Ap. 2: 14 e 16 - "Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem. Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaítas. Arrepende-te, pois; ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da minha boca."
A porção acima, que abre esta instância, é parte do contexto geral das Cartas às Igrejas em Apocalipse. Especificamente, a Carta ao Anjo da Igreja que está em Pérgamo. O Senhor Jesus, o Cristo inicia a sua missiva se identificando como Aquele que tem a espada afiada de dois gumes. Isto é indicativo de que é Ele o detentor da Palavra como 'Logos' [Λόγος] e como 'Rhema' [ρήμα]. Trata-se da figura da Palavra de Cristo como espada que corta dos dois lados. Ou seja, é uma palavra que pode abrir os ouvidos para a fé, como também, pode abrir a consciência da perdição eterna. É a referência ao evangelho que julga com retidão e justiça plena.
Ao mensageiro da Igreja em Pérgamo é dito: "sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o meu nome e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita." Portanto, é revelado que Satanás tinha um trono e que ele habitava aquela cidade. Entretanto, é dito ao pregador daquela Igreja, que, apesar de todos os transtornos, ele retinha o nome do Senhor e não negava a fé. Reter o nome do Senhor Jesus e não negar a fé são as marcas daqueles que nasceram do alto. É uma situação irreversível!
O texto de abertura deste estudo menciona que, na Igreja em Pérgamo, havia duas categorias de religiosos que manchavam a congregação: os seguidores dos ensinos de Balaão e os nicolaítas. Este estudo ocupar-se-á dos nicolaítas.
Há duas vertentes interpretativas sobre os tais nicolaítas: uma afirma que eram seguidores dos ensinos de um homem chamado Nicolau; outra afirma que eram membros da Igreja que adotavam estratégias semelhantes às do referido Nicolau, mas não eram, por ele, comandados.
Nicolau foi um prosélito de Antioquia e diácono na Igreja de Jerusalém conforme o registro de At. 6:5 e 6 - "O parecer agradou a todos, e elegeram a Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia, e os apresentaram perante os apóstolos; estes, tendo orado, lhes impuseram as mãos." Pelo texto, o tal Nicolau foi escolhido e consagrado diácono. O fato de pessoas orarem e cansagrarem outros dentro de uma Igreja não é evidência ou prova de novo nascimento. Acerca de Nicolau, escreveram, queixosamente, Irineu e Hipólito nos séculos II e III d. C. O nome Nicolau deriva da língua grega e pode ser interpretado como: "ele conquista pessoas." Isto indica aspecto do caráter deste homem, como sendo alguém com forte poder de oratória e persuasão. Na antiguidade, os nomes denotavam traços da personalidade das pessoas.
Os registros extra-bíblicos indicam que Nicolau foi um religioso que aderiu à Igreja, porém, vivia de estratégias para dominação e controle clerical da Igreja. Sugere-se que o mesmo estava mais interessado em criar e influenciar uma organização a que disseminar o Evangelho. De igual modo, muitas nicolaítas se têm levantado nas religiões modernas. Valorizam mais a denominação ou o templo a que o Senhor da Igreja.
Bem, pelo texto de Apocalipse se percebe que estas pessoas infiltradas na Igreja visavam corromper o evangelho, e, consequentemente, a Igreja; objetivavam perverter o culto, eram pedra de tropeço. Tais práticas tomou corpo de seita gnóstica por meio da técnica da infiltração. Divulgavam ideias e ensinos de falsos mestres e falsos profeltas. Isto é evidenciado no versículo 14 - "... doutrina de Balaão." Tal doutrina consistia em minar as bases da verdadeira fé, sobrepondo novas bases e acrescentando lenta e gradativamente mudanças que alteravam a simplicidade do Evangelho de Cristo. Foi o que o profeta Balaão ensinou a Balaque para corromper os filhos de Israel.
Desta forma, os nicolaítas já existiam desde a Igreja Primitiva e continuam existindo até os dias de hoje. Talvez, até predominem hoje na maioria das igrejas nominais. Nicolaíta é um termo que provém de NICO (vencedor ou conquistador) e LAITANES ou LAOS (laico ou governo do povo). Logo, esta categoria de religioso se caracteriza por estar dentro das igrejas, porém, pouco ou nada sabem sobre nascer do alto conforme Jo. 3: 3 e 5 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Jesus respondeu: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." A tradução portuguesa do primeiro versículo é "nascer de novo", mas no grego koiné é "nascer do alto." Nascer da água significa ouvir a Palavra de Cristo e ser despertado por ela à fé verdadeira. Nascer do Espírito é receber o selo do Espírito Santo como garantia da vida de Cristo. Desta maneira, quem não nascer do alto, não vê e não entra no Reino de Deus. Tudo o que passa disto é mera religião humana, nicolaísmo e gnosticismo.
Tomando-se os significados e os comportamentos, percebe-se que há muitos nicolaítas às soltas pervertendo o Evangelho de Cristo dentro da Igreja. Igreja, neste sentido, não são templos de quatro paredes com pompas e circunstâncias, mas a reunião dos verdadeiros adoradores que adoram em Espírito e em Verdade. A Igreja de Cristo é a soma dos que foram tocados para crer na sua inclusão na morte com Cristo e, consequentemente, na ressurreição juntamente com Ele.
Solus Christus.
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