sábado, maio 19

A DIFERENÇA ENTRE EVANGELHO E EVANGELICALISMO

I Co. 15: 1 a 8 - "Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo."
Gl. 1: 6 a 12 - "Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens; porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo."
Ao pé da letra, evangelho significa "boa mensagem", "boa notícia" ou "boas-novas", visto que tal vocábulo é derivado da palavra grega 'εvαγγέλιον', 'euangelion' ('eu' = bom, e 'angelion' = mensagem ou mensageiro). No primeiro texto, o apóstolo Paulo demonstra, na essência, o que é o evangelho puro. O verdadeiro evangelho é anunciado, recebido e perseverado pelos que o ouvem e o recebem para a salvação. Há muitos que ouvem e recebem a pregação do evangelho, mas não para a salvação. No evangelho puro, não se admitem mutações, adaptações, ilações, injunções, conjecturas, sofismas ou reinvenções do que já foi anunciado. Requer que seja recebido por fé e não por circunstâncias. 
Ao que anuncia o verdadeiro evangelho é exigido,  que, também, o tenha recebido sem adulterações. Nada no evangelho escriturístico é produzido pela vontade humana, pela teologia humana, pela religião humana. O evangelho produzido pela ação sinérgica do homem, para nada aproveita, senão para produzir religiões baratas, enganadores e enganados. 
O genuíno evangelho é fruto da morte substitutiva e inclusiva de Cristo, segundo as Escrituras. Isto implica em que não é segundo as concepções humanas, mas segundo a Palavra de Deus. Por esta razão é que o verdadeiro evangelho só poderá ser recebido, jamais produzido pela sabedoria humana que é terrena, almática e diabólica conforme Tg. 3:15 - "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Por mais bem intencionada que seja a mente humana, estará originalmente contaminada pela natureza pecaminosa inoculada no homem desde as suas origens ancestrais. O evangelho de Cristo é registrado em palavras escritas por mão humanas, mas transmitido e recebido por fé, porque a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Deus. O homem natural não possui inclinação alguma para o evangelho verdadeiro. Possui, outrossim, forte inclinação para a religião exterior, sacrificial, mística e ritualística. Neste ponto é que muitos confundem o verdadeiro evangelho com o falso evangelho. Confundem verdade com religião! Por isto, confundem-se e são confundidos!
As boas novas se inserem na esfera espiritual decidida por Deus antes dos tempos eternos conforme II Tm. 1: 9 e 10 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e que agora se manifestou pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho..." Os verbos "salvou" e "chamou" estão no pretérito, portanto, a salvação não depende de quaisquer obras ou ações do homem. Pelo fato de tudo ter sido decidido na eternidade pretérita, é que o evangelho se constitui em "boas-novas". Foi uma decisão bondosa e soberana de Deus concretizada no tempo e na história pela graça mediante a fé, e, ambas procedem d'Ele.  A  novidade do evangelho consiste na verdade plena que, Cristo destruiu a morte espiritual do homem  em sua morte de cruz,  assim também, concedeu a sua vida eterna na ressurreição do regenerado juntamente com Ele.  Paulo mostra que o evangelho é conforme a tudo o que está nas Escrituras e que foi  testemunhado por diversas pessoas. Por Escrituras entendem-se o velho e o novo testamentos, pois um é a concretização do outro.
O denominado evangelicalismo, provém de 'evangélico', e, historicamente se constitui em um movimento teológico e missionarista à margem do protestantismo histórico. Não está subordinado ou limitado à doutrina reformada. Tal movimento defende a necessidade de o indivíduo passar por uma experiência de conversão, a que chamam comumente de "aceitar Jesus" e afirma ser a Bíblia a sua única base de fé e prática. Há ainda, nas últimas décadas, o aparecimento do cognominado neo-evangelicalismo. Este abriu-se para o liberalismo teológico e tenta suprimir os aspectos sobrenaturais da Bíblia. Confunde-se com o neo-pentecostalismo carismático se afastando cada vez mais do evangelho segundo as Escrituras.
Sabe-se que a conversão é um ato monergístico e não o resultado de uma aceitação voluntária do homem decaído. É Deus quem dá início a todo o processo da conversão e não o  homem. O pecador não possui "livre arbítrio", pois todo o que comete pecado é escravo do pecado e o escravo não é livre. A conversão humana apenas muda o religioso de uma religião para outra, mas não lhe assegura a experiência de nascimento do alto ou de regeneração. Por esta razão há tanta movimentação e ativismo entre seitas e religiões.
O evangelicalismo por vezes se confunde com o fundamentalismo, mas também, por vezes se distancia dele, admitindo a leitura não literal da Bíblia. O evangelicalismo não se preocupa com a crítica textual ou ecdótica (do grego ékdotos = "edito") que visa aproximar o texto bíblico, tanto quanto possível da sua forma original, isto é, da forma registrada pelo autor. A ecdótica trata, portanto, de restituir, por meio de minuciosas regras de hermenêutica e exegese, a forma mais próxima do que seria a redação inicial de um texto, a fim de estabelecer a sua edição definitiva.
O evangelicalismo pragmático dos dias atuais vislumbra um "evangelho" de resultados e não a manutenção da pureza das Escrituras como ensina o apóstolo Paulo. Disputa número de "fiéis", promove grande ênfase aos milagres, defende a  acumulação de bens e o recebimento de bênçãos como manifestação visível da fé. Nada destas coisas é ensinado nas Escrituras como sendo o evangelho verdadeiro. Uma das características do evangelicalismo é tomar os efeitos pela causa e a causa pelos efeitos.
Para atingir os seus objetivos, o evangelicalismo atual apela para qualquer aspecto que exerça influência sobre as massas desorientadas e perdidas em seus dramas. Busca, entre outras coisas, a justiça social ensinando o progresso material como sinal de aprovação divina, prega a massificação do que chama de evangelho, pretende produzir arrependimento exterior no pecador, simula uma certa valorização da Bíblia, porém, apenas como um amuleto místico,  visa encher as igrejas e arrecadar muito dinheiro. Rejeita a aproximação ao protestantismo histórico e reformado, nega a chamada baixa crítica e o ecumenismo. Torna-se, assim, uma espécie de "síndrome de Lúcifer", a saber, magnifica o desejo de ser "deus" nos homens decaídos. Exalta as experiências sensoriais e almáticas como sinal de poder espiritual. Neste sentido os torna mil vezes mais perdidos, pois não lhes mostra o verdadeiro evangelho.
Sola Gratia!

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