domingo, março 22

ESTADO LAICO, IGREJA E TOLERÂNCIA

Mc. 2: 14 a 17 - "Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. Ora, estando Jesus à mesa em casa de Levi, estavam também ali reclinados com ele e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; pois eram em grande número e o seguiam. Vendo os escribas dos fariseus que comia com os publicanos e pecadores, perguntaram aos discípulos: por que ele come com os publicanos e pecadores? Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores."
O Estado é um ente político que se expressa por meio do território, do povo, do governo e do elevado nível de soberania. O Estado, como entendido hoje, existe a partir da concepção contratualista que, prevendo 'a guerra de todos contra todos', quando o homem vivia em 'estado de natureza', propôs um contrato social. O contrato social se define pelo homem abrindo mão do individualismo e liberdade em troca de garantias e proteções do Estado. Montesquieu deu um refinamento a mais na estrutura do Estado com a sua fórmula tripartite dos poderes do Estado: poder legislativo, o poder que faz as leis; poder executivo, o poder que executa o que as leis exigem e realiza a gestão da coisa pública; e o poder judiciário que zela pelo cumprimento e aplicação das leis. 
A Igreja no sentido do evangelho e da fé cristocêntrica é o conjunto de todos os regenerados pela experiência de novo nascimento em todos os tempos e lugares. Tal experiência se dá pela inclusão do pecador na morte e ressurreição de Cristo. A Igreja genuína se define como um corpo vivo formado de 'pedrinhas' edificadas sobre a Rocha Eterna que é Jesus, o Cristo o seu cabeça e o seu fundamento. Tal estrutura é definida por Jesus, o Cristo em Mt. 16:18 - "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." Nem Cristo, nem Deus jamais fundou qualquer religião ou sistema de crença institucionalizado. A Igreja não é identificada pelo exercício de uma religião exterior, ritualística e preceitual, mas pela graça mediante a fé na justificação única, perfeita, eficiente e eficaz da inclusão do pecador na morte de Cristo e na sua consequente ressurreição. Este processo de redenção aniquila a culpa do pecado e reconcilia o pecador a Deus.
O Estado laico não se define como um Estado formado por pessoas e instituições que se declaram ateias como presume a maioria das pessoas. O laicismo não é uma virtude e, portanto, não se aplica a pessoas. Aplica-se tão somente a coisas que não possuem poder de decisão moral. A laicidade é um princípio político, referindo-se à organização da sociedade e não a pessoas. O laicismo consiste em uma condição na qual o Estado não adota regras religiosas, não patrocina a religião, e não institui qualquer forma de culto em sua estrutura oficial de poder e governo. 
A tolerância é uma virtude moral e se aplica, tão somente, a pessoas e jamais a coisas as quais não podem decidir moralmente. A tolerância só pode existir em alguém que possui o poder de ser tolerante ou não ser tolerante, pois do contrário, não haveria necessidade de tolerância. A tolerância pode ser por amor ou por força moral. Por amor ocorre quando alguém ama e, portanto, tolera ideias e comportamentos do outro; por força moral a tolerância ocorre quando alguém não ama, mas tolera a ideia ou o comportamento do outro ainda que não concorda com os tais, por uma questão moral. A tolerância, portanto, pressupõe discordância de posições ideológicas e comportamentos condenatórios, porém o tolerante não age contra o outro.
Jesus, o Cristo separou perfeitamente o Estado da Igreja na expressão "... dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus..." Tal ensino revela que o Estado desenvolve sua atividade de Estado e a Igreja a sua função de Igreja sem confundir-se um com o outro. O que é do Estado é a política, a economia e a administração da coisa pública. À Igreja cabe a adoração, o anúncio do evangelho para a justificação do pecador. Visa despertar os eleitos para a reconciliação do seu espírito corrompido com Deus, trata da purificação da alma e garante a ressurreição do corpo na restauração final. São dimensões de naturezas absolutamente diferentes e até mesmo opostas. Isto não quer dizer que, em nome de Deus, da Igreja ou de uma fé qualquer alguém deve entrar em rota de conflito com o Estado e suas instituições. Uma pessoa absolutamente crente submete-se às leis do Estado sem prejuízo da sua fé. Entretanto, quando o Estado invade os liames do campo espiritual o que crê não está obrigado a violar a sua fé conforme At. 5:29 - "Respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: importa antes obedecer a Deus que aos homens."  
O texto de abertura ensina com clareza uma questão de intolerância dos líderes religiosos e a tolerância de Jesus, o Cristo. Os religiosos questionavam o fato de Jesus comer com pecadores e publicanos. Jesus lhes ensina que a real e verdadeira tolerância não é evitar ou condenar aqueles que praticam atos e atitudes considerados em uma cultura como desaprovados. Sendo a missão redentiva de Jesus, o Cristo salvar ou redimir os injustos, não faria sentido ele pregar, ensinar e amar os que se consideram justos. Quem se vê como justo não necessita de justificação.
Solo Cristo!

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