terça-feira, julho 21

A SÍNDROME DE JABEZ


I Cr. 4: 9 e 10 - "E foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; e sua mãe deu-lhe o nome de Jabez, dizendo: porquanto com dores o dei à luz. Porque Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido." Jabez era da casa de Recabe, da clã dos queneus, da linhagem de Hamate. Jabez recebeu este nome por conta das dores a que o seu parto causou à sua mãe. Assim, era um homem marcado pelo estigma da dor.
A oração de Jabez, a qual, muitos pregadores tomam como modelo a fim de justificar a ação sinérgica, é uma clara expressão da posição do homem que supõe aproximar-se de Deus com base apenas no que d'Ele pode obter e não com base no que Ele de fato é.
Jabez introduz a sua petição fundada no condicionamento circunstancial, isto é, caso Deus faça isso ou aquilo, eu o crerei. Também é notório que Jabez tenha apelado ao superlativo, impondo a dimensão quantitativa da bênção que esperava obter. Ele desejava uma grande bênção e que do incremento dela, resultasse na ampliação das suas posses. Esta tem sido a tese da nefasta teologia da prosperidade. Justificam os que advogam tal teologia, que, sendo Deus o senhor absoluto de todas as coisas, não se deve pedir-Lhe pouco, pois isto Lhe pareceria falta de fé no Seu poder. Nestas filosofias de para-choques de caminhões se lê a seguinte afirmação: "não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono do mundo." Este é, de certa forma e em certo grau, o fundamento ou o princípio da retromencionada e famigerada teologia, como também da falsa, e, não tão menos negreganda teologia da determinação. Esta pseudoteologia afirma que o homem deve ordenar a Deus que faça cumprir as suas promessas, pois sendo Ele fiel, não poderá negar-Se a Si mesmo. Pressupõe que, sendo Ele o que fez as promessas se obriga a cumpri-las em favor dos que as solicita.
Acrescenta-se que Jabez ajunta à sua petição o favor de contar com a proteção da mão de Deus e da libertação da opressão das aflições do mal. Na essência, Jabez queria obter absolutamente o 'sumo bono' de Deus. Neste sentido, Jabez se constitui o tipo do homem decaído que deseja obter o que há de melhor nesta vida, contando com o poder irrestrito da mão de Deus e da sua absoluta proteção contra o mal. Ora, qual homem não deseja o mesmo e um tanto mais? Até aqui nenhuma estranheza há na oração de Jabez. É o que peticionaria qualquer homem, independentemente de sua crença. O querer e o desejar coisas é parte inerente da natureza humana. Entretanto, tais posturas nada têm de espirituais.
O que Jabez pediu se reduz a coisas. E, coisas, Deus concede a qualquer homem todos os dias, sem que este, sequer, o saiba ou Lhe seja grato. Mt. 5:45 - "Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos." Estas são bênçãos fixas e oriundas da natureza graciosa e providencial de Deus. Estas bênçãos não acrescentam ao homem qualquer grau de espiritualidade. Alguém pode ser abundantemente abençoado com coisas nesta vida e, ainda assim, morrer incrédulo.
É fundamental que se entenda definitivamente que, a concepção de bem e mal é apenas moral e humana. Deus está acima do bem e do mal, posto que é inatingível por estes valores. Ele não tem coisas para dar, tem apenas Cristo. Quem recebe a vida de Cristo recebe absolutamente tudo de Deus, porque Cristo é tudo em todos. Todavia, para ter o tudo de Deus é necessário que o "eu" seja diminuído conforme Jo. 3:30 - "É necessário que ele cresça e que eu diminua." Assim, Deus não tem amor para dar ao homem, Ele mesmo é Amor; Deus não tem porções de justiça para dar, Ele mesmo é a Justiça; Deus não tem momentos de salvação para dar, Ele mesmo é a salvação. Esta mania de fatiar Deus em doador de coisas é própria do homem tipificado na pessoa de Jabez. Deus é Ele mesmo a doação e o doador na pessoa do Seu Filho Unigênito, a saber, Cristo.
Não é admirável apenas o fato de Deus ter concedido o que Jabez Lho pediu, porque Ele é um Deus soberano que tudo pode conforme a Sua vontade. Entretanto, a concessão de bênçãos não torna o homem salvo para a bem-aventurança eterna. Neste sentido, a religião tem produzido inumeráveis Jabezes dentro e fora das igrejas nominais e denominacionais.

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