sexta-feira, janeiro 3

CRISTIANISMO SEM CRISTO I

At. 11:26 - "E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos."
Cristianismo é um substantivo masculino oriundo do latim eclesial 'christianismus' e do grego também eclesial 'kristianismós'. O termo Cristianismo, por sua vez, provém de 'Christus' e o substantivo cristão provém de 'christianus'. Cristo não é nome próprio ou mesmo o sobrenome de Jesus, como muitos supõem. É um título originado do hebraico do velho testamento e quer dizer Ungido ou Escolhido. Portanto, o correto é dizer: Jesus, o Cristo. À luz destas asseverações, pergunta-se: é possível existir cristianismo sem Cristo? Sim, perfeitamente possível! Possível e recorrente nestes tempos de muita religião e pouco Cristianismo verdadeiro. Em tempos de muito ritualismo e pouco evangelho autêntico. É possível porque, enquanto religião é apenas subproduto artificial da mente humana, a verdade é uma pessoa e não um conceito. Cristo não fundou nenhuma religião, muito menos, usando o termo cristianismo. Deixou apenas ensinos os quais conduzem ao caminho, à verdade, e à vida eterna. Nenhum destes três princípios são encontrados em essência nas religiões. Em tese, todas as religiões afirmam possuir estes pilares, mas de fato, nenhuma os pratica. Como poderiam ensinar e vivenciar o que não conhecem?
O texto de abertura demonstra que os cristãos primitivos eram tão semelhantes a Cristo em sua fé, que os antioquienses os chamaram de cristãos pela primeira vez. O adjetivo 'christianus' traz em sua etimologia o sentido daquele que é conforme ou compatível com a pessoa de Cristo. Portanto, não era uma questão de imitação exterior, mas de identidade espiritual. Assim, ser cristão não é apenas uma compatibilidade e conformidade com princípios, dogmas ou declarações de fé de uma ou outra religião dita cristã. Não é uma questão ritualística, institucional ou de práticas religiosas exteriores, mas de alguém em quem a vida de Cristo está presente como um caminho interior. Um ladrão é identificado como alguém que rouba ou furta algo de alguém; um cristão é identificado com a pessoa de Cristo. Ser cristão é ter a qualidade do sujeito que  é Cristo. O cristão é identificado por sua natureza reconciliada com Deus e não apenas por definição,  por conceito religioso ou dicionarístico. Ser cristão é uma questão de posição e de relação com a pessoa de Cristo e não com uma igreja, seita ou religião. Portanto, é possível ter cristianismo sem Cristo, mas jamais haverá um cristão sem o Cristo. É possível ter religiosos em igrejas, mas jamais a fé sem o autor e consumador da fé, a saber, Cristo.
Neste ponto é fundamental desmistificar a ideia que um cristão, nos termos definidos anteriormente, deve ser um santarrão, perfeito e imune a erros e falhas. A perfeição é sempre evocada quando um cristão é apanhado em alguma falha moral. Quando achado em falta é acusado de ser um falso cristão e outras ofensas, expulso do convívio da igreja, maltratado pelos "irmãos". Isto ocorre porque a mente humana, não regenerada, só crê naquilo que pode ser parametrizado por meio de dogmas e conceitos humanistas. Nas igrejas institucionais, quando um membro comete um erro, logo viram a cara para ele ou o reprimem severamente sem sequer buscar as razões do seu comportamento. Dão mais valor às questões morais, eclesiásticas e comportamentais, que ao cristão, o qual é o objeto do amor de Cristo. Muitas vezes o comportamento anômalo de um membro de igreja se deve ao fato dele não ter nascido do alto por não ter sido despertada pela verdade. Sem a regeneração uma pessoa é apenas um religioso e continua portador da natureza pecaminosa. Se a fonte do erro não for cessada, os erros permanecerão e aparecerão irrevogavelmente. Tais religiões reagem contundentemente contra os erros dos seus membros, porque entendem que a reprovação deles pela sociedade é o fracasso delas. De fato fracassam, porque não conhecem a verdade fora dos parâmetros religiosos, ritualísticos e místicos nos quais creem. Contrariamente, Cristo veio para os fracassados e desvalidos deste mundo.
A produção da semelhança de Cristo nos eleitos e regenerados se dá pelo espírito e não por comportamentos. A religião humana é que se preocupa em fazer reformas morais nos seus seguidores e os tais permanecem cristãos sem Cristo. Deus opera nos nascidos do alto a reconciliação do espírito, a purificação da alma e a restauração final do corpo na ressurreição. A salvação do pecador regenerado é plena e total. No seu espírito ocorre restauração da glória de Deus. Na alma tratamento e cura por meio da fé genuína. No corpo degradação física para restaurá-lo incorruptível na ressurreição. 
Quando John Wesley conheceu Charles Spurgeon pessoalmente este lhe disse: "como pode Deus usar tanto um homem que fuma charutos?" Ao que respondeu Wesley: "como pode Deus usar tremendamente um glutão?". Isto porque Wesley fumava e Spurgeon era obeso. Em muitas igrejas de hoje verdadeiros filhos de Deus seriam barrados na entrada por questões puramente comportamentais, culturais ou de costumes. Na restauração final, quando todos os homens comparecerem perante o trono de Deus, muitos ficarão surpresos ao ver entre os redimidos pessoas cujas vidas não foram em nada brilhantes nos padrões exigidos pela falsa moralidade humana. O que conta não é o que o homem faz, mas o que Deus faz nele por meio de Cristo. O que importa no ato da regeneração é o que o homem é, a saber, pecador e incompetente para promover sua própria salvação. O que o pecador faz é uma questão de tratamento e purificação até o seu último dia de vida terrena.
Com um pouco de honestidade pode-se ver que Jesus, o Cristo não fundou nenhuma religião, e, muito menos, lhe deu a designação de Cristianismo. Ele trouxe ensinos que conduzem o homem ao reconhecimento de sua própria miséria e pecado. Ele ensinou sobre a graça e a misericórdia de Deus, mas também mostrou claramente a justiça eterna contra o pecado. Charles Sproul, um escritor de fé reformada afirma: "se há dois grupos de homens no mundo: os eleitos e os não eleitos; um grupo recebe a graça de Deus; o outro grupo recebe a justiça de Deus; mas nenhum homem recebe a injustiça de Deus." Esta é uma palavra muito dura aos que perecem conforme I Co. 1: 18 e 19 - "Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos." Todavia, nenhum cristão verdadeiro se curva aos caprichos dos homens decaídos para amenizar a verdade. Isto é por amor às suas próprias almas, pois, do contrário, estaria tentando introduzir na presença de Deus homens com suas naturezas pecaminosas. A verdade expõe o homem perante a si mesmo e não perante Deus, pois Ele já os conheceu antes dos tempos eternos. A revelação da natureza decaída e separada de Deus deve ser feita ao homem pecador a fim de que conheça a sua natureza e ganhe arrependimento. Como alguém poderia arrepender-se se não se considera culpado do pecado?
Neste sentido é que a maior parte das doutrinas e crenças ditas cristãs não inclui o Cristo, porque o desconhecem. Conhecem apenas dados e informações sobre Cristo, mas não o conhecem como pessoa e como Deus. Tomam a cruz apenas como um emblema, mas não como um caminho a ser percorrido. Tomam o continente, mas não o conteúdo. Tomam os conceitos, mas não a substância. A cruz é um princípio interior a ser vivido e percorrido para adquirir a semelhança de Cristo. Muitos cristãos permanecem apenas como seres feitos à imagem criada por Deus, mas não ganham a semelhança de Cristo, sem a qual jamais verão a face do Altíssimo.
Sola Scriptura!

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