domingo, dezembro 27

A SÍNDROME DE JÓ XVII


Jó 29: 1 a 16 - "E prosseguiu Jó no seu discurso, dizendo: ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça e quando eu pela sua luz caminhava pelas trevas. Como fui nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim. Quando lavava os meus passos na manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite; quando eu saía para a porta da cidade, e na rua fazia preparar a minha cadeira, os moços me viam, e se escondiam, e até os idosos se levantavam e se punham em pé; Os príncipes continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca; A voz dos nobres se calava, e a sua língua apegava-se ao seu paladar. Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo. Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência."
O homem sempre preza por um discurso em seu favor, porque sua fé é apenas circunstancial. A fé verdadeira independe das circunstâncias, porque é dom de Deus. Ele a dá apesar do homem e das suas circunstâncias. Entretanto, a fé humana é um tipo de esperança, ou expectativa e só se manifesta quando as circunstâncias são desfavoráveis. Neste sentido é algo passageiro e não o fundamento do que ainda não é e a certeza do que não se vê como postulado nas Escrituras. A fé circunstancial ou circunstanciada produz resultados pelos poderes latentes da alma. Não é uma ação monérgica de Deus, mas algo produzido pelas forças almáticas do próprio homem. Muitos dos "milagres" atribuídos a Deus, aos santos ou às forças sobrenaturais, nada mais são do que o resultado do poder gerado pela alma decaída do homem. É a tristemente famigerada "luz interior" do homem, amplamente cultuada pelo gnosticismo. Porque as Escrituras classificam esta luz com trevas conforme Lc. 11: 35 - "Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas."
O homem julga tudo com base na sua noção de justiça própria e de méritos. Jó estabeleceu uma teologia da prosperidade, quando em seu drama se viu aparentemente desamparado imaginou que Deus o havia abandonado. Então, para ele, Deus só se faz presente quando as coisas estão indo bem. Este é um julgamento prevalecente nas religiões: se tudo vai bem, Deus está abençoando; se, no entanto, vai mal, Deus está castigando e o Diabo está agindo. Ora, no caso de Jó, Deus não o abandonou em momento algum! A sua natureza não regenerada é que confundiu religião cerimonial com ação soberana, misericordiosa e graciosa de Deus. Contrariamente à teologia de Jó, Deus estava mais atuante no infortúnio dele, do que antes, no tempo das benesses, porque no último caso, o Altíssimo estava realizando a sua purificação e a sua vivificação para salvá-lo.
Outro aspecto típico do homem justo aos seus próprios olhos é a necessidade de ser consultado, admirado e bajulado. Vê-se que Jó se gabava de ser notado, prestigiado, admirado e consultado, como evidência da presença de Deus em sua vida. Ora, há muitos ateus confessos que possuem imenso prestígio. Deus não está nestas coisas originárias das cogitações humanas. Foi exatamente por conta do pecado da soberba e do orgulho que Lúcifer perdeu a posição de anjo cobridor e sinete da perfeição. Foi ele expulso do monte santo de Deus, porque desejou ser semelhante ao Altíssimo por conta própria. Desde a inoculação do pecado no homem a partir do Éden, que este passou a desenvolver e cultuar a "síndrome de Lúcifer" em seu coração. Deseja ser Deus, agir como Ele, e viver em uma espécie de autonomia apóstata.
O mais impressionante é que líderes religiosos tomam a figura de Jó como alguém que sofreu com muita paciência e submissão a Deus. Não é esta a realidade das declarações e confissões do próprio Jó. Basta verificar o final da sua experiência, para ver que Deus realizou nele uma obra de regeneração e envergonhou Satanás para sempre.
Sola Gratia!

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