Tg. 2:14 a 25 - "Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem. Mas queres saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inútil? Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E se cumpriu a escritura que diz: e creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?"
O homem é um ser religioso por natureza, porque está sempre, direta ou indiretamente, procurando se ligar ou religar-se a alguma ordem de força sobrenatural. Entretanto, o processo de religação originário no homem jamais poderá religá-lo à verdade, porque todos estão mortos espiritualmente por conta da natureza pecaminosa decaída. Primeiramente se faz necessário que o Eterno vivifique o pecador, para soe então, ele receberá a vida 'zoê'. Para receber a verdadeira vida, necessário é que se perca a vida almática ou 'psiquê'.
Todas as vezes que alguém se levanta e prega que a salvação é pela graça mediante a fé, logo surgem os interpeladores dizendo: mas a epístola de Tiago afirma que a fé sem as obras é morta. Estas pessoas julgam que Paulo diz uma coisa e Tiago diz outra, porque em Romanos o assunto central é a justificação pela fé, enquanto em Gálatas se afirma que a justificação não é pelas obras. Ora, não há a menor contradição, pois o tema é o mesmo: a justificação do pecador. Porém, em Romanos Paulo diz que é pela fé e em Gálatas ele diz que não é pelas obras. Acontece que todas as epístolas foram escritas com um assunto central, e, Paulo escreveu estas duas cartas doutrinárias com a finalidade de falar sobre como o pecador é justificado. Logo, as duas cartas se complementam e não se conflituam, pois o assunto é a justificação e não a fé e as obras.
Tiago escreveu a sua carta doutrinária com um assunto em pauta, a saber, misericórdia aos que sofrem. Ele está enfocando a questão da ajuda humanitária e não a questão da justificação. Na hermenêutica há um princípio que ensina o seguinte: se há pontos aparentemente divergentes em um determinado assunto, verifica-se qual é o ponto mais frequente e toma-o como o mais significativo. Assim, o assunto frequente em Tiago 2 é a misericórdia pelos outros como expressão visível da fé que é invisível. Tiago está dizendo que a fé produz misericórida e que as obras expressam isto materialmente. Ele não está doutrinando, em nenhum momento, que a justificação é garantida ou obtida pelas obras, mas sim que as obras acompanham a fé.
No verso 6 do capítulo 2 da carta de Tiago diz: "entretanto, vós outros menosprezais o pobre. Não são os ricos que vos oprimem, e não são eles que vos arrastam aos tribunais? Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado? Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos..." No mesmo verso Tiago diz: "porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia.A misericórdia triunfa sobre o juízo."
Assim, em Tiago o assunto central é a misericórdia e não a justificação. Ele fala sobre Abraão e Raabe como quem houvera sido justificados pelas obras. Entretanto, ao atentar-se para as obras dessas duas personagens bíblicas verifica-se claramente que não são obras justificadoras do pecado, mas que justificam a fé que haviam recebido naquelas circunstâncias dentro do supremo propósito do Eterno.
Sola Scriptura!
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