quarta-feira, janeiro 30

OS NEPHILIM III

Dando continuidade aos artigos acerca das ingerências de seres celestiais ou anjos na Terra, tem-se o texto de Gn. 6: 1 a 4, onde se lê: "Sucedeu que, quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: o meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carne, mas os seus dias serão cento e vinte anos. Naqueles dias estavam os Nefilim na Terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses Nefilim eram os valentes, os homens de renome, que houve na antiguidade."
A questão retratada no texto acima é muito grave e requer uma análise profunda e desarmada de qualquer tendência, até porque, este não é um assunto doutrinário. O que não se pode é fechar o filtro às realidades escriturísticas, passando ao longe delas, só porque não concorda, não entende, ou ainda porque já possui uma opinião formada, geralmente, de segunda mão. O que comumente ocorre na religião dos homens é isto: apegam-se a um líder, teólogo, mestre ou assemelhado e, a ele submetem os seus dilemas, carências, dificuldades. Em função dos títulos ou da suposta autoridade do expositor, tais religiosos alienados apropriam-se apenas da sua versão, opinião ou interpretação, sem jamais buscar o conhecimento do Altíssimo pela Sua própria revelação escriturística. Neste ponto, os religiosos que supõem terem sido libertos do pecado pela religião, tornam-se duas vezes escravos: de homens e de falsos ensinos pela mesma religião a qual professam. Perdem a chance de, pelo menos, obter ilustração intelectual pelas Escrituras.
G.H. Lang em seu opúsculo, "Homens ou Anjos?" levanta uma série de fatos a serem considerados nesta questão, devido as afirmações de que tais assuntos são mitos resultantes da astúcia de sacerdotes e reis a fim de manter o controle sobre o povo. São eles:
1) Moisés foi criado no conhecimento e na ciência do Egito até se tornar adulto conforme At. 7:22. Então, ele estava perfeitamente inteirado das histórias literárias e dos escritos nas paredes dos templos egípcios. Todavia, o próprio Moisés nunca disse que eram mitos ou dominação manipulativas da ideologia dos reis e das classes dominantes.
2) O povo hebreu passou cerca de 430 anos no Egito, tendo contato com relatos e crenças sobre deuses se materializando e coabitando com mulheres humanas. Nenhum hebreu afirmou que eram só mitos, nem profetas disseram que eram apenas lendas.
3) Quando Deus concedeu graça a Moisés para crer, ele rejeitou toda a idolatria dos egípcios, entretanto, não reputou tais fatos como inverídicos, mas apenas como sendo pagãos. Moisés se preocupou com a origem, mas não com a veracidade dos fatos.
Moisés relatou em Gn. 6 algumas informações anteriores ao dilúvio. Como ele sabia desses fatos narrados se viveu muito tempo após os mesmos terem acontecido? De alguma forma ele sabia da ocorrência de misturas ou cruzamentos de seres supra-humanos com mulheres terrenas e, nem por isso, disse que eram invenções. O texto trata com muita seriedade o assunto, mostrando qual foi a ação de Deus em resposta a tais abominações como forma de julgamento e não de aceitação. O dilúvio foi uma forma de expurgo desses seres interferindo nos assuntos terrestres.
No texto de Gênesis 6 são mencionados os "filhos de Deus", que, em hebraico é 'B'nai haElohim', e, ao pé-da-letra é "os filhos dos deuses". Muitos teólogos já se debruçaram sobre esta expressão para explicá-la pelas vias hermenêutica e exegética, mas sempre com base em textos paralelos, porém interpretados à luz da opinião mais fácil de ser aceita e recorrente. Dizem alguns que estes "filhos de Deus" eram os descendentes de Seth, o terceiro filho de Adão, porque no Gn. 4:26 afirma que após o nascimento de Enos, filho de Seth, passou-se a invocar o nome de Deus. Entretanto, mesmo considerando que após o nascimento de Sete, o culto a Deus tenha sido restabelecido, não quer dizer que este culto fosse verdadeiro e que os que tal culto praticasse passaram de pecadores a filhos de Deus, apenas por praticar um certo culto ou uma certa religião. Também, se Sete era descendente de Adão, obviamente era pecador, pois em Rm. 5:12, diz que o pecado entrou no mundo por um homem, Adão, e passou a todos os homens. Também acrescenta-se que, se os descendentes de Sete eram filhos de Deus e os descendentes de Caim eram filhos do Diabo, como ambos morreram no mesmo dilúvio? Porque Deus mataria, tanto os seus fiéis filhos, como os rebeldes servos de Satanás na mesma sentença e na mesma condenação? Também, seria possível em um tempo em que a humanidade era tão reduzida, em um espaço geográfico tão pequeno, como o Oriente Médio, estas duas linhagens nunca terem se misturado biologicamente? Contrariamente, sabe-se que todos os grupos humanos são miscigenados, não há nenhuma etnia pura.
Além do mais, porque o texto apresenta um grande contraste entre "filhos do Deus" e "filhas do Adão", que no hebraico é "B'noth haAdam". Porque a referência apenas a elas como filhas do homem ou descendência de Adão e aos seus pretendentes, como filhos de Deus? Sabe-se, pelo contexto, que os filhos dessas uniões espúrias, eram muito poderosos e se tornaram os homens de renome daquele tempo. Se os pais eram apenas homens, o que lhes causara tamanha diferenciação? Não deveriam ser homens normais? Porque os teólogos e exegetas não levam em conta as características extraordinárias desses nefilim, anakim e refaim? Estas são palavras diferentes para se referir ao mesmo tipo de indivíduos anormais naquele tempo.
O resultado dessa mescla ou dessa miscigenação foi uma onda de impiedade, corrupção das imaginações dos corações dos homens, provocando a ira de Deus, o qual não tardou em destruí-los no dilúvio.
Em toda a literatura da época, a expressão "filhos de Elohim" era uma referência a seres angelicais e não a homens conforme, por exemplo, Jó 1:6 e 2:2, onde a expressão é a mesma de Gn. 6. No caso do relato de Jó, que aliás é concomitante ao relato de Gênesis, o local da aparição dos "filhos de Deus" é o céu e não a Terra. Porque, em um livro a referência seria a anjos e, no outro livro, seria a homens? No livro de Jó, o próprio Satanás declara a Deus que estava vindo de rodear e passear pela Terra. No capítulo 38, verso 7 do livro de é demonstrado que os "filhos de Deus" são anteriores à própria criação dos céus e da Terra.
No Salmo 82, versos 1 e 6, os deuses ou "elohim" são declarados como sendo "filhos do Altíssimo". Neste texto, os tais "filhos de Deus" são ameaçados de serem mortos como morrem os homens, caso permanecessem praticando as abominações das quais Deus reclama no verso 2. Seria sem senso, Ele ameaçar homens a morrerem como homens! Jesus faz menção a esses seres em Jo. 10:34 e 35, porém não esclarece a que ordem eles pertenciam, se a homens ou a anjos. Justamente, porque o objetivo de Cristo no referido texto era mostrar que a inviolabilidade dos decretos eternos de Deus é de grande relevância tanto a homens, quanto a anjos.
Assim, conclui-se que todos aqueles que rejeitam a compreensão de Gn. 6 como sendo a amalgamação entre seres supra-terrestres rebeldes e as mulheres humanas ou as filhas de Adão, não apresentam um argumento convincente, e, muito menos, consistente. Simplesmente negam, mas não convencem por argumentação sólida. Acrescenta-se a estes fatos que, se estes seres referidos em todos os registros culturais dos povos antigos, em monumentos e feitos são extra-terrestres superiores e vieram para alguma finalidade lícita, porque nem profetas, nem Jesus, o Cristo a eles se referiram como tais? Por que Deus omitiria uma tal participação? Contrariamente, os relatos entre todos os povos na antiguidade depõem como sendo anjos caídos ou demônios "daemonia" e não como astronautas, povos de outros mundos ou alienígenas.

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