Ef. 5: 1 a 16 - "Sede pois imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos, nem baixeza, nem conversa tola, nem gracejos indecentes, coisas essas que não convêm; mas antes ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto não sejais participantes com eles; pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (pois o fruto da luz está em toda a bondade, e justiça e verdade), provando o que é agradável ao Senhor; e não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as; porque as coisas feitas por eles em oculto, até o dizê-las é vergonhoso. Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz. Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus."
Existe uma diferença lexicográfica entre mal e mau. O primeiro termo é um substantivo masculino que indica aquilo que é nocivo, prejudicial, maléfico ou que prejudica ou fere; o segundo termo é um adjetivo o qual qualifica aquilo que causa mal, prejuízo ou moléstia. É quase imperceptível a diferença entre mal e mau, salvo, pela função gramatical de cada um. Entretanto, mais relevante do que a semântica dos dois tropos é a sua significação espiritual. Isto porque determina consequências eternas.
A sociedade, desde tempos imemoriais, reputa o bem a Deus e o mal ao Diabo. Esta ideia fixa foi inoculada pela igreja no afã de prender ou sujeitar as pessoas sob o seu controle e falsa proteção. Nem sempre o que reputa-se como o bem é o bem e o que reputa-se como o mal é o mal. É como aquele adágio popular que diz: "há males que veem para bem." Inversamente, pode-se dizer: "há bem que vem para mal." Ainda hoje há aqueles os quais afirmam, categoricamente que, se alguém se afasta de uma igreja institucional, perde a comunhão com Deus. Não discernem estes cegos espirituais que existe profunda diferença entre a Igreja fundada sobre a Rocha Eterna e as igrejas fundadas por homens torpes e gananciosos. As Escrituras afirmam que Deus não induz ninguém ao mal conforme Tg. 1: 13 - "Ninguém, sendo tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta." Assim, a tentação não provém de Deus, mas do próprio homem. O apóstolo Tiago explica, no contexto, a fonte da tentação que produz o mal no homem conforme Tg. 1:14 - "Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência." Então, fica evidente que são os desejos do coração do homem que o induz e conduz ao mal. Este mal é o que determina aquilo que é mau. O mal foi inoculado no homem quando este escolheu livremente entre ouvir a palavra de Deus ou ouvir a palavra do Diabo conforme Gn. 2: 16 e 17 - "Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: de toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Esta foi, portanto, a pregação de Deus. A prédica do Diabo afirma o seguinte, conforme Gn. 3: 4 e 5 - "Disse a serpente à mulher: certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." A diferença, portanto, está entre "certamente morrerás" e "certamente não morrereis." A palavra de Deus é uma sentença terminativa, enquanto a fala do Diabo é uma afirmação negativa. O propósito de Satanás era anular a palavra de Deus por meio de uma ilusão de autodeterminação do homem. Tal falsa autonomia provocaria a ruptura da comunhão entre Criador e criatura.
O texto que abre esta instância inicia-se imperativamente, dizendo que o cristão deve ser imitador de Deus como filhos amados por ele. E a consequência disto é andar em amor, semelhantemente, Cristo andou. Entretanto, este ensino não é para todos os homens, porquanto, todos pecaram e demitidos estão da glória de Deus conforme Rm. 3:23 - "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." Pecar, neste texto, não é uma referência ao cometimento de atos falhos, erros e deslizes morais. É, antes, ser controlado por uma natureza desligada de Deus e influenciada pelo Diabo. Isto é demonstrado por Deus antes do dilúvio conforme Gn. 6:5 - "Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente." Veja, era toda a imaginação dos pensamento do coração e não apenas por algumas vezes ou momentaneamente.
Desta forma, cometer atos pecaminosos é uma consequência da natureza pecaminosa. Portanto, o homem é pecador por natureza e não por atos primeiramente. Implica em que, o homem comete atos pecaminosos, porque possui uma natureza pecaminosa. É como a relação de causa e consequência. Enquanto esta fonte pecaminosa não é crucificada com Cristo e ressuscitada juntamente com ele, o homem não tem a sua situação espiritual alterada. O religioso sempre inverte tais ensinos bíblicos, porque não teve a sua mente renovada em Cristo conforme Rm. 12:2 - "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." A não conformidade, isto é, tomar a fôrma deste mundo, não é um ato de livre escolha ou de justiça própria. É, antes, a ação da morte, na morte de Cristo conforme Gl. 2:20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim." Estar crucificado com Cristo não é uma metáfora utilizada por Paulo, mas é um ato de fé concedido pela graça. Isto implica em que o nascido de Deus crê que foi crucificado com Cristo e que com ele ressuscitou. É um ato de fé e a fé não é virtude humana, mas um dom de Deus.
O texto de base afirma que, por todos os atos e atitudes de maldade é que vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Isto porque há duas filiações no mundo: ou você é feito filho de Deus, ou você é filho da desobediência que provém do Diabo. Não quer dizer que aqueles são gente boa e estes gente má. Ambos nasceram sob a mesma natureza. A diferença é a eleição da graça para nascer de novo conforme Rm. 11: 5 e 6 - "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça." Resumindo: a salvação é concessão de Deus e não mérito humano.
O texto de abertura termina dizendo que os dias são maus. Entretanto, as pessoas sempre julgam que tal maldade é sempre a dos outros. Não, não é. É de todos, porque todos são portadores da natureza pecaminosa onde reside o mal, e, consequentemente, o que é mau. O fato de alguém não praticar este ou aquele ato de maldade, não significa que não tenha natureza para tanto. O diferencial é quando esta natureza foi retirada na morte com Cristo e em sua consequente ressurreição. O nascido de Deus será tratado e aperfeiçoado em Cristo até o dia final. Nele, não há mais o império do mal, ainda que tenha capacidade para isto.
Por fim, Deus resolveu não mais ferir a Terra, por causa dos seus eleitos e regenerados conforme Gn. 8:11 - "Sentiu o Senhor o suave cheiro e disse em seu coração: não tornarei mais a amaldiçoar a Terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice; nem tornarei mais a ferir todo vivente, como acabo de fazer." A mudança de mente de Deus foi em função de alguns voltarem a adorá-lo e esperar no redentor que é Cristo.
Sola Gratia!