outubro 27, 2008

AS VIRGENS, O NOIVO E A PORTA FECHADA

Mt. 25:1 a 12 - "Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram insensatas, e cinco prudentes. Ora, as insensatas, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo. As prudentes, porém, levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas. E tardando o noivo, cochilaram todas, e dormiram. Mas à meia-noite ouviu-se um grito: eis o noivo! saí-lhe ao encontro! Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as insensatas disseram às prudentes: dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam: não; pois de certo não chegaria para nós e para vós; ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. Depois vieram também as outras virgens, e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Ele, porém, respondeu: em verdade vos digo, não vos conheço."
As Escrituras quase sempre lançam mão de tipos e símbolos para falar da verdade. Isto faz parte de uma pedagogia divina, no sentido em que Deus não intenciona se comunicar com todos os homens da mesma forma e na mesma intensidade. Ele se comunica com a humanidade por meio de uma linguagem universal, visto que a própria natureza testemunha o Seu poder e a Sua maravilhosa misericórdia e graça. Seus atributos são invisíveis, mas perfeitamente perceptíveis por todos os Seus feitos na criação e na harmonia dela.
No texto que vem de ser lido, há diversos elementos a serem considerados: o reino de Deus, o noivo e a porta são literais, mas as virgens, as lâmpadas e o azeite são figurados. Um símbolo é um recurso que representa algo ou alguém, porém não se repete. Um tipo, ao contrário, é uma representação que pode se repetir e, por vezes, possui dupla referência no tempo e no espaço.
Observa-se que se trata de uma parábola, porque o enunciado é introduzido por símile, isto é, estabelece uma semelhança entre o Reino de Deus e as virgens. Assim, o mundo espiritual possui equivalência no mundo material, porque aos olhos de Deus não há dicotomia. Tudo o que existe no universo está sob a soberania d'Ele. As pessoas providas apenas de concepções religiosas, imaginam sempre o mundo de forma maniqueísta na dicotomia do bem e do mal, sendo este controlado pelo Diabo, e, aquele, controlado por Deus. Ora, se uma única partícula em todo o universo fugir ao controle de Deus, Ele não seria o Deus que se revela ao homem por meio das Escrituras.
As virgens tipificam a igreja: a Igreja verdadeira que tem a unção ou o selo do Espírito Santo simbolizado pelas que têm o azeite e a igreja falsa que não tem o selo e o penhor do Espírito de Cristo simbolizada pelas virgens que não têm o azeite. Verifica-se, que, tanto as virgens prudentes, como as virgens insensatas, estavam esperando o noivo, tinham todas suas respectivas lâmpadas e os seus azeites. Também vê-se que todas dormiram, o que indica que a salvação não é uma questão de atitude ou de esforço próprio, mas de misericórdia e graça procedentes de Deus. A salvação é invariavelmente monérgica, nunca sinérgica!
O texto mostra com clareza que há os que vendem o azeite, isto é, os que fazem da verdade uma questão mercadológica. Isto indica a religião centrada no homem e seus esforços. A religião não conhece a graça plena de Deus, porque, nela, o homem tenta ser o produtor de sua própria salvação por meio de atos de justiça própria. As vezes, o religioso ama mais o ser correto, justo, ético e moralmente aceitável do que ao próprio Deus. Neste caso, perdeu-se o sentido, pois Deus não está a procura de justos, visto que não há nenhum sequer conforme Rm. 3:10 - "...como está escrito: não há justo, nem sequer um." Também em Is. 64:6 - "Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia." O que o religioso não pode compreender é que, ainda que consiga desenvolver um excelente padrão moral, sua alma está contaminada pela natureza pecaminosa, logo, tudo o mais está contaminado, pois o efeito é conforme a causa e jamais o contrário. Por esta razão é que Cristo veio para atrair os eleitos à cruz, para, nela, destruir o corpo do pecado deles conforme Rm. 6:6 - "... sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado."
Finalmente, o texto objeto de análise deste artigo, mostra sem rodeios que a eleição é uma doutrina largamente ensinada nas Escrituras, porém, poucos a podem compreender e receber como verdade. O noivo, recebeu as virgens prudentes e desprezou as virgens insensatas, porquanto estas não faziam parte das bodas do Cordeiro que foi imolado antes da fundação do mundo. Por isso, Ele não as conhecia!

outubro 04, 2008

SEM MORTE NÃO HÁ SALVAÇÃO V

A doutrina da inclusão na morte de Cristo é amplamente ensinada nas Escrituras. Entretanto, alguns textos são mais elucidaditivos e não deixam dúvidas algumas. A questão fundamental é que, de um lado, o homem portador de vida almática apenas, não pode discernir espiritualmente o que significa esta morte por inclusão; por outro lado, a noção de morte é refutada pelo homem natural, porque este tem profundo temor da condenação eterna. A Palavra de Deus é uma e é una ao mesmo tempo! Nela não há contradição, e, quando suscitada, geralmente resulta da interpretação humanista influenciada pelo gnosticismo e pela natureza decaída e viciada em religião. A religião é um vício produzido pela natureza decaída e separada da vida de Deus. É o homem tentando produzir justiça e mérito para salvar-se.
Jo. 12: 24 e 25 - "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna." Considerando o texto como simbólico, o grão de trigo tem dupla referência, pois simboliza a morte de Cristo, e, por extensão, a morte de todos quantos foram n'Ele incluídos. O fato inegável e irrefutável é que há um ensino nesta passagem. Ela não possui valor retórico, ou mesmo, poético. O grão não morrendo, permanece em seu estado impar e inalterado. Mas, morrendo, reproduz-se em uma espécie de fator multiplicador, pois das suas espigas surgirão novos e inúmeros grãos. Assim, admitindo-se que Cristo veio morrer a morte dos mortos em seus delitos e pecados para executar a justiça de Deus, destituindo, assim, a natureza pecaminosa do homem, Ele ressuscita trazendo os regenerados à vida. Estes regenerados se põem a pregar e testemunhar da verdade sobre a inclusão na morte de Cristo, logo, multiplicarão o número dos regenerados que foram preordenados para a vida conforme At. 13:48 - "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna." Realmente, só creem os que foram preordenados para isto. Os não predestinados, podem ouvir a pregação das Escrituras a vida inteira que não lhes produzirá efeito algum, salvo religiosidade.
Na sequência do texto áureo deste artigo, vê-se que a contabilidade espiritual difere substancialmente da contabilidade mercantilista do homem. Nesta, ganha-se sempre e cada vez mais. Nela, não se vislumbra a possibilidade de perdas. Naquela, a saber, na contabilidade de Deus, perde-se primeiro, para só depois ganhar. Assim, o homem não regenerado, e aqui se refere ao religioso, luta ingloriamente para ganhar a salvação sem perder a sua vida almática. Os eleitos, por outro lado, rendem-se diante da graça misericordiosa de Deus por instrumentalidade da fé que Ele mesmo lhes concede, a fim de perder suas vidas almáticas na cruz, para ganhar a vida eterna e abundante de Cristo na ressurreição. Então, perde-se para ganhar e não ganha-se para perder, como é visto na religião comum e reproduzida pelo homem decaído e destituído da glória de Deus como se vê ao longo da história.