Tg. 1: 22 a 27 - "E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Pois se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era. Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer. Se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã. A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo."
Nos últimos versos do capítulo da carta doutrinária de Tiago ele está tratando da relação entre o que a pessoa afirma crer e o que ela de fato faz. É uma confrontação entre a fé que alguém afirma possuir e os atos de sua vida. Ele está tratando de religião, pois mostra que alguns devem cumprir a Palavra de Deus e não apenas ouvi-la. Saber acerca das Escrituras, de Teologia, Religião, ou mesmo acerca de Deus, Cristo e o Espírito Santo, não promove ninguém ao patamar de elevada espiritualidade. Trata-se, portanto, de uma forma de enganar-se a si mesmo. É um culto do homem ao próprio homem, por isso é uma religião humana, porque supostamente pretende fazer uma religação deste ao Criador, mas são só impressões, assentimentos e imagens dos próprios atos.
Na sequência, Tiago dá alguns exemplos práticos das características dos que estão de fato religados ao Criador: refreiam a língua, atenta bem para a lei da liberdade e persevera nela, não esquece do que ouve de Deus, executa as obras d'Ele.
Tiago também demonstra o que é a religião vazia e a religião oriunda na ação monérgica de Deus, porque é praticada na presença de Deus. Ninguém tem inclinação natural para visitar órfãos, viúvas, e guardar-se da corrupção do mundo por conta própria. É Deus quem opera no eleito e regenerado, tanto o querer, como o efetuar segundo a Sua boa vontade. Nele nos movemos, existimos e respiramos por meio do Justificador, Jesus Cristo. Uma coisa é tentar religar-se a Deus, outra é ter sido religados a Ele.
Então, antes de tratar da questão da fé e das obras, Tiago trata de religião e comportamentos humanos, atitudes e atos humanitários e não de justificação e fé. Ele menciona no capítulo 2 a justificação exemplificada em Abraão e Raabe, mas como consequência da fé que Deus moveu estas criaturas, e não como causa dela.
No verso 14 do capítulo 2: "meus irmãos, qual é proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?". Tiago não afirmou que tal pessoa tem fé, mas diz que este alguém afirma ter fé. Entretanto, os atos reais desta referida pessoa não condiz com a fé que afirma ter. É uma pergunta retórica e não uma sentença afirmativa. Tiago também não afirma que o referido "alguém" é crente ou não! Apenas diz que o tal afirma ter fé. Na verdade ninguém possui fé, ao contrário, a fé é que possui alguns. Fé não é uma virtude natural do homem, é antes, um dom de Deus. Além do que, os que ganharam fé, igualmente recebem o seguinte ensino em Rm. 14:22 - "A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus."
Tiago não afirma igualmente que aquele que diz ter fé é justificado, porque ninguém é justificado somente por fazer tal afirmação. A justificação é uma ação monérgica e não sinérgica como a maioria dos religiosos presume. O fato é que muitos homens, tendo ou não a fé se gabam, são orgulhosos de si mesmos, porque não cometem determinados atos errôneoas, são soberbos e amam o ser glorificados pelos outros homens. O apóstolo Tiago não está tratando de fé espiritual, nem de obras perfeitas realizadas em Deus conforme Ef. 2:10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." Verifique que as "boas obras" foram preparadas por Deus antes mesmo do homem, logo, boas obras são de Deus e não dos homens. Os homens andam nelas e elas andam nos homens eleitos e regenerados pela graça. Tiago está tratando das obras dos homens e não das obras preparadas por Deus de antemão para que os seus andem nelas.
Sola Scriptura!