quarta-feira, março 26

O HOMEM INTERIOR x O HOMEM EXTERIOR

Rm. 7: 22 e 23 - "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros."
Personalidade provém de pessoa do latim 'persona' ou 'personae'. Outro termo correlato é 'personagem', ou seja, uma figura fictícia representada por um ator ou objeto de arte. Pois bem, destas realidades semânticas surge a ideia que cada ser humano é uma pessoa, a saber, é um ser dotado de personalidade, além de assumir atos e atitudes de pessoalidade. No teatro grego, a personagem e a sua personalidade eram representadas, na maior parte das vezes, por um único ator. O ator atuava em cada ato paramentado com suas indumentárias, sendo essencial o uso de uma máscara. Assim, para cada ato o ator trocava suas vestes e colocava uma máscara diferente, caracterizando cada personagem. O homem, em sua realidade circunstanciada pela natureza pecaminosa, nada mais é que um ator, representando uma personagem que se utiliza de diversas e diferentes máscaras no cenário da existência. Por exemplo, a maioria das pessoas não se comporta do mesmo modo em um velório e em um baile de carnaval. Dependendo dos lugares a que são conduzidas ou se conduzem, as pessoas se vestem de maneiras diferentes, como também assumem discursos e narrativas diferentes. Por esta razão é tão difícil conviver socialmente, pois nunca se sabe quando e quem uma pessoa decaída está representando.
O homem é, segundo as Escrituras, um ser tripartite conforme Hb. 4:12 - "... e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração..." O texto em seu contexto faz referência ao poder da Palavra de Deus quando penetra no coração do homem. Vê-se claramente que o homem, objeto da mensagem da cruz, é um ser dotado de corpo, alma e espírito. Em toda extensão das Escrituras não se fala em salvação ou purificação do espírito do homem, mas na salvação da sua alma. Isto porque é a alma que está impregnada pela natureza pecaminosa a qual produz, como resultado, os atos pecaminosos. Geralmente, religiosos tomam o efeito pela causa ao imaginar que é pecador apenas aquele que comete atos falhos e contrários à moral convencionada. Ora, o homem é pecador, porque possui natureza pecaminosa que, por sua vez, gera os atos pecaminosos e não o contrário como se supõe geralmente. 
O apóstolo Paulo trata no texto de abertura acerca da dualidade entre o homem interior e o homem exterior. O homem interior é o espírito que foi assoprado por Deus. O espírito inoculado no homem está desligado do Espírito de Deus por causa da natureza pecaminosa. Quando o homem se liberta da carne e da alma, o seu espírito retorna a Deus. Os que são reconciliados pela graça mediante a fé têm os seus espíritos vivificados novamente mesmo antes de morrer fisicamente. Para o primeiro caso lê-se em Ec. 12:7 - "... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu." E, para o segundo caso, lê-se em Ez. 36: 26 -"... e porei dentro de vós um espírito novo." Desta forma o homem interior é o espírito oriundo de Deus e inoculado no homem e o homem exterior é a alma e o corpo físico, que, juntos são denominados no novo testamento de carne ou carnalidade. Isto se explica pelo fato de a alma ser a sede dos desejos, vontades e emoções, e o corpo apenas expressa tais realidades almáticas. Como o espírito só se comunica com espírito, estando o homem ainda sem regeneração o seu espírito está morto, ou seja, desligado de Deus. Não se comunica com o Espírito de Deus e nem com a alma, nem com o corpo. Estando o homem regenerado o seu espírito está novamente reconciliado com o Espírito Santo por meio da geração de um novo homem em Cristo conforme Ef. 2:10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." Também em Cl. 3: 9 e 10 - "...pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou."
O homem exterior é guiado, essencialmente, pela alma e suas paixões conforme Rm. 7:5 - "Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte." O homem exterior é uma conjunção dos anseios da alma e as necessidades fisiológicas do corpo. Entretanto, na experiência de regeneração ou de novo nascimento ocorre uma nova disposição operada e operacionalizada por Deus conforme Gl. 5: 24 e 25 - "E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito." Muitos meditam sobre si mesmos e dizem: "eu não sinto que estou vivendo no Espírito, porque ainda retenho muitas destas paixões carnais." De fato, não é mesmo para sentir, pois sensorialidade é algo especificamente almático. O que crê na sua inclusão na morte de Cristo, como também na sua ressurreição, apenas crê. A fé autêntica se norteia pelo que a palavra de Deus diz e não por sentimentos e circunstâncias visíveis.
O objetivo da regeneração, a saber, de uma nova geração do pecador redimido em Cristo,  é exatamente a formação da santidade d'Ele no novo nascido. Muitos cristãos sinceros sofrem anos a fio, porque insistem na ideia que eles mesmos são os provedores e gerentes das suas santidades. A santidade descrita no evangelho verdadeiro, nada tem a ver com a conotação religiosa de santidade. Santo significa separado, ou seja, aquele que não se mistura com o que é mal e pecaminoso. Santidade é a obtenção da purificação e separação daquilo que é mal e pecaminoso pela ação monérgica de Cristo. É Cristo quem opera o querer e o efetuar, ficando isto muito claro em Ef. 3:16 - "... para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior." Então, quem concede por misericórdia e graça o robustecimento do homem interior é Cristo e não os supostos méritos e justiças próprias de quem quer que seja.
Enquanto os cristãos continuarem crendo e depositando em si mesmos e na religião a solução para os seus conflitos entre o homem interior e o homem exterior, continuarão passando por intensas dores. Permanecerão mais tempo no deserto onde tudo é inóspito e solitário para a alma sequiosa por fama, prestígio, reconhecimento, poder e controle. 
Sola Gratia!

sexta-feira, março 21

ANDAR COM DEUS E NÃO SER MAIS ACHADO

Gn. 5: 22 a 24 - "Andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas. Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos; Enoque andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou."
Em hebraico o vocábulo andar ou caminhar ocorre sob duas semânticas: como verbo que expressa a ideia de caminhar, seguir um itinerário, dar passos em uma direção, mas também por extensão de sentido significa estar em comum acordo, estar, sentir-se ou viver em determinada condição ou estado. A outra função gramatical é como substantivo masculino, o qual traz a ideia de ato ou maneira de andar. No texto acima o qual relata a experiência de Enoque, o sétimo homem depois de Adão, utilizou-se da função verbal. No verso vinte e quatro afirma-se: '£yihÈlé'Ah-te' ªônáx ªEGlahütÇCyÂw'. Esta frase significa literalmente: '... e caminhou Enoch com o Deus...' Isto implica que Enoque esteve com Deus em conformidade com sua santidade e justiça, por fé e não apenas por atos. Isto porque as Escrituras afirmam que só se pode agradar a Deus pela fé.
O texto demonstra que antes de gerar o seu filho Matusalém, Enoch não andava com Deus. Após a geração deste filho, Enoque andou com Deus por trezentos anos. Desta forma, após ser pai, Enoch foi convertido e passou a ter uma natureza concordante com Deus. Tal concordância entre um homem decaído e o Deus soberano e santo só é possível após uma real reconciliação. A reconciliação ou redenção do pecador perante Deus sempre foi por meio de Cristo, tanto antes, como depois da sua manifestação histórica em Jesus. Antes da concretização histórica de Jesus, o Cristo, a redenção foi pela fé que o redentor viria. Depois da referida manifestação concreta, é pela fé que ele já veio. Todos os eleitos e predestinados creram e crerão no salvador único, Jesus, o Cristo.
Neste texto, Enoque é um tipo de Jesus, o Cristo que viria para reconciliar os pecadores eleitos. Quando Cristo foi levado à cruz, o foi por causa dos eleitos para que fossem reconciliados com Deus. É este o sentido da dupla referência profética neste texto: "Andou Enoque com Deus, depois que gerou Matusalém... e gerou filhos e filhas." Tanto se refere à experiência de conversão de Enoque e da geração da sua descendência, como da morte de Cristo e dos regenerados por Ele na cruz.
I Ts. 4:1 - "Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como aprendestes de nós de que maneira deveis andar e agradar a Deus, assim como estais fazendo, nisso mesmo abundeis cada vez mais." Paulo doutrina a Igreja em Tessalônica como é o andar em Cristo. Sabe-se que é impossível agradar a Deus sem a fé conforme Hb. 11:6 - "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus." Sabe-se ainda que a fé é dom obtido pela misericórdia e pela graça alcançadas em Cristo. A fé não é um exercício de religião exterior. Também são características do que anda com Deus em Cristo aquelas apontadas em Cl. 1:10 - "... para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus..."
A experiência de Enoque é uma prefigura do arrebatamento da Igreja no fim dos tempos conforme Hb. 11:5 - "Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte; e não foi achado, porque Deus o trasladara; pois antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus." Desta forma o autor da epístola aos hebreus confirma o que está no texto de abertura que diz: "Enoque andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou." Esta é, portanto, a experiência da Igreja formada por todos os eleitos e regenerados cujos nomes foram escritos no livro da vida do Cordeiro. Ao tempo em que ganham a experiência de novo nascimento, passam a andar com Deus por meio da vida de Cristo. Esta experiência é um deserto, no qual, cada um é testado em suas fraquezas e aperfeiçoado na vida de Cristo. 
Andar com Deus é, portanto, uma experiência resultante da ação monérgica do próprio Deus. Este processo é iniciado após a regeneração para tornar os eleitos apresentáveis diante d'Ele conforme Cl. 1: 21 e 22 - "A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis." Desta forma a reconciliação dos eleitos e regenerados não se dá por seus atos de bondade ou de justiça própria, mas porque foram reconciliados por meio da inclusão no corpo de Cristo em sua morte de cruz. Enquanto as religiões humanistas prosseguem no falso evangelho, não experimentarão a verdade que liberta total e absolutamente.
Sola Scriptura!

quinta-feira, março 6

CRISTO: ESSÊNCIA E CONVERGÊNCIA

Rm. 11: 33 a 36 - "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém."
Watchaman Nee em sua obra "Cristo, A Essência De Tudo O Que É Espiritual" afirma que não há nada fora de Cristo. É importante ressaltar que este verdadeiro cristão teve uma profunda experiência espiritual, além de ter passado boa parte da vida nas prisões da China Comunista. Tal reclusão não era por outras questões, senão por defender o evangelho verdadeiro. Ele demonstra na obra retromencionada que a única realidade que Deus tem para o homem é Cristo e não coisas. Mostra claramente que, quem tem Cristo, tem tudo, porque Ele é o tudo de Deus. 
Muitos religiosos, no afã de satisfazer apenas seus desejos humanos substituem o doador, que é Cristo, pelas doações ou bênçãos materiais. Tendo o doador, têm-se todas as doações, mas nem sempre quando se têm as doações se pode ter o doador. Tais pessoas cultuam um cristianismo triunfalista e de recompensas, desenvolvendo, para tanto, uma teologia singular: afirmam que prosperidade, saúde, fama e prestígio são sinais da aprovação de Deus na vida de uma pessoa. Ora, ainda que Deus possa conceder bênçãos a qualquer pessoa, nada do que é material pode conquistar o reino espiritual. O que é corruptível não pode herdar o reino eterno, pois a natureza deste reino é incorruptível, logo, tais coisas não se sustentariam nele. É como afirma Jesus, o Cristo: "... o que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?"
Outros religiosos não conseguem distinguir entre quem é o Cristo pré-existente ao próprio mundo e o homem histórico Jesus nascido de mulher. Obviamente, não são duas pessoas distintas, mas uma única pessoa dotada de duas naturezas: a divina e a humana. Assim, Jesus, o Cristo é o único ser em todo o universo que é cem por cento homem e cem por cento Deus. A fusão destas duas naturezas se descreve em Jo. 1: 14 - "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai." O verbo a que alude o texto é a tradução portuguesa para "Logos", que, em última análise, significa a palavra ou o princípio ativo e criativo de Deus. Os mundos, a saber, a soma de todas as coisas que foram criadas pelo poder da palavra conforme Hb. 11:3 - "Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê."
No capítulo um do evangelho de João leem-se as seguintes revelações: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez." Mostra que o verbo, a saber, o Logos é Cristo e que Ele é Deus, portanto, anterior ao homem histórico Jesus. Ele é o gerador de todas as coisas que há, antes que qualquer delas houvesse. Isto porque as Escrituras no-lo informam que Ele é antes de todas as coisas conforme Cl. 1: 17 - "Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas." Desta forma é Cristo, de fato, a essência de todas as realidades e todas elas subsistem n'Ele.  Não há dicotomia ou tricotomia alguma. Estas ideias moduladas de ver o  mundo é consequência da natureza pecaminosa e do ensino desvirtuado da verdade nas religiões. Milhões de pessoas buscam religião, mas o mundo e a natureza pecaminosa continuam residentes e latentes em suas mentes e corações. Enquanto, não experimentarem o nascimento do alto, permanecerão em suas religiões e crendices horizontalizadas e desesperadas.
O texto de abertura dá uma visão simplificada da essência e da profundidade das realidades espirituais. Portanto, tais esplendentes realidades só poderão ser conhecidas pelo espírito. Isto porque o ensino mostra que "Deus é espírito e as coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente." Esta é a razão de tanta miséria, divisão, soberba e orgulho religioso dentro das igrejas. Elas querem alcançar o espiritual pelo almático e material, buscam as armas verdadeiras, valendo-se das armas errôneas. Neste sentido acabam por desenvolver os poderes latentes da alma, julgando serem poderes originados de Deus. Ledo engano! São antes poderes puramente humanos controlados e manipulados pelo Diabo. 
Também é mister dizer que tudo converge para Cristo. Em Cl. 1: 16c  diz: "... tudo foi criado por ele e para ele." Ele, Cristo, não só criou todas as coisas, como todas elas convergem para ele na restauração final. Por esta razão é que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Ele é o Senhor Soberano e Absoluto conforme Rm. 14: 11 - "Porque está escrito: por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua louvará a Deus." Até mesmo os que forem julgados e condenados eternamente reconhecerão Cristo como Senhor. A lei veterotestamentária convergiu e terminou em Cristo conforme Rm. 14:4 - "Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê." Desta forma, Cristo é o fim, tanto como ato final e definitivo como finalidade da existência da lei, quer seja cerimonial, quer seja moral antes da sua manifestação concreta e histórica em Jesus.
Sola Gratia!

domingo, março 2

VIVER PARA QUEM E PARA QUE?

Rm. 14: 7 a 14 - "Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor. Porque foi para isto mesmo que Cristo morreu e tornou a viver, para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Deus. Porque está escrito: por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua louvará a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo."
Uma das maiores dificuldades do homem regenerado é manter-se em posição e em relação absoluta de dependência da graça de Deus. Há enorme dualidade, porque, de um lado, o nascido de Deus foi libertado da culpa do pecado, mas, de outro lado, ainda vive em um mundo sob a influência do pecado. A libertação que Cristo veio realizar, e realizou, abrange a aniquilação da culpa do pecado. Isto implica dizer que a morte espiritual que separava o homem decaído foi aniquilada na morte de Cristo conforme Hb. 9:26 - "... mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo." Foi um único  ato com efeito abrangente e eterno. Quanto a libertação da influência do pecado é um processo permanente ao longo da vida nesta esfera da existência conforme Pv. 4:18 - "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." O justo a que alude o texto não é justo segundo a sua própria justiça, mas aquele que foi justificado em Cristo. O que conta é a justiça de Cristo no regenerado e não seus atos de justiça própria. Há dois justos mencionados nas Escrituras: "o meu Justo", que é Cristo e os justos aos seus próprios olhos, como foi o caso de Jó. Os nascidos de Deus são justificados em Cristo!
O texto de abertura ensina sobre a razão de ser da vida dos eleitos e regenerados. Mostra que, uma vez redimido, o eleito não se pertence mais, pois quer viva, quer morra, vive e morre para o Senhor de suas vidas. A maioria dos religiosos vive uma dicotomia: em suas palavras declaram viver para Cristo, em seus atos insistem em dirigir suas vidas para si mesmos. Querem apenas usufruir das bênçãos oferecidas nas Escrituras. Recebem a doação, mas não recebem o doador. Buscam desenvolver uma espécie de santidade própria à revelia daquele que é o Santo. Isto ocorre, porque suas doutrinas são ensinos de homens e não das Escrituras. Não sabem, pelo espírito, que Deus não aceita o que é mal, mas também o que é o bem produzidos pela vontade do homem. Tudo  deve ser desconstruído para Cristo ser formado na nova criatura como diz II Co. 5:17 - "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." Para que tudo seja, de fato, novo a condição é "estar em Cristo." Um homem só está em Cristo quando recebe graça para crer que foi incluído em sua morte, como também na sua ressurreição. Tolo é o religioso que acredita que Jesus, o Cristo estava sozinho na cruz. O ensino é substitutivo, mas também inclusivo conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Jesus, foi levantado da Terra três vezes: na crucificação, na ressurreição e na ascensão. Neste texto fica claro que é na crucificação, pois especifica e tipifica a morte e não a ressurreição e a ascensão.
Muitas igrejas e seitas transformam o reino de Deus em questões puramente comportamentais. Definem como essencial o que a pessoa come, como se veste e o que faz ou deixa de fazer. Abandonam e desprezam o próprio Senhor Jesus e põem a ênfase em questões morais. O que adianta a um portador da natureza pecaminosa  abandonar atos e atitudes de imoralidade se não estiver em Cristo. As suas boas ações lhes servirão apenas para viver exteriormente bem, mas jamais poderão redimi-lo da maldição interior do pecado. Ao nascido do alto, entretanto, os seus atos  e atitudes corretos ou incorretos serão todos  passados pelo crivo da vida de Cristo que nele passa a habitar. Para os regenerados em Cristo,  o que conta é o que Cristo é neles e não o que eles fazem ou deixam de fazer por si mesmos. Nos redimidos, é a vida de Cristo que põe em marcha o processo da produção  da santidade d'Ele. O ensino  paulino não deixa margem às dúvidas conforme Gl. 2: 19 e 20 - "Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim." Morrer para a lei é morrer para os valores humanistas consagrados como solução para ganhar a vida eterna. Ao morrer para os preceitos da lei, a vida de Cristo ocupa o lugar e dá início à vida d'Ele como centralidade. Paulo mostra que, mesmo a vida sob influência do pecado que há no mundo, está sendo conduzida por Cristo pela fé. Este texto mostra claramente a morte inclusiva e substitutiva: "... já estou crucificado com Cristo" e "... e se entregou a si mesmo por mim."
Então, viver para Cristo é viver à disposição d'Ele e não por meio de atos e atitudes próprios, ainda que éticos e morais. Quanto a conduta correta ao longo da vida é consequência da vida de Cristo e não a causa dela. Por estas razões é que há muitas brigas, disputas e rachaduras nas igrejas institucionais. Os religiosos disputam entre si  quem  é mais santo, mais justo e mais merecedor da graça de Deus. Ascendem a fogueira das vaidades, tornando o que deveria ser exemplo da vida de Cristo em escândalos e soberba religiosa. Neste sentido, ofendem ao Senhor Jesus, o Cristo e afastam-se cada vez mais da sã doutrina das Escrituras.
Sola Gratia!