Ap. 18: 4 - "Ouvi outra voz do céu dizer: sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas."
A Bíblia, notadamente o livro de apocalipse é plena de símbolos e tipos. Isto porque a sua linguagem é as vezes literal, e por vezes, figurada. Qualquer afirmação sobre o porquê de as Escrituras serem assim é mera especulação, pois seria uma incursão nas razões de Deus por conta própria. Grande parte dos comentaristas e interpretes dos textos sagrados se aventura neste campo escorregadio. Muitos foram desmascarados ao longo da História por suas afirmações sem revelação do alto.
Sabe-se que as profecias podem apresentar dupla referência, ou seja, tanto podem ocorrer em tempos diferentes, como se referir a pessoas e acontecimentos diferentes, valendo-se dos mesmos símbolos. Entretanto, sabe-se que toda profecia é voltada apenas para cumprir o projeto eterno de Deus em Cristo. Nada nas Escrituras está centralizado em homens, lugares e circunstâncias, sendo estes apenas meios e não fins em si mesmos. Tudo aponta para a obra redentora de Cristo, tanto antes, como durante e depois da sua manifestação visível ao mundo. O papel do Diabo não é, inicialmente, oprimir e destruir a humanidade, ao contrário, o seu objetivo é glorificar e exaltar o homem portador da natureza pecaminosa. Isto se dá por meio da ciência, do conhecimento dos fenômenos e de si mesmo. Isto visa negar a eficiência e a eficácia do propósito supremo e eterno de Deus. Como tal propósito é executado por meio de Cristo, implica que o objetivo maior de Satanás é desacreditar Cristo como a solução definitiva e única para o pecado que gera os atos pecaminosos no homem e o mal moral na humanidade. Por esta razão a literatura universal gira sempre em torno de auto-ajuda e do autoconhecimento humano. Multiplicam-se as pesquisas e os métodos para dar ao homem uma solução própria. A ideia por trás deste projeto paralelo é provar que o homem é o seu próprio Deus e que a obra de Cristo é uma farsa.
O texto que abre esta instância é parte de um contexto maior que provém desde o capítulo dezessete e chega ao capítulo dezoito do livro profético de Apocalipse. Este livro conecta-se às profecias de Daniel e de Ezequiel, bem como, dos textos proféticos de Jesus, o Cristo, especialmente de Mateus capítulo vinte e quatro. Verifica-se que o versículo quatro do capítulo dezoito de Apocalipse contém uma veemente ordem dada por um anjo. A ordem é imperativa e se destina aos eleitos e regenerados a que saiam da "Grande Babilônia". Neste ponto começam as dúvidas, especialmente, para religiosos, os quais possuem apenas conhecimento informativo sobre tais assuntos. O que quer dizer "Grande Babilônia" e "Grande Meretriz"? A antiga Babilônia foi superada pelo tempo, restando apenas ruínas em seu sítio arqueológico. Bem, neste sentido é que entram os símbolos ou a linguagem figurada. Todavia, para compreender bem o sentido e a extensão dos símbolos ter-se-á de recorrer a algumas referências veterotestamentárias e outras referências paralelas neotestamentárias. O paralelismo bíblico ocorre, justamente, porque o texto escriturístico objetiva mostrar uma única verdade: Cristo.
No capítulo dezessete de Apocalipse fala-se da "Grande Meretriz". Uma mulher é sempre símbolo de um sistema religioso. Se a mulher é revestida de luz, tem a Lua sob os pés e está grávida é uma alusão à verdadeira Igreja. Se a mulher é vestida de púrpura e seda, bebe em uma taça, está montada em algum animal e é chamada de meretriz é a falsa igreja. A falsa igreja é sempre atrelada ao sistema político e econômico dominante em cada momento da História. Uma meretriz é um símbolo que indica um comportamento de infidelidade, depravação, prostituição, ou seja, é a mesclagem da verdade à mentira. O texto faz menção à "Grande Meretriz" como sendo "Babilônia, a Grande". Por dupla referência profética sabe-se que, a antiga cidade de Babilônia foi a sede de um vasto sistema político-econômico-militar e religioso dominante por muitos séculos. Desta forma, a alusão a ela no Apocalipse é uma segunda referência a um sistema dominante no mundo pós Cristão. É a continuidade visível do antigo sistema de controle e dominação de todos os tempos, visando ao estabelecimento do reino de Satanás na Terra. Isto se dará, inicialmente, por meio de líderes políticos e religiosos poderosos e dissimulados em regimes populares, modos de produção econômicos e crenças religiosas místicas agradáveis ao egoísmo humano. Na fase mais avançada, Satanás em pessoa assumirá o controle por um curto período de tempo antes da restauração final. Por esta razão é que a sede do sistema é identificada como a "mãe das meretrizes e das abominações da Terra". Por abominação entende-se algo que profana o sagrado por meio da idolatria de coisas e de homens. Desta forma o seu alcance não será apenas um território e um determinado governo ou país, mas o mundo todo. Há uma matriz do sistema satânico instalada no mundo desde a queda do homem. Tal sistema vem se apresentando em diversas fases, sendo a última a mais sofisticada.
A tal igreja associada ao sistema político-econômico está, desde agora, intimamente comprometida no processo de engano, mentira e dominação, pois acha-se "embriagada pelo sangue dos santos e das testemunhas de Jesus", o Cristo. A falsa igreja representada pela mulher está "montada em uma besta com sete cabeças e dez chifres". Acerca da besta é dito que era e não é mais, mas que está para emergir do abismo e caminha para a perdição. Isto implica em que, o tal sistema de crença hibrido com o sistema político-econômico-militar é apoiado e apoia-se na autoridade de sete reinos e dez governantes. Cabeças simbolicamente indicam autoridade e chifres indicam poder. A tal besta é um sistema sediado em uma cidade que foi erguida sobre sete montes. Representam também sete autoridades ou domínios. É declarado que cinco destes impérios poderosos já foram extintos. Neste caso, são eles: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia. Um dos domínios temporais ainda existia no tempo em que João recebeu a revelação do Apocalipse. Neste caso, tratava-se do Império Romano que era a potência dominante de então. Também é revelado que o sétimo reino ou domínio ainda não havia chegado, mas apareceria no tempo de fim e duraria pouco tempo. Isto indica uma reedição do antigo Império Romano formado por nações atuais de origem latina. A própria besta, ou seja, o governo mundial que havia sido extinto e ressurgirá será um oitavo governo ou império que também será destruído na restauração final. Tal sistema, ao que parece, será uma espécie de tratado ou acordo firmado por governantes que estarão no comando do sistema mundial. Os chifres são governantes de dez países poderosos que serão aliados da besta, ou seja, do sistema dominante controlado pelo Anticristo. Estes dez governantes formarão uma aliança e darão total e irrestrito apoio ao governo mundial da besta. É dito que este tratado terá curta duração. Será um tempo de ações muito rápidas e curtas, porém altamente destrutivas.
As águas sobre as quais a cidade-sede do sistema mundial chamada "Babilônia, a Grande" está assentada são povos, multidões, nações e línguas conforme o verso quinze. Também é revelado no texto que os governantes e a besta, ou seja, o Anticristo odiarão a Grande Meretriz e a destruirão quando conseguirem o controle e o domínio mundial. Desta forma, a primeira vítima do sistema satânico será a falsa igreja, porque o Anticristo reivindicará para si o título de "deus". Ela pagará por todo o engano, a mentira e o assassinato de fiéis filhos de Deus. É dito finalmente no último versículo do capítulo dezessete de Apocalipse que a mulher é uma cidade que exerce grande influência e domínio sobre os governantes do mundo por artifícios religiosos místicos conforme Ap. 13. Tal cidade é a sede de um complexo e poderoso sistema que manipula as mentes dos homens. A religião é, de fato, um fértil campo para conseguir tal controle.
Sola Scriptura!
2 comentários:
"Virão dias em que tudo o que se encontra em teu palácio, tudo o que ajuntaram os teus pais até o dia de hoje será levado para Babilônia. Nada ficará, diz o Senhor." II Reis 20, 17.
O contexto é outro mas não deixa de ter lá a sua conexão.
Sim, Lisandra! Foi uma profecia acerca do cativeira na Babilônia que durou 70 anos. Se aplicarmos a dupla referência profética, indica que muitos estão sendo levados cativos à Babilônia como sistema do Anticristo.
Abraço
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