segunda-feira, maio 5

LIVRE ARBÍTRIO VIII

A tese do livre arbítrio é tão atraente ao homem no pecado, que dificilmente será banida do seu ideário. Ela possui uma dualidade de sentido: de um lado dá a falsa noção de autonomia em relação a Deus, colocando o destino em mãos próprias, de outro lado, mantém o orgulho e a rebelião contra a soberania e a graça plena d'Ele. Isto satisfaz, tanto à natureza pecaminosa, quanto ao arqui-inimigo de Deus, o qual ousou formar para si um reino em aparteismo ao único reino eterno do Criador. É uma enorme satisfação pecaminosa ter a noção de que uma outra alternativa é possível. O homem em estado de degenerescência sempre busca um caminho alternativo à solução da morte causada pelo pecado. Basicamente, todas as crenças e religiões coloca o poder de decisão nas mãos do homem. A teoria do livre arbítrio é mais uma dessas crenças. Ela cria uma situação mais ou menos assim: "Deus vota em favor do homem, o Diabo vota contra o homem, mas este é quem faz a opção sobre o que quer para sua destinação eterna." Percebe-se esta tendência em quase todas as propostas religiosas e em quase todos os sistemas teológicos. Até mesmo em algumas vertentes do cristianismo, que supostamente deveriam conhecer a verdade, este fato é perceptível. Desenvolvem uma teologia paralela à única teologia possível, isto é, a revelação do próprio Deus por meio das Escrituras. A única revelação posta diante do homem é aquela em que, Ele mesmo, se faz revelar e revelado por Sua eterna e santa Palavra.
Sl. 139:16 - "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles." Quando nem mesmo os olhos do próprio homem o pode ver, Deus o está vendo; quando sequer o homem tem consciência de si mesmo, Deus está anotando tudo em seus livros eternos; quando sequer o homem sabe se nascerá ou morrerá, Deus já preordenou todos os seus dias. Ora, o que sobra ao famigerado livre arbítrio? Como Paulo propõe sob inspiração em At. 26:14 - "E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões." Qual foi a liberdade de arbitrar que sobrou a Saulo de Tarso e aos seus companheiros de empreitada contra a Igreja no caminho de Damasco? Poderia ele, recalcitrar contra a aguilhada? O que coube ao seu livre arbítrio ante a poderosa fanerousia de Cristo? A única resposta de Saulo foi: "... Quem és, Senhor?" Para quem perseguia a Igreja, e consequentemente, o Senhor dela, é uma grande mudança chamá-Lo de Senhor, não?
Is. 46: 8 a 10 - "Lembrai-vos, disto, e considerai; trazei-o à memória, ó transgressores. Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade." Nesta passagem, o Senhor Deus está, não apenas, chamando à consciência do homem de que somente Ele é Deus, mas também relembrando-o de que é um transgressor. Deus é único, e igualmente o único em todo o universo capaz de ver, predizer e realizar feitos antes mesmos deles acontecerem, que faz o seu conselho subsistir e faz absolutamente toda a Sua vontade. Deus realiza toda a Sua vontade, até mesmo a vontade do homem Lhe está sob controle. Assim, quando alguém se inclina para as Escrituras, deseja conhecer Deus, se volta para a verdade, e ganha a vida de Cristo, não é por força do livre arbítrio, mas por misericórdia e graça de Deus. Pois, "é ele quem perdoa todas as tuas iniquidades, quem sara todas as tuas enfermidades, quem redime a tua vida da cova, quem te coroa de benignidade e de misericórdia, quem te supre de todo o bem, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia..." Sl. 103: 3 a 5.
Jó 38: 2 a 4 - "Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; porque te perguntarei, e tu me responderás. Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Faze-mo saber, se tens entendimento." Deus indaga a Jó quem era ele, visto que sem o mínimo de conhecimento estava escurecendo o conselho d'Ele com opiniões oriundas de uma mente decaída. Então, o Senhor o faz assumir o seu lugar de homem pecador e o interroga acerca de incontáveis maravilhas feitas antes de existir o homem na face da Terra. Fala-lhe de como Ele ordenou todas as coisas no universo por leis fixas e preordenadas. Ironicamente Deus inquire a Jó no verso 21: "De certo tu o sabes, porque já então eras nascido, e porque é grande o número dos teus dias!"
Jó é o tipo do homem decaído, mas que pretensamente acredita que tinha justiça própria e méritos perante Deus por ter desenvolvido uma retidão, integridade, temor e desvio do mal pela força da sua própria carnalidade. O que Deus realiza no homem não é apenas informação acerca do que é certo e do que é errado, mas opera nos eleitos o querer e o efetuar, dando-lhe um novo coração e um espírito novo conforme Ez. 18:31 - "... e criei em vós um coração novo e um espírito novo..."

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