quinta-feira, novembro 27

AS ESCAMAS IMPEDITIVAS DA RELIGIÃO

Rm. 9: 6 a 16 e 22 a 24 - "Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente isso, mas também a Rebeca, que havia concebido de um, de Isaque, nosso pai (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito: o maior servirá o menor. Como está escrito: amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia. E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"
Religião é uma proposta que pretende, por meio de obras de justiça e de esforço, convencer Deus a ser favorável ao homem. Ou ainda, religião é uma invenção humana para tentar conseguir a salvação por conta própria. Simplificadamente, religião significa a tentativa humana de religar o que foi desligado por causa do pecado original. Desta forma, o religioso cria diversos e diferentes sistemas de crenças para atingir tal objetivo. Entretanto, as Escrituras ensinam que o homem não pode religar-se a Deus nem por sua vontade, nem por linhagens étnicas, nem por escolha moral conforme Jo. 1:12 e 13 - "Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus." É a vontade de Deus que leva o pecador receber a Cristo. Estes são os que passam a crer no seu nome, porque a estes foi dado o poder de serem feitos filhos de Deus. Eles não conquistaram nada por eles mesmos, antes foram conquistados pela graça da vontade de Deus. A transferência do homem do reino das trevas para o reino do amor de Deus não é operada pelo nascimento biológico, pela descendência étnica, nem pela vontade da mente ou da inteligência. O novo nascimento ou nascimento do alto é operado pela vontade de Deus. Tanto Jó, como Paulo eram corretos religiosos, nem por isso, estavam purificados da natureza pecaminosa que os separava de Deus. Foi necessário um duro processo de regeneração neles por meio da cruz. 
A religião serve para cegar mais o pecador, porque este introjecta normas, regras, ritos e preceitos que obscurecem e substituem a verdade. Tais sistemas em geral, usam a Bíblia, porém, interpretadas e aplicadas pelo senso de crença do homem em sua natureza pecaminosa. O pecado, não aniquilado na cruz, determina no homem natural uma tendência à adaptação do texto bíblico ao que agrada a sua alma.  O religioso, via de regra, se apega aos valores comportamentais e aos dogmas da religião, fechando os filtros à revelação das Escrituras. Superdimensiona os valores morais no lugar da pessoa de Cristo que é, de fato, quem produz a santidade nos eleitos e regenerados. O excesso de regras comportamentais e rituais da religião exterior funcionam como uma densa cortina que impede a visão da simplicidade do evangelho. Uma das mais eficazes estratégias do Diabo é manter os religiosos todo o tempo ocupados com coisas relacionadas a Deus, a Cristo, a Bíblia e a Igreja, mas estes não veem a verdade. O inimigo substitui a verdade por diversas verdades relativas e por coisas ou práticas da religião. No século XIX, Watchman Nee disse: "... tenho inveja das lavadeiras da minha aldeia, porque, enquanto eu tenho a Palavra de Deus nas mãos, elas têm o Deus da Palavra." Ele foi um filho do Altíssimo que passou a maior parte da vida em prisões na China Comunista, por causa do evangelho. Acontece, que, após este homem ter recebido o ensino verdadeiro por meio de Jesse-Pen Lewis veio a conhecer a verdade que verdadeiramente liberta, a saber, Cristo e este crucificado.
No texto que abre esta instância, o apóstolo Paulo vem falando da sua grande tristeza por não ter sido separado por Deus para anunciar o evangelho aos judeus e aos seus parentes. Demonstra que, apesar de os judeus serem israelitas e terem a lei, os pactos, a doação do Cristo, o culto e as promessas, nem todos seriam salvos. Afirma ainda que, não é pelo fato de que nem todos os judeus receberam a verdade, Deus houvera falhado. Mostra que nem todos os descendentes da promessa feita a Abraão foram eleitos para a salvação. Por esta razão João afirma sobre Jesus: "veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam." Isto equivale dizer que o salvador veio, primeiramente, ao povo de Israel, mas a maioria não o reconheceu como o salvador deles. Então, a questão não é de o pecador ter um sistema religioso, praticar ritos e se submeter a um conjuntos de preceito e regras morais. A questão é de Deus ter escrito os nomes dos pecadores eleitos no livro da vida do Cordeiro.
A eleição e a predestinação são doutrinas bíblicas e não invencionices de quem quer que seja. Na verdade são doutrinas extremamente duras para o senso de justiça humana. Especialmente o religioso cheio de justiça própria abre logo o seu baú de justificativas para inocentar Deus desta doutrina. Eles alegam que Deus é amor e que jamais rejeitaria alguém que é correto e que aceita Jesus. Todavia, desconhecem que o homem decaído não pode aceitar Jesus, o Cristo. É ele quem os aceita na cruz para aniquilação das suas naturezas pecaminosas. Entretanto, correto até o anjo querubim que veio a ser Satanás era até o dia em que foi achada nele a iniquidade. Correto, Jó era, sendo, inclusive, elogiado por Deus diante de Satanás. Correto, também era Paulo e zeloso dos pactos do judaísmo. 
Paulo mostra no texto que Jacó e Esaú sequer haviam nascido, mas Deus já havia escolhido a Jacó. Os gêmeos sequer haviam feito o bem ou o mal, mas Deus já havia feito a escolha por Jacó. Então, não é uma questão de fazer o bem ou o mal, pois estas realidades fazem parte da natureza humana. Além do que, o bem e o mal é, primeiramente, uma questão de conceito ou ponto de vista antes de se tornar uma prática. O que é tido como o mal em uma circunstância pode ser tido como o bem em outra. Deus determinou que Esaú seria servo de Jacó e assim aconteceu historicamente, porque seus descendentes foram agrupados na tribo de Judá. Isto não implica em que Esaú tenha sido amaldiçoado e que teve uma vida cheia de sofrimentos, miséria e pobreza. A escolha ou eleição é uma questão  espiritual e não material.
Os advogados de Deus logo questionam que o ensino da doutrina da eleição faz Deus se tornar injusto. Paulo mesmo responde a isto no texto: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum." A explicação abrange a soberania de Deus: "... terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia." Ele é soberano para fazer o que lhe aprouver.
O texto mostra claramente que foi Deus quem preparou os vasos para ira e perdição e os vasos de misericórdia para a sua glória. Ambos foram feitos por Deus e não um pelo Diabo e o outro por Deus como se ensina, comumente, nas religiões institucionais e humanistas. Mostra que é Deus quem usa de misericórdia e de justiça com quem quer. A eleição não depende de quem pratica esta ou aquela religião. Não depende de quem corre atrás de boas obras ou de bom comportamento. Estas realidades são operadas por Deus que realiza o querer e o efetuar nas vontades dos que são d'Ele. Isto é soberania e não injustiça, pois ele poderia deixar todos na condenação do pecado.
No texto original diz que Deus amou a Jacó e odiou a Esaú. Algumas traduções humanistas mudaram a palavra "odiei" para "amou menos" ou mesmo "aborreci". Todavia, o texto original em grego koinê diz que Deus odiou a Esaú e não que amou menos ou aborreceu. Em outro texto é dito que, mesmo depois de Esaú ter chorado e desejado retomar a bênção, Deus não reconsiderou conforme Hb. 12:27 - "Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado; porque não achou lugar de arrependimento, ainda que o buscou diligentemente com lágrimas.Esaú buscou arrependimento com lágrimas, porém não o encontrou. Desta forma os religiosos incrédulos às Escrituras deveriam agendar uma audiência com Deus para questioná-lo sobre a sua soberania em amar a um e rejeitar ao outro.
Sola Scriptura! 

terça-feira, novembro 25

A UNS É DADO CONHECER, MAS A OUTROS NÃO É DADO

Lc. 8:10 - " Respondeu ele: a vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros se fala por parábolas; para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam."
Um dos mais evidentes sinais de uma pessoa que possui apenas religião é a impossibilidade de receber o ensino bíblico como sendo verdadeiro. O homem natural, o qual não pode discernir as coisas do espírito, ajunta para si um amontoado de valores morais, normas, regras e preceitos religiosos. Adota determinados comportamentos apenas exteriores supostamente apoiados na Bíblia e chama a tudo isto de verdade. Entretanto, tal verdade é puramente humana e não a verdade como o próprio Cristo conforme Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." A verdade, a vida e o caminho não são metodologias, doutrinas ou preceitos. É, antes, uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. A verdade não é uma concepção filosófica, mas uma pessoa que doou a própria vida. Como propõe o texto, ninguém pode chegar ao Pai se não for por meio de Cristo que é a verdade. Deus não tem coisas para dar ao homem, ele tem uma única dádiva, a saber, Cristo. Quem tem Cristo tem tudo, porque ele é o tudo de Deus conforme Cl. 3:11c - "... mas Cristo é tudo em todos." Deus fez todas as coisas  convergirem para Cristo e não para coisas conforme Cl. 1:16 e 17 - "... porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas."
Outro sinal claro que a pessoa é apenas religiosa é o legalismo. Por legalismo entende-se a exigência de perfeição e bom comportamento moral como evidência da verdade. Ora, muitos ateus possuem comportamento mais íntegro e reto que muitos religiosos. O próprio Cristo ensinou que os homens naturais são mais prudentes ou espertos que os filhos da luz conforme Lc. 16:8b - ... porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do que os filhos da luz." Isto se deve ao fato que os filhos deste mundo têm os seus corações inclinados para o mundo e seu sistema, enquanto os filhos da luz seguem a luz que é Cristo assentado nos lugares celestiais. O legalismo é o resultado das exigências das igrejas institucionais que, não tendo o ensino da verdade, se apegam a promover apenas reforma moral nas pessoas. Tomam o bom comportamento misturam a alguns preceitos bíblicos e apontam isto como evidência de salvação. Invertem a ordem dos fatos e do ensino da verdade para satisfazer e gratificar suas almas, pela lei do sacrifício de si mesmos. Oferecem apenas religião exterior, a saber, obras de justiça própria e méritos. Muitos vivem a vida toda de modo reto, íntegro, temente e desviando-se do que lhes parece mal. Entretanto, não foram convertidos, porque preferiram trocar a conversão monérgica, pelas ações humanas sinérgicas. Substituem o dom de Deus pelos seus próprios sacrifícios de tolos. Agem como Caim que teve a sua oferta rejeitada, enquanto Abel foi aceito, porque se aproximou de Deus através do substituto. Caim quis agradar a Deus pelo seu esforço, enquanto Abel agradou a Deus por se incluir no cordeiro que representava Cristo crucificado. 
Por fim, um religioso, quando confrontado, monta um perímetro em torno de si mesmo com base em defensivas legalistas. Muitas das suas defesas giram em torno de opiniões de seus líderes, de textos bíblicos adaptados segundo as suas capacidades almáticas ou mesmo de dogmas e preceitos denominacionais. Como não têm discernimento espiritual, desqualificam a mensagem da verdade, acusando ou levantando suspeitas morais sobre o mensageiro. Ora, a  obra de Deus é realizada no mundo pelas pessoas menos prováveis. Muitos dos homens e mulheres que foram usados por Deus desde os tempos mais remotos, não seriam aceitos em muitas igrejas de hoje. Na própria genealogia de Jesus há uma prostituta, Raabe, uma pagã, Rute e Salomão filho da mulher de Urias, o qual Davi expôs para ser morto. Deus não age no Universo com base na retidão, integridade e obras de justiça dos  homens. Fosse assim, Jó não teria de passar por aquele penoso processo de conversão verdadeira. Davi jamais alcançaria um coração segundo Deus, pois foi adúltero, assassino sanguinário e rebelde. Abraão era filho de idólatras e levou muitos anos para receber a imputação da justiça de Cristo. Paulo consentiu na morte de Estevão, perseguiu a Igreja e prendeu cristãos antes de ganhar a graça para a redenção. O fato é que a retidão, a integridade e a justiça dos eleitos e regenerados pertencem a Cristo e não a eles mesmos. Do contrário, Cristo seria absolutamente desnecessário à salvação.
No texto de abertura Jesus, o Cristo mostra aos discípulos que a Palavra de Deus é semeada em diversos e diferentes tipos de terrenos. Em cada terreno ela surte um determinado efeito, mas apenas em um ela germina, frutifica e permanece. Os discípulos não compreenderam muito bem o ensino, porque o raciocínio deles estava viciado na lógica da religião. Por isso, esperavam um ensino que fosse compatível com seus dogmas. Jesus lhes mostra que o ensino por parábolas era exatamente, porque a verdade não é dada a todos de igual modo. A uns é dado conhecer os mistérios de Deus, mas a outros não. Jesus, o Cristo ainda explica mais pormenorizadamente que ensinava por curvas, justamente pra que alguns não vissem, não ouvissem e não entendessem. Cristo foi mais enfático no registro de Mc. 4: 11 e 12 - "E ele lhes disse: a vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados." Vê-se que o objetivo de não ensinar a todos do mesmo modo era para que aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida, não vissem, não percebessem, não ouvissem, não entendessem, não se convertessem e não fossem perdoados. 
O religioso legalista quando se depara com este ensino reage como se o tal ensino não fosse de Cristo, mas de quem o está anunciando. Ele se põe  na defesa da justiça de Deus, como se ele necessitasse de algum advogado. O religioso prefere alegar insanidade e  inverdade de quem anuncia a mensagem, que abrir os filtros para receber como revelação de Deus. Neste ponto ele se põe na mesma condição dos que ouviam apenas a parábola como uma historieta, mas não como revelação dos mistérios do reino de Deus. 
Ora, se Deus tivesse decidido salvar a todos os homens, ele certamente os salvariam a todos. Nada e ninguém pode deter os desígnios de Deus, porque, agindo ele, quem o impedirá? Porém, é  perceptível que nem todos os homens recebem graça para crer, logo, a salvação não é para todos. O excepcional é Deus ter resolvido salvar pela Graça a alguns, pois o normal seria ele deixar que todos se perdessem em seus delitos e pecados. Esta questão não é decidida por pregadores, líderes religiosos ou mesmo pela Teologia. É o que as Escrituras ensinam e que se percebe claramente na realidade concreta. 
Quando, pois, a Graça atinge um pecador cujo nome está escrito no livro da vida do Cordeiro, a sua reação é a mesma de Jó: "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza." Jó possuía retidão, integridade, desvia-se do mal e temia a Deus, porém isto era apenas religião. Ele era portador de uma religião de segunda mão, porque apenas reproduzia o que ouvia falar sobre a verdade, mas não conhecia a própria verdade. Ele tinha uma espécie de fé na fé. Finalmente, Deus concedeu a Jó ver com os olhos do espírito e não apenas sentir com as impressões da alma. O resultado da visão de Cristo levantado da Terra foi abominar-se a si mesmo no pó e na cinza. Jó passou pelo processo da metanoia e não por conversão religiosa. Ao contrário, Jó foi convertido da religião para a verdade que verdadeiramente liberta.
Sola Gratia!

domingo, novembro 23

ESCOLHEDOR, ESCOLHAS E ESCOLHIDOS

Jo. 15: 16 a 19 - "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia."
Uma das maiores dificuldades na compreensão da doutrina da eleição e predestinação é a questão das escolhas. Tal limitação se dá, porque o homem em seu estado pecaminoso não consegue abstrair-se de si mesmo e ver  pelas lentes de Cristo. O pecador consegue, no máximo, ver pela ótica da religião que atrela tudo ao esforço e ao mérito. Entende-se por religião todo e qualquer culto cuja origem e centralidade está no homem e na tentativa de religar-se a Deus. A prática religiosa é, em geral, cercada por rituais, dogmas, regras e preceitos os quais seus líderes consagram como verdades. A religião busca a gratificação da alma e não a sua redenção pela cruz e na cruz. Na religião não buscam, porque não podem, o exame das Escrituras como revelação. Buscam nelas tão somente o embasamento teórico para, supostamente, dar suporte a um conjunto de crenças. Chamam, comumente, tais crenças de fé e atribuem-na a Deus ou a uma força sobrenatural. Todavia, Deus não está nisto!
Escolher é um verbo que pode ser transitivo direto ou indireto e bitransitivo, portanto, não traz significação sem um complemento que lhe dê mais exatidão. Como transitivo direto significa 'manifestar preferência por algo ou alguém'. Como transitivo indireto significa 'fazer opção entre duas ou mais coisas ou pessoas'. Desta forma é um verbo que permite a seres inteligentes selecionar, separar, aproveitar, marcar e assinalar situações, aspectos, coisas e pessoas. Vê-se que se trata de atitudes determinadas por desejos da mente. Portanto, não há em termos de escolhas naturais qualquer possibilidade de "livre arbítrio". Para que uma escolha seja absolutamente livre ela não poderá ser determinada nem mesmo pela vontade e o desejo do homem. Portanto, se nem as escolhas naturais são livres, imagine as escolhas espirituais a um ser decaído?
O homem em seu estado natural não sabe discernir entre escolhas naturais e escolhas espirituais. I Co. 2: 14 e 15 - "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido." Por esta razão é que a falsa doutrina do "livre arbítrio" foi entronizada nas igrejas como sendo uma explicação para o homem "aceitar" ou "rejeitar" o evangelho. Esta tem sido uma das mais eficientes mentiras diabólicas proveniente do Gnosticismo. É lamentável ver pessoas que não sabem sequer quem é Jesus, o Cristo e se atrevem a fazer afirmações de ensinos de homens e demônios conforme I Tm. 4:1 - "Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios...
A questão se torna mais grave, porque quase todo religioso pertencente a uma determinada denominação dita cristão, não se vê como um religioso ou como homem natural. O religioso é iludido por doutrinas humanas e de demônios, confundindo fé com sentimentos. Fé se define por ser um dom de Deus e algo invisível e intocável. Os sentimentos são manifestações almáticas e emocionais, portanto, tudo o que é sentido não procede da fé. O religioso é movido pelo que sente e não pelo que crê pela fé como dom de Deus e não como virtude humana. Por esta razão há tanta mentira, dor e sofrimento dentro das igrejas institucionais. Há entre religiosos disputas, ciúmes, contendas, falsidades e enganos.
O texto de abertura demonstra que foi Jesus, o Cristo quem escolheu os seus discípulos e não o contrário. Este é um princípio extensivo a todos os discípulos no tempo e no espaço. Cristo não só escolheu, como também designou o que cada um deles irá fazer durante a vida. A ordem é que os discípulos devem ir pela vida e dar muitos frutos. Os frutos a que alude o texto são, de fato, o fruto do Espírito concedido a cada um dos regenerados e não um amontoado de boas obras humanas. As obras humanas devem ser consequências do dom de Deus e não a razão para obtê-lo. As boas obras foram feitas de antemão para que os discípulos andassem nelas e não o contrário como se supõe nos círculos religiosos.
A confirmação da escolha de Cristo é que o fruto permanece, o amor é real e as petições são respondidas por Deus. Isto não implica em uma espécie de barganha, na qual Deus se obriga a conceder pedidos egolátricos e para o deleite do homem. Ele responde segundo a sua vontade e não segundo a vontade do homem. A primeira evidência que alguém está no centro da vontade de Deus é o ódio do mundo. Isto ocorre, porque são realidades absolutamente opostas: o mundo odeia o que não lhe gratifica e o Espírito de Cristo odeia a natureza pecaminosa do mundo. Não há ponto de conciliação entre o pecado e a vida de Cristo. Por pecado subentende-se a natureza pecaminosa que é a incredulidade. Não se refere aos atos falhos, erros e deslizes cometidos pelos nascidos de Deus ao longo do processo do revestimento de Cristo. O que Cristo veio destruir, aniquilar e retirar do mundo foi o pecado, a saber, a incredulidade conforme Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." Quanto aos atos pecaminosos persistentes por causa da carne serão tratados ao longo da experiência do novo nascido. Eles são tratados por Deus no processo de construção da semelhança de Cristo nos eleitos. Porém, da ótica de Deus, tanto o pecado, como os atos pecaminosos já foram anulados na cruz.
O ódio do mundo pode variar desde o ódio velado ou oculto até o mais ostensivo que tem dizimado milhares de cristãos. À medida em que o tempo se escoa para o retorno do Grande Rei, a tendência é o aumento do ódio velado ou ostensivo. Não se iluda, pois Deus não moverá um dedo para evitar que as Escrituras se cumpram exatamente como o previsto. O mundo odeia a verdade e a verdade odeia o  que é originado no mundo. O diferencial são apenas os escolhidos de Deus e a sua escolha se deu antes dos tempos eternos conforme II Tm. 1:9 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos..."
O maior engano na vida do homem é supor que é filho de Deus sem ter passado pelo novo nascimento. Para nascer de novo é necessário que tenha sido incluído na morte de Cristo, bem como na sua consequente ressurreição conforme Gl. 2: 20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."
Sola Fide!!!