domingo, maio 31

O FATOR DILUVIANO III

Gn. 5: 22 a 24 - "Andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas. Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos; Enoque andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou."
Enoque foi o sétimo homem na linhagem de Adão. Ele viveu trezentos e sessenta e cinco anos e andou com Deus e, por conta disto, Deus o tomou para si em vida. Esta citação que aparece mais de uma vez nas Escrituras é suficiente para demonstrar que Enoque era homem temente a Deus. Enoque escreveu diversos livros e uma epístola. Um dos textos escriturísticos mais antigos é o da Bíblia Copta da Etiópia, o qual adotou o Primeiro Livro de Enoque como válido. Nas Escrituras judaica e cristã nenhum dos livros de Enoque foi arrolado como canônico. Entretanto, há diversas passagens bíblicas que citam textos de Enoque. Na epístola de Judas, não o Iscariotes, há a seguinte citação: "Para estes também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: eis que veio o Senhor com os seus milhares de santos, para executar juízo sobre todos e convencer a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram." Judas está exortando aos cristãos para terem cuidado com falsos mestres na Igreja e cita a profecia de Enoque contra tais homens cujas naturezas estão corrompidas pelo pecado. Nos versos seguintes, Judas compara os falsos mestres aos anjos caídos que abandonaram suas obrigações e formas corporais e se misturaram aos humanos. Também o autor da carta aos hebreus cita Enoque no roll dos justificados pela fé conforme Hb. 11:5 - "Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte; e não foi achado, porque Deus o trasladara; pois antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus.
Não se busca neste estudo fazer apologia ao homem Enoque, mas demonstrar que, apesar dos seus livros não constarem das Escrituras, isto não implica que era um homem ímpio e que sua doutrina era herética. A bem da verdade, os escritos de Enoque não foram incluídos na tradução latina chamada Vulgata, porque a Igreja Católica os considerou ofensivos. Ele descreve as suas revelações sobre os anjos caídos e suas aventuras sexuais com as mulheres humanas. Talvez isso fosse considerado pela igreja como algo perigoso e, por não o crer, não o aceitou. No capítulo quatro do primeiro livro de Enoque faz-se referência aos gigantes que habitaram a Terra antes do dilúvio. Desta forma havia familiaridade com estes gigantes nos tempos antediluvianos e as narrativas não são boas. Por isso, Deus determinou o dilúvio para dar fim a todos os seres viventes na Terra. 
No estudo anterior fez-se a citação de um texto enoqueano, no qual, relata-se que duzentos anjos caídos decidiram se mesclar com a humanidade, mantendo relações íntimas com as mulheres filhas dos homens. Para muitos, não passa de mais um texto apócrifo sem qualquer valia teológica. Entretanto, o mesmo relato se acha no Velho Testamento conforme Gn. 6: 1 e 2 - "Sucedeu que, quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram." Embora bem mais sucinto, o texto reproduz a mesma ideia do texto de Enoque. Estes "filhos de Deus", no texto de Enoque foram chamados de "anjos de Deus", porque se trata de filiação por criação. O termo hebraico para esta expressão é "B'nai haElohim" e faz referência aos anjos como criação direta de Deus. Não se trata de filiação como no caso de Cristo. A mesma expressão é usada em Jó 1:1 - "Ora, chegado o dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles." Então, no sentido do texto, até mesmo Satanás é um anjo caído criado por Deus e que estava na assembleia de anjos. Fica claro, portanto, que é filho no sentido de criação e não de geração como referido sobre Cristo em Sl. 2: 7 - "Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei." As filhas dos homens aparece no texto hebraico como "b'noth haAdam", ou seja, "filhas de Adão", justamente, porque eram descendentes da raça adâmica e não porque foram geradas como filhas de Adão. 
Desta forma, descobre-se nos textos de Enoque e no de Gênesis capítulo seis que a causa do dilúvio foram as relações promíscuas e proibidas entre anjos caídos e mulheres humanas. A intenção de Satanás ao incitar tal depravação era contaminar a raça humana com o seu DNA maligno e, assim, tentar impedir o nascimento puro de Jesus, o Cristo. 
Desta forma, não foi apenas por causa da impiedade dos homens que Deus resolveu dar fim a todos os viventes conforme Gn. 6:3 - "Então disse o Senhor: o meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carne, mas os seus dias serão cento e vinte anos." Deus deu um prazo de 120 anos para Noé apregoar a mensagem do dilúvio e preparar a arca. Após este prazo, o espírito inspirado por Deus no homem retornaria a ele conforme ensina Ec. 12: 7 - "... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu." Acontece que, nessa época o povo não conhecia a chuva, porque não chovia. O solo era apenas regado pelo orvalho que caía devido a condensação dos vapores que subiam da Terra. Por isso, não acreditaram, porque chuva era algo desconhecido. Assim é nos dias de hoje, só creem no que podem ver, sentir e tocar. Gn. 2: 6 - "... porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da Terra, e regava toda a face da Terra."
Observa-se que o fator agravante da iniquidade na Terra era a presença de seres chamados Nefilim ou "nephilim" que significa 'decaídos ou arrojados para a Terra', e não gigantes como foi traduzido do hebraico para a Vulgata de Jerônimo. Gigante em hebraico é "anak" e o plural seria "anakim". Entretanto, os nefilins eram mesmo gigantes, mesmo no texto de Enoque é dito que tinham 3.000 côvados e isto equivale a 13,50 metros. Tal fato é registrado em Gn. 6:4 - "Naqueles dias estavam os nefilins na Terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na antiguidade." O texto afirma que os nefilins estavam na Terra e não que eram da Terra. Também o texto mostra que, após a copulação dos nefilins progenitores com as filhas dos homens, nasceram-lhes filhos que andavam pela Terra. Estes eram nefilins descendentes gerados pelos nefilins progenitores ou anjos caídos que se misturaram às mulheres humanas. Eram valentes e homens de renome na antiguidade. Isto é relatado em todas mitologias dos povos antigos desde o extremo oriente até o ocidente. Então, a referência é a dois tipos de nefilins: os progenitores e os filhos destes com as mulheres que eram homens valentes e famosos por suas proezas de maldade e força.
Gn. 6:11 a 14 - "A Terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência. Viu Deus a Terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: o fim de toda carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra. Faze para ti uma arca de madeira de gôfer: farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora." Ora, desde a queda de Adão e sua expulsão do Éden, a natureza humana ficou corrompida e inclinada à violência, iniquidade, impiedade e maldade. Então, não seria por esta razão única a resolução de Deus para destruir o mundo. Verifica-se que tal impiedade se multiplicou enormemente por causa da presença dos nefilins e seus filhos gigantes. Estes tinham enorme vantagem de força bruta sobre os homens e usavam isto para sobrepor-se à justiça e à retidão. Por isto, o texto diz que eles eram os valentes e de renome na antiguidade. Seus feitos eram extraordinários, comparando-se com a capacidade dos homens e dos animais. 
Desta maneira, decidiu Deus purificar a Terra e expulsar, tanto os anjos caídos que promiscuíam com as mulheres, como também, os gigantes filhos dessas uniões espúrias. O dilúvio foi, portanto, uma inundação para dar fim à vida de homens e animais, bem como expulsar os tais anjos caídos. Pedro dá indicações sobre estes anjos conforme II Pd. 2: 4 e 5 - "Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo; se não poupou ao mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios." Qual foi o pecado destes anjos? Terem acompanhado Satanás na sua rebelião? Não, porque desta forma todos os demônios deveriam estar aprisionados. Foram apenas aqueles que desobedeceram as ordens divinas e se promiscuíram com as filhas dos homens conforme o texto de Enoque e o texto de Gênesis. No texto de Pedro vê-se que os tais estão aprisionados nos lugares inferiores que é o significado de inferno ou em um lugar de escuridão chamado no grego de Tártaro.
Finalmente é necessário estabelecer alguns parâmetros semânticos sobre o termo ímpio. Há duas palavras homógrafas: a) ímpio; e b) impio. A primeira, com acento agudo, é adjetivo e/ou substantivo que significa aquele que não tem fé, que despreza a religião e que desrespeita os valores admitidos. A segunda, sem acento agudo, é também adjetivo e substantivo, porém significa: aquele que não tem piedade, desumano, cruel, bárbaro. Ora, então, por causa de um acento que não existe na língua original, muitos teólogos não conseguem ver com clareza que é uma referência aos nefilins e não aos homens e suas maldades derivadas da natureza pecaminosa. Desta maneira, o fator que determinou o dilúvio foi a introdução de práticas proibidas entre anjos e mulheres. A questão da maldade dos pensamentos do coração do homem é consequência e não a causa principal.
Sola Gratia!

sábado, maio 30

O FATOR DILUVIANO II

Mt. 24: 37 a 39 - "Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem."
Recentemente foi produzido e distribuído para exibição em todo o mundo, o filme "Noah" ou Noé em português. Ainda que dirigido pelo talentoso Scott Hidley, mal chegou próximo ao relato bíblico. Obviamente, nenhum diretor ateu ou religioso fará um filme absolutamente fiel ao texto bíblico, porque a passagem da linguagem escrita para a linguagem cinematográfica traz consigo as necessidades de adaptações dos códigos linguísticos e impressões para a camada ótica pela fotografia ou imagens do filme. São eixos diferentes no processo linguístico. Entretanto, o apelo ao fantasioso é, consciente ou inconscientemente, um processo de desconstrução e de reconstrução de códigos. Visto que as artes são de cunho, muitas vezes, subjetivo, o controlador do sistema se utiliza delas para desconstruir a verdade posta. Tal controlador do sistema não é outro senão Satanás conforme II Co. 4:4 - "... nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus." Por que Satanás é o "deus" desta era? Por que ele inoculou a natureza pecaminosa na humanidade e, isto, lhe permite controlá-la em todos os aspectos. A grande obra de Satanás é construir um reino e um trono para si no Planeta Terra. Por isto é declarado sobre ele o seguinte conforme I Jo. 5:19 - "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno." Quando o texto sacro se refere ao mundo, o faz no sentido do sistema que rege e domina o mundo em arrepio à Palavra de Deus. Trata-se, portanto, de um sistema que subjaz no mundo físico, manipulando a mente do homem.
O filme retromencionado tentou levar para o imaginário popular uma fantasia apoiada em um relato bíblico. Os que decidem sobre isto, não creem em nada do que lá está registrado. Algumas destas pessoas, inclusive, nega e renega as Escrituras de modo contundente e publicamente. Então, elas se apropriam das histórias por oportunismo comercial ou por má fé e serviço ao senhor do sistema que controla o mundo. No filme são demonstradas algumas fantasias absurdas, como os anjos de pedra que, ao final, voltam para o convívio divino, por causa de uma boa ação. Eles ficaram do lado dos homens que iriam ser destruídos pelo dilúvio. Esta é a mensagem central do Diabo ao homem: a reconquista do Paraíso perdido por meio de méritos e justiça própria. Esta é a maior ficção, tanto nas artes, como nas religiões. O único modo de reconciliar-se com a glória de Deus é por meio da justiça de Cristo executada na cruz. Há inumeráveis equívocos na história cinematográfica de Noé que não serão comentados aqui.
Neste ponto é necessária uma abordagem de Gênesis capítulo seis para que se possa entender o porquê de Deus ter enviado o dilúvio ao mundo. A maior parte da erudição bíblica focaliza apenas a maldade do homem como a causa determinante da catástrofe diluviana. Todavia, tal maldade ou impiedade, dependendo da tradução do texto original, é apenas a consequência direta. A verdadeira causa do arrependimento de Deus sobre a criação é bem maior e mais profunda que a simples maldade do homem. 
Gn. 6: 5 a 7 - "Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na Terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem na Terra, e isso lhe pesou no coração E disse o Senhor: destruirei da face da Terra o homem que criei, tanto o homem como o animal, os répteis e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito." Quando consideramos apenas esta parte, realmente, fica a impressão que a culpa foi a iniquidade ou maldade do homem a causadora do advento do dilúvio. Entretanto, se esta fosse a única causa ou razão, Deus teria de enviar um dilúvio todos os dias e exterminar a raça humana e recriá-la indefinidamente. Também, acrescenta-se o fato que ele separou oito pessoas para recomeçar a humanidade conforme o v. 8 - "Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor." Vê que Noé achou a graça diante de Deus. Não foi Deus que achou a graça em Noé. São aspectos que demonstram a misericórdia de Deus e não os méritos de Noé. Outro aspecto a ser ressaltado é o fato que Deus resolveu dar cabo, inclusive, de animais, répteis e aves. Qual a razão disto, se estes seres não possuíam a iniquidade como ato consciente? Então, conclui-se que há um fator maior e que contaminou, tanto homens, como os demais seres viventes.
Há um relato que não consta da Bíblia, mas foi escrito por um homem aprovado por Deus a ponto de ser trasladado em vida para a presença d'Ele. Trata-se de Enoque, o sétimo depois de Adão. O relato diz: "Quando outrora aumentara o número dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os anjos, filhos do céu, ao verem-nas, desejaram-nas e disseram entre si: vamos tomar mulheres dentre as filhas dos homens e gerar filhos. Disse-lhes o seu chefe Semyaza: eu receio que não queirais realizar isso, deixando-me no dever de pagar sozinho o castigo de um grande pecado. Eles responderam-lhe em coro: nós todos estamos dispostos a fazer um juramento, comprometemo-nos a uma maldição comum, mas não abrir mão do plano, e sim executá-lo. Então eles juraram conjuntamente, obrigando-se à maldição que a todos atingiram. Eram ao todo duzentos os que, nos dias de Jared houveram descido sobre o cume do Monte Hermon. Todos os demais que estavam com eles tomaram mulheres e cada um escolheu uma para si. Então começaram a frequentá-las e a profanar-se com elas. E eles ensinaram-lhes bruxarias, exorcismos e feitiços, e familiarizavam-nas com ervas e raízes. Entrementes elas engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes, os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las. Também começaram a atacar os pássaros, os animais selvagens, os répteis e os peixes, rasgando-lhes com os dentes as suas carnes e bebendo-lhes o seu sangue. Então a Terra clamou contra os monstros."
Observa-se que o texto faz menção a uma mesclagem entre anjos caídos e mulheres que resultou na procriação de seres anormais. O relato fala de gigantes de 3.000 côvados. O côvado ou cúbito é a mais antiga maneira de fazer medidas lineares. O côvado possui uma extensão variável, porque toma por base parte do corpo humano, ou seja, do cotovelo até a ponta do dedo anular. Em geral, o côvado, variava entre 0,45 cm. a 0,50 cm. Então havia o côvado romano, o hebreu, o egípcio, o babilônico, o grego, etc. Em princípio parece que a descrição de Enoque é exagerada, pois 3.000 côvados convertidos, e utilizando o menor padrão de côvado (0,45 cm), multiplicando-se por 3.000 (altura dos gigantes) daria uma altura da ordem de 13,50 metros. Entretanto, vendo o registro de Ap. 21:17 - "Também mediu o seu muro, e era de cento e quarenta e quatro côvados, segundo a medida de homem, isto é, de anjo." O sentido do texto acima é: "conforme a maneira de medir dos homens, a medida de um anjo é 66, 6 m." O texto é uma referência à Cidade Santa, a nova Jerusalém, que será construída na órbita da Terra para morada dos redimidos com Cristo. Vê-se que são 144 côvados a altura dos seus muros. Então, tomando, por exemplo, o côvado hebreu (0,4625 cm) e multiplicando-se pelos 144 côvados, dá 66,6 metros. O texto afirma que esta é a altura de um anjo aos olhos dos homens. Considerando-se os dois textos e admitindo-se que se crê nas Escrituras, os gigantes não eram assim tão altos. 
O gigante Golias, o qual Davi derrubou com uma pedra de funda tinha 6 côvados e um palmo conforme I Sm. 17:4 - "Então saiu do arraial dos filisteus um campeão, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo." Fazendo-se a devida conversão para o sistema métrico e usando o padrão do côvado romano (0,4625 cm) dão 2,94 metros de altura. Era um anão perto dos gigantes que povoaram a Terra antes do dilúvio.
Sola Scriptura!

sexta-feira, maio 29

O FATOR DILUVIANO I

Gn. 6: 17 e 18 - "Porque eis que eu trago o dilúvio sobre a Terra, para destruir, de debaixo do céu, toda a carne em que há espírito de vida; tudo o que há na Terra expirará. Mas contigo estabelecerei o meu pacto; entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos."
Dilúvio se define como uma grande quantidade de chuvas capazes de inundar e devastar toda uma região ou um espaço geográfico. Também entende-se por dilúvio, uma catastrófica inundação que teria cobrido todo o mundo formado pelas terras ancestrais. Há registros históricos de tal catástrofe em todas as culturas de todos os continentes. Ainda que existam variações nas narrativas, todas convergem para a mesma história ou o mesmo foco.
O fato de o dilúvio ter sido registrado entre todos os povos e em todas as regiões da Terra, justifica, em parte, sua universalidade. Há evidências paleontológicas do dilúvio em todas as partes do mundo. Tais narrativas de um dilúvio universal levaram alguns pesquisadores a buscar evidências sobre este evento. Em 1998, os geólogos da Universidade de Colúmbia William Rayan e Walter Pittman concluíram que o dilúvio é um mito derivado de uma enorme catástrofe natural ocorrida por volta de 5.600 anos na região do atual Mar Negro. Segundo eles, o acontecimento teria causado a migração de diversos grupos humanos, o que fez que a história de uma grande inundação se espalhasse para diversos povos da Terra. Entretanto, nesse tempo recuado da História, como tais narrativas teriam chegado à América, onde se registram as mesmas narrativas entre os povos pré colombianos? Os povos uro, inca, asteca, maia, mapuche e pascuense (da Ilha da Páscoa) relatam o mesmo evento de uma grande inundação. Há os mesmos registros entre os povos antigos, tais como, egípcios, sumérios, babilônios, assírios, armênios, persas, chineses, etc.
Eusébio de Cesareia, em sua Crônica 26, a "Crônica Hebraica" aponta evidências paleontológicas do dilúvio. Já na sua época foram registrados fósseis de peixes no cume do Monte Líbano. Eusébio nasceu em 263 d. C. e foi um historiador da chamada Igreja Primitiva. Foi evangelizado por Doroteu de Tiro em Antioquia. Depois foi para Cesareia onde recebeu ensinamentos cristãos de Pânfilo e estudou a Bíblia e a Hexapla de Orígenes. Eusébio chegou a participar do primeiro Concilio de Niceia em 325 d. C. 
Os defensores do Criacionismo admitem que o dilúvio foi universal tal como registrado nas Escrituras. Para eles, as objeções levantadas pelos paleontólogos e geólogos de que as evidências não são contínuas na coluna geológica das camadas da Terra, não anulam os fatos bíblicos. Segundo os Criacionistas, tais descontinuidades se explicam pelos movimentos tectônicos que teriam contorcido as colunas geológicas. Assim, creem que as evidências são datadas de uma mesma época e não de épocas diferentes. Eles se apegam ao fato constatável da presença de evidências fossilíferas em diversas camadas da crosta terrestre de acordo com um padrão definido. Criticam a posição de alguns cientistas que atribuem aos registros fósseis à evolução das espécies que se sucederam ao longo das Eras Geológicas. Entretanto, os Criacionistas afirmam que antes do evolucionismo de Charles Darwin ser publicado, já haviam registros de pesquisadores dando conta das evidências do dilúvio nas camadas geológicas em diversos e diferentes lugares da Terra. Os Criacionistas também contestam os métodos de datação radiométricos, pois apontam a chamada "trilha dos dinossauros" em Glen Rose no Texas (EUA) como evidência que o homem e os dinossauros coexistiram na mesma época. Isto se deve ao fato que foram encontradas pegadas de humanos gigantes ao lado de pegadas de dinossauros em lama fóssil. Desta forma, se o homem coexistiu com os dinossauros toda a história geológica baseada nos processos de datação está errada.
Levanta-se, nesta série de estudos, a questão da necessidade de um dilúvio na Terra. O fato é que, no relato bíblico, Deus se arrependeu de ter feito o homem e, por isso, resolveu destruí-lo, bem como, todos os seres viventes na Terra. O texto, aparentemente, afirma que a razão desta decisão era o estado de impiedade ou de maldade humana na Terra. Registra-se em Gn. 6: 5 a 7 - "Viu o Senhor que era grande a impiedade do homem na Terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem na Terra, e isso lhe pesou no coração E disse o Senhor: destruirei da face da Terra o homem que criei, tanto o homem como o animal, os répteis e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito."
Qual a justificativa para o dilúvio que destruiu o homem e todos os seres viventes da Terra? O texto acima, por si só, não justificaria tal catástrofe, porque então seriam necessários inúmeros dilúvios ou outras catástrofes destruidoras periodicamente. Porque, a maldade do coração humano em nada mudou desde a queda de Adão no Éden. Obviamente há uma razão mais profunda que justifique o dilúvio e todas as suas consequências para o homem e a vida na Terra. Vê-se, pelo texto, que a questão não se restringiu à maldade do homem, porque o dilúvio afetou todos os animais, répteis e aves. Que maldade ou impiedade tais seres sem consciência moral teria cometido? Tal questão nos permite levantar três hipóteses para justificar o dilúvio:
  • Deus não é Onisciente, e, portanto, não foi capaz de prever que o homem teria o coração corrompido e mau.
  • O registro de Gênesis é uma fraude.
  • Houve algo ou um fato determinante muito grave para justificar o dilúvio.
Das três hipóteses acima, ressalta-se a última como a mais plausível, pois as outras duas estão fora de qualquer aceitação para quem crê, segundo o ensino cristão. Para ateus, agnósticos e materialistas as outras duas são perfeitamente possíveis.
Sola Fides!

terça-feira, maio 26

O DIABO, VOSSO ADVERSÁRIO X

I Pd. 5: 8 a 11 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém."
É imprescindível que o Diabo seja visto, primeiramente, como enganador e não apenas como adversário. Para conduzir o homem ao caminho largo ele precisa, primeiramente, convencê-lo de que a sua proposta é a melhor e a mais espiritual. O Diabo jamais irá dizer ao homem que a sua proposta o conduzirá à condenação eterna. Ele sabe que Deus colocou no coração do homem o sentimento de eternidade conforme Ec. 3:11 - "Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim." Todos, de algum modo, buscam a eternidade. Os materialistas buscam-na pelos seus feitos. Os cientistas buscam-na pelo conhecimento. Os religiosos buscam-na pelo auto-sacrifício, pela oferta de obras de justiça própria e de méritos. Por todas estas razões, o maior medo do homem em todos os tempos é em relação à morte. De modo geral, a morte é tida como o fim de tudo e uma separação eterna da realidade. Mesmo para os que creem em vida após a morte, por vezes, ficam em dúvidas. Isto ocorre, tanto no consciente, como no inconsciente do homem, por causa da experiência de separação espiritual de Deus quando da queda. A expulsão do Éden foi uma experiência tremendamente dolorosa para o homem conforme Gn. 3:24 - "E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida." A árvore da vida é uma simbologia da vida eterna que está em Cristo. Desde então a luta e o esforço do homem é para retomar o caminho de volta à vida eterna. De modo inverso, o grande esforço do Diabo é levar o homem a buscar o caminho de volta com base em seus próprios méritos por meio de obras de justiça própria e não por meio dos méritos de Cristo e na sua justiça executada na cruz. O Diabo sempre incute na mente do homem que é possível fazer um paraíso à revelia de Deus e fora da justiça eterna de Cristo na cruz.
Muitos são os que negam estas narrativas bíblicas e as reputam como meras lendas ou mitos copiados dos povos babilônicos, caldeus e outras culturas antigas. Entretanto, é exatamente o oposto, tais culturas foram inspiradas por Satanás a criar e disseminar narrativas semelhantes à verdade para dar ao homem a impressão que em todos os cultos há verdade. Este é o princípio do engano, pois ele conduz o homem a um julgamento errôneo como se fora verdadeiro. Após esta etapa, vem a mentira que é aquilo que mais se assemelha à verdade. Veja, por exemplo, como o Diabo enganou a Eva conforme Gn. 3:1 a 4 - "Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: é assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu a mulher à serpente: do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Disse a serpente à mulher: certamente não morrereis." É óbvio que a serpente não era apenas um animal rastejante que agora falava e tinha inteligência. A serpente ofereceu ao mundo a primeira experiência "mediunica", incorporando o Diabo. Vê-se, no texto que vem de ser lido, que o Diabo contradiz a palavra de Deus por uma via afirmativa: "... é assim que Deus disse..." Na verdade fez-se uma ratificação do que Deus havia dito, porém de forma dissimulada, a saber, por meia verdade. Deus não disse apenas que era para comer de toda árvore do jardim, há uma exceção à generalização introdutória. O Diabo omitiu a exceção e propôs a generalização: "... não comereis de toda árvore do jardim?" É uma pergunta que, na realidade, contém uma afirmação retorcida da verdade outrora dita por Deus. Quando a mulher deu a sua versão do assunto, o Diabo dá o golpe final com base em uma sentença afirmativa por oposição à sentença afirmativa de Deus. Deus houvera dito: "... certamente morrerás.", enquanto, o Diabo disse: "certamente não morrereis." A sentença afirmativa de Deus foi dirigida a uma única pessoa, porque o verbo está na segunda pessoa do singular. Já a sentença de Satanás está na terceira pessoa do plural. O objetivo do Diabo era usar a mulher por meio do engano para atingir a Adão por meio da incredulidade, ou seja, deixar de crer na sentença afirmativa de Deus para crer na sentença afirmativa dele.
O disfarce do Diabo na serpente foi desmascarado por Deus expondo-o e levando-o a uma maldição conforme Gn. 3:15 - "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Considerando os pronomes, os verbos e os substantivos vê-se claramente que Deus colocou inimizade perpétua entre o Diabo e a mulher, e também, entre a descendência do Diabo e o descendente da mulher. A afirmação: "... entre a tua descendência..." é uma referência a todos os homens descendentes de Adão após a queda, porque até então ele não havia tido descendentes. Tais descendentes de Adão já nasceriam com a natureza pecaminosa herdada. Portanto, espiritualmente falando a humanidade é descendência do Diabo. Já a afirmação: "... e o seu descendente..." é uma indicação de Jesus, o Cristo nascido de mulher. Por esta razão está no singular.
A partir da maldição a pessoa do Diabo ficou para sempre associado à imagem da serpente, sendo isto confirmado em Ap. 12: 9 - "E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na Terra, e os seus anjos foram precipitados com ele."
Após a queda o Diabo triunfou sobre o homem e a criação conforme I Jo. 5:19 - "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno." Porém, Deus continuou reinando sobre todas as coisas e sobre todos e, por fim, triunfará sobre o Diabo e o removerá eternamente, juntamente com os anjos caídos e todos os homens cujos nomes não foram escritos no livro da vida conforme Ap. 13: 8 - "E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo." Esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que é Cristo, serão igualmente lançados no lago de fogo e enxofre conforme Ap. 20: 14 e 15 - "E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo." Então, a primeira morte foi quando o homem foi separado de Deus pelo pecado original; a segunda morte será quando todos os homens cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro forem lançados no lago de fogo. Juntamente com estes homens serão lançados a Besta, o Falso Profeta e o Diabo conforme Ap. 20: 10 - "... e o Diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados pelos séculos dos séculos."
As Escrituras afirmam que o néscio diz em seu coração que Deus não existe conforme Sl. 53: 1 a 3 - "Diz o néscio no seu coração: não há Deus. Corromperam-se e cometeram abominável iniquidade; não há quem faça o bem. Deus olha lá dos céus para os filhos dos homens, para ver se há algum que tenha entendimento, que busque a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um." Este texto revela que aqueles que negam a Deus com base apenas no mal perceptível no mundo, de fato, confirmam que a mente deles foi corrompida conforme Ef. 4:18 - "... entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração." Especialmente, os mais cultos, inteligentes e bem informados, os seus entendimentos estão sob trevas para ver a verdade. Isto porque estão separados da vida de Deus, ou seja, estão mortos para Deus, espiritualmente falando.
Sobre os eleitos e regenerados repousa outro destino conforme Cl. 3: 3 e 4 - "... porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória." Quando os eleitos foram incluídos na morte com Cristo e com ele ressuscitaram, ganharam a vida d'Ele. Esta vida espiritual está oculta em Cristo nos lugares celestiais e, quando ele se manifestar na Terra novamente, os eleitos e regenerados com ele se manifestarão em glória. 
Sola Gratia !!!

quarta-feira, maio 20

O DIABO, VOSSO ADVERSÁRIO IX

I Pd. 5: 8 a 11 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém."
Há, como já dito, muitas lendas e histórias sobre o Diabo no ideário popular em todos os tempos e lugares. Uma dessas lendas é o famigerado "Pacto com o Diabo." Ora, seria de nenhuma valia tal pacto, porque todos os homens já nascem contaminados pela natureza pecaminosa inoculada pelo Diabo. Portanto, o Diabo não faria qualquer pacto com alguém que já está sob seu controle. Jesus deixa claro aos líderes da religião que eles eram controlados pelo Diabo conforme Jo. 8:38 a 44 - "Eu falo do que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que também ouvistes de vosso pai. Responderam-lhe: nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que de Deus ouvi; isso Abraão não fez. Vós fazeis as obras de vosso pai. Replicaram-lhe eles: nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus. Respondeu-lhes Jesus: se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí e vim de Deus; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não compreendeis a minha linguagem? é porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira." Foi um diálogo tenso, especialmente para os religiosos, porque ouvir algo diferente do recebido, internalizado, customizado e praticado é revoltante mesmo. Nota-se nos círculos das religiões, ditas cristãs, que tais reações são as mesmas. As relações entre religiosos e não religiosos ou mesmo entre religiosos de diferentes denominações são amigáveis até o limite em que se confrontam doutrinas. Na maior parte das vezes tais doutrinas são meras crenças sistematizadas e não ensinos espirituais vindos das Escrituras. Quando o ensino provém do alto, mesmo havendo alguém enganado, logo o tal é convencido pelo poder da Palavra. 
Observa-se, no texto retromencionado, que Jesus, o Cristo não lhes ocultou as suas verdadeiras origens, mas os religiosos reivindicavam para si a filiação de Deus e de Abraão para autenticar suas posições absolutamente erradas. Entretanto, o Cristo os conduziu para a essência da questão que é aquilo que a natureza residente e resistente opera. Se a natureza é pecaminosa, portanto, controlada pelo Diabo, a reação é de contundente oposição. Se a natureza é a da divina semente, a reação é sempre por meio das Escrituras, ou mesmo,  não há reação. Por fim, o Cristo lhes declara com todas as palavras: "Vós tendes por pai o Diabo." Prosseguiu Jesus com a explicação desta constatação, mostrando as verdadeiras intensões dos seus corações. Tramavam matá-lo por temor a uma nova mensagem, uma nova ordem que desfazia o antigo e costumeiro. O homem é por natureza reativo ao novo.
O mais significativo não é fazer pactos com o Diabo, mas sair do pacto já existente desde o nascimento. O rei Davi tinha a clara percepção desta verdade quando confessou em Sl. 51:5 - "Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe." Este engano grassa as ditas igrejas cristãos: supõem em seus sistemas doutrinários de cunho apenas humanistas que a pessoa é pecadora porque comete pecados. Entretanto, o ensino das Escrituras mostra com clareza que o homem é pecador porque possui natureza pecaminosa. A única forma de ser libertado é morrendo na cruz em Cristo. A morte do homem foi o seu desligamento da glória de Deus por ocasião da sua queda pecaminosa. Portanto, a morte de Cristo foi para matar a morte do homem, a saber, aniquilar a sua culpa do pecado, ou o corpo do pecado, ou ainda a natureza pecaminosa. Rm. 6: 6 e 7 - "... sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado." Observa-se que o texto se refere ao "velho homem" e não a um "homem velho." Faz toda diferença, porque a questão tratada o texto é de natureza adâmica e não da idade cronológica de alguém. Quando a velha natureza pecaminosa herdada do primeiro Adão é destruída no último Adão, surge uma nova criatura reconciliada com Deus conforme II Co. 5:17 - "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." No texto original em grego koinê é usada a expressão "nova geração" e não "nova criatura". Isto porque, os regenerados na morte de Cristo foram gerados outra vez em Cristo.
A obra maior do Diabo é o engano, porque, por ele se consegue trazer todos os demais males e a ruína. O truque diabólico é propor o "bem" para trazer o mal, porque se fizesse ao contrário afugentaria a todos. Ele, então sugere que aquilo que o homem chama de mal pode, na verdade, trazer o bem. Ele usa a isca mais eficiente que há desde o Éden: apelar para uma suposta sabedoria e um grande benefício pessoal. Foi o argumento que usou com Eva conforme Gn. 2:5 - "Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." Tal proposta gerou e gera o desejo obter a divindade, profundo conhecimento de si, das coisas e dos outros. Consequentemente, tal sabedoria traz como resultado o engano conforme I Tm. 2:14 - "E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão." Adão pecou, porque era portador de uma lei, mas Eva foi apenas ludibriada pelo desejo. Quem quebra uma ordem sem conhecimento, mas por influência de outro foi enganado, mas quem quebra uma ordem tendo recebido orientação para não quebrá-la é apenas transgressor, mas pecador. A transgressão é um ato pecaminoso oriundo da natureza pecaminosa que é a iniquidade, ou seja, a perda da equanimidade, do equilíbrio ou da razão.
Os anjos não conheciam o mal, até que a iniquidade surgiu no coração de um deles. O homem não conhecia o mal, ainda que ele já existisse e houvera sido colocado no Éden. Ambos, Diabo e homem, passaram a conhecer o mal e se tornaram escravos dele quando o experimentaram. O primeiro a dar lugar à iniquidade foi o anjo querubim que se tornou Diabo. Depois ele reproduziu o processo no coração do homem para induzi-lo à incredulidade. O Diabo colocou diante de Eva a possibilidade de ser "como Deus" e não como o Diabo. Então, acreditar superficialmente que, pelo fato de uma religião falar acerca de Deus, de amor, da verdade, de caridade e de paz é uma proposta autêntica é o grande projeto de Satanás desde os tempos do cristianismo primitivo. O objetivo do Diabo no Éden era levar Eva à desobediência pelo desejo de conhecimento e de semelhança a Deus, porém ele apontou, primeiramente, para uma experiência com Deus e não com os demônios. A proposta era muito clara: desobedecer a Deus para ser como Deus. Ora, esta é a lógica mais tola e muitos estão caindo nessas mensagens e pregações ainda hoje. É neste sentido que o Diabo é o adversário dos que conhecem a verdade, pois eles não se deixam enganar. Por esta razão é que Jesus, o Cristo afirma em Jo. 8:32 e 36 - "... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.  Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
Solo Christo!
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fides!
Soli Deo Gloria!

sábado, maio 16

O DIABO, VOSSO ADVERSÁRIO VIII

I Pd. 5: 8 a 11 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém."
É fundamental que se abstraia da visão vulgar sobre o Diabo, porque esta visão impede uma compreensão mais profunda sobre o adversário. Tal visão simplista e retorcida é subproduto de uma cultura religiosa que teve sua origem na Idade Média quando a igreja dominante temia o avanço do conhecimento científico. O temor dos líderes eclesiásticos era que o povo abandonasse a submissão aos dogmas e preceitos impostos por eles. Por esta razão o chamado "Santo Ofício", ou seja, a Inquisição criou o "Index" no qual arrolava milhares de obras proibidas, sendo a maioria de caráter científico. Tudo o que o clero tomava por perigoso ao domínio da igreja era alistado como obra diabólica. O enredo do filme "O Nome da Rosa" baseado na obra de Humberto Ecco é um típico exemplo de como agia a "santa madre igreja." Ocultava as obras literárias, científicas e mesmo algumas religiosas em bibliotecas dos mosteiros trancafiados a sete chaves. A sonegação do esclarecimento ao povo era uma estratégia de sobrevivência em meio à decadência iminente. Igualmente a perseguição e condenação dos que ousavam desafiar os dogmas e crendices era uma maneira de eliminar aqueles que queriam saber mais.
Criou-se uma imagem no ideário popular que ainda hoje persiste, sendo muito difícil desconstruir. O fato é que o Diabo não é aquela figura horrenda que se pinta no inconsciente do povo. Ele é um ser espiritual e, portanto, invisível. O fato de ser espiritual não o qualifica como um ser fiel a Deus. Pode tornar-se visível por meio de materializações em forma algo ou de alguém, mas este não é o seu estado natural. Trata-se de uma situação excepcional para agir pessoalmente em algumas ocasiões quando lhe é permitido. Tal situação é retratada por Paulo conforme II Co. 11: 14 e 15 - "E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras." Desta forma fica evidente que suas aparências e aparições são sempre um disfarce e não uma realidade concreta e permanente. Obviamente é desta forma que ele deve se apresentar para envolver e controlar as mentes dos não regenerados. Do contrário dar-se-ia que seria absolutamente rejeitado. Vê-se, pelo texto, que os demônios que servem ao Diabo também se apresentam como ministradores de justiça. Estes demônios são os anjos que acompanharam o Diabo em sua rebelião. Então, o Diabo apresenta-se oferecendo luz e os seus demônios oferecendo justiça. Acaso não são estas coisas que atraem a maioria dos homens, em suas crenças e buscas culturais, sociais e econômicas?
O campo mais fértil às manifestações do Diabo é a religião, justamente porque é uma esfera subjetiva e que se alimenta da sensorialidade da alma e de fé almática e não espiritual. É um campo minado e perigoso, porque, de um lado há a incidência e a reincidência constante do desespero humano e, do outro lado, há uma proposta permanente dos falsos obreiros conforme fica claro no mesmo contexto de II Co. 11: 13 - "Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo." Um apóstolo no contexto do primeiro século da era cristã era alguém que, após experimentar o novo nascimento era enviado a anunciar o evangelho da redenção. Vê-se que desde aquele tempo estavam entre os verdadeiros, também os falsos apóstolos que realizam a sua obra por meio da fraude, disfarçando-se de enviados por Cristo. Ora, ainda hoje se vê tal prática multiplicada na mídia dotada dos mais altos requintes da comunicação sofisticada. A fraude se caracteriza exatamente por simular verdade por meio de um instrumento da mentira, a saber, falsos cristãos. Trata-se, portanto, de uma espécie de falsificação por ardil ou mentira impetrada como se verdade fosse dentro de igrejas.
I Tm. 4:1 a 5 - "Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada, proibindo o casamento, e ordenando a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e que conhecem bem a verdade; pois todas as coisas criadas por Deus são boas, e nada deve ser rejeitado se é recebido com ações de graças; porque pela palavra de Deus e pela oração são santificadas." A primeira evidência da ação fraudulenta do Diabo por meio de seus ministradores humanos é a apostasia. Por apostasia se pode entender um ato de renúncia a algum valor, princípio ou fé. Os apóstatas, na maior parte dos casos, não se afastam ou renunciam à religião, mas apenas à fé verdadeira. Permanecem dentro das igrejas, porém conduzindo-se por um padrão apenas comportamental. Ficam ali, porém em conformidade a um corolário de doutrinas e práticas que lhes são convenientes. Isto ocorre porque não experimentaram o nascimento do alto ou espiritual. Tiveram apenas uma experiência religiosa emocional ou intelectual. 
A origem da apostasia consiste em ouvir a espíritos enganadores que trazem doutrinas de demônios. Estes demônios são aqueles ministradores de Satanás que se apresentam como portadores da justiça, ou seja, daquilo que julgam ser o justo e o melhor para o homem. O objetivo de tal prática é manter os homens afastados da verdade a fim de subjugá-los a uma escravidão eterna. São homens hipócritas, pois o que falam não representa o que são e vice-versa.
Suas mentes foram cauterizadas, isto é, perderam a sensibilidade à verdade. Por isto estes sobrevivem de uma espécie de fé em si mesmos ou de uma espécie de fé na fé. Vê-se, pelo texto, que tratam estes falsos pregadores de coisas comezinhas, ou seja, das coisas do cotidiano do homem. Jesus esclarece que, quem cuida das coisas dos homens é Satanás. Muitos desses religiosos se põem como celibatários em nome de uma maior pureza e dedicação às coisas espirituais. Entretanto, suas naturezas pecaminosas os traem, levando-os às práticas sórdidas e à exposição de suas taras. Outros proíbem a ingestão de determinados alimentos a fim de trazer maior clareza mental, saúde física, e elevação ao sobrenatural. Entretanto, o texto sagrado diz que tudo quanto Deus criou é bom, desde que recebidos com ações de graça. Dar graças por todas as dádivas de Deus é o mesmo que reconhecer que ele é soberano e detém o controle absoluto sobre todas as coisas. Só os nascidos do alto podem e conseguem ver a soberania de Deus. Uma mente que é guiada por sua própria alma jamais poderá reconhecer Deus como soberano e que tem todo o controle até mesmo sobre as coisas julgadas como ruins. É a fé genuína na Palavra de Deus que tem o poder de santificar e purificar todas as coisas. Não são atos deliberados pelo homem que tornam as Escrituras autênticas e verdadeiras. Elas são verdadeiras por sua própria natureza e origem.
O texto de abertura indica que os eleitos e regenerados devem ser sóbrios e vigilantes. Sóbrio significa não estar embriagado. Entretanto, tal sentido não se aplica no texto à embriaguez com bebidas alcoólicas. Trata-se de uma extensão de sentido da embriaguez, a saber, não se envaidecer com ideias, princípios e valores morais ou sensoriais. Iludir-se e levar outros à ilusão de uma falsa verdade é uma forma de embriaguez e falta de sobriedade. Portanto, a forma que os eleitos e regenerados se mantêm sóbrios e vigiam é conhecendo a mente de Deus por meio das Escrituras. Não se trata de um exercício mental de esperteza contra evidências. Até porque, as evidências do Diabo e seus demônios muito se assemelham à verdade. Todavia, nem tudo o que se assemelha possui a mesma essência daquilo que é semelhante, a saber, a verdade. A verdade não é uma concepção, mas o próprio Cristo conforme Jo. 14:6
Sola Scriptura!

domingo, maio 10

O DIABO, VOSSO ADVERSÁRIO VII

I Pd. 5: 8 a 11 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém."
Como já dito, as Escrituras falam muito pouco acerca da pessoa de Satanás. E o que dele se declara é mais sobre ações e projetos maléficos e suas consequências para o homem e o mundo. Desta forma, sequer sabe-se o nome deste anjo que foi um dos mais importantes na hierarquia celestial. Os dois textos mais específicos, embora não muito óbvios, sobre o Diabo são o de Ez. 28 e de Is. 14. Por confusões de tradução do hebraico para o latim, deram a ele o nome de Lúcifer, porém não se pode traduzir uma expressão adjetiva "portador de luz" pelo substantivo próprio "Lúcifer". Este descuido vem causando muitos males ainda hoje. A expressão hebraica de Is. 14:12 (הילל בן שחר) transliterada é "heilel ben shachar" e significa "estrela filha da alva". É uma referência à Estrela Matutina ou Estrela Vespertina que, em suma, é o planeta Vênus e não uma estrela de fato. Em uma época do ano este planeta aparece antes do amanhecer e em outra época ao anoitecer como um ponto muito luminoso no céu. O profeta usa da dupla referência profética, por analogia, tanto ao rei de Babilônia, como ao Diabo em sua queda e natureza conforme Is. 14: 12 a 14 - "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações! E tu dizias no teu coração: eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo." Nos primeiros séculos da Igreja tal expressão não tinha nenhuma conotação com o Diabo. Tanto que havia um bispo da Sardenha chamado São Lúcifer e, ainda hoje há uma igreja dedicada a ele lá. Da mesma forma os profetas usavam a mesma expressão para se referir ao rei da Babilônia, Nabucodonosor e seus projetos soberbos de poder absoluto. Também em Ap. 22:16, o próprio Cristo se auto-identifica como a "resplandecente estrela da manhã": "Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã."
Os textos de Ez. 28 e de Is. 14 fazem dupla referência, ou seja, fazem lamento profético a dois reis - Ittiobalus ou Ittiobaal II de Tiro e Nabucodonosor de Babilônia. Porém, o sentido do texto passa a ser uma descrição dos atos de Satanás, na medida em que certos aspectos e lugares não se aplicam mais a um homem, mas a um ser espiritual. Este recurso utilizado pelos profetas é comum, pois demonstra o orgulho e a soberba satânica no comportamento de homens, indicando a natureza do pecado de Satanás que foi a iniquidade. Trata-se de um processo para dar a compreender os segredos do Diabo por meio do comportamento de pessoas e vice-versa. Ao final, o próprio rei Nabucodonosor veio contra o rei de Tiro em 587 a. C. e o destruiu. 
Tal recurso de desejo de endeusamento de homens foi demonstrado por Paulo  conforme At. 12: 20 a 23 - "Ora, Herodes estava muito irritado contra os de Tiro e de Sidom; mas estes, vindo de comum acordo ter com ele e obtendo a amizade de Blasto, camareiro do rei, pediam paz, porquanto o seu país se abastecia do país do rei. Num dia designado, Herodes, vestido de trajes reais, sentou-se no trono e dirigia-lhes a palavra. E o povo exclamava: é a voz de um deus, e não de um homem. No mesmo instante o anjo do Senhor o feriu, porque não deu glória a Deus; e, comido de vermes, expirou." O rei Herodes, em sua arrogância, odiava o sucesso dos reis de Tiro e de Sidom, mas os suportava porque necessitava manter comércio com estes. Vê-se que, o povo o considerou como "a voz de um deus" e ele se envaideceu disso, trazendo imediato castigo. Ora, sabe-se que a queda do anjo querubim foi pelas mesmas razões, ou seja, pelo desejo de ser semelhante ao Altíssimo, ter um trono e um governo para si próprio no universo.
O que ocorre em muitas interpretações correntes dos textos de Ez. 28 e Is. 14 é uma espécie de desonestidade para se livrar de textos difíceis. Usam malabarismo simplistas para dar uma explicação teológica que nada tem de teológica. Dizem que se trata de um texto poético, entretanto, o recurso estilístico não anula o fato que continua sendo a Palavra de Deus. O fato é que os profetas sempre falavam de assuntos espirituais por meio de assuntos terrestres e contemporâneos para que o povo pudesse compreender o sentido profundo e espiritual da revelação. Isto se vê claramente nos salmos. Este é o princípio hermenêutico da dupla referência que, tanto se aplica ao tempo, como à pessoa objeto da profecia. Paulo usa este processo ao se referir ao anticristo conforme II Ts. 2: 3 e 4 - "Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não sucederá sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição, aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como Deus." O homem do pecado e filho da perdição é um homem, porém é ele o representante ou a expressão das pretensões do próprio Satanás no fim dos tempos. O profeta Daniel afirma que o anticristo estará na terra gloriosa, ou seja, na Palestina no fim dos tempos. Diz ainda que ele armará suas tendas nos mares conforme Dn. 11: 41 a 45 - "Entrará na terra gloriosa, e dezenas de milhares cairão; mas da sua mão escaparão estes: Edom e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom. E estenderá a sua mão contra os países; e a terra do Egito não escapará. Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata, e de todas as coisas preciosas do Egito; os líbios e os etíopes o seguirão. Mas os rumores do oriente e do norte o espantarão; e ele sairá com grande furor, para destruir e extirpar a muitos. E armará as tendas do seu palácio entre o mar grande e o glorioso monte santo; contudo virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra." Ora, o texto de Isaías 14 pode perfeitamente ter a primeira referência ao rei Ittiobalus, mas também ao anticristo do fim dos tempos, porque Tiro ficava numa ilha no Mar Mediterrâneo no que é hoje o Líbano. Mas, a atual cidade de Tiro  está em uma península e não mais numa ilha como foi no tempo dos profetas veterotestamentários. Por isso, Tiro fica entre o Mar Mediterrâneo chamado no passado de Mar Grande e o Monte Santo onde fica Jerusalém.
Ao ler o texto de Ez. 28 vê-se claramente que a descrição parte de um homem e termina descrevendo um ser que não pode ser um homem mortal. Fala que o tal "estava no Éden, jardim de Deus" e que "se cobria de todo tipo de pedras preciosas". Também o chama de "querubim ungido" e que estava no "monte santo de Deus." Também diz que o tal "nadava no meio das pedras de fogo." Estas expressões não se aplicam nem mesmo a Adão que esteve no Éden. O Éden onde esteve Adão era vegetal e não mineral. Portanto, nada destas descrições se aplicam ao rei de Tiro, ao rei Nabucodonosor e ao Anticristo. São formas de descrever a próprio Satanás por meio de figuras e pessoas terrenas.
Por último pode-se ver a tradução de II Pd. 1:19 - "E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações." Na versão em latim da Vulgata de São Jerônimo esta mesma passagem fica da seguinte maneira: "Et habemus firmiorem propheticum sermonem cui bene facitis adtendentes quasi lucernae lucenti in caliginoso loco donec dies inlucescat et lucifer oriatur in cordibus vestris." A expressão "estrela da alva" foi traduzida como lúcifer. Isto nada tem a ver com o nome do anjo caído, mas com uma expressão adjetiva que indica o conhecimento da verdade nos corações dos eleitos e regenerados. 
Solo Christos!

quarta-feira, maio 6

O DIABO, VOSSO ADVERSÁRIO VI

I Pd. 5: 8 a 11 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém."
O mundo sempre esteve dividido sobre a realidade de Satanás ou da existência de um ser maléfico. Há os que, crendo na sua existência acabam por exagerar tanto que lhe presta uma espécie de culto por antagonismo. Outra parcela nega a sua existência e ações, reputando-a à categoria de mito ou lenda. Na realidade nenhum desses extremos está correto. Uns erram por desconhecer a sua real origem, natureza, queda e ações. Outros erram por ignorá-lo deixando-o livre para atuar sem resistência. Obviamente, tal resistência, não se dá por rituais de exorcismos, mas pela fé conforme o texto de abertura ensina. A resistência consiste em estar firme na fé e não pela fé como se supõe comumente. Estar na fé é estar possuído pela fé de Deus e não exercitar-se em um conjunto de práticas, preceitos e atitudes para obter alguma forma de vitória sobre o mal. 
A confusão acerca da natureza de Satanás é tão grande que, mesmo entre aqueles que supostamente deveriam conhecer profundamente o assunto há graves discordâncias. A primeira evidência de erro é o abandono das Escrituras para adoção de teorias de base intelectivas, filosóficas ou religiosas a respeito de um assunto bíblico. Neste sentido, o homem cria um corolário de verdades próprias para explicar as coisas por uma lógica mais plausível ou aceitável.
Não há dúvidas que há um enorme mal moral atuante na humanidade e um mal degradante na própria natureza física. A origem de tudo isto é o próprio Diabo, pois é homicida e pai da mentira conforme Jo. 8:44 - "Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira." Desta forma fica claro que o homem que não crê à verdade possui filiação diabólica, porque o filho herda a natureza do pai. O homem não regenerado, ainda que religioso, satisfará invariavelmente os desejos do daquele que os contaminou com a natureza dele, a saber, a natureza pecaminosa. O pecado de Satanás, mesmo antes da queda, foi a incredulidade, porque nunca se firmou na verdade. Mesmo não havendo qualquer força determinante para tentá-lo a cair no pecado, ele ainda assim optou por não crer em Deus. O texto mostra que nele, no Diabo, não há verdade! Nem mesmo poderia haver, porque verdade não é uma concepção filosófico-religiosa, mas é uma pessoa, a saber, Cristo. O texto ainda esclarece que o pecado é o que a pessoa é e não necessariamente o que ela faz. O que a pessoa faz é consequência do que ela é e nunca ao contrário. Assim, fica evidente que o Diabo é mentiroso e o pai da mentira. Ora, se há um pai da mentira, há igualmente os filhos da mentira, os quais são os herdeiros legítimos deste pai.
Ef. 2:1 e2 - "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência..." O homem após a queda pela mesma incredulidade do Diabo, ou seja, não crer na Palavra de Deus, tornou-se morto espiritualmente. A morte espiritual significa a perda da glória de Deus conforme Rm. 3:23 - " Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." O andar nos delitos e pecados são os atos e atitudes contaminados pela natureza pecaminosa. O homem anda segundo o curso anormal do mundo, porque é sua natureza que está contaminada. Assim, o homem decaído é pecador porque possui natureza pecaminosa e não porque comete pecados e delitos. Tal ação inata e persistente é o resultado de ser guiado pelo "príncipe das potestades do ar." A palavra príncipe como inserida neste texto, não indica nobreza, mas indica que o Diabo é o principal dos demônios que habitam a atmosfera em torno da Terra. Os filhos da desobediência são filhos do Diabo. Eles não são pecadores porque desobedecem, mas desobedecem porque possuem naturezas pecaminosas. O texto de Efésios permite dizer que é do espaço sideral que Satanás opera seus feitos e efeitos nos seus filhos. No texto grego original diz: "archoon tees exoysias toy aeros" que significa: "príncipe das potestades do ar." Então, o Diabo exerce uma espécie de poder na própria ordem cósmica, portanto, além da ação maléfica na sociedade, também interfere no cosmo.
Ef. 6:12 - "...pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes." Uma vez mais é reforçada a verdade sobre o fato de o Diabo estar reinando no espaço sideral e não no inferno de Dante Alighieri. Esta visão dantesca é o subproduto do ideário da igreja na Idade Média para meter medo nos homens incultos e sem acesso à verdade. Muitos religiosos travam uma luta com base no esforço da carne e do sangue, pois criam para si uma série de rituais de auto-sacrifício para vencer o mal. As Escrituras, entretanto, mostram que a luta não é contra a carne e o sangue, mas contra grupos de demônios que operam nos lugares celestiais, ou seja, no espaço sideral. Este é e sempre foi o problema da religião humana desprovida da verdade bíblica: transferir a solução do pecado para o esforço humano. 
A maioria dos religiosos desconhece que o Diabo foi derrotado na cruz conforme Jo. 12:31 - "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo." O juízo deste mundo foi executado na cruz, quando Jesus, o Cristo morreu e incluiu os pecadores eleitos para serem regenerados. Isto fica evidente em Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Então, Jesus, o Cristo está doutrinando com clareza que iria ser levantado na cruz para expulsão de Satanás. Por esta razão é que ele vive no espaço sideral ou regiões celestes. A justiça de Deus contra o pecado foi executada em seu próprio Filho Unigênito na cruz. Tal juízo abrange, tanto os homens pecadores que foram preordenados para crer, quanto o autor e controlador das suas naturezas pecaminosas. A morte de Cristo não foi um ato solitário e isolado, como uma mera demonstração teatral para o mundo. Foi um ato compartilhado e, portanto, um ato inclusivo dos pecadores eleitos para a aniquilação da culpa do pecado deles conforme Hb. 9:26 - "... doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo." Claro, se a morte de Cristo não houvera sido suficiente, eficiente e eficaz teríamos um caso de embuste, pois de nada teria valido. Deus teria de punir o pecado a cada segundo para resolver o problema do pecado. Ele, com um único ato exerceu o juízo e fez a justiça eterna contra a culpa do pecado nos homens eleitos antes da fundação do mundo conforme Rm. 8:29 e 30 - "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou."
Desta forma o Diabo, adversário dos nascidos de Deus não pode nada contra eles, porque já foi julgado conforme Jo. 16:11 - "... e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado." Igualmente, o Diabo é apenas adversário e não controlador dos regenerados. Ele sequer pode tocá-los conforme I Jo. 5:18 e 19 - "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca. Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno." Os nascidos de Deus têm a vida de Cristo e, por isso, o Diabo não lhes pode tocar, porque ele não pode tocar Cristo. Ele toca e controla os que estão no mundo e jazem nele. Isto não significa que os eleitos e regenerados sejam perfeitos e não cometam erros ou atos pecaminosos. Estão em processo de aperfeiçoamento e cometem atos pecaminosos sim. Entretanto, estes já foram aniquilados na cruz e não têm qualquer efeito sobre suas vidas espirituais. Podem até causar efeitos nas vidas terrenas, perante a justiça e o sistema humano, mas não na sua redenção. Por isso, é necessário acabar com estas crendices tolas que mais prestam culto e adoração ao Diabo que libertação plena dos seus feitos no mundo.
Soli Deo Gloria!