julho 30, 2017

COM O ROSTO DESCOBERTO

II Co. 3:18 - "E não somos como Moisés, que trazia um véu sobre o rosto, para que os filhos de Israel desvanecia; mas o entendimento lhes ficou endurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do velho pacto, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele abolido; sim, até o dia de hoje, sempre que Moisés é lido, um véu está posto sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se um deles ao Senhor, é-lhe tirado o véu. Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor."
Uma das questões mais graves no Cristianismo moderno e pós-moderno é a incapacidade de identificar a relevância da Graça como marca da Nova Aliança. A maioria dos religiosos considera a Lei como o pré-requisito para se alcançar a Graça. Não compreendem, porque não creem, que a Graça cumpre e termina a Lei. É algo semelhante à teoria dos conjuntos: a ideia de continente e conteúdo. Ou seja, a Graça inclui e contém plenamente a Lei, pois Cristo veio exatamente para cumprir toda a Lei, a qual o homem decaído jamais poderia cumprir integralmente conforme Rm. 10:3 - "Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê." Vê-se que é somente todo aquele que crê!
Portanto, é fundamental entender que o termo "fim" no texto acima, não é apenas no sentido de finalidade. Traz em si, principalmente, o sentido de término ou fim. O vocábulo utilizado no grego neotestamentário é "telos" [τελος], ou seja, 'fim de um evento, último de uma série.' Desta forma a expressão grega achada no texto de Rm. 10:4 é "telos nomon Christós." Tal expressão pode ser traduzida, sem qualquer prejuízo, como: "Cristo terminou a Lei."
Desta forma, a resistência à significação de que Cristo cumpriu toda a Lei e a terminou reside no fato que o homem, não regenerado, necessita de um regulador comportamental para apaziguar a sua alma atormentada pela natureza pecaminosa. Tal natureza sempre cria um paradoxo no coração do homem religioso, pois ele lê as Escrituras e se apropria apenas intelectualmente da verdade a qual tenta assumir, mas a sua natureza pecaminosa não resolvida na cruz entra em crise. É como o homem que, caindo numa latrina sai dali e toma de um pão para comer, porém sem antes se lavar.
Jo. 12:47 - "E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo." Este texto joga luz sobre a questão aqui abordada, quando mostra claramente que Cristo não veio executar a Lei contra o pecador, mas veio, precisamente para livrá-lo da culpa do pecado gerada pela lei. Quando alguém assume a culpa de outro e paga pelos seus pecados ocorreu uma expiação que isenta o culpado. Igualmente, o apóstolo Paulo esclarece que, "... Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus; porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, tem se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas..."
Rm. 5: 1 e 2 - "Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus." Ora, verbo justificar está conjugado em tempo e modo claramente cabal ou terminativo. Isto indica que, uma vez tornados justos pela fé, o resultado é a paz com Deus e não a sustentação de um comportamento dualista: guardar a lei para obter paz e fé, como tenta fazer a maioria dos religiosos. Esta duplicidade gera muito sofrimento e repressão da natureza pecaminosa residente no homem não regenerado. Esta situação acabará por explodir, a qualquer tempo, em forma de doenças, psicopatias e anomalias comportamentais. Tais coisas são a razão de muitos conflitos dentro das igrejas onde, teoricamente, deveria reinar plena harmonia.
Outrossim, o homem decaído ganha a Graça para crer e receber, a verdade, que Cristo cumpriu em si mesmo a Lei, a fim de que o pecador seja total e plenamente justificado em sua morte substitutiva e inclusiva na cruz. Entretanto, é necessário que isto seja recebido como verdade de Deus e não como mera letra. A aniquilação do pecado  por Cristo está doutrinada em Hb. 9:26 - "... doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
Assim, a aniquilação a que se refere o texto acima implica em retirar total e absolutamente a natureza pecaminosa do homem, tornando-o justificado. Vê-se que o texto afirma que tal aniquilação foi "de uma vez para sempre" e não algo momentâneo.
Finalmente, tem-se que o homem justificado pela inclusão na morte de Cristo, bem como na sua consequente ressurreição, aparece perante o trono de Deus com o rosto descoberto. Tal homem pecador regenerado é apresentado perante Deus aceitável em Cristo e não em sua justiça própria.
Sola Gratia!

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