sábado, julho 25

GRAÇA E DEPENDÊNCIA PLENA DE DEUS V


Jd. v. 4 - "Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo." Falam-se em duas categorias de graça: a) a graça atual que é o conjunto das inspirações e moções trasitórias concedidas por Deus a uma pessoa, grupo ou situação; b) a graça habitual que é o estado de benevolência ou dom permanente que estabelece a paz com Deus. Desta forma, independentemente dos feitos e efeitos do homem, Deus concede dons ou carismas, porque Ele é amor. Não são as disposições dos homens que forçam a graça de Deus, mas a graça de Deus que altera as disposições do coração empedernecido do pecador. Por isso, as Escrituras mostram como esta graça é operada em Ez. 36:26 e 27 - "E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis." A ação é absolutamente de Deus, pois é Ele quem concede, tanto o coração novo, como também coloca o espírito novo. Logo, tudo é por misericórdia e graça d'Ele e não dos esforços humanos, por mais bem intencionados que sejam.
Converter em dissolução a graça de Deus é exatamente tentar atribuir ao homem aquilo que é da exclusiva competência soberana de Deus. A dissolução da graça, isto é, misturar a ela as ações humanas tem como efeito a negação da soberania de Deus e do domínio de Jesus, o Cristo. Neste sentido, as igrejas ditas cristãs estão repletas de dissolutos e ímpios, pois direta ou indiretamente elas estão cheias de homens, lideres, pregadores e mestres que ensinam doutrinas que colocam o foco no homem e não na cruz. A doutrina mais absurda que se propaga no seio da cristandade nominal é a do "livre arbítrio". Confundem eles, a autonomia apostatada de fazer escolhas naturais, com liberdade e arbítrio. Se todos foram encerrados debaixo do pecado, logo quem é livre?
II Pd. 1:2 - "Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor." A graça produz a pacificação, pois após a justificação já não há nenhuma condenação. A graça realiza uma multiplicação por meio do conhecimento de Deus e de Cristo. A esta iluminação dá-se o nome de processo de santificação ou de produção da santidade de Cristo na vida do regenerado. Ela não é exterior e não é para servir de referência aos homens, mas é uma experiência espiritual que só se discerne espiritualmente. Contrariamente, os diluidores da graça de Deus buscam exteriorizar suas experiências sensoriais como se espirituais fossem, justamente porque não compreendem o que é a verdadeira graça.
II Pd. 3:18 - "Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém." crescer na graça não é prioritariamente cair na aceitação dos outros homens, mas conhecer mais e mais ao Senhor e Salvador Jesus, o Cristo. O texto mostra que é a Ele que se deve dar glória, agora e no dia da eternidade. Em um mundo onde os homens, inclusive os religiosos, buscam glória para si mesmos e recebem a glória dos outros homens, como poderia a graça de Deus ser compreendida?
Enquanto a natureza humana contaminada pelo pecado não é substituída pela natureza santa de Cristo, o pecador não pode conhecer a graça e, por esta mesma razão, não pode depender plenamente de Deus. Ou Cristo é o foco e a cruz a centralidade, ou o homem é o produtor de sua prória verdade. Não há espaço para diluir a graça de Deus com uma criatura morta para o Espírito Santo e viva para si mesma.

sexta-feira, julho 24

GRAÇA E DEPENDÊNCIA PLENA DE DEUS IV


At. 20: 24 e 32 - "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados." A graça dá a devida dimensão do que o homem regenerado é, e de quem Deus de fato é. Este, absolutamente soberano, enquanto aquele, absolutamente dependente. O evangelho é a expressão concreta da graça de Deus, porque Ele mesmo se doou na cruz para conceder a maior doação ao pecador, a saber, a salvação. A palavra de Deus, ou seja, as Escrituras são a verbalização eloquente da Sua graça. É Deus quem santifica o homem decaído e o faz herança Sua na construção da semelhança de Cristo em sua vida.
O pecado é ausência de fé na Palavra de Deus, tendo sido inciado no Éden quando o primeiro homem não deu crédito a ela. Preferiu, outrossim, dar crédito à palavra do maligno, porque desenvolveu o desejo de ser independente de Deus. Neste ponto o seu espírito foi desligado do Espírito de Deus, causando-lhe a morte espiritual, a qual não significa destruição do espírito. A partir da sua expulsão do Paraíso, foram sendo desenvolvidos os atos pecaminosos com base na natureza destituída da glória de Deus. A graça concretizada historicamente na morte de Cristo e decidida antes dos tempos eternos pelo próprio Deus que imolou o Cordeiro antes da fundação do mundo. Por isso, a doutrina bíblica afirma: "...e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz." O pecado original foi cravado na cruz, e, para tanto, o pecador também foi incluído na morte de Cristo, para com Ele também ressuscitar e ganhar a Sua vida eterna. Isto se apropria por fé conforme a definição de fé escriturística e não mística.
Esta é, portanto, a mais alta instância da graça de Deus, executando a sentença contra o pecado em Seu Filho Unigênito para justificar o pecador sem méritos e sem justiça própria. Este é, portanto, o verdadeiro ensino das Escrituras sobre dependência plena da graça de Deus. Não é ensino religioso, o qual coloca o homem portador da natureza pecaminosa como cooperador na obra da redenção. Enquanto graça é dádiva de Deus ao que nada merece, misericórdia é Ele não dando ao desgraçado, exatamente o que ele merece como tal, a saber, a condenação eterna. São termos intercambiáveis, pois ambos conduzem à plena dependência do pecador em relação a Deus. Por esta razão, a melhor significação para misericórdia é compaixão para com a miséria dos outros. Neste sentido, Deus olha para os seus eleitos conforme a impossibilidade deles em se redimir, e segundo a Sua superabundante graça, a qual cobre todo pecado, exceto o pecado da incredulidade que é o pecado contra o Espírito Santo.
A graça é ambígua, pois causa profunda decepção ao homem cheio de sua falsa autonomia edificada sobre a falsa doutrina do livre arbítrio, porém é a mais elevada expressão da bandade de Deus. Como ser absoluto e soberano que é, Deus poderia simplesmente não salvar ninguém, e isto, não Lhe causaria qualquer diminuição ou injustiça. O inusitado e maravilhoso é Ele usar de misericórdia e graça para com os que quer conforme Rm. 9:18 - "Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer."
A Ele, pois, honra, força e majestade eternamente!

GRAÇA E DEPENDÊNCIA PLENA DE DEUS III


Ex. 33: 12, 13, 16 e 17 - "E Moisés disse ao Senhor: eis que tu me dizes: faze subir a este povo, porém não me fazes saber a quem hás de enviar comigo; e tu disseste: conheço-te por teu nome, também achaste graça aos meus olhos. Agora, pois, se tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei, para que ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é o teu povo. Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Acaso não é por andares tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o teu povo, de todos os povos que há sobre a face da terra? Então disse o Senhor a Moisés: farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome."
A graça é algo que se acha, logo, não é inata ao homem. Ela não é o resultado dos esforços, penitências, renúncias e sacrifícios de alguém, pois neste caso seria uma negociata. Deus conhece o homem não apenas pelo nome, mas principalmente pelo que ele é. A certeza de estar incluído na graça de Deus é o fato d'Ele andar com o homem. Não são os pecadores que escolhem andar com Deus. Eles não possuem natureza para tanto, ao contrário, toda a inclinação do homem decaído é contrária à natureza divina. Portanto, este só se inclina para Deus, quando Ele o faz achar a graça diante dos Seus olhos.
Ao tempo em que Cristo andou pela Terra, especificamente em Israel, verificava-se uma profunda religiosidade. Julgavam serem os únicos guardiões dos oráculos de Deus e povo exclusivo. Agiam em relação aos outros povos com profundo desdém e aparteísmo. Cumpriam inumeráveis ritos e leis morais e cerimoniais. Entretanto, Jesus afirmou por repetidas vezes a seguinte expressão: "...vendo as multidões teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor." Vê-se, portanto, que não é religiosidade, tradição e heranças rituais que faz Deus se curvar ao homem para lhe dar a graça. Como já foi exposto em outra instância, graça para ser de fato graça é um dom imerecido. É de Phllip Yancey a assertiva largamente adotada por alguns cristãos: "graça é Deus fazendo tudo por quem nada merece."
É bastante comum ouvir religiosos expressarem um sentimento de gratidão ou de ternura quando ouvem uma pregação sobre a graça. Todavia, na maior parte dos casos, estes desenvolvem um entendimento errôneo sobre o que ela de fato é. Imaginam que estão cobertos pela graça em função do que fazem. Colocam-na na esfera das ações compensatórias à semelhança dos procedimentos jurisforenses e constitucionais. A graça não é uma ação resultante de esforços, quaisquer que sejam eles. Não é pelo agir corretamente, ser reto, íntegro, temente e desviar-se do mal que torna o homem objeto da graça. Em Ex. 34:9, Moisés teve a real dimensão do que é a graça após Deus ter-lhe revelado os Seus propósitos - "E disse: Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, vá agora o Senhor no meio de nós; porque este é povo de dura cerviz; porém perdoa a nossa iniquidade e o nosso pecado, e toma-nos por tua herança." Deus foi e é gracioso com aqueles a quem Ele decide ser, segundo a Sua misericórdia e soberania, independentemente da dureza, iniquidade e pecado. Este é o aspecto que deixa o religioso arminiano fora da graça, pois ele julga que possui o controle da soberania de Deus.

GRAÇA E DEPENDÊNCIA PLENA DE DEUS II


Rm. 5:20 - "Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça." Graça é um significante com diversos significados. No contexto a que se destina este estudo, traz sempre a ideia de favor imerecido, benevolência, amor, bondade, mercê, dádiva. O texto bíblico acima informa que a lei, isto é, as regras, preceitos e princípios morais e cerimoniais vieram para expor o pecado ou a ofensa do homem. Todavia, o mesmo texto mostra, que, onde o pecado abundou, a graça foi mais abundante, superando-o. Logo, a graça é maior que o pecado, justamente para ter o 'munos' de eliminá-lo. Do contrário, este jamais poderia ser aniquilado nos moldes de Hb. 9: 26 - "De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
A morte substitutiva e inclusiva de Cristo na cruz é o aspecto supremo da graça. Porque, n'Ele, tanto o pecado, como os atos pecaminosos são aniquilados. Aquele, no ato da justificação na morte de Cristo, e estes, no processo de santificação na vida d'Ele até a restauração final.
Desta forma, a graça se constitui em superabundante,  precisamente porque o dom de Deus é superior à ofensa pecaminosa do homem. Sabe-se que a justiça humana é em sua essência distributiva, ou seja, a cada um segundo o que lhe é de direito. Entretanto, a justiça de Deus é retributiva, isto é, a cada ofensa, a graça é retribuída em superioridade ao agravo. Este é o maior paradoxo para o homem religioso, pois a sua mente reage com base na justiça forense e não na justificação graciosa. Deus age retributivamente, porque é ciente que, pela lei, isto é, pelo cumprimento de normas, regras e preceitos, nenhum homem poderá obter salvação. Assim, Ele retribui ao pecado de modo desproporcional em graça. Porém, não deixa de executar a sua justiça contra o pecado ao destruir a natureza pecaminosa do homem, incluindo-o na morte de cruz conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer."
Paradoxalmente a graça é um dom muito difícil de ser recebido pelo homem, especialmente o religioso. Isto porque a sociedade e, sobretudo, a religião cria na mente humana uma lei compensatória. Configura-se esta norma no princípio da recompensa, ou seja, quanto mais o homem fizer, mais merecedor se tornará; quanto mais se esforçar, maior o seu sucesso; quanto maior a sua eficiência e desempenho, maior a eficácia e recompensa; quanto mais realizar e operar, mais será aceito e reconhecido. Por isso, embora todos concordam que graça é uma boa coisa, todos querem produzi-la por seus próprios esforços, méritos e justiças próprias. Não é este o padrão da graça ensinada nas Escrituras. O que das sagradas letras se pode depreender é que a graça verdadeira, gera como contraponto a plena dependência de Deus. Ou é Ele o operador e o operacionalizador da graça, ou o homem viverá com base na lei. Sabe-se, entretanto, que pela lei nenhuma carne se salva consoante a pena do apóstolo Paulo.
Em alguns aspectos as práticas político-administrativas e judiciais tomam a graça por base. É o caso, por exemplo, do poder executivo brasileiro, usa figura jurídica que toma a graça como um ato de clemência do poder público, que favorece individualmente um condenado em definitivo por crime comum ou por contravenção, extinguindo-lhe, reduzindo-lhe ou comutando-lhe a pena. Neste caso, houve uma anistia, clemência ou indulto.
Na Primeira Guerra Mundial um soldado foi executado, porque acendeu fogo em sua trincheira durante a noite. Isto, segundo o código de guerra, permitiria aos inimigos localizar e atacar as bases dos aliados. Imagine se Deus fosse tratar com o homem pecador nas mesmas bases da justiça distributiva?

GRAÇA E DEPENDÊNCIA PLENA DE DEUS I


Gn. 6:8 - "Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor." A graça é um dom de Deus distribuído a quem nada merece. Contrariamente à mentalidade comum, a qual imagina que a graça é uma doação apenas a quem possui méritos, Deus a dispensa aos que não têm merecimento algum. Isto porque, do contráro, a graça já não seria graça, mas uma recompensa com base no desempenho humano. Entretanto, o homem enquanto pecador, não possui outra coisa a apresentar diante da face Deus, a não ser a sua natureza pecaminosa e as mazelas dela decorrentes e inerentes. No texto que abre este estudo vê-se que a graça é achada aos olhos de Deus e não uma propositura com base no homem e seus pressupostos de justiça e mérito. Deus não viu qualquer mérito em Noé para lhe conceder graça em recompensa, Noé achou a graça diante de Deus, porque é somente lá que ela é achada.
Circula na rede mundial de computadores um texto que algumas pessoas enviam no intuito de encorajar uns aos outros. Do referido texto destaca-se o fato que Deus usou exatamente os menos prováveis. Contrariamente à ética situacional e circunstancial, Deus vê o homem pela perspectiva da sua misericórdia e graça. Assim, os instrumentos usados por Ele eram pessoas cujas características não seriam exaltadas nas colunas sociais. Seus currículos não seriam selecionados e aprovados como pessoas notáveis. Os tais jamais seriam aceitos, porque não seriam aceitáveis, segundo o curso deste mundo em sua louca busca pelo auto-endeusamento. Em uma sociedade onde prevalece a busca pela glória de si mesmo e pela aceitação dos outros, estas pessoas arroladas abaixo jamais teriam grandes chances:
ABRAÃO: era demasiadamente velho para ter um filho que originasse uma nação. Além de ser de uma família de idólatras.
SARAH: era estéril e não estaria apta a gerar o filho da promessa. Além de empurrar Hagar para o marido para servir de concubina e gerar descendentes.
JACÓ: foi trapaceiro e suplantador do próprio irmão e do sogro.
LÉIA: era feia e zarolha para ser escolhida como esposa.
JOSÉ: era um sonhador e mimado pelo pai.
MOISÉS: tinha problemas de disfonia e de dislalia, isto é, era fanhoso e gago. Além de ter sido criado no palácio de faraó e de ter recebido toda cultura idólatra dos egípcios.
RAABE: era prostituta e não serviria para entrar na genealogia de ninguém. Porém, faz parte da genealogia de Jesus, o Cristo.
DAVI: foi um assassino, adúltero e sanguinário.
SALOMÃO: foi mulherengo, vaidoso e cheio de conflitos existenciais.
ISAÍAS: tinha lábios impuros e era conivente com uma sociedade impura.
JEREMIAS: era muito jovem para se dedicar as coisas de Deus.
ELIAS: teve medo de falsos profetas e do sistema político dominante. Refugiou-se em uma caverna e reclamou de ter ficado sozinho.
JONAS: fugiu de Deus o quanto pode, além de ser pirracento e cheio de justiça própria.
NOEMI: era viúva e abandonada à sua própria sorte catando espigas de trigo. Mendigando em plantações de Boaz.
PEDRO: negou a Cristo por mais de uma vez, além de rude.
MARIA MADALENA: foi adultera.
MARTA: preocupava-se apenas com as coisas do dia a dia e não com a palavra de Cristo.
TOMÉ: era incrédulo e cheio de dúvidas.
ZAQUEU: era usurpador, réprobo e improbo.
PAULO: era demasiadamente religioso e legalista.
TIMÓTEO: tinha úlcera.
LÁZARO: estava morto há mais de quatro dias.
No entanto, estas pessoas acharam a graça diante dos olhos de Deus e foram usadas, cada uma a seu tempo.

terça-feira, julho 21

A SÍNDROME DE JABEZ


I Cr. 4: 9 e 10 - "E foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; e sua mãe deu-lhe o nome de Jabez, dizendo: porquanto com dores o dei à luz. Porque Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido." Jabez era da casa de Recabe, da clã dos queneus, da linhagem de Hamate. Jabez recebeu este nome por conta das dores a que o seu parto causou à sua mãe. Assim, era um homem marcado pelo estigma da dor.
A oração de Jabez, a qual, muitos pregadores tomam como modelo a fim de justificar a ação sinérgica, é uma clara expressão da posição do homem que supõe aproximar-se de Deus com base apenas no que d'Ele pode obter e não com base no que Ele de fato é.
Jabez introduz a sua petição fundada no condicionamento circunstancial, isto é, caso Deus faça isso ou aquilo, eu o crerei. Também é notório que Jabez tenha apelado ao superlativo, impondo a dimensão quantitativa da bênção que esperava obter. Ele desejava uma grande bênção e que do incremento dela, resultasse na ampliação das suas posses. Esta tem sido a tese da nefasta teologia da prosperidade. Justificam os que advogam tal teologia, que, sendo Deus o senhor absoluto de todas as coisas, não se deve pedir-Lhe pouco, pois isto Lhe pareceria falta de fé no Seu poder. Nestas filosofias de para-choques de caminhões se lê a seguinte afirmação: "não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono do mundo." Este é, de certa forma e em certo grau, o fundamento ou o princípio da retromencionada e famigerada teologia, como também da falsa, e, não tão menos negreganda teologia da determinação. Esta pseudoteologia afirma que o homem deve ordenar a Deus que faça cumprir as suas promessas, pois sendo Ele fiel, não poderá negar-Se a Si mesmo. Pressupõe que, sendo Ele o que fez as promessas se obriga a cumpri-las em favor dos que as solicita.
Acrescenta-se que Jabez ajunta à sua petição o favor de contar com a proteção da mão de Deus e da libertação da opressão das aflições do mal. Na essência, Jabez queria obter absolutamente o 'sumo bono' de Deus. Neste sentido, Jabez se constitui o tipo do homem decaído que deseja obter o que há de melhor nesta vida, contando com o poder irrestrito da mão de Deus e da sua absoluta proteção contra o mal. Ora, qual homem não deseja o mesmo e um tanto mais? Até aqui nenhuma estranheza há na oração de Jabez. É o que peticionaria qualquer homem, independentemente de sua crença. O querer e o desejar coisas é parte inerente da natureza humana. Entretanto, tais posturas nada têm de espirituais.
O que Jabez pediu se reduz a coisas. E, coisas, Deus concede a qualquer homem todos os dias, sem que este, sequer, o saiba ou Lhe seja grato. Mt. 5:45 - "Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos." Estas são bênçãos fixas e oriundas da natureza graciosa e providencial de Deus. Estas bênçãos não acrescentam ao homem qualquer grau de espiritualidade. Alguém pode ser abundantemente abençoado com coisas nesta vida e, ainda assim, morrer incrédulo.
É fundamental que se entenda definitivamente que, a concepção de bem e mal é apenas moral e humana. Deus está acima do bem e do mal, posto que é inatingível por estes valores. Ele não tem coisas para dar, tem apenas Cristo. Quem recebe a vida de Cristo recebe absolutamente tudo de Deus, porque Cristo é tudo em todos. Todavia, para ter o tudo de Deus é necessário que o "eu" seja diminuído conforme Jo. 3:30 - "É necessário que ele cresça e que eu diminua." Assim, Deus não tem amor para dar ao homem, Ele mesmo é Amor; Deus não tem porções de justiça para dar, Ele mesmo é a Justiça; Deus não tem momentos de salvação para dar, Ele mesmo é a salvação. Esta mania de fatiar Deus em doador de coisas é própria do homem tipificado na pessoa de Jabez. Deus é Ele mesmo a doação e o doador na pessoa do Seu Filho Unigênito, a saber, Cristo.
Não é admirável apenas o fato de Deus ter concedido o que Jabez Lho pediu, porque Ele é um Deus soberano que tudo pode conforme a Sua vontade. Entretanto, a concessão de bênçãos não torna o homem salvo para a bem-aventurança eterna. Neste sentido, a religião tem produzido inumeráveis Jabezes dentro e fora das igrejas nominais e denominacionais.

segunda-feira, julho 20

FATOR RECABITA


Jr. 35:1 a 13 - "A palavra que do Senhor veio a Jeremias, nos dias de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá, dizendo: vai à casa dos recabitas, e fala com eles, e leva-os à casa do Senhor, a uma das câmaras e dá-lhes vinho a beber. Então tomei a Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habazinias, e a seus irmãos, e a todos os seus filhos, e a toda a casa dos recabitas; E os levei à casa do Senhor, à câmara dos filhos de Hanã, filho de Jigdalias, homem de Deus, que estava junto à câmara dos príncipes, que ficava sobre a câmara de Maaséias, filho de Salum, guarda do vestíbulo; e pus diante dos filhos da casa dos recabitas taças cheias de vinho, e copos, e disse-lhes: bebei vinho. Porém eles disseram: não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou, dizendo: nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos; não edificareis casa, nem semeareis semente, nem plantareis vinha, nem a possuireis; mas habitareis em tendas todos os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a face da Terra, em que vós andais peregrinando. Obedecemos, pois, à voz de Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, em tudo quanto nos ordenou; de maneira que não bebemos vinho em todos os nossos dias, nem nós, nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem nossas filhas; nem edificamos casas para nossa habitação; nem temos vinha, nem campo, nem semente. Mas habitamos em tendas, e assim obedecemos e fazemos conforme tudo quanto nos ordenou Jonadabe, nosso pai. Sucedeu, porém, que, subindo Nabucodonosor, rei de Babilônia, a esta terra, dissemos: vinde, e vamo-nos a Jerusalém, por causa do exército dos caldeus, e por causa do exército dos sírios; e assim ficamos em Jerusalém. Então veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: vai, e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Porventura nunca aceitareis instrução, para ouvirdes as minhas palavras? diz o Senhor."
Os recabitas representam aquela estirpe de pessoas as quais recebem e obedecem instruções que lhes são repassadas pelos que sobre elas têm ascendência. Tais pessoas tomam um princípio como base de suas vidas e dele não se aparta. Elas não são, como a maioria, suceptíveis a uma ética situacional, dobrável e maleável de acordo com a oferta posta diante de si. O mundo nunca careceu tanto de recabitas, como nos dias que transcorrem. Neste tempo presente, pessoas passam de uma disposição à outra por razões as mais torpes e, em certos casos, sem uma coerência razoável. Estas considerações não possuem caráter legalista, no sentido religioso do termo, mas são o resultado de uma constatação de cunho puramente prático. Por analogia, Deus está comparando a postura dos recabitas à impostura dos que ouviam as instruções da Sua Palavra e não as cumpriam.
No campo da relação homem-Deus, o "Fator Recabita" não encontra a menor possibilidade de se desenvolver sem o concurso da graça. O religioso é, em média, a criatura mais instável que se pode ver! Bastam os acontecimentos lhes serem desfavoráveis e lá se vai ele atrás da elaboração de uma "teologia do fracasso". Entra em conflito e esgotamento "espiritual" pelas razões mais simplistas. Raciocina de modo linear e raso: o bem provém invariavelmente de Deus e o mal provém invariavelmente do Diabo. Assim, se as coisas vão bem, Deus está aprovando e coroando os seus atos; se as coisas ocorrem em arrepio aos seus interesses atribui-se isto ao Diabo e tratam de se mover em uma direção alternativa. Entretanto, o ensino das Escrituras coloca todas as coisas subordinadas à soberana vontade de Deus. Quer sejam boas, quer sejam más, todas elas ocorrem com a aquiescência d'Ele, porque Ele é absolutamente soberano. Nem mesmo Satanás age sem que lhe seja permitido, intentando fazer o que é mal, acaba por ser usado para o tratamento da natureza humana na pedagogia de Deus. Este foi o caso de Jó!
Bem e mal são conceitos puramente morais e reduzidos à esfera das limitações humanas presas à vala da natureza pecaminosa. O entendimento do ensino de Paulo aos Romanos mostra que o homem regenerado foi liberto da culpa do pecado, está sendo liberto da influência do pecado e será totalmente liberto da presença do pecado na restauração final. Neste sentido, o mal pode ser um instrumento para disciplinar e o bem pode ser um instrumento para condenar.
Bem fazem os que, como os recabitas, recebem a instrução do Senhor Deus por meio da Sua soberana e monérgica vontade. Estarão sendo aperfeiçoados para o dia de Cristo.

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XXI


Rm. 3: 10 a 18 - "Como está escrito: não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos." Esta é uma passagem remissiva ao texto do Salmo 14, deixando clara a extensão e a unicidade das Escrituras. É uma cláusula declaratória com enunciado universal, isto é, possui validação para todos os tempos e pessoas. Assim, as Escrituras mostram que não há nenhum homem justo, não há um homem que tenha entendimento, não há quem busque a Deus naturalmente. Todos estão de fato destituído da natureza de Deus e extraviados e, portanto, são inúteis espiritualmente falando. O bem que importa, ninguém possui natureza para praticá-lo. Suas palavras são apodrecidas como os sepulcros abertos e suas línguas proferem engano sobre engano. Veneno de áspide escorre dos seus lábios, por conta da maledicência e do amargor que cada um leva em sua natureza decaída. São rápidos para praticar crimes contra outros homens, por isso, promovem destruição e miséria. Não conhecem o método da paz, porque ela não é uma acepção meramente intelectiva, mas uma pessoa, a saber, Cristo. Por todos estes títulos, o homem decaído não pode e não quer conhecer a Deus.
Diante destas esplêndidas verdades escriturísticas é recorrente nos círculos religiosos a persistente teologia deformada. Ela insiste em produzir um sistema religioso que satisfaça os desejos dos homens escravisados pelo pecado, porém sem realizar neles uma nova geração. Portanto, sem a geração de uma nova disposição por ação monérgica realizada na cruz, não há como o homem se inclinar para as coisas de Deus. Não por meio de religião, teologia, rituais, obras de justiça, esforços e méritos. Não com este currículo exposto por Paulo em Romanos.
Charles Grandison Finney, aclamado como verdadeira virtuose de Deus na Terra pela comunidade evangélica contemporânea, foi um desses produtores de teologia humanista. Para ele, o homem, mesmo em arrepio às Escrituras, não é depravado por natureza, sendo capaz de cooperar com o Espírito Santo na obra do convencimento, arrependimento e da fé. A ele foi dado o crédito direta ou indiretamente da conversão de cerca de quinhentas mil pessoas. Muitos o denomina de "O Maior Avivalista Americano", ou "O Principal Evangelista do Século XIX." É tido como o iniciador do evangelismo de massa que perdura hoje, especialmente nos meios midiáticos, considerando os seus métodos inovadores para a época, além de um estilo de pregação para grandes plateias. A partir dele aparecem Dwight Moody, John Wilbur Chapman, Billy Sunday e Billy Graham nesta linha de evangelismo de massa.
Poucos empreitam uma crítica a Finney. Entre estes poucos, aponta-se Robert Godfrey, do Seminário Teológico Westminster. Para ele Finney faz que a nefasta teologia de Pelágio pareça ser correta com mais maestria que o próprio Pelágio. Godfrey afirma: "Deus pode ser eliminado inteiramente da teologia de Finney sem que seu caráter seja mudado em essência." Neste sentido o evangelicalismo decorrente da teologia deformada de Finney é um conjunto de prática onde o foco é o homem e não Cristo e a cruz. Warfiel, enquanto historiador, afirma: "não houve, em toda história da igreja, provavelmente um teólogo tão pelagiano, quanto Finney." Também L.G. Parkhurst afirma: "ele tentou ser bíblico em vez de aderir a qualquer sistema ou grupo teológico do seu tempo." Isto o coloca na "via média" entre o velho calvinismo e o famigerado arminianismo. Com isto, Charles Finney não é absolutamente combatido em toda extensão do seu ensino, sendo aceito em todos os seguimentos da igreja contemporânea.
Em sua teologia deformada, Finney nega que a justificação seja pela convergência da lei em Cristo na cruz; nega que a expiação de Cristo seja substitutiva e inclusiva, pois para ele, Cristo não poderia cumprir a justiça retributiva diretamente proporcional ao pecado; para ele a justificação só se realizaria por meio da santificação e não a santificação por meio da justificação em Cristo; ele negava a que o homem tivesse uma natureza pecaminosa, mas que sofreu apenas uma depravação moral; ele defendia que a regeneração depende da vontade ou da decisão humana; e finalmente, ele diz que o homem é portador de "livre arbítrio" para aceitar ou rejeitar a graça de Deus.
Neste sentido, a teologia deformada, traço comum a todas as religiões da atualidade, segue na base da sua crença este mesmo conjunto de crenças puramente intelectuais e não essencialmente bíblica.

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XX


Js. 1: 5 a 9 - "Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares." No contexto, e sem o discernimento dado pelo Espírito Santo que nos ensina toda a verdade e nos concede revelação, este texto parece dar suporte à crendice religiosa arminiana que o homem possui "livre arbítrio". Entretanto, vendo pelas lentes da graça divina, percebe-se que se trata de mais um daqueles textos em que Deus está instruindo um dos seus eleitos acerca do que deseja que se faça. O Senhor mesmo está capacitando e dando a graça para que se cumpra tudo quanto Ele ordena. Quando afirma: "esforça-te e tem bom ânimo, não temas, nem te espantes" parece que a questão fica de fato centralizada na decisão humana. Porém, imediatamente tudo se esclarece, pois Deus ajunta: "Não te mandei eu?". Verifica-se que o verbo está no passado e não no futuro. Logo, os eleitos realizam, na verdade, o querer e o efetuar de Deus e não a sua própria vontade. Deste modo não há, nem liberdade, nem arbitramento sem o querer e o efetuar d'Ele.
O ponto fundamental neste texto é a obediência à Palavra de Deus e não a conduta moral de Josué. O procedimento moral e ético é sempre consequência e não causa da ação de Deus na vida do homem. Os religiosos contaminados pela deformação teológica recorrente, sempre invertem esta verdade. Por esta razão é que ocorreu tanto radicalismo por ocasião da reforma cognominada protestante, pois alguns líderes queriam imprimir um comportamento exemplar e diferenciado daquele registrado no seio da igreja dominante. Estavam colocando a questão da fé cristã em bases puramente comportamentais. Neste sentido a reforma já surgiu com a síndrome do defeito adquirido. Deveria ter sido uma reforma da doutrina e do ensino desta.
Ulrico Zuínglio foi o reformador na Suíça e fundador das igrejas reformadas neste país, embora não tenha deixado nenhuma igreja organizada. Porém, suas doutrinas influenciaram as confissões de fé calvinistas. Zuínglio foi apoiado pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de Estado em Zurique. Na França, o grande reformador foi João Calvino, embora não fosse sacerdote e sim um humanista, após ter saído do catolicismo sofre graves perseguições. Fugiu para a Suíça onde escreveu as Institutas de Fé Cristã, documento basilar da fé reformada ainda hoje. Na Escócia, John Knox foi a figura central da reforma. Estudou teologia com João Calvino em Genebra e levou o Parlamento da Escócia a adotar a Reforma em 1560, sendo estabelecido ali o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a "Church of Scotland", foi fundada como resultado disso.
Em 1530, a Confissão de Augsburgo foi apresentada na Dieta imperial de Spira convocada pelo Imperador Carlos V, tendo sido escrita por Felipe Melanchton com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os católicos resolveram preparar uma refutação ao documento luterano, a denominada Confutatio Pontificia, a qual foi lida nesta Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos admitissem a refutação da Confissão, porém, a reação luterana foi a leitura da Apologia da Confissão de Augsburgo, mas foi rejeitada pelo Imperador. Esta Apologia foi publicada por Felipe Melanchton em Maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo. Outra Dieta foi convocada antes desta, em Worms na Alemanha, onde Lutero foi convocado a fim de se retratar perante a igreja católica, porém este afirmou as seguintes palavras: "Hier stehe ich. Ich kann nicht anders", isto é, "Aqui estou. Eu não posso renunciar."

domingo, julho 19

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XIX


Fl. 02:13 - "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." Sendo Deus o operador e o operacionalizador, tanto do querer, quanto do efetuar, segundo a Sua soberana vontade, o que resta ao pecador a não ser receber com profunda gratidão o dom de Deus? Desta forma, persiste a pergunta aos religiosos arminianos, onde está o "livre arbítrio"? Esta invencionice gnóstica para justificar a falsa cooperação do homem no processo salvífico é absolutamente anti-bíblica. Resta mais esta indagação à Teologia Deformada ante as inumeráveis provas escriturísticas da ação monérgica de Deus. O caráter reformador do século XVI consistiu e consiste ainda hoje, tão somente em devolver às Escrituras a sua real dimensão. A religião, fruto da mente corrompida pelo pecado original, serviu e serve apenas para deformar a verdade, diluindo-a em mentira, visto que meias verdades são mentiras completas aos olhos de Deus.
A Reforma, erroneamente chamada de Protestante foi o resultado de uma série de motivações de cunho puramente humano e, portanto, já no seu embrião estava repleta de humanismos e interesses político-econômicos. Na Alemanha Marinho Lutero refutava as crenças e os erros católicos, porém cria que a salvação era o resultado de um misto de obras e de fé. Na França, João Calvino defendia que a salvação da alma ocorria pelo trabalho justo e honesto. Essa ideia calvinista, atraiu muitos burgueses e banqueiros para o calvinismo. Muitos trabalhadores também viram nesta nova religião uma forma de ficar em paz com sua religiosidade. O único diferencial de Calvino foi a predestinação, ou seja, Deus escolheu os que são salvos antes da fundação do mundo. Isto pelo menos é compatível com o ensino bíblico. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII rompeu com a igreja de Roma, após o Papa se recusar a cancelar o seu casamento com Catarina de Aragão. O rei, então, fundou o Anglicanismo, sagrando-se chefe da igreja, aumentando seu poder e suas posses, uma vez que retirou da Igreja Católica uma grande quantidade de terras. A Reforma na Inglaterra preservou o máximo da crença católica, como por exemplo, o episcopado, a liturgia e os sacramentos. A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a 'Ecclesia Anglicanae', isto é, a Igreja Cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "Via Média" entre o catolicismo e o protestantismo. Assim, é absurdo chamar o anglicanismo de protestantismo.
Os movimentos reformistas causaram diversos conflitos de interesses e muito derramamento de sangue. Muitas vezes as motivações nada tinham a ver com a verdade, ou mesmo com as Escrituras. Eram oportunismos de ambos os lados e por vezes cinismo frio e calculado. Obviamente que Deus esteve, como sempre está, no comando de todos estes processos, porque Ele tem o Seu "Supremo Propósito" apesar do homem e suas ações equivocadas.
Como Deus já tem os seus eleitos antes dos tempos eternos, Ele age linearmente no tempo, independente das religiões e seus sofismas. Por isso, Ef. 1: 3 a 12 afirma, sem rodeios, esta verdade eterna e imutável: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência; descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo."

sábado, julho 18

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XVIII


Jr. 29:3 - "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração." A questão fulcral entre a Teologia Reformada e a Teologia Deformada é precisamente aquilo que difere o sinergismo do monergismo. Por sinergismo se pode entender a suposta ação do homem decaído em cooperação com o Espírito Santo no processo da revelação para a fé que salva. Por outro lado, o monergismo se circunscreve à esfera da ação única e soberana de Deus no processo de levar o pecador a Cristo, de incluí-lo na cruz, matando a sua natureza pecaminosa, e de trazê-lo de volta juntamente com Este na sua gloriosa ressurreição. Obviamente que, tudo isto, se apropria por fé, visto que é um ato já realizado na eternidade pretérita e também concretizado historicamente em Jesus, o Cristo. É nesse ponto que começam as dificuldades, pois o homem não possui fé para crer que Cristo não morreu apenas para substituí-lo, mas que, também foi para incluí-lo. Ele não consegue por conta própria receber a verdade tal como revelada nas Escrituras, pois está acostumado a receber o alimento pré-mastigado pela Teologia Deformada, a qual se preocupa apenas em arrebanhar adeptos, os quais não sabem discernir o corpo do Senhor, comendo e bebendo para a sua própria condenação.
Buscar e achar ao Senhor é uma tarefa que o homem portador da natureza pecaminosa não consegue em si e por si mesmo. Isto porque, a busca e o encontro só poderão ocorrer quando for de todo o coração. Entretanto, sabe-se que o coração do homem é esclerosado naturalmente a tudo o que se refere à verdade. O pecado original o endureceu e obscureceu. Sabe-se ainda que, quando as Escrituras se referem ao coração, não é ao órgão que bombeia o sangue, mas à alma e ao espírito.
Ez. 36:26 - "E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne." Afinal, quem dá o coração novo é Deus, quem coloca o espírito novo dentro do homem é Deus, quem tira o coração de pedra é Deus, e também, quem coloca um coração de carne é Deus. Assim, em que aspecto o homem pecador realiza algum ato ou alguma atitude que o faz cooperador no processo da salvação? O ensino monergístico é claro em toda extensão das Escrituras. Todavia, os religiosos insistem em tomar os imperativos para reafirmar as suas deformações teológicas sobre a ação sinérgica. Acontece, no entanto, que os imperativos são sempre antecedidos da ação monérgica de Deus. Assim, o imperativo é direcionado aos que Ele mesmo dá a graça para cumprir a Sua vontade. Neste sentido pode-se utilizar como parâmetro a passagem em que Deus faz a promessa e dá a ordem a Abraão, conforme Gn. 12:2 - "E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção." Em que aspecto ou sentido Abraão cooperou em tudo isso? Nada! A expressão "e tu serás uma bênção" é um imperativo no hebraico, porém foi antecedida pela ação monergística de Deus. O ato de ser uma bênção é a consequência de ter recebido de Deus a graça para ser uma grande nação, a bênção e o engrandecimento do nome. 
De acordo com Jr. 17:9, não há espaço no coração do homem para se inclinar a Deus, porque o coração humano, ou seja, a sede da alma e do espírito é enganosa e absolutamente corrupta, de sorte que, nem mesmo o próprio homem o pode conhecer. Assim, como poderia a iniciativa partir deste coração corrompido pelo pecado e repleto de atos pecaminosos? Ter-se-ia de rasgar Rm. 3 todo e outros inúmeros textos.
Enquanto a Teologia Reformada mostra a necessidade de o homem pecador receber por graça mediante a fé a ação de Deus, a Teologia Deformada pretende ingloriamente fazer Deus se curvar à vontade humana decaída e completamente destituída da Sua glória. As Escrituras ensinam fartamente que a mente, a vontade, o querer e toda a inclinação do homem pecador é oposta a Deus, mesmo quando ele afirma ter fé, ou mesmo pratica algum tipo de religião.
No sistema religioso, o qual pertence à mentira, o homem é o foco, no sistema da verdade, no qual, Deus é soberano, misericordioso e gracioso, Cristo e a cruz são o foco. Entretanto, o pecador não pode ver e, muito menos, entrar no reino de Deus se não receber a verdade da sua inclusão na morte com Cristo e, semelhantemente na sua rerreição juntamente com Ele.

TEOLOLGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XVII


Rm. 12:2 - "E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Quando se debruça sobre a tarefa de escrever sobre determinados assuntos deve-se ter o cuidado de não repetir o discurso corrente e os mesmos chavões consagrados. Assim fica registrado que, no fundo, não é correto falar em teologia, e, muito menos, em reforma teológica. De teologia não se deve falar postuladamente, porque se constitui em absurdo o homem propor um tratado acerca de Deus; de reforma teológica, pior ainda, pois a Reforma não tinha por objeto a modificação das Escrituras. Acrescenta-se a tudo isto, o fato que antes da Reforma dita Protestante ocorreu a Pré-Reforma e, depois daquela ocorreu a Contra-Reforma e a Reforma da Reforma ou Reforma Radical. Então, percebe-se que o homem é mestre em querer alterar as coisas até que fique do jeito que lhe agrada.
É fundamental fugir dos clichês batizados e consagrados em ciclos religiosos, tais como os "ismos". O homem possui profunda necessidade de dogmatizar quase tudo, especialmente em matéria de religião. Para ser honesto, nem Pedro Valdo, nem os Anabatistas, nem Lutero, nem Calvino, nem John Knox, nem Wycliffe, nem Jan Hus e nem Zuínglio se auto-intitularam de reformadores. Só se fala em luteranismo, calvinismo e outros 'ismos' muito tempo após os fatos relevantes que estes homens prestaram à história do Cristianismo. Talvez por vício de se querer transferir a glória para os homens é que se faz isso.
Antes do século XVI, os valdenses prepararam todos os cainhos para o advento da Reforma. Pedro Valdo foi convertido ao cristianismo em 1174. Ele procurou uma tradução das Escrituras que fosse mais acessível ao povo simples e sem muitas letras, ou seja, sem muita alteração do homem. A partir daí começou a pregar as Escrituras ao povo ainda que não fosse sacerdote. Renunciou aos seus bens, distribuindo-os aos mais necessitados. Desta forma deu-se início a um movimento que foi depois apelidado de valdenses por conta do seu originador. Os valdenses afirmavam o direito de cada cristão ter um exemplar das Escrituras em sua língua materna, negavam a autoridade suprema da Igreja de Roma, se reuniam em casas de famílias e até mesmo em grutas. Rejeitavam o culto às imagens, reputando-o à idolatria. Paralelamente ocorriam o enfraquecimento das instituições monásticas, o cativeiro do papado de Avingnon, o Grande Cisma, além do fracasso da conciliação dentro da Igreja Católica.
No século XIV, John Wycliffe já vislumbrava algumas questões que favoreciam uma Reforma na Igreja dominante. Para ele a ostentação de riqueza da igreja era incompatível com o espírito da Igreja Primitiva. Também defendia que a Igreja deveria se limitar apenas às questões de cunho espiritual. Apontava para a necessidade de separação entre o Estado e a Igreja, entre outras coisas. Logo após Wycliffe surgiu Jan Hus seguidor das idéias de Wycliffe, que também muito contribuiu para a futura Reforma, dando origem aos denominados Hussitas.
A Reforma dita Protestante, foi um movimento reformista no cristianismo histórico no século XVI, iniciado pelo monge Martinho Lutero por meio da publicação de 95 teses afixadas na porta da Igreja de Wittenberg na Alemanha. Protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, no intuito de melhorá-la e não de destruí-la como se supõe comumente.
Por diferentes interesses, Lutero foi apoiado por alguns governantes e o movimento se fortaleceu rapidamente a partir da Alemanha, passando à Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido e Escandinávia. Depois atingiu também partes do Leste Europeu, como os Países Bálticos e a Hungria.
A resposta da Igreja Católica foi horror e perseguições contra todos os que aderiram ao movimento. Não podendo controlá-lo, realizou a famigerada Contra-Reforma que, nem foi contra e, muito menos, reformou a Reforma como esperavam os romanistas. O Concílio de Trento serviu apenas para aprofundar a crise e dar continuidade nos mesmos erros do catolicismo.
Entretanto, dentro da própria Reforma dita Protestante, ocorreu uma espécie de Reforma da Reforma. Isto ocorria paralelamente, pois alguns grupos queriam uma reforma mais profunda. Foi chamada de Reforma Radical, porque eles queriam total separação entre Igreja e Estado, como também um novo batismo, que em grego, é anabaptizo. Foram logo chamados de Anabatistas!
Neste contexto é que surgem os oportunistas que confundem coisas espirituais com coisas materiais. Thomaz Münzer incitou os camponeses à luta contra a nobreza imperial, propondo uma sociedade sem divisões entre ricos e pobres e sem propriedade privada. Também ocorreram outros confrontos na França, em Flanders, na Inglaterra e a Guerra dos Hussitas no século XV, além de muitos outros conflitos do século XVIII. Desta forma, muito sangue foi derramado sobre a face da Terra em nome de Deus, de Cristo e da verdade.

domingo, julho 12

TEOLOGIA REFORMADA x TEOLOGIA DEFORMADA XVI


Jr. 7: 8 a 10 - "Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam. Porventura furtareis, e matareis, e adulterareis, e jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal, e andareis após outros deuses que não conhecestes, e então vireis, e vos poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: fomos libertados para fazermos todas estas abominações?" Deformar é um verbo transitivo direto que traz as seguintes significações: alterar a forma de; tornar desforme, deturpar, alterar, modificar. Enquanto verbo pronominal significa: perder a forma primitiva; alterar-se, modificar-se.
Todo o processo de deformação teológica começa, porque alguém confia em palavras falsas. Esta tendência em todos os tempos revela uma forte e continuada inclinação do homem religioso em transformar a pureza do evangelho em água suja; transformar o vinho puro em sangria ou ponche diluído. É como diluir o evangelho da verdade ás tradições e racionalizações humanistas. O homem que não tem a experiência de nascimento do alto se cansa rapidamente das verdades bíblicas, porque elas não o importantiza.  Para ele, tudo o que não o torna o centro das atenções e traz gratificação à sua alma contaminada pela natureza pecaminosa, não serve. Ele busca trocá-las pelas idéias e invenções próprias por meio de modismos evangelicalistas. Tais modismos são fórmulas mirabolantes engendradas para encher igrejas, não importando se os "fiéis" são incrédulos sem nenhuma experiência real de regeneração.
Por estas razões Deus inquire por meio do profeta: "Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito." Jr. 2.11. Até os ditos pagãos eram mais fiéis aos seus falsos deuses do que o povo dito de Deus. Neste sentido é que Cristo pergunta naquela parábola: "... Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mt. 16:26. Não há absolutamente nada que o homem possa fazer ou realizar para resgatar a sua alma do inferno. Esta é uma obra monérgica e soberana de Deus.
Sabe-se que os espelhos côncavos ou convexos deformam as imagens, semelhantemente as palavras falsas acerca de Deus e das Escrituras deformam a teologia. Os deformatas estão interessados em fixar os seus nomes nos anais da história, recebendo a glória dos homens ao invés de receber a glória de Deus. Estes religiosos, cujo velho homem não foi crucificado com Cristo e, por isso, também não ressuscitou juntamente com Ele, não podem suportar a verdade do evangelho. Esta verdade não é uma mera concepção, mas é uma pessoa, a saber, o próprio Cristo, segundo as suas palavras em Jo. 14:6. A natureza da macieira é invariavelmente produzir maçãs, semelhantemente a natureza pecaminosa produzirá invariavelmente atos pecaminosos. De maneira que, estes serão superados pela produção da santidade de Cristo, na medida em que aquela for aniquilada pela justificação n'Ele conforme Hb. 9:26.
II Tm. 4:3 - "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências." A sã doutrina, isto é, o verdadeiro evangelho não pode ser suportado por quem não recebeu graça para suportá-lo. Não há compatibilidade entre a natureza pecaminosa persistente no homem não regenerado e a sã doutrina. Por isso, amontoam doutores em divindades, mestres, e teólogos conforme os seus próprios desejos acerca do que querem que lhes seja por verdade. No sentido oposto, as Escrituras permanecem incólumes sempre e perpetuamente, porque elas se destinam aos eleitos de Deus, os quais recebem graça para crer conforme a multiforme sabedoria d'Ele. É neste sentido que o Senhor Deus mantém a Sua santa semente que o serve de geração em geração, produzindo a teologia sempre reformada, isto é, a teologia puramente fundamentada na Bíblia.