segunda-feira, outubro 14

SOBRE MALDIÇÃO VI

Jr. 24: 2 a 9 - "E perguntou-me o Senhor: que vês tu, Jeremias? E eu respondi: figos; os figos bons, muito bons, e os ruins, muito ruins, que não se podem comer, de ruins que são. Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: assim diz o Senhor, o Deus de Israel: como a estes bons figos, assim atentarei com favor para os exilados de Judá, os quais eu enviei deste lugar para a terra dos caldeus. Porei os meus olhos sobre eles, para seu bem, e os farei voltar a esta terra. Edificá-los-ei, e não os demolirei; e plantá-los-ei, e não os arrancarei. E dar-lhes-ei coração para que me conheçam, que eu sou o Senhor; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus; pois se voltarão para mim de todo o seu coração. E como os figos ruins, que não se podem comer, de ruins que são, certamente assim diz o Senhor: do mesmo modo entregarei Zedequias, rei de Judá, e os seus príncipes, e o resto de Jerusalém, que ficou de resto nesta terra, e os que habitam na terra do Egito; eu farei que sejam espetáculo horrendo, uma ofensa para todos os reinos da terra, um opróbrio e provérbio, um escárnio, e uma maldição em todos os lugares para onde os arrojarei."
Como já foi devidamente explicado os textos utilizados ilegitimamente para fundamentar a falsa doutrina das "maldições hereditárias" ou "maldições familiares" não utiliza nenhuma das palavras do texto bíblico hebraico para maldição ou amaldiçoar. Esta mensagem anômala às Escrituras surge do próprio coração do homem tentando encontrar alguma resposta ao sofrimento ou à falta de "sorte" ao longo da vida. Tais pessoas não chegam ao descanso porque não podem crer na graça de Deus. A alma humana, usando dos seus poderes latentes, tenta encontrar alguma forma de autogratificação por meio de subterfúgios e teologias humanistas. Também foi dito que as Escrituras tratam, sim, do assunto de maldição, mas não da forma que é apresentado nas religiões e na crença popular.
No texto de abertura a palavra hebraica para maldição é [hAlAlÙq] 'qelálâ', que, por sua vez, provém da raiz 'qal'. Esta raiz indica algo ou alguém com a qualidade de ser leve, superficial e insignificante. Indica uma espécie de desprezo que tem uma pessoa em relação à outra. Este termo [lÑqEGtÂw] foi usando no texto de Gn. 16: 4 e 5 - "E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. Então disse Sarai a Abrão: sobre ti seja a afronta que me é dirigida a mim; pus a minha serva em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou desprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre mim e ti." Hagar desprezou a Sara, porque esta era estéril, isto significa dizer que, como mulher ela foi rebaixada pela escrava, mas não em sua posição de esposa legítima. Logo, Sara não foi amaldiçoada por Hagar para perder sua posição. O mesmo sentido se acha no texto de II Sm. 6:22 - "Também ainda mais do que isso me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado." Davi diz a Mical que ele se rebaixaria e se humilharia. Isto porém, não é uma auto-maldição. Significa que ele se colocou numa perspectiva de insignificância.
O substantivo 'qelálâ' designa uma espécie de fórmula à ideia de algo ou alguém que foi afastado da escolha divina. Isto é demonstrado em Gn. 27: 11 e 12 - "Respondeu, porém, Jacó a Rebeca, sua mãe: eis que Esaú, meu irmão, é peludo, e eu sou liso. Porventura meu pai me apalpará e serei a seus olhos como enganador; assim trarei sobre mim uma maldição, e não uma bênção." Jacó teve medo que o estratagema armado por sua mãe Rebeca se voltasse contra ele rebaixando-o ou preterindo-o nas bênçãos de seu pai Isaque. Temia ser afastado da bênção da eleição. O mesmo vocábulo é empregado em Dt. 27:13 como antônimo de bênção, relativamente à aliança. 
Os pagãos acreditavam que o homem é capaz de manipular os deuses. Por esta razão lançavam mão da maldição, acreditando que estes lhes obedeceriam prejudicando os seus inimigos. Este foi o caso de Golias que amaldiçoou a Davi conforme I Sm. 17:43 - "Disse o filisteu a Davi: sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus? E o filisteu, pelos seus deuses, amaldiçoou a Davi." Obviamente que a tal maldição não encontrou repouso, pois Davi o feriu com uma pedra de funda e cortou o seu pescoço. Na mesma linha de raciocínio pagão, o profeta gentio Balaão foi convocado por Balaque para amaldiçoar a Israel conforme Nm. 22:6 - "Vem pois agora, rogo-te, amaldiçoar-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; porventura prevalecerei, de modo que o possa ferir e expulsar da terra; porque eu sei que será abençoado aquele a quem tu abençoares, e amaldiçoado aquele a quem tu amaldiçoares." A sequência do texto mostra que Balaão não pode amaldiçoar o povo de Israel. Contrariamente, Deus ordenou que ele abençoasse o povo israelita e ainda profetizou sobre a vinda de Jesus, o Cristo.
Desta forma o substantivo 'qelálâ' indica a ausência ou a inversão de um estado abençoado ou justo para um estado de rebaixamento ou inferioridade de alguém. Entretanto, tal condição ou situação só se realiza por Deus e nunca por homens ou demônios. Outro termo utilizado como maldição em língua hebraica é 'álâ'. Este termo tem conotação de juramentos ou pactos e de maldições aos que não os cumpre ou quebram. É o caso de Dt. 27: 16 - "Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo dirá: Amém." Na sequência do texto veem-se diversos pactos e suas maldições aos que não os cumprissem. Descreve o estado de falta de bênçãos aos que quebrarem tais juramentos, pactos e alianças sagradas. 
O termo hebraico 'háram' traz sentido de devotar para destruição ou para uso sagrado. As palavras 'qelálâ', 'háram', 'meérâ' e 'qebab' são apenas descritivos das circunstâncias relativas à maldição. O termo 'árar', ao contrário, descreve a própria maldição sendo executada. Desta forma cada palavra se aplica a uma circunstância e forma. Entretanto, nenhuma delas diz respeito a descendentes pagando por erros dos seus ancestrais. Biblicamente, não existe "maldições hereditárias" ou "maldições familiares". 
O vocábulo [rûrA'] 'árar' é usado em Gn. 3: 14 e 17 - "Então o Senhor Deus disse à serpente: porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E ao homem disse: porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida." No caso da serpente traz o sentido que ela estaria banida das vantagens dos demais animais. Quanto à terra traz o sentido de condenação da qualidade do solo para a produção, ou seja, a sua fertilidade natural seria comprometida e exigiria muito labor do homem para produzir os alimentos. 
Também o vocábulo hebraico [hßrE'üGma] 'meérâ' é utilizado em Dt. 28:20 - "O Senhor mandará sobre ti a maldição, a derrota e o desapontamento, em tudo a que puseres a mão para fazer, até que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste." Vê-se que a causa é sempre a quebra dos pactos e ordenanças dadas por Deus. Em Pv. 3:33 - "A maldição do Senhor habita na casa do ímpio, mas ele abençoa a habitação dos justos." Também em Pv. 28:27 - "O que dá ao pobre não terá falta; mas o que esconde os seus olhos terá muitas maldições." E ainda em Ml. 2:2 e 3:9 - "Se não ouvirdes, e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz o Senhor dos exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o vosso coração. Vós sois amaldiçoados com a maldição; porque a mim me roubais, sim, vós, esta nação toda." Verifica-se novamente o sentido de retirar as bênçãos e trazer maldições por quebra de pactos e juramentos.
Ainda há outras três palavras para amaldiçoar no texto bíblico hebraico, mas nenhuma delas se acham nos ensinos heréticos sobre maldições hereditárias.
Sola Scriptura!

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