíproco apenas entre o bom pastor e as suas ovelhas. Não é uma relação universal, mas uma relação singular e particular.
Os 'todos' a que aludem alguns textos referentes à redenção ou salvação, sempre são relativos aos todos os quais foram eleitos e não a todos os homens. É uma questão de examiná-los em seus contextos e não isoladamente, como comumente fazem os arminianos e universalistas. O mesmo se aplica aos condenados ou perdidos, o texto sagrado nunca afirma que são todos os homens, mas apenas os condenados à perdição, por causa do seu pecado. Pode-se verificar também, alguns aspectos da palavra "todos" utilizada no texto neotestamentário, em sua língua original, o grego koiné.
O radical é:
1) 'pâs'
2) 'pâsa'
3) 'pan'
Quando aparece como adjetivo e flexionada sem o artigo indica sentido distributivo, isto é, 'cada', 'toda sorte de', 'cada um', exceto quando há um só gênero, como por exemplo em ''pânsa ´Ierousalém, pâs ´Israel'' que significa "toda Jerusalém e todo Israel. Isto porque, só há, de fato, uma cidade de Jerusalém e um país Israel. Então 'todo' neste texto é uma questão de gênero e não de universalismo. Indica que, não apenas todos em Jerusalém, como também todos em Israel ouviram os feitos e ditos por Cristo.
Quando se relaciona a uma abstração ou nomes próprios, indica 'todo' ou 'inteiro', isto é, um ente ou objeto em sua total extensão, inteireza ou plenitude.
Quando apresenta antecedido por artigo, indica 'todo' (pâs hó), inteiro, total, o todo (ó pâs), o universo, a totalidade(ta panta).
Como pronome, indica cada um (pâs), tudo (pan), todo o mundo (pantes), todas as coisas (panta imon).
Quando aparece como antônimo, indica, não todo (ou pâs), nem todos, apenas alguns, (ou pantes), nenhum, ninguém (ou pâs).
Com relação às abstrações, notadamente aquelas que indicam virtudes, vícios, emoções, caráter e condição, mostra as diferentes maneiras em que tais virtudes, vícios ou emoções se manifestam. Dá a ideia superlativa, isto é, o mais alto grau ou o máximo dessas abstrações. Por exemplo: sempre, continuamente (dià pantós), em cada situação, em toda maneira (en pantí), em tudo como advérbio (panta), em todas as maneiras, em tudo (en pâsin), sobretudo (prò panton), em todos os respeitos, em todos os sentidos (kata panta), para toda parte, entre todos (dià panton).
Citando o pr. Glênio Fonseca Paranaguá, pode-se dizer: "há um 'todos' na Bíblia que são todos. Mas, há um 'todos' na Bíblia que não são todos os homens, mas são todos os que creram na suficiência toda da graça toda do Todo-Poderoso."
Por outras letras, há um 'todos' nas Escrituras que se refere a todos os homens, mas há também, um 'todos' nas mesmas Escrituras, que não são todos os homens, mas apenas os todos que foram eleitos por Deus e ordenados para a vida eterna. Tudo isto não é por qualquer mérito destes todos, mas pela misericordiosa graça do Deus soberano.
Solo Christus!

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" III

O universalismo é um princípio filosófico que propõe uma ideia geral, conceito, ou termo abrangente aplicável a todos os indivíduos de uma mesma classe de seres ou objetos. No platonismo, por exemplo, é a ideia de caráter transcendente, que origina, fundamenta e classifica toda a realidade imanente e sensível, preexistindo em relação aos seres materiais e às consciências humanas. Por derivação ou extensão de sentido, no aristotelismo, é o termo geral que representa a essência ou a substância de um ente singular, e que somente existe, ao contrário da auto-subsistência das ideias platônicas, acoplado aos objetos materiais. Também na filosofia medieval, é o conceito geral que, para os autores da escola realista, mais próximos do platonismo, é uma realidade autossuficiente  e para os pensadores da escola nominalista, mais inclinados ao aristotelismo, é mera entidade linguística, ou seja, é apenas um conceito ou 'flato vocis'.
O espiritalismo universal é uma realidade que, se não se presta a devida atenção, não se percebe, pois é colocado de modo lento e gradativo na mentalidade coletiva. Por esta razão é que Cristo no-lo previne em Mt. 24:24 - "... porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos." É algo que se apresenta ao senso comum como aceitável, plausível e, em certa medida, até desejável. É uma corrente de pensamento não religioso, anti-materialista que combina dois elementos: espiritualidade e universalismo, inserindo-se na esfera do espiritualismo laico e do ecumenismo. Estas ideias foram mais fortemente desenvolvidas e aceitas no final do século XX e início do século XXI, com o aval da globalização e da massificação da informação. Está perfeitamente dentro do espírito do governo mundial do Anticristo previsto nas Escrituras. Atualmente se fala muito em NOM - Nova Ordem Mundial - como forma proposta a um governo mundial.
O espiritualismo universalista consiste de uma ideologia fundamentada na lei do 'karma',  do 'dharman' e da reencarnação, favorecendo a ideia que, cada pessoa, não deve aderir, exclusivamente, uma determinada crença, sistema, doutrina, religião, mestre, guru, ou movimento, mas que faça uma síntese pessoal das diversas correntes de pensamento relacionadas à espiritualidade, tais como, religiões, filosofias espiritualistas e neo ciências transcendentais, como também às demais expressões humanistas, como por exemplo, as manifestações da arte, da filosofia e da ciência em geral.
Defendem, em suma, o ecumenismo, o pluralismo, o holismo, o universalismo, a multidiciplinaridade, a transdisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a cidadania planetária e cósmica. Possui fortes inclinação às postulações da psicologia transpessoal.
Não aceita as posturas de sectarismo, exclusivismo, fanatismo e maniqueísmo. Dá grande valor à liberdade de expressão, o discernimento e à dialética. Não reconhece a detenção de posse da verdade relativa e/ou absoluta sob quaisquer desculpas, justificativas ou alegações.
Afina-se com a tese de Huberto Rohden, a qual chamava de anarquismo cósmico, ou seja, o autogoverno do indivíduo, em consonância com as normas da ética universal, dissociado quer de transferência de responsabilidade a terceiros para lhe ditar o caminho evolutivo a trilhar, quer da submissão a conjuntos ou corpo de doutrinas, inquestionáveis e petrificados, e ao controle de conduta por instituições e autoridades sacerdotais ou equivalentes. Em fim, é o homem decaído em sua loucura de querer ser 'deus'. Denota um estado de rebelião a qualquer tipo de doutrina única.
Então, é ou não é, algo tentador e perfeitamente aceitável como válido para uma humanidade que busca a sua auto-determinação, redenção e superação dos males em arrepio e desconsideração à soberana vontade de Deus?
São seus pressupostos básicos:
1. As religiões são criações do gênio humano e não imposições de Deus e dos espíritos.
2. Não existe corrente de pensamento que monopolize as verdades relativas ou absolutas de ponta.
3. Há caminhos diferentes para se atingir a evolução espiritual, dentro e fora de religiões.
4. Mais importa a conduta amorosa e fraterna do que as ideologias, cosmogonias, sistema de crença, fé, dogmas ou organização religiosa, ou assemelhada escolhidas.
5. São contraproducentes e inócuas disputas por qual o melhor guru, mestre ou líder espiritual da humanidade.
6. Todas as contribuições ao esclarecimento espiritual e consciencial são válidas e relevantes, merecem respeito e apreciação sem preconceito, devendo-se extrair de cada ideologia o que nela houver de proveitoso ao aprimoramento do indivíduo e da sociedade.
Percebe-se claramente o princípio básico e norteador do universalismo: o homem é o centro de todas as coisas e das decisões. Ele é um autômato e independente de Deus ou de qualquer princípio que envolva soberania e dependência. Este foi o mesmo princípio disseminado no Éden por Satanás quando dissimuladamente introduziu a possibilidade de o homem ser incrédulo e adquirir o poder de conhecer o bem e o mal fora do controle de Deus. É este o conceito que envolve o mundo a fim de desqualificar e desconstruir toda e qualquer ideia de pecado, condenação, morte espiritual, inferno e redenção apenas por meio da fé em Cristo.
Alguém com o mínimo de honestidade poderá verificar e constatar muitos destes postulados universalistas e espiritualistas dentro das chamadas "igrejas cristãs" hoje. Estas ideias são proclamadas como se fossem verdades bíblicas ou princípios baseados nos decretos eternos de Deus. Há muito do que se aproxima daquilo que Deus quer para os seus eleitos, mas uma coisa é querer produzir tudo isso com base na justiça própria e no esforço apostatado da verdade, outra coisa é fazer tudo isso e muito mais pelo Espírito de Cristo, tendo sido justificado na morte e na ressurreição juntamente com Ele.
Sola Fide!

domingo, fevereiro 10

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" II

As palavras são significantes que podem ter um ou diversos significados. Cada palavra possui, entre outros aspectos, função semântica e função gramatical. A semântica é um ramo da linguística e se ocupa do estudo da significação das palavras como parte dos sistemas das línguas naturais; pode ser abordado sincrônica ou diacronicamente. Trata, portanto, do significado das palavras, por oposição à sua forma. Já, a gramática, se ocupa do estudo do conjunto de prescrições e regras que determinam o uso considerado correto da língua escrita e falada. Em linguística descritiva, a gramática é o estudo objetivo e sistemático dos elementos, tais como: fonemas, morfemas, palavras, frases etc. e dos processos, como, formação, construção, flexão e expressão, que constituem e caracterizam o sistema de uma língua.
Portanto, as palavras variam de significação, dependendo do contexto em que aparecem. Também à palavra pode-se atribuir sentidos conotativo e denotativo, ou seja, sentidos literal e figurado. Segundo os estruturalistas, especialmente os norte-americanos, a palavra é unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir enunciado; forma livre mínima, vocábulo.
Esta breve abordagem nos parágrafos acima, visa na realidade, mostrar que nem sempre as palavras que saltam aos olhos em um determinado texto têm a mesma significação a cada vez que aparecem. As vezes, em uma única frase a mesma palavra, com a mesma grafia e a mesma fonética tem função e sentido diferentes, por exemplo, "como, como, ora, como, como como." Há um "como" que é advérbio de modo, e outro, que é o verbo comer, entretanto, são homógrafas e homófonas.
Neste sentido, imaginem como são as traduções de textos cujas línguas já não são mais faladas correntemente, ou mesmo, sofreram grande evolução ao longo do tempo? Além da questão da preocupação em traduzir corretamente, há também, a preocupação em fazer a versão correta. Para tanto, há a necessidade de muita pesquisa, tempo, instrumentos adequados e a máxima fidelidade ao texto originais. Por exemplo, se alguém tomar um determinado texto do poeta inglês William Shakespeare e traduzi-lo para o teatro moderno e em língua portuguesa, terá primeiramente de traduzi-lo para o inglês atual. Há verbos no inglês que podem ter mais de 15 ou 20 significados.
Estendendo todas estas questões técnicas ao hebraico, ao aramaico e ao grego koiné, que são as línguas matriciais das Escrituras, a dificuldade de se fazer uma tradução confiável é muito grande. A tudo isto, acrescenta-se o fato de haver a forte tendência dos tradutores em fazer versões de acordo com os seus sistemas de crenças. Hoje, se alguém ler o texto bíblico em uma tradução Adventista perceberá logo, em certos contextos, uma enorme adaptação ao sistema de crenças dessa religião; se pegar uma bíblia traduzida pelas Testemunhas de Jeová, ver-se-á um enorme recorte ideológico a fim de satisfazer ao sistema teológico dessa seita; se alguém ler o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Alan Cardec* verá que houve um verdadeiro milagre na tradução, porque textos inteiros desaparecem, outros viram mutações e comutações para explicar uma série de coisas, como, reencarnação, ausência de inferno, inexistência do pecado e da condenação eterna, etc. Agora, imagine a grande quantidade de igrejas, seitas e religiões fazendo isto ao longo de 4.000 anos? Obviamente, o texto original é o mesmo contidos nos códices, o problema são as versões com toda a carga de crenças e ideologias nelas impregnadas. O tradutor seguirá invariavelmente o seu sistema de crença.
Para exemplificar, e apenas para isso, toma-se o texto de Lc. 23:43 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso." Suponha que alguém creia que, ao morrer, o homem salvo, fique em uma espécie de sono da alma, esperando o dia do juízo e da restauração final. Este texto teria de ser vertido assim: "Respondeu-lhe Jesus: em verdade te digo hoje, que estarás comigo no paraíso." Será que muda muito ou não muda em nada a verdade dita por Jesus? A simples mudança de ordem em duas palavras poderá dar um sentido absolutamente diferente. Este é o problema que se quer levantar nesta série de artigos, visto que muitos cristãos e religiosos batem de frente com determinadas doutrinas bíblicas. Tomam as palavras fora das suas significações e funções, além de tomá-las fora dos princípios da hermenêutica e com uma exegese forçada. É quando a teologia faz com que as Escrituras se inclinem a um determinado sistema de crenças só para justificá-lo como dono da verdade. Mas, a que tipo de verdade se refere essa teologia?
(*) Allan Kardec é pseudônimo e não nome próprio.
Sola Scriptura!

A FALSA TEOLOGIA UNIVERSALISTA DO "TODOS" I

Em quase todos os círculos religiosos, notadamente, os que se dizem cristãos, há uma assertiva equivocada sobre a salvação, a saber, que a expiação de Cristo na cruz foi universal. Há uma quase unanimidade em afirmar que a salvação de Deus, por meio da justificação em Cristo é destinada a todos os homens, indistintamente. Para estes "teólogos", a mera letra, onde se registra que Deus não faz acepção de pessoas, o obriga, a estender a salvação a todos os homens, em todos os tempos e lugares. Porém, esta questão de cunho universalista tropeça na realidade  moral do homem, a qual indica que nem todos os homens são salvos, por suas naturezas desgraçadas e pelos seus atos e suas atitudes errôneas. Por isto, e como uma espécie de espiral sem fim, estes disseminadores de "meias verdades" generalizadas vão de invenção em invenção a fim de justificar suas próprias posturas pseudo-teológicas. Não se pode lançar mão de textos bíblicos para legitimar, sem consistência, uma postulação qualquer, ainda que esta seja bem intencionada e cheia de humanismo. O texto escriturístico que se refere a Deus não fazendo acepção de pessoas é uma referência a que ele escolheu gente de todas as tribos, raças e nações. Não é uma referência a todos os homens indistintamente.
Sabe-se, pelo senso comum, que a verdade é um valor entendido, no mínimo, em três dimensões: a metafísica que se ocupa da natureza da verdade; a lógica que se ocupa da preservação da verdade; e a epistemológica que se ocupa do conhecimento da verdade. Entretanto, no plano reles da razão humana, a "verdade" é a realidade tal como se apresenta à percepção do homem, ou ainda, aquilo que se quer que ela seja. Para muitos, a verdade é aquilo que os agrada e ponto final!

Nestes tempos de muitas falácias e pouca verdade, vale mais o que é semelhante, do que aquilo que de fato o objeto da percepção é. Importa aquilo que o sujeito determina, e não o que o objeto essencialmente é. Assim, o homem relativiza o que é absoluto e absolutiza o que é relativo, contanto que, disto retire alguma vantagem. A simples e aparente realidade, tal como ela é, não autoriza impingi-la como se verdade fosse. Filosoficamente a verdade até pode ser discutida nas esferas metafísica, lógica e epistemológica, mas escrituristicamente, ela não é uma concepção. É, antes, uma pessoa conforme se registra em Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: eu sou o caminho, e a verdade, e a vida." Pode-se aplicar ao texto crístico, o recurso da metonímia, o qual toma o todo pela parte e a parte pelo todo, ou o conteúdo pelo continente e o continente pelo conteúdo. Então, se ele mesmo se declara como sendo a verdade, equivale dizer que não só o é, como também, contém toda a verdade, seja metafísica, lógica ou epistemológica.
No julgamento de Cristo, Poncius Pilatus, indagou: "o que é a verdade?" Jesus não lhe respondeu absolutamente nada. Entretanto, se Pilatos houvesse inquirido, quem é a verdade, talvez Cristo o tivesse respondido satisfatoriamente, por força de ser ele mesmo esta verdade. A pergunta foi filosófica e não espiritual, por isso, ficou sem resposta do Mestre.
A verdade é uma categoria que se determina a partir do conhecimento, logo, quanto mais luz se tem sobre o objeto da apreensão, mais verdade se pode apreender dele. Conhecimento é luz e a luz é mais forte ou resplandece melhor nas trevas, visto que trevas, nada mais são do que a ausência da luz. Só há trevas onde há ausência da luz. A luz, porém, é obtida da verdade, por isso, o apóstolo João afirma: "... a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela." Contra a verdade não há argumentos, afirma o brocardo popular. Esta luz cuja fonte geradora é a verdade é o próprio Cristo, pois, "... a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo. Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu." O mundo, como um todo, não conhece a luz, porque não conhece a verdade. Embora a luz alumie a todo homem, mas nem todo homem pode conhecer a luz. Contrariamente ao senso comum, é a luz que alumia e se faz visível e resplandescente, consequentemente, por seu reflexo tudo pode ser visto.
O homem, já nasce em trevas, porquanto é originalmente portador da natureza contaminada pelas trevas. Ao escolher o fruto da "árvore do conhecimento do bem e do mal" comprou outra luz, que não a verdadeira luz procedente da verdade. A luz adquirida da árvore errada, vendida por baixo preço pelo mercador das trevas, é, em suma, trevas: "vê, então, que a luz que há em ti não sejam trevas."
É necessário ao homem despir-se de toda a carga conceitual adquirida às expensas de expedientes humanizados e universalizados, como se fora verdade e luz. Sem este quesito, todos serão invariavelmente objetos de uma luz, a qual, não procede da verdade. Assim, interessa ao mascate da mentira continuar vendendo aos religiosos a sua falsa luz. Pensando estar caminhando em direção a fonte da verdadeira luz, estarão, na verdade, se afundando em uma luz interior que se apaga, porque não tem a sua fonte na verdade. A mercadoria falsa é adquirida de alguém com dúbias credenciais: "vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira." A ausência da verdade descredencia cabalmente o mercador decaído a vender qualquer produto, visto que não passa de mera ilusão. Há muitos comprando tais ilusões e correndo atrás do vento em nome da verdade. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos! Assim, afirma o texto sagrado pela pena do apóstolo Paulo.
Deus não tem absolutamente nada para dar ao homem que não seja a própria verdade, qual seja, Cristo. Quem ganha a vida de Cristo, ganha, não apenas um amontoado de coisas e virtudes, mas ganha tudo, porque todas as coisas convergem para Ele: "... porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas..." Não foi atoa que Cristo deu conselhos: "... aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças..."

Sola Gratia!