março 01, 2016

LIVRE ARBÍTRIO x SERVO ARBÍTRIO II

Jo. 8: 31 a 36 - "Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: sereis livres? Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
No estudo anterior foram levantadas, ainda que superficialmente, algumas questões sobre as origens e a natureza da doutrina do "livre arbítrio." Isto se faz necessário, porque muitas pessoas recebem os ensinos sem questioná-los e, principalmente, sem criticá-los à luz do juízo das Escrituras. Ora, pela própria proposta contida nesta doutrina, vê-se que a tal não se sustenta por suas próprias premissas básicas. Como pode algo ou alguém ser absolutamente livre se possui inumeráveis dependências psíquicas, fisiológicas, genéticas, financeiras, parentais? Para que algo ou alguém seja livre, o tal deve bastar-se a si mesmo, ou seja, não pode ter absolutamente nenhuma causa determinante e necessária atuando sobre si. Terá de ser sem início e sem fim. Não poderá ser refém do tempo e do espaço. Não pode ser detido ou limitado por nada e ninguém. Portanto, não há nada e ninguém livre nos termos propostos por este ensino. Não sendo total e absolutamente livre, também não pode arbitrar sobre nada com isenção e perfeito juízo. 
Muitos religiosos de diferentes crenças acreditam que são livres para fazer escolhas. Acreditam ainda que tais escolhas determinam sua vida diária e o seu futuro, inclusive, o espiritual. Confundem, os tais religiosos, escolhas naturais e mecânicas, as quais foram programadas para que possam existir relativamente ao mundo e as coisas. Portanto, escolher comer, beber, defecar, fazer sexo, vestir esta ou aquela roupa, ir a este ou aquele lugar são escolhas naturais impostas pelas circunstâncias existenciais. Não são escolhas livres, pois são determinadas pelas necessidades e algo que é necessário está determinado e não é livre. Escolhas morais, por exemplo, são determinadas por fatores culturais, religiosos, legais e recaem no campo dos usos e costumes. Algo que era altamente condenável na Idade Média, hoje  não o é mais e vice-versa. O homem é um ser moral, porém o que deixam de considerar é que até mesmo a moralidade está circunvalada por diversas necessidades determinadas pelas circunstâncias dominantes em dado momento histórico, psicológico e legal.
Outro aspecto relevante na questão das escolhas é que elas estão subordinadas a uma natureza dada no homem. Tal natureza está absolutamente contaminada pela natureza pecaminosa, portanto, não é livre e qualquer juízo advindo dela está igualmente contaminado pelo relativismo procedente da corrupção.
O texto de abertura é parte de um diálogo maior entre Jesus, o Cristo e a liderança religiosa de Israel daquele tempo. Jesus sentencia aos judeus que, se permanecessem em sua palavra, a saber, no seu ensino, doutrina ou evangelho seriam seus discípulos e seriam livres. A reação dos interlocutores que, exteriormente haviam declarado crer no Cristo, foi avassaladora e contraditória. De fato, não criam em Jesus, o Cristo, porque responderam à sua assertiva com a alegação de que nunca foram escravos e que tinham uma linhagem étnica pura da casa do patriarca Abraão. A natureza pecaminosa é tão determinante do estado de dependência e relativização que, os judeus apelaram para origem étnica e negaram sua própria história pregressa. Ora, foram escravos no Egito por 400 anos, na Babilônia por 70 anos, na Assíria por mais 40 anos e, finalmente, sofreram a última grande diáspora do ano 70 d.C. até o ano de 1948. Portanto, a cegueira espiritual deturpa a cegueira moral, levando o homem a não ver-se a si mesmo como dependente de circunstâncias. À época do referido diálogo, os judeus se achavam dominados pelo Império Romano em uma forma mais branda de escravidão. Logo, não eram livres, nem politica, nem espiritualmente.
Bem, Jesus, o Cristo diante da reação dos judeus religiosos não teve alternativa, a não ser conduzi-los à uma dimensão maior: a escravidão espiritual.  O Cristo os relembrou que, qualquer que comete pecado é escravo do pecado. Portanto, não é livre como sua presunção e arrogância supõe. O pecado a que alude o Cristo é a naturezas pecaminosa, além, obviamente, dos atos pecaminosos cometidos por atos e intenções. Muitos religiosos não têm revelação para discernir tais diferenças. Esta é uma falha do sistema religioso que, não conhecendo a verdade vende meias verdades nos púlpitos das igrejas. O pecado que separa e escraviza o homem ao domínio das trevas é a incredulidade, estando isto definido por Jesus, o Cristo em Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." Foi exatamente isto que determinou o pecado original aos pais ancestrais no Éden: descreram na Palavra de Deus e deram crédito à palavra de Satanás. Esta foi a razão da queda e decadência cujas consequências se estenderam a toda humanidade conforme Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram."
A libertação plena e absoluta é aquela obtida na cruz por fé que o pecador foi incluído na morte de Cristo, bem como na sua consequente ressurreição. Por este método determinado por Deus antes dos tempos eternos é que se dá a perfeita liberdade. Jesus, o Cristo é o método divino concretizado e executado conforme Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Portanto, não há outro caminho fora de Cristo. A própria palavra caminho significa método. Jesus, o Cristo é o método de Deus para libertar totalmente o homem da sua escravidão espiritual. 
Desta forma, nem o homem é livre, e, muito menos, pode arbitrar sendo escravo de sua própria natureza decaída. 
Sola Gratia!