segunda-feira, novembro 2

PAI PRÓDIGO, FILHO VIVIFICADO E IRMÃO LEGALISTA

Lc. 15: 11 a 32 - "Disse-lhe mais: certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. Caindo, porém, em si, disse: quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. Disse-lhe o filho: pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se. Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças; e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. Respondeu-lhe este: chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. Replicou-lhe o pai: filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado."
O texto escriturístico em sua forma original era inteiro, a saber, corrido. Não haviam subdivisões em capítulos, versículos e títulos. A denominada erudição teológica acrescentou tais elementos, imaginando que facilitaria a sua leitura e compreensão. Desta forma deu-se início a uma série de intervenções humanas que em nada pode modificar a revelação de Deus ao homem. Talvez facilite apenas a compreensão intelectual, mas não a revelação espiritual. O problema da falta de conhecimento de Deus está no homem e não nos textos. No contexto que abre este estudo foi colocado o título "a parábola do filho pródigo." Todavia, Jesus não o chamou desta forma. Trata-se de mais uma intervenção dedutiva com base na lógica humana.
Pródigo é um adjetivo que admite dois sentidos: um sentido pejorativo e outro axiologicamente positivo. O sentido negativo afirma que pródigo é o indivíduo que gasta mais do que o necessário e dissipa os seus bens sem pensar no futuro. Este foi o título que, erroneamente, a chamada erudição bíblica deu ao texto da parábola de Jesus, o Cristo. Preferiram enfocar o aspecto de erro e culpa no filho que gastou a herança, enquanto o foco do texto é o amor do pai que tipifica Deus. O outro sentido afirma que pródigo é alguém generoso, liberal, magnânimo, fecundo e produtivo. Enquanto substantivo masculino faz referência ao indivíduo pródigo em qualquer dos sentidos. Portanto, positivamente, o verdadeiro pródigo no texto bíblico é o pai, visto que recebeu o filho com liberalidade e alegria, oferecendo-lhe um banquete e muitos presentes. 
O texto é rico em simbologia e por meio de linguagem figurada indica a relação de Deus com os eleitos e com os não eleitos. Indica as duas formas de relação e de posição dos homens diante de Deus. O pai que recebe o filho perdulário e desregrado que retorna, o faz com amor, liberalidade e alegria. O filho legalista é o que permaneceu com o pai, trabalhando honestamente, economizando e cumprindo regras. O filho mais velho representa aquela classe de pessoas que agem segundo códigos de moralidade, mas sem compreender o que é a graça e a misericórdia. Os que assim procedem são legalistas e se tornam escravos dos preceitos, dos ritos e das regras estabelecidas. No campo espiritual, acreditam que podem ganhar a vida eterna por cumprir normas apenas seguindo-as. Todavia, são pessoas ciumentas, rancorosas e magoadas, porque apresentam-se por meio dos seus méritos e não confiam na graça. São do grupo dos que tentam se aproximar de Deus pelo desempenho da justiça própria e pelos méritos próprios. Tais pessoas são, na essência, como Caim que, apresentou a oferta do próprio esforço e da justiça própria. Caim não entendeu o plano de Deus para a redenção do pecador. Contrariamente Abel entendeu que o projeto de Deus para redimir o pecador era por meio do substituto legal e perfeito. Por esta razão Deus se agradou de Abel e da sua oferta, mas rejeitou a Caim e a sua oferta. O resultado foi o assassinato de Abel por seu irmão Caim, porque este não suportava ser rejeitado. Desta forma eliminou o pecador aceito para tentar ganhar a primazia da adoração a Deus. Assim, são muitos religiosos que, por cumprirem esforços de religião exterior, regra sobre regra, preceito sobre preceito se julgam melhores e mais merecedores da graça de Deus.
O filho que recebeu a herança antecipada e saiu pelo mundo a gastá-la dissolutamente representa o homem que recebeu de Deus o domínio sobre toda a criação, porém descrendo na Palavra de Deus perdeu a primazia. Adão foi o primeiro homem a entrar pelo caminho do esforço próprio e do mérito. Ouviu uma segunda mensagem que o incentivava a ser, como Deus, portador da autonomia. Com a queda do primeiro Adão caiu toda a humanidade conforme Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." O filho magoado da parábola de Jesus, o Cristo é o homem decaído e herdeiro da natureza pecaminosa de Adão. É um legítimo representante do primeiro Adão. O filho que esbanjou os bens é igualmente da raça adâmica, porém recebeu a graça para crer que poderia retornar ao recinto do pai e pedir perdão. Assim, as Escrituras mostram a nítida linha que separa eleitos e não eleitos. Os eleitos recebem a graça para enxergar sua própria natureza pecaminosa e ganham a fé para reconciliar-se com Deus. Os arminianos e legalistas decaem em seus semblantes e se enchem de rancor, ciúmes, vingança e maledicência contra os eleitos de Deus.
Pródigo é o pai nesta parábola, porque mesmo diante do filho dissoluto se mostrou perdoador e misericordioso. O filho gastador, por sua vez, confiou no amor do pai e não em si mesmo. Confessou sua culpa do pecado contra Deus e contra o próprio pai. Aproximou-se do pai sem nenhum mérito ou desempenho de justiça própria. Agiu pelo mesmo princípio de Abel e sua oferta com base na justiça do substituto.
Sola Scriptura!

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