junho 17, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS VI

At. 2: 1 a 11 - "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: pois quê! não são galileus todos esses que estão falando? Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos? Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus."
O dom de falar em outras línguas se insere no grupo dos dons da fala e da comunicação pela expressão oral. Há grande confusão sobre este dom, porque cada um lê as Escrituras como bem lhe parece. Não deixam que as Escrituras falem por si mesmas e que elas digam o que têm a dizer. Na maior parte das religiões institucionais, o povo possui um nível cultural muito limitado. Isto contribui para a mistificação do dom e para a mitificação dos que se dizem portadores dele. Tendem a divinizar a pessoa que se diz possuir o dom e não a glorificar ao Deus que o concede.
Verifica-se no texto de abertura que, toda ação partiu exclusivamente de Deus, sendo, portanto, um ato soberano e monérgico. As línguas de fogo vieram do céu, os ruídos eram sobrenaturais, os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo e não de si mesmos. Hoje há grupos que alegam ser os guardiões das verdades do pentecostes, afirmando que tal evento se repete. Entretanto, nunca, em nenhuma dessas igrejas se veem línguas de fogo repousando sobre pessoas, som como de vento e pessoas realmente falando em diversas línguas e os ouvintes entendendo em suas línguas nativas. Logo, em que aspecto o movimento pentecostal se baseia?
Falaram conforme o Espírito de Deus lhes concedia que falassem. Jesus fala sobre o dom de falar em novas línguas em Mc. 16:17 - "E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas." No texto grego original a palavra 'novas' é [kainaiV] 'kainais', significando que são novas não no gênero, mas no ato de falar por parte dos que falam, ou seja, era algo novo aos discípulos. Implica dizer que as pessoas que receberam este dom, não falavam estas línguas antes e não as estudaram gramaticalmente para falá-las. A expressão grega do texto de Marcos é '... glóssais lalésousin kainais.' Tal expressão é muito significativa, pois 'laléo' em grego koinê é a capacidade de articular as palavras, utilizando os órgãos da fala para expressar algo que é dito com clareza.  É absolutamente diferente da palavra 'lego' que é 'chalrear', 'palrar', 'sussurrar', 'balbuciar' algo ininteligível. Assim, o que Cristo está ensinando no texto de Marcos é que os seus discípulos falariam claramente a palavra do evangelho, pois 'laléo' é anunciar, repetir, pregar, fazer soar a palavra audível com som distinto e inteligível. Então, 'glossais lalésousin kainais' é falar claramente em outras línguas compreensíveis e não em línguas estranhas como afirmam por aí nos arraiais do engano. Isto é confirmado em Is. 28:11 - "Na verdade por lábios estranhos e por outra língua falará a este povo." Finalmente pode-se dizer que, no texto de Marcos, Jesus afirma que o falar em novas línguas é um sinal, e o apóstolo Paulo afirma que os sinais são para os incrédulos e não para os eleitos e regenerados conforme I Co. 14:22 - "De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes."
Paulo deixa bem claro a importância de haver comunicação clara nas palavras conforme I Co. 14: 6 e 9 - "E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei, se vos não falar ou por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? (...) Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar." Observa-se ainda que, em toda extensão das Escrituras não se vê Deus falando ao homem em língua que ele não possa entender. Até mesmo as palavras que apareceram na parede do palácio do rei Belsazar eram compreensíveis, pois o rei apenas não entendeu a interpretação, mas era a língua nativa da babilônia conforme Dn. 5:25 - "Esta, pois, é a escritura que foi traçada: MENE, MENE, TEQUEL, UFARSlM." Também a mula do profeta Balaão falou de modo que o seu dono a compreendesse. Então, porque Deus daria um dom a alguém se não tivesse serventia e finalidade à sua glória? 
Há ainda uma outra questão com relação ao dom de falar em outras línguas. É que, de fato, a interpretação não significa tradução como fazem por aí. I Co.12:30 o verbo interpretar é 'ermeneuo' [ermhneuw], mas a forma que aparece flexionado na pergunta final é ‘diermeneiosin’ [diermhneousin] que é interpretar, explicar, ensinar ou dar significado. Logo, é uma tarefa de alguém que ouve algo em uma determinada língua real e existente e se põe a explicar o que ouviu. Não se tratando, portanto, de uma tradução sobrenatural de  suposta língua dos anjos como querem alguns religiosos carismáticos. Além disso, tal interpretação visa, tão somente, esclarecer a Palavra de Deus e não fazer vaticínios e adivinhações futurísticas, às  quais Deus condena claramente na Bíblia.
Finalmente, acrescenta-se que é muito comum alguém argumentar que o dom de falar em outras línguas é uma referência ao falar em língua dos anjos com base em I Co. 13: 1 e 8 – “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá.” Porém, o que está no texto não autoriza a ninguém falar em línguas de anjos. Na língua original do Novo Testamento, o grego koiné, a palavra 'ainda' é 'ean' [ean] servindo como introdução a uma clausula protética, um enunciado de condição, ou expressando probabilidade com o verbo no subjuntivo e, algumas vezes no indicativo. Assim, fica evidente que Paulo não está afirmando que alguém fala em línguas de anjos, mas apenas expõe o fato que, se isto fosse possível, ainda assim, seria inferior ao dom do amor. O texto não autoriza absolutamente nada mais do que isto! O que passa disto tem procedência da mentira cujo pai é Satanás.
Sola Gratia!

junho 10, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS V

 Rm. 12: 5 a 8 – "De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.
A partir de agora desenvolver-se-ão artigos sobre os três dons relativos à expressão e à fala. Iniciar-se-á pelo dom da profecia, o qual, talvez seja o mais procurado no seio das religiões designadas de carismáticas. Mesmo os religiosos tradicionais, por vezes, sentem-se atraídos a ouvir alguma predição sobre seus dramas pessoas e familiares. Alguns dos que criticam e se dizem contra tais manifestações de carismas, quando se veem diante de fatos indesejáveis, buscam ouvir alguma profecia. Na busca de alívio de fatos desconfortantes, diversas pessoas abrem mão de muitos dos seus supostos princípios a que se aferram por anos a fio. Basta a coisa apertar, que correm atrás de profetas, curandeiros e místicos a fim de  se  livrar do que os perturba ou prejudica.
A palavra profecia e suas cognatas no grego koinê pode ter diferentes significados, incluindo-se as adivinhações e vaticínios das crenças ditas pagãs. Assim, 'profetheia' é profecia no sentido de discurso emanado da inspiração divina, segundo Thayer. Há papiros antigos indicando até mesmo o preço que os profetas cobravam pelo ofício de prever o futuro. O vocábulo 'profetheio' ou 'eprofetheisa' encontrados na Septuaginta e nos papiros de Alexandria significam: "sou profeta e desempenho tais funções; profetizo, declaro a revelação divina por inspiração; adivinho." No sentido neotestamentário pleno o profeta é a pessoa que interpreta a vontade de Deus por meio de revelação, alguém que fala por inspiração, ou que movido pelo Espírito de Deus, torna-se um porta-voz ou órgão comunicador. É uma pessoa que declara, não o que pensa sobre um assunto, mas o  que recebeu por inspiração aquilo que se refere ao reino de Deus e à causa do evangelho da verdade para a salvação dos pecadores eleitos. A palavra profeta aparece até mesmo como sendo um poeta como é o caso de Tt. 1:12 - "Um dentre eles, seu próprio profeta, disse: os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, glutões preguiçosos." Estas palavras foram ditas por Epimênides, um poeta cretense, segundo informações de Clemente de Alexandria.
Segundo o apóstolo Paulo, o dom da profecia é superior ao dom de falar em outras línguas conforme I Co. 14:5 - "Ora, quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis, pois quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que também intercede para que a igreja receba edificação." E por que o dom de profecia é superior? Por que este se refere à pregação da Palavra de Deus, direta ou indiretamente, a qual pode despertar os pecadores eleitos conforme Rm. 10:17 - "Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." Outro texto permite ver que o próprio dom do Espírito Santo é originado na pregação da Palavra de Deus conforme Gl. 3: 3 e 5 - "Só isto quero saber de vós: foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? Aquele pois que vos dá o Espírito, e que opera milagres entre vós, acaso o faz pelas obras da lei, ou pelo ouvir com fé?."
É fundamental entender que o dom da profecia é concedido para determinadas finalidades conforme I Co. 14:3 e 4 - "Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja." Assim, fica evidente que, aquele que fala e ensina as Escrituras e as revelações que recebe de Deus pelo Espírito e no espírito, o faz para o crescimento da Igreja. Não se trata de uma espécie de guru para resolver problemas e fazer adivinhações como se vê por aí. Edificar significa construir, ou seja, despertar os eleitos para que conheçam ao Senhor Jesus, o Cristo. Exortação significa chamar atenção por meio de conselhos sábios das Escrituras e seus fundamentos para corrigir desvios e erros na vida dos eleitos. Consolar significa conformar os corações dos eleitos em meio às dores causadas pela influência do pecado no mundo. Tudo isto está na conformidade da doutrina da perseverança dos santos. Aos eleitos e regenerados não foi prometida perfeição e ausência de dificuldades nesta vida, contrariamente, foi dito que seriam odiados de todos por causa do nome de Jesus.
Há três sentidos para profecia nas Escrituras: 
a) As profecias veterotestamentárias como vaticínios ou previsões sobre o Messias. 
b) As profecias da transição entre a velha e a nova aliança como revelações para  a Igreja em formação. 
c) Profecias como anúncio da revelação e conhecimento de Deus à Igreja.
II Pd. 1: 19 a 21 - "E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações; sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo." Esta palavra profética a que alude Pedro é uma referência a tudo quanto havia sido anunciado pelos profetas antigos acerca da vinda do Messias e Salvador. Envolvia, não apenas, os sinais da sua vinda, mas também os seus feitos comprobatórios da sua messianidade. Mostra  que as profecias não são o resultado das interpretações e ilações dos homens, mas que procedem do coração de Deus. Os homens foram apenas utilizados como meio para comunicar a Palavra de Deus aos pecadores.
At. 21: 8 a 13 - "Partindo no dia seguinte, fomos a Cesaréia; e entrando em casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. Tinha este quatro filhas virgens que profetizavam. Demorando-nos ali por muitos dias, desceu da Judéia um profeta, de nome Ágabo; e vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando os seus próprios pés e mãos, disse: isto diz o Espírito Santo: assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. Quando ouvimos isto, rogamos-lhe, tanto nós como os daquele lugar, que não subisse a Jerusalém. Então Paulo respondeu: que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus." Neste episódio da profecia de Ágabo vê-se que se insere no caso dos profetas que viveram entre a velha e a nova dispensação. Observa-se que Felipe tinha filhas que profetizavam e nada disseram a Paulo sobre o que lhe sobreviria em Jerusalém. O profeta Ágabo fez uma dramatização sobre o iria acontecer a Paulo em Jerusalém, e, em seguida, disse, segundo ele, o que o Espírito Santo lhe falara sobre o assunto. Entretanto, é curioso que Paulo não mudou os seus planos sobre ir a Jerusalém e sobre tudo o que lhes fariam por causa da fé. Qual foi a utilidade desta profecia? As Escrituras dizem que os dons são dados para o que é útil. Profecia no sentido transicional entre a velha aliança e a nova aliança é o que Paulo revela acerca de Timóteo conforme I Tm. 1:18aI Tm. 4:14 - "Esta admoestação te dirijo, filho Timóteo, que segundo as profecias que houve acerca de te..não negligencies o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbítero."
O último sentido da profecia é ensino da vida de Cristo, revelação da verdade, conhecimento da natureza de Deus e edificação da Igreja inspirada aos nascidos do alto. Neste sentido acha-se registrado em Hb. 1:1 e 2“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo.” O que Deus tem para os seus filhos é Cristo. Não há nada fora de Cristo para os eleitos e regenerados. Desta forma, não lhes interessa viver à cata de predições, vaticínios e profecias que em nada revelam Cristo conforme Ap. 19:10b - "... que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia." Isto implica em que tudo o que foi profetizado acerca de Jesus, de fato, aconteceu. Agora não há mais necessidade de vaticinar acerca de Jesus, mas acerca do pecado, da justiça e do juízo a fim de despertar os pecadores eleitos conforme Jo. 16:8 a 11 - "E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais, e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado." É este o sentido mais profundo da profecia nestes tempos, pois o papel do Espírito Santo é o de convencer o pecador do seu pecado de incredulidade a fim de que os seus ouvidos sejam furados e as escamas dos seus olhos sejam retiradas. 
Sola Gratia!

junho 09, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS IV

I Jo. 4: 1 a 6 - "Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles são do mundo, por isso falam como quem é do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro."
Neste artigo o foco é o dom de discernir os espíritos. Neste sentido a palavra 'espíritos', no texto grego da passagem em tela é uma referência à natureza do espírito que inspira ou move a mente ou a alma do homem. Não se trata, neste caso, de uma incorporação ou possessão de espíritos. O substantivo que dá origem à palavra 'espírito' no grego koinê é 'pneuma', significando ao pé da letra, vento ou sopro. Refere-se ao espírito do homem, com ou sem o corpo. Também se refere ao Espírito de Deus, de Cristo, dos anjos, de Satanás, dos demônios. Ainda este mesmo vocábulo indica, dependendo do contexto, uma disposição ou atitude de uma pessoa, ou seja, a sua maneira de agir. Por vezes é sinônimo de alma 'psikê'  como uma a dimensão invisível e imaterial do homem em alguns textos. Só se percebe a que significação de espírito está se referindo, quando se distingue no contexto em que aparece,e, geralmente, é um adjetivo. 
A percepção do homem natural se dá pela apreensão da realidade por meio da alma e não por meio do espírito. O espírito do homem se comunica apenas com outro espírito, podendo ser este vindo de Deus ou de demônios. Desta forma as realidades espirituais só se discernem espiritualmente conforme I Co. 2: 13  e 14 - "... as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Por esta razão é, que, o apóstolo João adverte  que os espíritos necessitam ser discernidos. Há pregadores que  falam com grande desenvoltura, entretanto, tudo o que ensinam é proveniente da sabedoria humana e almática. Quando as palavras são ensinadas pelo Espírito Santo, produzem os efeitos a que se destinam, seja para a salvação, seja para a perdição. Quando um ensino é originado no conselho de Deus,  pode ser comparado pelo espírito dos vivificados em Cristo. O homem natural, ou seja, que não tem experiência de nascimento do alto, não suporta a sã doutrina, demonstrando, de uma forma  ou de outra, grande impaciência e irritação em relação a ela.
O dom de discernimento dos espíritos é uma capacitação dada por Deus para saber a identidade do espírito que  fala, e não uma licença para julgar as pessoas ou trazer à memória seus erros. Tal dom visa trazer clareza e compreensão da mente de Cristo para Igreja. Não provoca divisões, dissenções e confusões como se vê nestes tempos de muito ativismo e pouca verdade. Ao regenerado, a quem é facultado o dom de discernimento dos espíritos é permitido conhecer bem o que se passa, sem que ele seja compreendido pelos outros conforme I Co. 2: 15 e 16 - "Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo." Isto ocorre, porque, o que prevalece no eleito e regenerado é a mente de Cristo e não suas conjecturas almáticas. Os nascidos do alto já foram vencidos em suas naturezas pecaminosas pela inclusão na morte de Cristo. É como Jesus afirmou a Nicodemos: "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito."
A primeira evidência que um espírito não provém de Deus é que ele nega o que as Escrituras afirmam acerca de Jesus, o Cristo. Muitos dizem que não passa de um mito que já se repetiu em outras doutrinas antigas; outros dizem que Cristo é apenas um espírito evoluído que veio apenas para trazer ensinamentos a fim de melhorar a humanidade; outros ainda afirmam que ele era uma espécie de ser espiritualizado e que não sofreu dores na crucificação, dado o caráter da sua matéria ser diferente dos demais homens. É exatamente isto que indica que o espírito que declara isto não procede de Deus, mas do Diabo. Ele veio e habitou no homem histórico Jesus conforme Jo. 1:14 - "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai." O apóstolo João optou por chamá-lo de Verbo, porque, de fato, Cristo é o princípio ativo da criação de tudo o que há no universo. Então, o "Verbo" é Cristo, o Filho Unigênito de Deus que se fez carne na pessoa humana de Jesus. Assim, são duas naturezas habitando em um único ser, e não dois seres distintos como afirmava uma seita herética dos primeiros séculos do cristianismo. Os que negam a existência do Filho de Deus em carne e osso, desejam desqualificar a sua posição e destinação como redentor, salvador e reconciliador do homem decaído. 
Os espíritos que não procedem de Deus não podem confessar a Jesus, podem apenas declará-lo. Muitos  espíritos malignos quando eram confrontados por Jesus, afirmavam que Ele era o Filho de Deus. Porém, a eles, não era dado o direito de crer. Atualmente, muitos creem em diversos evangelho humanos que afirmam coisas contrárias a Jesus, o Cristo. Após o filme baseado na obra de Dan Brown - O Código Da Vinci - muito se escreveu, debateu e afirmou acerca da pessoa de Jesus. Entretanto,  o que permanece é a verdade que os espíritos não regenerados e os espíritos dos demônios não podem confessá-lo como Deus Filho. 
Finalmente uma das evidências de quem ganhou o dom de discernimento dos espíritos é a capacitação para resistir aos espíritos mentirosos e malignos. O evangelho anunciado pelos que não têm espíritos vindos de Deus é uma reafirmação do homem, pelo homem, e para o próprio homem. As principais características desse pseudo-evangelho é a pregação dos princípios do auto-sacrifício, da caridade e da benevolência. Nega e reluta em receber a verdade que o  homem é um ser decaído, absolutamente depravado, corrompido pela natureza pecaminosa e que necessita nascer do alto. Estimula a capacidade de o próprio homem promover a sua própria redenção sem a inclusão na morte de Cristo e sua consequente ressurreição. Isto porque as Escrituras afirmam que, quem cogita das coisas dos homens é Satanás conforme Mc. 8: 33b - " Para trás de mim, Satanás; porque não cuidas das coisas que são de Deus, mas sim das que são dos homens."
Sola Gratia!

junho 07, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS III

At. 10: 9 a 20 - "No dia seguinte, indo eles em seu caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado para orar, cerca da hora sexta. E tendo fome, quis comer; mas enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase, e via o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas quatro pontas sobre a terra, no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu. E uma voz lhe disse: levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro respondeu: de modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. Pela segunda vez lhe falou a voz: não chames tu comum ao que Deus purificou. Sucedeu isto por três vezes; e logo foi o objeto recolhido ao céu. Enquanto Pedro refletia, perplexo, sobre o que seria a visão que tivera, eis que os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam à porta. E, chamando, indagavam se ali estava hospedado Simão, que tinha por sobrenome Pedro. Estando Pedro ainda a meditar sobre a visão, o Espírito lhe disse: eis que dois homens te procuram. Levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu tos enviei."
Doravante tratar-se-á do dom da 'palavra de conhecimento' seguindo a ordem em que os 9 dons foram apresentados no artigo número I. Primeiramente é fundamental reforçar que se trata de dom espiritual e não de habilidades mental, intelectual ou gnoseológica do homem. Estas habilidades são inatas nos seres humanos como parte da sua constituição inteligente dada por Deus quando da sua formação. Elas são necessárias para que o homem possa realizar os seus objetivos terrenos de acordo com o plano divino.
O dom a que alude este estudo é oriundo da inspiração divina ao homem consoante o que afirma I Co. 12:7 - "A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum." Trata-se apenas da 'palavra de conhecimento' e não do conhecimento divino em si, pois o homem não tem a menor competência para abrigá-lo em sua condição terrena. Tal dom é destinado ao aperfeiçoamento dos eleitos no conhecimento de si mesmos e de Deus.
Conhecimento na língua original do Novo Testamento, o grego koinê, é 'phos', ou seja, é luz. De maneira que o conhecimento  que Deus deseja conceder ao homem é o conhecimento d'Ele mesmo conforme Gl. 4: 8 e 9 - "... outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses; agora, porém, que já conheceis a Deus, ou, melhor, sendo conhecidos por Deus..." De fato, quanto mais os eleitos e regenerados prosseguem conhecendo a Deus, mais  d'Ele se revela a eles. Este projeto de Deus está expresso no Velho Testamento da seguinte forma Is. 11: 9b - "... porque a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar." Deus é luz e, para conhecê-lo plenamente, o homem se tornará em luz conforme I Jo. 1:5 - "E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e nele não há trevas nenhumas." Neste sentido, pode-se dizer que Deus é conhecimento absoluto e os que são d'Ele estão sendo iluminados pelo seu conhecimento pleno de eternidade em eternidade conforme Os. 6:3 - "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor."
É revelado nas Escrituras que o mundo inteiro jaz no maligno, e, que, desta forma, prevalecem as trevas no mundo. Ao enviar Cristo, Deus propôs fazer que os seus eleitos sejam iluminados conhecendo-o conforme Jo. 1: 9 e 10 - " Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo. Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu." O homem natural não pode conhecer a luz, a saber, o conhecimento da verdade, porque a sua natureza pecaminosa ama prioritariamente as trevas conforme Jo. 3:19  -  "A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más." É uma questão de natureza, antes do que de atos e atitudes. As ações do homem decaído são consequências da sua natureza morta para Deus. Por isso, não podem conhecer a verdade, sem que antes Deus a revele por meio de Cristo. A ação é sempre monérgica e soberana!
De fato, a maioria dos religiosos anda a cata de conhecimentos esotéricos e não do conhecimento do Altíssimo como propõem as Escrituras. Tal busca os leva diretamente aos propósitos de Satanás, pois se enveredam por um círculo de conhecimento gnóstico e hermético. Neste sentido acabam travando contatos com as profundezas de Satanás conforme Ap. 2:24 - "Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conhecem as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei." A referida doutrina é disseminada pela falsa profetiza Jezabel, assim descrita: "... mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos." Jezabel, neste texto escatológico, é uma tipologia da mulher de um antigo rei chamado Acabe, a qual mantinha a doutrina hermética e o culto a 'deuses' diversos, que, na verdade, eram demônios. Na antiguidade, os demônios eram chamados de sabedoria, pois os homens supunham receber deles o conhecimento oculto e sobrenatural. A doutrina jezabeliana é uma prostituição no sentido em que semeia o engano e a mentira, valendo-se de argumentos aparentemente verdadeiros. Quanto a comer das coisas sacrificadas a ídolos equivale dizer, figurativamente, à busca de luz interior ou do autoconhecimento, em detrimento à verdadeira luz que é Cristo. Significa alimentar as suas almas com a luz dos conhecimentos de entidades e supostos seres iluminados chamados de "Mestres" ou "Kadoshim". Tais ensinos de busca da luz interior e de seres iluminados e  ocultos despreza a Cristo como o enviado de Deus para aniquilar o pecado. Estes falsos mestres, geralmente, rejeitam os textos bíblicos sob a alegação de falhas e erros, sobrepondo-se a eles suas próprias teologias esotéricas e espiritualistas. Insistem naquilo que realmente satisfaz as suas naturezas decaídas e entregues aos poderes latentes da alma. Atuam por meio do ensino e da sedução de habilidades almáticas, se autointitulam de profetas por conta própria. Buscam o reconhecimento de suas supostas virtudes, ensinando e seduzindo os homens por meio dos seus poderes almáticos.
As profundezas de Satanás são doutrinas e ensinos que se opõem à verdade e que se caracterizam por serem extremamente agradáveis ao homem natural, especialmente, aos religiosos. Enquanto o evangelho de Cristo afirma que a filha se levantará contra a mãe, o pai contra o filho, que um homem erguerá a espada contra o outro, o ensino gnóstico e hermético de Satanás propõe a paz e a harmonia entre os homens. Tal propositura luta por uma sociedade pacífica e progressista, visando a formação de uma grande fraternidade na Terra. Enquanto Deus arrasta o homem pecador ao fundo do poço para que este conheça e reconheça a profundidade do seu pecado, Satanás o exalta e o glorifica a fim de manter o seu orgulho almático pecaminoso original. As profundezas de Satanás advogam a excelência em educação, em tecnologia, em conhecimento, além do cultivo e o apelo ao que "de melhor há dentro de nós". Objetiva tornar o mundo um habitat altamente confortável e apropriado, até que a ausência de Cristo no mundo, não seja percebida, e Deus será necessário. É este o sentido das profundezas de Satanás, a saber, o cultivo do mundo ou de uma energia interior e da luz própria do homem decaído. Neste sentido há milhões de milhões de religiosos enganados e enganadores.
O texto de abertura deste estudo mostra que a palavra de conhecimento dada a Pedro foi que ele aprendesse que Deus é soberano e que as suas determinações estão acima dos preceitos, regras e normas religiosas. A visão do lençol cheio de animais tidos como imundos pelos judeus era uma simbologia dos homens que Deus toma e os purifica na inclusão na morte do seu Filho Unigênito e Primogênito dentre os mortos. Por isto Pedro responde aos emissários do oficial romano em At. 10:28 - "... e disse-lhes: vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo."
Assim, o dom da palavra de conhecimento destina-se aos aperfeiçoados em Cristo para que honrem e glorifiquem o nome d'Ele. Não se destina a exaltar homens cujas naturezas estão contaminadas pelo pecado original. Os eleitos estão sendo iluminados pelo conhecimento do Eterno até que sejam luz como Ele é luz conforme I Co. 13: 12b - "... agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido."
Sola Fidei!

junho 06, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS II

I Co. 1: 21 a 24 - "Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que creem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus."
Dando prosseguimento ao estudo dos dons espirituais, passa-se agora a análise de cada um deles. Neste artigo abordar-se-á o dom da palavra de sabedoria. Entretanto deve-se, neste ponto, evidenciar que existem três tipos de sabedoria: a) a sabedoria humana, terrena, intelectual e diabólica; b) a sabedoria satânica; c) a sabedoria de Deus.
A sabedoria humana é uma habilidade adquirida e desenvolvida pelas experiências, pela pesquisa e pela vivência. Ela foi dada ao homem para que este aprendesse a sobreviver em meio aos perigos e desafios da vida e do mundo natural. Tal sabedoria foi aguçada ainda no Éden, por ocasião da queda, pois o homem escolheu trilhar o caminho do conhecimento do bem e do mal à revelia de Deus. A expressão: "conhecimento do bem e do mal" no Gênesis indica que o homem optou por uma espécie de autonomia e independência, quando escolheu desconsiderar o decreto de Deus. Tal sabedoria é continuamente desenvolvida com base em erros e acertos. Acerca desta sabedoria, o apóstolo Tiago afirma que qualquer um pode pedi-la a Deus que ele a concede liberalmente. 
A sabedoria satânica resulta do fato que Satanás foi criado como um ser elevado conforme Ez. 28:14 a 17 - "Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniquidade. Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei; diante dos reis te pus, para que te contemplem." Embora decaído, Satanás ainda não perdeu suas características. Suas habilidades apenas foram direcionadas para outros objetivos que não os de Deus. Ele será totalmente condenado e perderá toda a sua sabedoria quando da restauração de todas as coisas por Cristo. O texto afirma que ele foi criado perfeito, porém deixou que a iniquidade ocupasse o seu coração, isto é, o seu desejo prioritário. Ele teve a sua sabedoria corrompida por desviar-se da dependência plena de Deus e desejou ter um reino para si próprio. Outro texto que faz referência a Satanás é Is. 14: 12 a 15 - "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo levado serás ao Seol, ao mais profundo do abismo." Nestes texto que se referem a Satanás os profetas utilizam de tipos metafóricos. Descrevem pessoas cujas ações eram conhecidas na Terra, mas faz referência a pessoa de Satanás em suas intenções e desejos.
A sabedoria de Deus, conforme o texto de abertura, é uma pessoa e não uma faculdade de discernimento. Enquanto a sabedoria humana  necessita de sinais e evidências comprobatórios, a sabedoria de Deus é espiritual e oculta à sensibilidade almática do homem. Portanto, tal sabedoria só se revela pela palavra de Deus. Cristo é apresentado, não apenas, como a sabedoria de Deus para aniquilação do pecado, mas como o  próprio poder de Deus.
I Co. 2: 6 a 8 - "Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que estão sendo reduzidos a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo compreendeu; porque se a tivessem compreendido, não teriam crucificado o Senhor da glória." O que o apóstolo Paulo está ensinando é que, entre os aperfeiçoado na graça de Deus, fala-se a palavra da sabedoria d'Ele que é Cristo e este crucificado. Nesta sabedoria não  há qualquer manifestação almática,  ou seja, sensorial. Tal sabedoria não pode ser provada em laboratórios, em tubos de ensaios, em equações algébricas. É uma revelação direta do Espírito Santo de Deus ao espírito regenerado do homem. Por isso, tal sabedoria é chamada de mistério, pois tal sabedoria foi preordenada antes que houvesse o mundo e os que nele habitam. Ela não foi determinada por causa da queda do homem em pecado, mas como parte do "supremo propósito" de Deus. Não é uma sabedoria que se apreende por habilidades políticas, filosóficas, epistemológicas, ou empíricas. 
A sabedoria de Deus  é o recebimento da graça e da misericórdia plenas d'Ele por meio de Cristo conforme Cl. 3:3  - "... porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." O eleito pela livre soberania de Deus antes dos tempos eternos recebe o dom da sabedoria de Deus, porque não pode aceitá-la por conta própria. É por meio da morte e da sua inclusão na morte de Cristo que o pecador é regenerado e ganha a vida de Cristo. Nisto consiste a mais elevada sabedoria de Deus, pois nos escondeu em Cristo antes dos tempos eternos conforme II Tm. 1:9 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos..."
Tudo o que vá além do que está nas Escrituras, não passa de anátema dos religiosos sequiosos por obter poder sem morrer em Cristo. Eles creem pela metade, pois falam de novo nascimento sem admitir que a morte de Cristo foi compartilhada com os pecadores eleitos. Estes religiosos tomam os sinais e evidências sensitivas e aprendem a desenvolver as habilidades almáticas, usando-as como se fossem manifestações espirituais. Entretanto, tais operações são de fato terrenas, naturais e diabólicas conforme texto já mencionado no artigo anterior. São os chamados poderes latentes da alma!
Sola Gratia!

junho 05, 2012

A DIFERENÇA ENTRE OS DONS ESPIRITUAIS E AS HABILIDADES ALMÁTICAS I

I Co. 12: 4 a 11 - "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos; a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer."
Jd. 8 a 12 - "Contudo, semelhantemente também estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades. Mas quando o arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: o Senhor te repreenda. Estes, porém, blasfemam de tudo o que não entendem; e, naquilo que compreendem de modo natural, como os seres irracionais, mesmo nisso se corrompem. Ai deles! porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré. Estes são os escolhidos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas."
A diferença entre o falso e o verdadeiro é quase imperceptível ao homem natural. O verdadeiro é o que é, independentemente das avaliações a que possa ser submetido, do transcurso do tempo e das circunstâncias diversificadas. O falso não resiste ao rigor de uma avaliação, não suporta ao transcurso do tempo e se altera conforme as circunstâncias. Jesus, o Cristo demonstra isto em Mt. 13: 24 a 30  - "Propôs-lhes outra parábola, dizendo: o reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. Quando, porém, a erva cresceu e começou a espigar, então apareceu também o joio. Chegaram, pois, os servos do proprietário, e disseram-lhe: Senhor, não semeaste no teu campo boa semente? Donde, pois, vem o joio? Respondeu-lhes: algum inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: queres, pois, que vamos arrancá-lo? Ele, porém, disse: não; para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro."
O joio é uma planta da mesma família do trigo, sendo em tudo semelhante a este na aparência exterior. Entretanto, a diferença se estabelece nos resultados finais, ou seja, no fruto. O joio é da espécie 'Lolium temulentum', também conhecida como cizânia. É uma planta de safra anual e pertencente à família 'Poaceae' e ao gênero 'Lolium'. Possui talo rígido, pode crescer até um metro de altura, com inflorescências na espiga e grão de cor violeta. Cresce nas mesmas zonas produtoras de trigo, sendo considerada uma erva daninha à triticultura. A semelhança entre essas duas plantas é tão grande, que em algumas regiões costuma-se denominar o joio como "falso trigo"Pode ser venenosa, e, mesmo uma pequena quantidade de joio colhida e processada junto ao trigo pode comprometer a qualidade do produto todo. Então vê-se que no discernimento das realidades o que conta não é a aparência, mas sim, a essência da natureza da coisa.
Por símile pode-se dizer, que, na esfera espiritual há o trigo e há também o joio. O trigo é o tipo de Cristo e dos eleitos, enquanto o joio é o tipo do inimigo e dos seus seguidores. Tais realidades se percebem não pelas aparências externas e pelas ações morais como se supõe comumente. O religioso, geralmente, percebe e concebe a realidade apenas com base nos conceitos de bem e de mal. Na verdade, imputa verdade ao que considera como  sendo o bem moral, e, como mal, ao que reputa como o mal moral. As escrituras não levam em consideração estas questões para o efeito de espiritualidade. O apóstolo Paulo mostra isto claramente em Rm. 9:11 a 13 - "... pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama, foi-lhe dito: o maior servirá o menor. Como está escrito: amei a Jacó, e odiei a Esaú." Logo, em que aspecto moral se baseou Deus para escolher Jacó e repudiar Esaú? Nenhum! A ação monérgica d'Ele é sempre com base na Sua soberana vontade. O conceito de bem e de mal foi herdado da natureza pecaminosa pela qual os ancestrais humanos caíram. Em princípio, todos os homens são maus por natureza antes do que por atos. O que conta é o que Deus faz aos que conheceu de antemão, predestinou, chamou, justificou e glorificou.
O primeiro texto de abertura faz referência aos nove dons espirituais. Estes são organizados, para o efeito de compreensão, em: a) Dons de revelação: palavra de sabedoria, palavra de ciência e discernimento de espíritos; b) Dons de operações: curas, milagres e fé; c) Dons de inspiração: profecia, variedade de línguas e interpretação de línguas. O mesmo texto demonstra em todas as suas instâncias que tais dons são o resultado das operações soberanas de Deus. Os dons não são naturais, nem na origem, nem nas  finalidades e resultados. Na língua grega neotestamentária, dom é 'khárisma', que significa, dom, graça, atos, favor, benefício. Logo, é Deus quem concede o dom a cada um conforme lhe apraz. É o Espírito Santo de Deus quem  opera e reparte os dons espirituais. Os dons não resultam de méritos ou de quaisquer atos de justiça própria do homem. 
As habilidades almáticas são inatas no homem natural, porque este não discerne as coisas espirituais. O seu espírito está "morto", ou seja, separado de Deus. A alma, que é uma das dimensões tripartites do homem, assumiu o controle das emoções, volições e decisões. Isto produz no homem decaído, uma espécie de poder latente que o engana como sendo operações espirituais. O fato é que as Escrituras nunca falam sobre salvação do espírito do homem, mas apenas da sua alma. Desta forma, não se pode confundir dons espirituais com habilidades almáticas naturais conforme Tg. 3:15 - "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, almática e diabólica." Traduziram, neste texto, 'psikikê' como animal, mas, de fato significa  almática.
Sempre houve um mau entendimento acerca dos dons espirituais. Não se sabe, se por ignorância espiritual, ou proposital. As diferentes religiões institucionais ditas cristãs divergem muito acerca dos dons. Tal divergência tem gerado muitas divisões de igrejas, além de gerar inimizades entre pessoas. O fato é que se percebe uma determinada valorização dos dons que  supostamente exaltam o homem em detrimento dos dons que o humilha em atitudes e atos. A maioria busca e deseja dons que os torne conhecidos, famosos, consultados e valorizados. Isto contraria o ensino de Jesus, o Cristo em todos os sentidos, especialmente o que está registrado em Mt. 23: 11 e 12 - "Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado."
Sola Scriptura!